15 de maio de 2014

PEDRO RIBEIRO FALA SOBRE OS SEVENS E O FUTURO *

* Pedro Ribeiro
«Será que Portugal, com a sua base limitada de recrutamento, com os limitados recursos financeiros existentes pode continuar a competir ao nível a que o tem feito? Esta a grande questão que o rugby português tem urgentemente que equacionar».
Esta observação foi feita em artigo escrito em Maio de 2013 e continua perfeitamente pertinente.

Terminadas que estão as IRB Sevens Series de 2013/2014, Portugal conseguiu alcançar o seu objetivo principal, a manutenção como equipa residente (core team).

Essa posição foi obtida graças a duas boas prestações: em Dubai, onde foi finalista da Bowl, e em Port Elisabeth onde atingiu a meia final da Plate, única ocasião em que na fase de grupos, alcançou um dos dois primeiros lugares. 
Mas, nos outros torneios, as suas prestações deixaram uma impressão menos positiva e em alguns casos mesmo decepcionante.

Até Dezembro as prestações do VII português foram bastante positivas, mas logo que, em Janeiro, se iniciou a campanha de XV, os Sevens sofreram com a prioridade dada aos primeiros. 
Daí verificar-se que é muito difícil, devido aos limitados recursos humanos disponíveis, competir simultaneamente nas duas variantes com jogadores que transitam de uma para outra, por vezes em semanas sucessivas.

E é bom não esquecer que participando nas IRB Sevens Series, Portugal está no grupo das 15 melhores seleções e portanto competindo no topo mundial. 
Que outra modalidade coletiva, além do futebol, compete mundialmente a este nível?

Até 2010 os Sevens não eram encarados como prioridade em muitos países, daí que Portugal, que teve uma iniciação nos sevens mais cedo que muitos outros, nos anos 80 com o Lisboa Sevens, tenha tido a oportunidade de conquistar uma posição cimeira nesta variante o que lhe permitiu vencer oito campeonatos da Europa nos primeiros dez anos em que essa competição foi organizada pela FIRA-Associação Europeia de Rugby.

A decisão tomada em finais de 2009, pelo Comité Olímpico Internacional, de inclusão dos Sevens no programa dos Jogos Olímpicos Rio 2016 tudo modificou. 
Vários foram os países que decidiram investir fortemente nos Sevens, quer na vertente masculina quer na feminina, constituindo grupos fortemente profissionalizados tendo como objetivo não só a participação nos Jogos mas também tentar obter medalhas olímpicas, altamente disputadas e ambicionadas.

Por isso a competitividade tem vindo a aumentar ano a ano e, não tenhamos duvidas, irá continuar a ser cada vez mais intensa.

Tal como em Maio 2013 se põe de novo a pergunta. 
Poderá Portugal ter aspirações a continuar a competir ao mais alto nível? 
Esta a questão a que o rugby português terá que responder. 

Partimos de uma posição privilegiada, já que continuaremos em 2014/2015 a participar na mais forte competição mundial, mas os nossos parcos recursos humanos e financeiros são um fator limitativo para essa competitividade.

A participação nos nove torneios das IRB Sevens Series implica uma disponibilidade continuada dos jogadores, quer para os treinos de preparação, quer para as longas ausências que os calendários e as localizações dos torneios exigem.

Para que haja uma participação efetiva e com qualidade, há que preparar convenientemente uma equipa, utilizando outros torneios para a sua consolidação. 
E se possível, formar uma equipa de desenvolvimento com jogadores com potencial para acederam ao grupo principal.

Para pôr um tal sistema em funcionamento, teremos que ter um grupo principal com cerca de 20 jogadores, a quem seriam proporcionadas as devidas condições de treino e de apoios diversos incluindo o financeiro. Se devidamente utilizadas as verbas que o Comité Olímpico de Portugal disponibiliza, através do Projeto Olímpico Rio 2016, talvez se tornasse possível a aplicação deste conceito.

Se assim fosse, esse grupo estaria cometido em exclusividade aos Sevens, podendo apenas fazer alguns jogos pelos seus clubes, se a equipa técnica explicitamente os autorizasse.

