13 de outubro de 2015

RWC-2015 - O APURAMENTO, GRUPO POR GRUPO *

* Manuel Cabral
Este Mundial foi extraordinário com o domínio da circulação da bola sobre o ping-pong chutador, com a procura de espaços em toda a largura do campo em vez da sua concentração nos perímetros curtos.

Ficou mais bonito o jogo, os jogadores - mesmo os fortes e feios! (estou-me a lembrar dos pilares japoneses) - a manusearem a bola com uma arte e elegância que parecia estar arredada do mundo oval.

A ideia que fica é que os sevens devolveram ao jogo aquilo que muitos queriam manter separado, mostrando por um lado que a inteligência, a habilidade e o génio, valem mais do que a pura força bruta, e, por outro lado mostrando que todos, mas mesmo todos os jogadores de rugby deste nível, sabem e podem manusear a bola com arte, e movimentar o corpo com agilidade e técnica.

O tempo da separação entre fortes e poderosos de cabeça metida nas formações, e os rápidos, ágeis e velozes, repousados para as estocadas fatais, já era!
Hoje quando assistimos a um qualquer dos 40 jogos da fase de qualificação deste mundial,  ficamos com a certeza que aqueles 30 jogadores, são All Backs!

Vamos ver o que se passou em cada um dos grupos.


Era o Grupo da Morte e a Inglaterra sabe-o bem! E o seu destino na prova ficou traçado com a derrota frente ao País de Gales, e confirmado com uma desoladora exibição frente à Austrália, mostrando uma equipa incapaz de resolver os seus problemas internos, que vão desde as críticas à selecção do plantel, até ao tipo de tratamento dado por Stuart Lancaster aos jogadores.
Mas com o terceiro lugar do Grupo os ingleses começam já a trabalhar para o Mundial 2019, mesmo antes de resolverem quem vai ser o responsável por essa preparação.
Entretanto do Grupo A fazia parte o Uruguai, uma das duas equipas que não pontuaram nas tabelas classificativas (a outra foi a dos Estados Unidos), e que foi aquela que menos pontos marcou (e ensaios também, apenas dois) e mais pontos sofreu (e ensaios também, mais 11 que a segunda pior, a Namíbia).
Os Teros foram claramente a pior equipa da primeira fase, e por duas vezes sofreram 60 ou mais pontos (só houve quatro resultados assim), o que sendo valores elevados, ficou muito aquém do que se passou em seis das anteriores sete edições da prova.
Na verdade apenas em 1991 (com 16 equipas) o equilíbrio da primeira fase foi maior, mas este ano o que mais impressionou foi que realmente as equipas pareceram bem mais perto umas das outras, não apenas pelos resultados verificados, mas especialmente pelo nível do jogo praticado pelas equipas.
Na quarta posição, ainda fora da classificação automática, ficaram as Ilhas Fiji que estiveram ao seu nível habitual, sempre muito físicos, mas que apenas contra o Uruguai conseguiram mostrar o seu valor.
Finalmente as equipas apuradas foram sem dúvida as melhores do Grupo, e se os australianos não brilharam contra as Fiji fizeram uma exibição de grande categoria contra a Inglaterra mostrando que são uma das principais candidatas ao título.
Os galeses, sem terem chegado ao nível dos wallabies fizeram também um jogo extraordinário contra os ingleses, e nunca foram ameaçados pelas Fiji, nem, claro, pelo Uruguai.
O jogo derradeiro entre Austrália e País de Gales, com ambas as equipas com o apuramento garantido, foi o único dos 40 encontros, em que nenhuma das equipas marcou um ensaio sequer.


