31 de março de 2014

A ADMINISTRAÇÃO TEM QUE RESPEITAR O ESPÍRITO DO JOGO

O rugby é uma modalidade desportiva muito especial, e quem a pratica percebe que assim é no momento que abre o Livro de Leis e lê, logo nas primeiras páginas, que ela deve ser praticada de acordo com a letra e segundo o Espírito das Leis do Jogo.

Ao princípio, o novato pode achar estranho, pode não compreender o que aquilo quer dizer, mas aos poucos vai entendendo que, entre outros valores, no rugby se dá especial importância à camaradagem e à lealdade, entre companheiros de equipa ou entre adversários.

O exemplo é outro dos pilares em que assenta o Espírito do Jogo, e é deles que hoje vamos falar, abordando uma questão que tem estado na ordem do dia - os regulamentos e a gestão da modalidade.


Não basta fazerem-se regulamentos, nem nomear gestores para esta ou para aquela área.

É absolutamente indispensável que estes regulamentos e aqueles gestores compreendam e assimilem que o Espírito do Jogo tem forçosamente que estar presente em todos os momentos da vida da modalidade.

Assim, ao elaborar um regulamento, o gestor tem que ter presente a lealdade que deve a todos os que praticam a modalidade, elaborando um documento que defenda os interesses da comunidade e não os interesses deste ou daquele clube ou indivíduo.

E, ao pôr esse regulamento em prática, o gestor fica obrigado a tudo fazer para que ele resulte da forma e no Espírito dentro do qual ele foi elaborado, dando assim um forte exemplo de solidariedade em relação aos desejos da comunidade.

Em 2012-2013 entrou em vigor um novo regulamento da Divisão de Honra, que não apenas aumentava o número de equipas que nela participam, como pretendia resolver o problema da sistemática interrupção da prova, por altura da realização dos jogos da selecção nacional de XV - os Lobos - o que tem sido apontado ao longo dos anos, como lesivo dos interesses da modalidade.

Assim, pretendia-se com a introdução de um calendário condicionado, não interromper a disputa da competição, marcando para os dias em que a selecção nacional jogasse, os encontros entre as equipas teoricamente mais fortes e as equipas teoricamente mais fracas.
As equipas teoricamente mais fortes teriam assim a possibilidade de utilizar nessas partidas os jogadores menos utilizados, ora por serem seniores novos, ora por estarem a recuperar de lesão, ora por serem realmente novos na modalidade.
E as equipas mais fracas, beneficiariam do facto de defrontarem as equipas mais fortes, sem que elas se encontrassem na sua máxima força, o que poderia servir de equilibrador das forças em presença.

Com estas premissas foi organizado o calendário dessa época de 2012-2013, e verificamos que Portugal realizou nesse período sete jogos internacionais (cinco do Europeu das Nações e mais dois na janela de Novembro) e em todos os dias desses jogos, se disputou uma jornada da Divisão de Honra (todos os dados consideram apenas a Fase de Apuramento da prova).
A prova começou no fim de semana de 29 de Setembro e terminou no fim de semana de 6 de Abril, tendo havido interrupções na prova em 8 fins de semana, mas nunca em dia de jogo internacional.

Já em relação à época 2013-2014, o gestor esqueceu-se dos princípios que determinaram a opção por um calendário condicionado, e o respectivo calendário foi organizado com início em 21 de Setembro (uma semana mais cedo) e prolonga-se até ao final de semana de 3 de Maio (quatro semanas mais tarde), com a ocupação de mais cinco fins de semana do que em 2012-2013, e a interrupção do campeonato em 13 fins de semana, dos quais cinco coincidiram com dias de realização de jogo internacional...

O gestor corrompeu completamente o Espírito com que o regulamento foi elaborado, já que dos fins de semana em que se disputaram os oito jogo dos Lobos (cinco do Europeu das Nações e mais três na janela de Novembro), apenas em três a Divisão de Honra não foi interrompida (nos dias dos jogos com Fiji, Roménia e Bélgica)

Ou seja, das 10 jornadas em que as equipas mais fortes enfrentaram as equipas mais fracas (teoricamente, claro), na primeira época apenas três delas se realizaram em dias sem jogos dos Lobos, e na época 2013-2014 foram sete as jornadas em que as equipas mais fracas enfrentaram as mais fortes, sem a realização simultânea de jogos da selecção nacional.

E além disso, a interrupção da prova em 13 fins de semana contrariou também a intenção que presidiu à elaboração do regulamento, que pretendia evitar o mais possível as paragens na disputa da competição.

Claramente se verifica que o gestor não respeitou o Espírito dos regulamentos, contrariando assim o princípio de lealdade a que deveria estar obrigado, e falhou ao dar um mau exemplo à comunidade do rugby nacional.

