2 de março de 2014

TÉCNICO, O ‘DESTRUIDOR IMPLACÁVEL’, FEZ MAIS UM ESCALPE NA TAPADA *

* António Henriques
Ao derrotar Agronomia por 12-7 – e há quantos tal não acontecia! – no duelo mais importante da 15.ª jornada, entre os dois primeiros da DH, o Técnico confirmou o seu sensacional trajeto nesta temporada e distanciou-se um pouco mais na liderança, tendo cinco pontos de vantagem sobre Direito, agora segundo após vencer a Académica, em Monsanto (57-10).

CDUL e Belenenses também ganharam folgadamente (os universitários até exageraram e estabeleceram o recorde da época…), enquanto CDUP e Cascais empataram deixando em aberto a 6.ª posição do play-off para as derradeiras cinco jornadas.

AGRONOMIA *7-12 TÉCNICO (1-0) 

Se dúvidas ainda havia quanto ao valor e potencial desta surpreendente equipa do Técnico, o encontro da Tapada deu uma cabal resposta. 
Depois de sábado já não há equipa do grupo A que os engenheiros – do grupo B – não tenham um escalpe guardado nas Olaias. 
E desta feita nem servirá de desculpa que o adversário (como noutras ocasiões …) tivesse atletas envolvidos nos trabalhos das seleções, pois aos agrónomos só faltou o jovem internacional Fernando Almeida.
É oficial e está confirmado: esta equipa das Olaias tem óbvias limitações, poucas soluções nalguns sectores e continua a não ser favorita para conquistar o título nacional, mas há por ali muito jogador – português – a crescer como gente grande (o talonador João Lobo, o 2.ª linha Gonçalo Faustino, o n.º 8 Bernardo Câncio, o formação Luís Madaleno, André Aquino ou os manos Marques,…). 
E os principais candidatos já ficam a saber, se ainda o desconheciam, que em cada 80 minutos vai deixar a pele em campo e vender muito cara a derrota. 
E às vezes, como aconteceu diante de Agronomia, até poderá sair por cima…
Com Joe Gardener, ex-estrela das duas equipas, a assistir – esta semana ficará definido o seu futuro no futebol americano e poderá ainda voltar a Portugal antes de Maio… – e sob chuva insistente, o que deu ao jogo um clima tipicamente britânico, assistiu-se num relvado pesado a um belo jogo de râguebi, puro e duro, com ritmo, entrega de parte a parte e duas equipas empenhadas num combate sem tréguas, e o bom ambiente que se viveu na Tapada contrastou fortemente com o fanatismo idiota, inculto e que nada tem a ver com gente amante da modalidade, que originou os violentos confrontos entre claques que aconteceram no EUL, a meio do derby lisboeta da Primeirona que, apesar disso, decorreu com toda a correção.
Quem esteve na Tapada não deve ter dado o seu tempo por mal empregue e bastava uma jogatana destas em cada fim-de-semana para melhorar o rugby português e torná-lo bem mais competitivo.
Alinhando com o seu equipamento em jeito de camuflado de combate, os agrónomos entraram para a ‘guerra’ demasiado ansiosos e como que querendo, desde o apito inicial, intimidar um adversário menos habituado e estes confrontos e que julgavam bem mais… tenrinho. 
Enganaram-se.
E toda aquela ansiedade seria até má conselheira, pois nos primeiros dez minutos já tinha dado origem a três faltas – logo no minuto inicial, aos 3’ e aos 9’ –, permitindo ao Técnico estar na frente por 6-0 com duas conversões do excelente asa Sean Reidy, que desperdiçaria a segunda tentativa e ainda falharia outra na segunda parte e que deixou a sua equipa sempre com o credo na boca, à distância de um ensaio transformado do rival.
Mas dotado de uma avançada guerreira e que se alimenta do combate, a impor-se na luta pela bola no solo, o Técnico é um verdadeiro “Destruidor Implacável” do jogo adversário, asfixiando o adversário num apertado colete-de-forças e placando tudo o que se encontra em cima do relvado e veste equipamento diferente.
Agronomia só por uma vez conseguiu encontrar solução para ultrapassar aquele muro azul-e-branco quando ao minuto 27 o médio de abertura Duarte Cardoso Pinto – sempre muito marcado, algumas vezes mesmo sofrendo placagens tardias… –, vendo o adiantamento adversário, chutou por cima da defesa dos engenheiros, surgindo o rápido Guilherme Covas para fazer o único ensaio do jogo e virando o resultado para 7-6 favorável aos da casa.
Com o Técnico a dominar claramente os alinhamentos (Egelmeer, Faustino e Francisco Dias estiveram sempre nas suas sete-quintas nesse departamento) e até, aqui e ali, surpreendendo ao equilibrar e até sobressair nas mêlées, o jogo continuava sempre muito longe das áreas de 22. 
E nova falta no solo permitiu a Sean Reidy (apesar de só ter chegado em final de Outubro, o asa neozelandês é um chutador tremendamente eficaz e já é o quarto melhor marcador da prova, com 111 pontos!) dar nova cambalhota no marcador, para 9-7 ao intervalo.
O segundo tempo manteve as características, com a oval a ser discutida palmo a palmo com grande entrega por todos os jogadores, mas sempre longe das áreas de ensaio, pelo que lances de perigo, sábado, na Tapada, foram tal como galinhas de quatro pernas: coisa ali pouco vista. 
Os engenheiros – que aos 47' alargaram para 12-7 com novo pontapé de Reidy – continuavam ocupando o meio-campo adversário por superiores períodos, anulando todas as tentativas agrónomas de empurrar o jogo para os 22 contrários.
A sensação de impotência e a falta de lucidez ia crescendo nas hostes da casa, que aos 64' passavam a jogar com 14 durante 10' por amarelo ao entrado pilar Francisco Domingues. 
Mas para lá de Reidy ter desperdiçado o pontapé decorrente da falta (e que teria colocado o rival a oito pontos), os das Olaias não tiraram partido dessa superioridade.
Só logo a seguir se ouviu pela primeira vez na tarde a habitualmente calorosa claque da casa no conhecido “Agro! Agro! Agronomia!” e isso diz tudo sobre como o jogo ia decorrendo.
Talvez fruto desse apoio e com algum cansaço a começar a notar-se nos engenheiros, nos derradeiros sete/oito minutos o quinze da casa caiu por fim em cima do Técnico, que cerrou ainda mais os dentes e foi roubando bolas nos mauls e rucks, e fazendo adversários cair como castelos de cartas.
Mas a equipa de Murray Cox continuaria até ao fim – o jogo acabaria com sururu e dois vermelhos para o capitão agrónomo António Duarte e para o 2.ª linha engenheiro Francisco Dias – sem soluções, nem cabeça, para vergar um quinze muito sólido, especialista em meter o jogo adversário no congelador, que só por uma vez se deixou perfurar na defesa, e onde os terceira-linhas Niels Egelmeer (que carro de combate!) e Sean Reidy cobrem o terreno de forma exemplar, para lá do abertura Kane Hancy, que além de treinador, em campo é tudo-e-mais-uma-coisa: formação quando é preciso, centro, ponta, defesa ou até um nono avançado. 
Com ele realmente o Técnico parte com vantagem: joga sempre com 17 ou 18 contra 15.