Os Estados Unidos foram a outra equipa que não conseguiu abrir o contador na tabela classificativa, e foi ainda a outra equipa que perdeu sofrendo 60 ou mais pontos, mas para quem assistiu ao jogo dos americanos com o Japão eles saem da competição de cabeça bem erguida!
Claro que os eagles foram uma das equipas mais fracas da prova, mas ficaram muitos furos acima do Uruguai, e ainda em menor escala, do Canadá, Tonga e talvez da Roménia.
Melhor esteve Samoa, que foi na nossa opinião a melhor das pequenas equipas do Pacífico - Tonga e Fiji - e esteve brilhante contra a Escócia, mas que foi claramente ultrapassada pelo Japão, a equipa vedeta desta primeira fase, apesar de não ter passado do terceiro lugar.
Mas, a equipa japonesa, sendo terceira foi também a melhor de todas as que não conseguiram o apuramento, e ainda foi a única equipa na história da prova que conseguindo três vitórias, ficou fora dos quartos de final.
A vitória contra a África do Sul ecoou por todo o globo, foi saudada como a mais importante de sempre, e provocou uma onda de entusiasmo pela equipa no Japão, que levou quase 20 milhões de espectadores a ficarem presos frente ao televisor quando na jornada seguinte os Brave Blossoms enfrentaram a Escócia.
Mas foi aí que os escoceses mostraram que podem aguentar a pressão, e sabem fazer o trabalho de casa, preparando da melhor forma o jogo com o Japão, a quem não deram qualquer chance de repetir o feito do primeiro dia.
A África do Sul começou da pior maneira - a sua atitude altiva só teve paralelo na da Inglaterra - mas depois da vergonha de perder com os pequenos japoneses tomaram um banho de humildade e estiveram muito bem contra a Escócia, afastando o perigo de acompanharem a Inglaterra e assistirem ao resto da competição da bancada.


A Nova Zelândia foi a melhor equipa desta fase, conseguindo 19 pontos em 20 possíveis, deu lições de humildade e respeito pelos adversários, e mesmo sem ser devastadora como foi no passado mostrou, em especial nas segundas partes, porque é a actual campeã do Mundo e continua a ser uma das principais favoritas ao título de 2015.
Também a Argentina esteve bem, mesmo perdendo para os All Blacks não deixou que o adversário tivesse uma superioridade muito grande - afinal perder por 10 pontos é um resultado menos mau - e contra a Geórgia mostrou claramente como fica a diferença em relação ao tier 2.
A Namíbia esteve muito bem contra a Geórgia - podia ter vencido que não era nenhum escândalo - mas na verdade esteve num patamar mais baixo, bem próximo do Uruguai.
Tonga, apesar da vitória sobre a Namíbia, não nos pareceu ter crescido em relação ao que mostrara antes, e juntou-se assim a Samoa e Fiji - embora seja a pior das três - ao grupo das não qualificadas da Oceania, que no próximo Mundial deve perder um representante, por troca com um europeu.
Finalmente a Geórgia conseguiu o terceiro lugar e o apuramento directo para o Japão, denunciando uma evolução que não surpreendendo se destacou entre os resultados obtidos.
Para as equipas europeias esta pré qualificação foi de grande importância, pois deve permitir que mais uma equipa do Velho Continente venha a estar no Mundial 2019 - assim se mantenha o sistema de qualificação regional.


Os dois pontos de bónus conseguidos pelo Canadá, apesar do último lugar na tabela do Grupo, dizem-nos que os canadenses não fazem parte do último conjunto de equipas, em termos de qualidade, embora fiquem logo acima dele. A derrota contra a Roménia foi conseguida num desafio muito disputado, e ficamos com a ideia que os canuks pertencem a um conjunto com a própria Roménia e Tonga, e um pequeno degrau abaixo dos Estados Unidos.
Quanto aos romenos a maior curiosidade residia na sua capacidade de oposição a Itália, e no fim das contas a diferença entre as equipas não é tão grande assim, e com certeza que se à Roménia fossem dados mais jogos contra equipas de nível superior, o diferencial seria reduzido muito rapidamente.
Gostaria de ver uma competição em que participassem a Itália, a Roménia e a Geórgia, lutando por um lugar no 6 Nações...
Os italianos continuam a evoluir pouco, e existem cada vez menos argumentos para que se mantenham sem contestação no já referido 6 Nações. Hoje mais do que nunca, e considerando o conjunto de todos os resultados, seria imperioso que o sistema europeu de graduação das equipas tivesse um formato baseado em dados desportivos, e não apenas em meros interesses comerciais.
Quanto aos dois apurados, a Irlanda mostrou que era  a melhor equipa do Grupo, os 24-9 do jogo com a França demonstram bem esse facto. Como consequência disso os irlandeses vão defrontar a Argentina nos quartos de final, enquanto os franceses terão que enfrentar a Nova Zelândia.
Apesar do favoritismo irlandês e neozelandês, é preciso lembrar que a Argentina começou a fase de apuramento como uma equipa em formação, mas terminou com um potencial bem diferente, e pode muito bem estragar os planos da Irlanda.
Aliás o mesmo se aplica à França, que é uma equipa que já nos habituou e crescer durante a prova, embora os sistemáticos rumores da desaprovação de Saint-Andre, e o que a equipa fez nos últimos quatro jogos, não ajudem a acreditar que isso venha a acontecer, e que os franceses possam eliminar a Nova-Zelândia.

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