Como se pode pedir a um jogador, um árbitro ou um treinador, para respeitar o Espírito dos regulamentos, quando aquele que tem a responsabilidade de gerir a modalidade dá exemplos contrários, fazendo batota, ou dando um jeitinho, para satisfazer os seus interesses e não para defender os que foram claramente expressos pela comunidade?


8 comentários:

Anónimo disse...

os jogos dos lusitanos não contam?
Nas minhas contas foram 3 jogos da janela de novembro, 5 do 6 nações e 6 da amlin cup. O que no total dá 14 jogos internacionais.

Sabendo que os jogos dos lusitanos poderão não ser considerados por si como internacionais, mas que na prática envolveu a selecção nacional.

Como poderiam alguns clubes competir quando tinham mais de 8 jogadores envolvidos? Mesmo assim em alguns jogos dos lusitanos competiram.

Convém dar uma opinião com os factos correctos.

Continuação de bom trabalho na divulgação da modalidade, mas que na minha modesta opinião deveria versar mais sobre o que se passa no campo e não nas secretarias

Manuel Cabral disse...

Claro que as pessoas devem procurar dar opiniões com dados correcto.
Por isso mesmo não incluímos os jogos dos Lusitanos, já que o calendário da época 2013-2014 foi elaborado ANTES de se saber que íamos participar na Amlin Cup,pelo que na sua preparação esses jogos não foram nem poderiam ter sido tomados em conta.

Anónimo disse...

É por estas e por outras que, muito brevemente, os clubes vão mostrar um cartão vermelho à FPR e despedir o seu presidente.

Anónimo disse...

Já vai tarde... aliás nunca o deveria ter sido!

Anónimo disse...

Caro Manuel Cabral,

entendo o que diz no texto, mas este está "enganoso".

Digo isto porque o objetivo de existir grupo A e B para definição dos jogos no dia em que teriamos seleção de XV (e sevens... estão aqui esquecidos...) não é o de equilibrar o campeonato... mas sim de permitir a realização de jogos do campeonatos naqueles mesmos fins de semana...

ou seja, entendo e estou de acordo que se deveriam ter realizados mais jogos naqueles fins de semana com o objetivo de não existirem tantas paragens! Agora não com o objetivo de tornar o campeonato mais equilibrado... ou acha que é assim que se equilibram campeonatos? daqui a bocado existiria uma regra que proibe certas equipas de jogar com internacionais contra as equipas do grupo B para existir equilibrio, e quem sabe, no limite, haver justiça entre as equipas B que defrontam as da equipa A...

não existindo jogos nos fins de semana da seleção até deu mais justiça, pois assim as equipas consideradas mais fracas enfrentarem equipas mais fortes na mesma condição....

Manuel Cabral disse...

O anónimo das 10:47 enviou novo comentário acusando-me de falsidade, que não publicarei dado que o seu teor não cabe nestas páginas.
No entanto aconselho que os interessados consultem o Boletim Oficial da FPR, que foi publicado no dia 19 de Julho de 2013, e onde está o Calendário da DH para a época 2013-14, tal e qual ele foi aplicado na prática.
E a Federação Espanhola de Rugby, apenas no final de Julho anunciou que o Olympus XV não participaria na Amlin Cup. Apenas após esta comunicação da FER se iniciou o processos de escolha do substituto da equipa de Espanha, pelo que confirmo absolutamente que o calendário da DH para 2013-14 foi elaborado ANTES que fosse conhecida a participação de uma equipa portuguesa na AMLIN.
Portanto anónimo das 10:47 - Tu és o Falso e pretendes apenas lançar a confusão numa matéria - mais uma - em que a FPR mentiu e meteu os pés pelas mãos. Não é difícil imaginar ao serviço de quem tu estás!
Claro que sempre que um comentário com essa intenção óbvia seja detectado, ele não será publicado.

Anónimo disse...

Também não entendo porque se pára o calendário na semana anterior aos jogos de selecção. Não seria possível obrigar todas as equipas a jogarem ao Sábado e só nesse Domingo se começar com a preparação para o jogo seguinte. Até porque muitas vezes os jogadores de França só chegam durante a semana, e também tiveram os seus jogos de campeonato.

Anónimo disse...

Parabéns pelo post Mão de Mestre!
Quem fez o calendário trabalhou mal, muito mal mesmo.
Esqueceu-se que no início de Maio são as últimas etapas do circuito Mundial de sevens, e este calendário poderá prejudicar e muito a preparação para os dois últimos torneios, que para nós são cruciais!
Espero estar enganado...

Já agora, quando são as eleições para a federação?