Cabe á direção técnica da FPR preparar um tal plano e, após aprovação da direção da FPR, efetivar a sua concretização, divulgá-lo publicamente e monitorizar periodicamente a sua realização. 
Nesse plano, deverá também ser prevista a realização de torneios nacionais, que poderão ser realizados no inicio da época, Setembro e Outubro, e no seu final, a partir de Abril. 
Teriam como objetivo proporcionar aos jogadores uma experiência competitiva na variante de sevens e o de encontrar novos valores.

Os dirigentes dos clubes portugueses terão que compreender esta realidade, abandonar a posição individualista e atender às necessidades de obtenção de resultados internacionais positivos.
Só e apenas eles, poderão trazer a exposição mediática geradora dos patrocínios de que todos necessitam.

Se nada fizermos, mantendo a situação da época 2013/2014, onde Portugal utilizou um recorde de 34 jogadores nos nove torneios em que participou, certamente estaremos daqui a um ano a lamentar a nossa saída da posição de equipa residente ( “core team”) das IRB Sevens Series, perdendo todos os apoios que a ela são inerentes.
Seria um forte revés para o rugby português.
E voltar a adquirir essa posição será extraordinariamente difícil.

14 comentários:

Anónimo disse...

Artigo sensato (apesar de não me parecer que necessitemos de 20 jogadores de sevens contratados pela FPR; 12 já seria muito bom), mas que não diz de onde é que viria o dinheiro para o que é proposto.

Anónimo disse...

O Engo Pedro Ribeiro , tendo sido Vice Presidente da Federação sabe e transmite muito bem as intenções da Direção. Concordo . É o único processo de se conseguir jogar ao nível exigido no Circuito Mundial, mas é preciso que os Clubes compreendam e ajudem no seu próprio interesse.

Anónimo disse...

alguem sabe quanto a fpr vai receber do contrato programa para as selecçoes masculinas e femininas?

Ricardo Oliveira disse...

Acredito que pode ser feito um trabalho em condições!

Agora não peçam mundos e fundos à FPR quando por vezes são os clubes e os próprios jogadores que metem os seus interesses à frente de todos os outros, não cedem uma virgula, mas depois pedem resultados!
Eu tenho andado pela periferia do Rugby nacional, sem falar, só observo. O quê que eu vejo? Jogadores a vangloriarem-se porque levam vermelhos. Isto cabe no espírito do Rugby onde? jogadores que jogam 5 jogos e fazem 10, 15 minutos por jogo, por se passam da cabeça e desatam a porrada ao primeiro que passa. Quantos relatos é que há de clubes que não deixam os seus jogadores sair para a selecção porque há um jogo importante nesse fim de semana? Depois queixam-se que não são chamados jogadores do seu clube? Um clube ou jogador que não aceite vir à selecção porque nessa semana tem um jogo importante para mim nunca mais era chamado. Existirá algo que nos dê maior honra do que ouvir o nosso hino antes de darmos o nosso contributo pelo rugby nacional lá fora? Porque é isso que está em jogo! É o nosso Rugby que está ali representado! Temos que dar tudo por este desporto para que ele nos dê tudo também. Esta é a minha filosofia, é o espírito de rugby, é a minha maneira de viver o jogo.
Eu sei que a Federação, e sinto isso, deixa muito a desejar, mas acredito que faz o melhor possível. Quem achar que faz melhor que dê um passo em frente, convença quem tem que convencer e assuma o comando da situação! Como acho que não faria melhor, não critico o que não concordo tento ver o ponto de vista deles, dou o beneficio da dúvida e apoio. Criticar? Qualquer pessoa critica. Agora fazer melhor? ter ideias concretas para dinamizar a coisa? Não vejo!
Se isto se verificar será um grande passo para a profissionalização do desporto em Portugal, vamos tentar apoiar a ideia ver o que isto vai dar, tirar as nossas ilações depois e não criticar primeiro. Acho que já é tempo de se enterrar os "Velhos do Restelo" que estão por aí espalhados e apoiar iniciativas novas!

Anónimo disse...

Segundo foi afirmado pelo presidente da FPR, o Comité Olimpico disponibiliza uma verba de 1.000€ mensais para 15 jogadores de sevens

Great Duke disse...

