4 de outubro de 2015

INGLATERRA-AUSTRÁLIA - UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA FAZ MURCHAR A ROSA *

* Nuno Mourão
Após uma semana bastante agitada por parte da Comunicação Social, a dar voz a um sem número de ilustres comentadores, interessantes e interessados, foi o treinador da Austrália – Michael Cheika, que pôs os pontinhos nos “i” (de Inglaterra…), ao dizer que, neste jogo, por vezes, ter inteligência emocional é mais importante que ter “só”, inteligência. 

E de facto, a Austrália, teve-a praticamente o jogo todo, nunca perdeu a compostura e manteve-se fiel ao seu modelo de jogo, dinâmico, flexível e acima de tudo, real e fiel, às características dos seus jogadores. 

E no final do jogo da morte, do grupo mortífero, Cheika rematou com um simples, mas revelador comentário – stay real, be humble, tudo o que a Inglaterra não teve, no jogo que nunca deviam ter perdido, precisamente com o País de Gales, exactamente por não terem sido humildes e acharam sempre que acabariam por ganhar o jogo, mais cedo ou mais tarde. 

Esse trauma e, consequente pressão extra, transportaram-no para este jogo, o tal jogo da morte, the decider! 

E houve dois singelos momentos em que foi bastante perceptível essa insustentável leveza da pressão extra. 
A linguagem corporal dos seus jogadores antes do apito inicial, completamente tensos e apreensivos e os tais primeiros minutos, que o médio de formação inglês – B. Youngs, tinha dito que iriam ser sufocantes para a Austrália. 

Ora quem começou a sufocar e a sentir, ainda mais a pressão, foi a Inglaterra que aos 8’ perdia por três pontos e já podia ter sofrido pelo menos um ensaio, se Folau não tivesse “adormecido” no passe para Ashley-Cooper, que estava completamente isolado na ponta. 

A Inglaterra empatou um pouco depois, por Farrell, depois de uma falta na formação ordenada da Austrália. 
Pelos vistos, serviu de lição aos oito avançados, que se empenharam em tentar não ceder nesse “território” Inglês e acabaram mesmo por dar uma alegria ao seu treinador específico, o lendário talonador argentino – Mario Ledesma, ao ganharem uma aos Ingleses, sem resposta! 

Mas um dos momentos da primeira parte e se calhar, do jogo, foi o ensaio do Iceman Foley, aos vinte minutos, pois deu-lhe um acréscimo de confiança que lhe permitiu embalar para um segundo ensaio, talvez na melhor jogada do jogo em que Genia faz uma rápida inversão de jogo para o seu 10, Foley, este dá para dentro para Beale que, já dentro da defesa em pânico, dá depois novamente para fora, para o endiabrado Foley que vinha na dobra e que marcaria perto dos postes. 

3-17, era o resultado ao intervalo e, apesar do aparente equilíbrio no jogo, ao nível das estatísticas, era notório o ascendente emocional e de confiança, por parte dos Australianos. 
Apenas Jonathan Joseph e Anthony Watson, agitavam um pouco as águas. 

E ao contrário do jogo com Gales, a Inglaterra não ofereceu muitas penalidades, mas cometeu alguns erros não muito forçados, como alguns avants e outros de tomada de decisão e na organização da defesa. 

Na segunda parte, houve dois momentos críticos, aqueles que muitas vezes definem o resultado final dos jogos. 

Primeiro, o ensaio da Inglaterra, aos 55’, por Watson e a consequente transformação de Farrell, pondo o resultado em 20-10 e relançando a partida. 
Esperava-se então que a Inglaterra “pegasse” finalmente no jogo e obrigasse a equipa australiana a fazer faltas no seu meio campo e com isso, poder capitalizar em pontos. 
Mas foi a Austrália que conseguiu manter o jogo longe do seu meio campo, manteve boas posses de bola e conseguiu manter uma grande disciplina nos breakdowns, onde Hooper e Pocock, continuaram a reinar. 

O outro momento crítico, foi a expulsão temporária de Farrell (na verdade, Burguess também poderia ter sido expulso na mesma jogada..), aos 70’, que ditou o harakiri final, primeiro com os três pontos da respectiva penalidade e no último minuto do jogo, mais um ensaio da Austrália, para Matt Guiteau e mais uma conversão para o homem do jogo – Foley, com 28 pontos (dois ensaios, três transformações e quatro penalidades) - irrepreensível!

Nas contas finais, 13-33 e pela primeira vez, na história dos campeonatos do mundo, a equipa organizadora não passa da fase de grupos e logo o país onde nasceu a modalidade. 
O drop de Wilkinson, na final de 2003, precisamente na Austrália, foi finalmente vingado e de que maneira! 

Uma última palavra para o capitão Robshaw e para o seleccionador Inglês, Stuart Lancaster, que pediram desculpa aos fãs e ao país, por não terem conseguido ganhar o jogo, apesar do esforço e empenho e, como mandam as regras do fairplay, deram os devidos e merecidos parabéns à equipa vencedora. 

Quanto aos árbitros, nada a registar, lidaram brilhantemente com a pressão, foram assertivos nas suas decisões e controlo do jogo e tiveram nos jogadores, uns grandes aliados. 

Agora já se pode substituir o Swing Low, com a coreografia do Hakarena, pelo mais apropriado, Waltzing Matilda…










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