24 de outubro de 2015

NOVA ZELÂNDIA NA QUARTA FINAL, DEPOIS DE BATER SPRINGBOKS *

* Nuno Mourão
A força da técnica vence a técnica da força!
Grande parte do mundo oval, pode estar mais descansado, pois os puristas – (Nova Zelândia – NZ), levaram a melhor sobre os pragmáticos – (África do Sul – AS). 
Mas como sempre e, apesar da NZ ser a campeã em título, a primeira do ranking e ser favorita, não foi nada fácil e o resultado (20-18), traduz esse equilíbrio entre as duas “facções”.

Per Angusta Ad Angusta (Não se chega ao triunfo sem dificuldades), é o motto de uma das escolas mais conhecidas de Auckland e onde se formam e formaram muitos All Blacks. 
Hoje não foi diferente, foi preciso muito sacrifício, muita luta, muita paciência e acima de tudo, muita confiança entre os jogadores e no respectivo plano de jogo, para aquelas condições. 

Em teoria, favorecia mais a AdS e o seu jogo mais físico, de desgaste e de conseguir capitalizar as eventuais penalidades provocadas. 
Como é sabido, a NZ tem um jogo mais solto, com mais criatividade, envolvendo todos os seus jogadores, um apoio constante que favorece a continuidade e, como tem sido evidente, um jogo mais atraente e como se disse, um jogo mais purista e que entusiasma e cativa o público. 

Essas características todas, chegam e sobram para quase todas as equipas (a França que o diga!), mas no caso particular da AdS e depois de se terem “endireitado” do jogo e da humilhante derrota contra o Japão, conseguiram renascer e criar uma dinâmica, muito difícil de parar. 
Até para os mighty All Blacks..

O jogo começou com a AdS a parecer querer jogar mais ao largo e a NZ a jogar mais curto, com inversões rápidas no sentido do ataque e a tentar pôr o jogo, ao pé, nas costas da defesa sul-africana ou a pressionar o três de trás, que não tinha estado muito bem, contra Gales. 

Primeira penalidade, logo aos 2’, para Pollard, a castigar uma entrada de lado num maul. 
Aos 6’ e, na sequência das tais inversões rápidas da dupla A. Smith/D. Carter, a bola chega até J. Kaino, via McCaw, que se escapa muito bem à “placagem” de Jager e marca no canto direito. 
Carter converte, põe o resultado em 7-3 para a NZ e adivinhava-se um jogo mais solto e aberto, que iria certamente favorecer os All Blacks. 

Mas não foi isso que aconteceu, pois a NZ continuava a fazer muitas faltas no chão, algumas bem evitáveis, nomeadamente a que deu os três pontos seguintes para a AdS, por McCaw e no final da primeira parte, a falta de J. Kaino, que, para além de ter dado mais três pontos de “graça” a Pollard, o levaram ao sin-bin.
Habana, muito bem servido pelo pé de Du Preez, ia ganhando a “luta no ar” com Milner-Skudder e, resultado do domínio na outra luta, a “luta do chão”, em especial nos turn-overs, a AdS, conseguia o 7-9, aos 20’, uma vez mais por Pollard.

Só aos 25’ tivemos a primeira formação ordenada e aqui, também o equilíbrio foi uma constante. 
No jogo de perfuração da NZ, o apoio continuava a chegar um pouco tarde, o que dava vantagem à defesa, faltas e por vezes turn-overs importantes. 
A NZ continuava a dominar as estatísticas - posse de bola, territorialmente, os alinhamentos, os metros percorridos - mas estava tão previsível e indisciplinada que parecia um plano para “adormecer” e fazer acreditar a AdS, que podia ter mais hipóteses de contrariar o favoritismo inicial. 

E de facto, a NZ, com essa opção de jogar ao pé para as costas da bem organizada defesa sul-africana, após três ou quatro fases de jogo, conseguia várias coisas – não ser penalizada no jogo do chão, reduzia a hipótese de perder a bola em turn-overs, não se desgastava tanto e conseguia uma coisa muito importante - manter a AdS bem dentro do seu meio campo e com o apoio à frente da bola. 
Aos 34’ tivemos a primeira intervenção do TMO e para penalizar o pilar da NZ – Moody, por jogo perigoso. 
4’ depois, a tal falta infantil de Kaino, ao pontapear a bola num ruck, vindo de uma situação de fora de jogo, que deu os 7-12 para a AdS ao intervalo e a respectiva ida para o sin-bin.