Totalmente de acordo com o artigo. Também acho que não precisamos de 20 jogadores contratados. Diria uns 15, complementados por uma ou outra chamada ocasional, caso fossenecessário devido a castigos. É o modelo francês, p.ex.

Como já referiu o Luis Canogia Costa, não é só de jogadores que Portrugal precisa. Precisa de algum pessoa de apoio, ao nível da análise e jogo, preparação física e acompanhamento médico, bem como uma verdadeira distinção entre treinador adjunto e manager porque imagino que o papel do Diogo este ano tenha sido muito difícil.

Quanto às verbas, não podemos esquecer que o IRB paga as viagens a 15 elementos e ainda dá um suplemento.

Depois tb se pode dar asas à criatividade:
http://www.canada7sfund.com/team/

Anónimo disse...

Ricardo Oliveira. Quando fala de jogadores que são chamados a treinos e depois não comparecem porque têm um jogo importante, calculo que sejam jogadores que passam meses a servirem de "sacos de batatas" e na véspera dum encontro importante vem a brigada estrangeira ocupar-lhes o lugar. Julgo que será a isso que se refere, pois doutro modo qualquer jogador que sinta que está nas convocatórias com os mesmos direitos e deveres da tal brigada, decerto que será um orgulho representar Portugal.

Luis Canongia Costa disse...

O Pedro Ribeiro coloca a questão com a sua habitual pertinência, e concordo com o que escreve.

Em relação ao número de jogadores, a minha opinião (porque num poste anterior usie um número para facilitar contas): serão tecnicamente necessários pelo menos 18.

Não podemos comparar com o modelo francês ou outro que tenha rugby profissional, pois se há problemas, o jogador que entra no grupo tem o mesmo nivel de treino dos outros, apresentando níveis físicos e técnicos aproximados, assim como vem com uma intensidade competitiva razoável.

No nosso caso seria muito difícil isso acontecer.

Passado este desvio, vamos ao que interessa.

A questão central é equacionar os meios que podem ser disponibilizados para os sevens e avaliar o que se pode fazer.

Não menos importante é saber se os clubes aceitam ver sair os jogadores (que passariam a apenas poder jogar pelo clube muito pontualmente) e se há um grupo de jogadores interessado em se profissionalizar a sério.

Após o Mundial de 2007, e quando se colocou a questão da semi-profissionalização escrevi o meu desacordo, e que, como se verificou, se iria perder a alma pois há coisas que não se podem fazer pela metade.

Se bem que entenda que é melhor ser a pior equipa profissional do mundo do que a melhor amadora, o entendo dentro do conceito de que com um profissionalismo a sério, com todas as condições, aplicado a um universo que não o era, é um caminho claro de progresso potencial. O semi-profissionalismo não.

Ou seja, só vejo dois caminhos para o sucesso, um profissionalismo sério, ou um amadorismo repleto de alma e valores, à semelhança do que acontecia nos Lobos que foram ao Mundial.

Distribuiram-se uns tostões, hoje frequentemente fala-se da necessidade de dinheiro, e perdeu-se muito do que contribuiu para o sucesso de 2007.

A grande dúvida que me assiste é se em Portugal é possível reunir os meios para uma equipa verdadeiramente profissional.

Aliás teremos que ter sempre em conta que nunca será o dinheiro que nos manterá no top 14 dos sevens, porque esse será sempre menos do que o dos outros.

Países hoje de fora desse topo, como o Japão ou a Rússia, já têm mais meios que nós, e com o olimpismo, progressivamente serão mais.

O que nos pode manter no topo é uma estratégia adequada às nossas possibilidades, uma estratégia que seja capaz de concitar em seu torno todos os agentes (dirigentes, técnicos, jogadores).
Mas estratégia é algo que nunca foi propriamente uma tradição do rugby nacional.


Anónimo disse...

