31 de outubro de 2015

NOVA ZELÂNDIA VENCE TRI-CAMPEONATO E CONVENCE! *

* Martim Bettencourt
Os All Blacks mostraram ao que vinham logo nas primeiras três placagens. Todas ofensivas, todas a por os Australianos no pé de trás e em dificuldades. 
Não iam deixar, como tantas outras equipas o fizeram no passado, que a importância do momento tomasse conta.

No entanto, mérito da tenacidade e capacidade de sofrimento da equipa liderada por Michael Cheika, essa pressão demorou a produzir resultados. 
Foi aos oito minutos que o Man of The Match, Daniel Carter, abriu o marcador com uma penalidade a castigar uma falta australiana num ruck bem dentro da sua área de vinte e dois metros.
Foley responde aos 14 minutos, e empata ao marcador ao mesmo tempo que Kane Douglas era substituído, devido a lesão, por Dean Mumm.

Mais um azar australiano e Matt Giteau também viria a sair combalido após um pouco agradável choque com o gigante Retallick. 
Apesar do bom jogo de Kurtley Beale, a experiência e a categoria de Giteau não é, neste momento, compensável por ninguém. Ninguém Australiano, diga-se.

O jogo corria a uma intensidade impressionante, mas onde os neozelandeses pareciam ter uma ligeira vantagem. Em cada contacto, em cada entrada, em cada ruck, os homens de McCaw saiam vitoriosos. Mesmo que perdessem a bola ás mãos dos inconfundíveis David Pockock e Michael Hooper, ou recuassem com uma placagem da “mula de carga” Fardy, ou que Folau os pusesse em sentido de cada vez que pegava na bola, acreditavam que era uma questão de quando e não de se.

Depois de falharem o touche-maul, muito bem defendido pelo pack australiano, noutra penalidade “chutável” e de terem concretizado mais duas penalidades, para o 9-3, é no cair do pano da primeira parte, aos 39 minutos, que a linha defensiva australiana cede. 
Numa jogada onde veio ao de cima todo o brilhantismo individual dos craques neozelandeses, a classe de Conrad Smith, o apoio de Aaron Smith, o altruísmo de McCaw e a finalização de Milner-Skudder criaram o primeiro ensaio do jogo, que com a conversão de Carter, levaria o resultado para o intervalo em 16-3.

A segunda parte recomeça praticamente como acabou a primeira.

Recém entrado na partida, Sonny Bill Williams com a sua mestria em manter a bola viva, faz um daqueles passes “à Fijiana” e solta Nonu que, sprintando meio campo e deixando os rins de Beale a pedirem clemência, marca o segundo para os All Blacks e deixa o resultado em 21-3.

Dezoito pontos de diferença, trinta e cinco minutos para jogar, final do campeonato do mundo e contra os All Blacks. 
Dizer que era uma montanha o que os australianos tinham de escalar é ser amigo…

Mas acreditaram. A capacidade de sofrimento, a camaradagem, a mentalidade “sem desculpas”, tão recorrentemente referida, tanto pelo capitão Stephen Moore, como pelo treinador Cheika, vieram ao de cima.

Conseguindo equilibrar a luta no jogo ao pé, e nos duelos individuais, empurraram o jogo para o meio campo neozelandês, os Wallabies começaram a mostrar porque mereceram estar naquela final. Construindo fases sobre fases, ora ao largo ora jogando no perímetro curto, criando uma pressão que viria a dar os seus frutos.

Ben Smith leva cartão amarelo, numa jogada já praticamente dentro dos cinco metros defensivos, por placagem perigosa. Dessa penalidade Moore vai para o alinhamento que resulta num imparável maul que só acaba dentro da área de ensaio.

21-10, 53 minutos de jogo e os All Blacks com menos um jogador. A coisa começava a compor-se.

Começa o rol de substituições com ambas as equipas técnicas a prepararem os derradeiros vinte minutos.

Aproveitando a vantagem numérica, a visão de Genia, o acreditar de Foley e a velocidade de Kuridrani constroem um oportuno mas bonito ensaio. Ben Smith reentra com o resultado em 21-17 e os australianos com o “momentum” do jogo.

Últimos quinze minutos.

Quando a coisa ferve é quando os grandes jogadores se elevam. Hoje, Dan Carter esteve um palmo acima de todos naquele campo. 
E, olhando para quem estava dentro de campo, digamos que um palmo acima daquilo é ser muito grande!

Um incrível drop, contra a corrente do jogo e a mais de quarenta metros, por parte de DC põe os Australianos a precisarem de marcar um ensaio convertido para empatar, com dez minutos para jogar.

Inspirados pelo seu médio de abertura o pack avançado neozelandês “saca” mais uma penalidade, desta vez por falta na formação ordenada. 
Carter agradece e mete mais três pontos. 27-17 com cinco minutos para jogar.

O orgulho australiano não cedia, e mais uma vez atiraram com tudo o que tinham para cima do rival de sempre. Foram fieis ao seu modelo de ataque até ao último minuto. Arriscando o que tinham de arriscar, o génio de Beale ia dando para marcar o tão almejado terceiro ensaio australiano, mas Mitchell deixa cair a bola, que vai parar as mãos de Ben Smith que de imediato lança o contra ataque que só acaba com Barrett a mergulhar no meio dos postes.

34-17. Fim do jogo.

Os All Blacks são de novo Campeões do Mundo.

Tudo o que deve ser um jogo de rugby, esta final foi-o. Não faltou nada. Grandes placagens, sofrimento, superação, técnica, táctica, emoção e classe. Muita classe, de ambas as equipas. 
Dentro de campo, mas mais importante, fora dele.

Não é por acaso que estes jogadores, e estas equipas hoje estiveram naquele que é o jogo que representa o expoente máximo do rugby no mundo.

É da natureza deste jogo, em que os melhores não o são só por serem bons tecnicamente, ou muito rápidos ou muito grandes. Desfrutam e vivem o que este jogo lhes ensina todos os dias. A toda a hora. Sem desculpas.

Se dúvidas houvessem, é rever qualquer um dos jogos deste Mundial.

O melhor de sempre.


Foto: http://www.rugbyworldcup.com/

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