Na segunda parte, o jogo ficou um pouco mais aberto, rápido, arriscado e, consequentemente, com mais espaços para os ataques. 
Ficou-se a notar duas coisas. Primeiro, que iria ser difícil à AdS entrar nesse jogo e depois, uma vez mais, o banco de suplentes que poderia fazer a diferença.
Carter abre logo as "hostilidades" com um drop (a jogar uma vantagem) que, quer se queira quer não, galvaniza sempre uma equipa, passando o resultado para 10-12. 
Aos 51’ e depois de um turn-over de McCaw para a NZ, dentro dos 22m da AdS e jogando uma vez mais uma vantagem, por falta completamente desnecessária de Habana (deu-lhe direito a um sin-bin numa fase importante do jogo..), Barret marcava o segundo ensaio do jogo, após M. Nonu ter magistralmente transformado uma situação de 2x2 em 2x1, fixando os dois defesas (que deveriam ter subido mais rápido, pois estavam muito perto da linha de ensaio) e passando a bola no timing perfeito. Simples e eficaz! 
Transformação irrepreensível de Carter, que virava o jogo para a NZ em 17-12 e dava um novo fôlego à sua equipa e ao mesmo tempo, retirava “oxigénio” à AdS. 

Os jogos são feitos e decididos em pormenores e momentos críticos, este começo da segunda parte, foi um deles, mas apesar disso, a AdS manteve-se sempre dentro do jogo, mas já no limite e só uma sucessão de erros, não muito normal na NZ, poderia inverter agora o jogo. 

Mas uma equipa como a AdS, nunca se dá como vencida e a entrada de Matfield para a 2ª linha, deu algum alento e pôs alguma ordem nos alinhamentos. 
Infelizmente, também obrigou o árbitro a reverter uma penalidade e já depois de estarem apenas a dois pontos da NZ e estarem de novo a pressionar, voltaram para o seu meio campo. 

Pouco tempo depois, um “sealing off the ball” de Etzebeth, dava oportunidade a Carter, de pôr a diferença em cinco pontos (20-15), mas com ainda algum tempo (20’) para jogar.
Entretanto Pollard saia lesionado e entrava Lambie (na esperança de ser herói, depois do "tsunami" japonês..), que ainda reduziu com uma penalidade, por entrada de lado num maul, de K. Reid. 

Com o resultado num sempre perigoso 20-18 e o jogo ao rubro, nenhuma das equipas queria estar no seu meio campo e fazer faltas. 
Mas foi a NZ que conseguiu pôr a AdS na sua zona vermelha e de lá já não conseguiu sair com "vida".. 
Tinham caído no “engodo” da NZ, mas caíram bem de pé e como deve ser! 

No final, os jogadores cumprimentaram-se e os vencedores foram felicitados, H. Meyer lá teve que pagar as cervejas a S. Henson, Ben Smith foi o man of the match e em suma, ganhou a melhor equipa, a equipa com mais argumentos e que se adaptou melhor às condições do jogo. 

Normalmente, nas fases finais dos mundiais, os jogos mais espectaculares são os quartos e as meias finais. 
Este não foi tão “artístico”, mas foi um dos mais emotivos! 
Amanhã, no Argentina - Austrália, prevê-se uma meia artística e de certeza, emotiva também.

Play as one; Think as one; Succeed as one! Está aqui a “receita” para quem quiser ganhar a final daqui a uma semana..

P.S. Depois de alguma polémica, na arbitragem do Escócia - Austrália, tivemos aqui hoje um excelente jogo do Sr. J. Garces e de toda sua equipa!


2 comentários:

Unknown disse...

Boa Noite,

Quem é este Jornalista Sr. Nuno Mourão?
Faz uma crónicas bastante interessantes, com uma analise exaustiva dos jogos e com detalhes surpreendentes..
Talvez pudesse ser uma solução inovadora a considerar para a Federação (Treinador e/ou Presidente).

AKR

Manuel Cabral disse...

Nuno Mourão ganha Clube de Fans! EHEHEHEH