Grande artigo, pena é que este assunto se fale a muito tempo e nunca existiu um aposta real da FPR nos sevens, na ideia das direções os sevens é uma variante engraçada.
Depois as apostas feitas nos últimos dois anos vieram acabar com um trabalho feito de muitos anos, a falta de planeamento, a falta de compromisso, o desrespeito pela camisola, as exigências dos jogadores que acabaram de chegar as seleções , as condições dadas aos jogadores ( que na opinião da direção são muitas)tudo foi admitido nos últimos dois anos.
Mas na realidade o que a direção da FPR fez foi levar os sevens ao mais baixo nivel que alguma vez existiu em Portugal.
Ao ler os comentários reparei que existe que diga que os clubes não apoiam, não é verdade, os clubes sempre deram o seu apoio, o que é necessário é falar com eles e planear desde o inicio da época , o que não existiu.
Agora vem os fundos dos olímpicos, vamos ver se o dinheiro é mesmo todo utilizado para este fim.

João Miguel Ejarque disse...

Os jogadores teem de ser contratados pela FPR, a distribuídos pelos clubes igualmente. Dois por cada equipa da divisão principal. Podem ser formados no técnico ou no direito, mas se há três do direito, o GDD escolhe os dois que quer e o terceiro vai para outro clube por decisão da FPR. Ou então não recebem e não fazem parte do grupo dos sevens. Deixam de ser jogadores de um clube e pesam a ser propriedade da FPR. Simples, e acaba-se a chantagem, os oportunismos e as vedetices.
João ejarque

Anónimo disse...

Não entendo, tanto se diz que os clubes têm que ser a base do rugby e da federação, como se defende que os jogadores devem ir para a selecção sempre que chamados, desprezando os clubes. Portanto um clube organiza a sua época, constroi a sua equipa e quando vai jogar não a tem porque foram para a selecção, que se está a marimbar para os clubes, pois não organiza os calendários.
Já agora fico assustado quando alguém escreve que esta direcção da FPR faz o melhor que pode, quando estamos a falar em casos de policia!

Great Duke disse...

Na verdade, a partir do momento em que existe um contrato com a Federação, os jogadores deixam de ser dos clubes.

Esse é um dos pontos que tem que ser bem discutido com os clubes e os jogadores...

Anónimo disse...

Muito bom texto do Pedro Ribeiro. Realmente é mesmo um verdadeiro desperdício de potencialidades se Portugal não apostar mais na vertente de VII em detrimento da de XV.

Esta vertente ao tornar-se olímpica faz com que se verifique uma maior aposta nela, e isso faz automaticamente com que a competitividade aumente. Não podemos é fechar-nos na nossa concha e pensarmos "ai tadinhos de nós que agora começa a ser mais difícil"... Não, vamos continuar na luta com as nossas armas (que as temos, não são ficção!!).

É necessário tentar criar um grupo relativamente fixo de jogadores, não digo 20, mas se calhar uns 12 ou 13 chegavam, com os restantes a alternarem entre eles. Isso creio ser mesmo o primeiro passo a dar. E depois claro, apostar numa equipa técnica...

Tudo isto tem de se fazer com paixão e dedicação, mas claro que a componente financeira é determinante. O exemplo da equipa canadiana é muito bom, mas como esse há outros. Por exemplo, a Espanha desde os jogos de Barcelona 92 que se tornou uma potência em muitos desportos, entre os quais praticamente todos os colectivos (futebol, basquetebol, pólo aquático, andebol, hóquei em patins, hóquei em campo, ...) e isso conseguiu-se pois conseguiram envolver a esfera privada no apoio a estes desportos, e não ficar à espera unicamente da mão do Estado!

Sendo o rugby agora modalidade olímpica, com a nossa equipa na elite do rugby mundial de sevens, gostando os portugueses de rugby, creio que vale a pena o esforço de tentar encontrar apoios privados para esta equipa. Acredito que eles possam surgir...
E depois claro, outras coisas podiam ser feitas em termos desportivos, como criar um circuito nacional de sevens, começar a incutir os sevens desde mais cedo na formação, ...

Nada de baixar os braços e vamos à luta! Como eu li num comentário a um post anterior, se o Quénia consegue ter estrutura para ter uma equipa de sevens no alto nível então nós também conseguimos!

Força Portugal!! Rugby sevens all the way :)

Anónimo disse...

Pode-se ser a favor ou contra uma selecção profissional de sevens.

Mas quem é a favor tem que concordar que esses profissionais terão que ter contracto com a FPR e não com clubes. Como é que poderia ser doutra forma?

Às vezes, parece que há quem ainda não tenha pensado nisto.