DIREITO *57-10 ACADÉMICA (8-1)

Após épocas seguidas a constituir uma dor de cabeça para os advogados em Monsanto, a partida de sábado ficará assinalada como uma das mais fracas exibições dos pretos na casa de Direito nos últimos anos. 
A equipa de Coimbra até seria a primeira a marcar (3-0), mas três ensaios sucessivos por parte dos homens de Martim Aguiar trataram logo de cavar a conveniente distância que separa os dois quinzes. 
Sérgio Franco faria a seguir o único ensaio da Académica – apenas o quinto desta época para o melhor marcador da temporada passada, quando foi autor de 16 – para 29-10 ao intervalo.
Na segunda parte os advogados alcançariam mais quatro ensaios, concluindo uma atuação segura com oito, dois deles através de António Aguilar. 
Registo ainda para os 15 pontos (seis conversões e uma penalidade) de Gonçalo Malheiro que até começou no banco mas entraria ainda na primeira parte rendendo o lesionado Miguel Leal, e que é agora o 3.º melhor na lista de marcadores, com 115 pontos.


CDUL *93-0 MONTEMOR (15-0)


Um, dois, três, quatro….. e quinze no final da função. 
 Foi este o número de ensaios conseguidos pelo CDUL que construiu o resultado mais desnivelado da
época na DH ao esmagar, sem apelo nem agravo, o RC Montemor, no EU Lisboa, por 93-0. 
A história do jogo resume-se ao registo dos marcadores, com Tomás Noronha a somar mais três para a sua conta pessoal, alargando a vantagem na lista dos melhores marcadores da prova, com 15 ensaios. 
Ainda houve bis para Nuno Penha e Costa, Tomás Appleton e Sebastião Villax (o jovem 3.ª linha é o 2.º melhor anotador dos universitários do campeonato com sete ensaios). E o regressado Pedro Cabral – à atenção do selecionador Frederico Sousa – foi autor de nove conversões.


BELENENSES *54-3 CRAV (8-0)

Cedo os azuis marcaram o primeiro ensaio da tarde no sintético do Jamor, por intermédio do excelente e irrequieto João Freudenthal (melhor marcador da turma do Restelo, com sete ensaios).

Seguir-se-iam mais sete numa partida de sentido (quase) único. 

O capitão Diogo Miranda apontou dois numa partida que viu António Vieira de Almeida voltar à lista de marcadores, Júnior Barbosa estrear-se e o ‘armário’ Jacobus Odendaal fazer o seu quinto na prova.


CDUP 14-14 CASCAIS (1-1)

Numa tarde-noite com péssimas condições climatéricas em Leça da Palmeira (chuva forte e enervante ventania), os dois quinzes mais jovens da DH disputaram uma partida muito equilibrada e que redundaria na (apenas) segunda igualdade da época, depois do 15-15 entre Académica e CRAV, da 11.ª jornada.
A meteorologia não permitia sequer sonhar com um jogo expansivo pelo que as equipas se entretiveram a lutar bravamente pela oval nos avançados, onde o pack da Linha, mais poderoso, teve alguma preponderância – mas sem resultados práticos. 
O CDUP chegou a 8-0, com um ensaio do Nuno Sousa Guedes (quem mais?), mas Frederico d’Orey reduziria para o Dramático, com o intervalo a chegar com 11-5 para os agora treinados por João Pedro Varela.
Com o piorar das condições, num segundo tempo sem ensaios, o Cascais passou para a frente (14-11) graças a três penalidades de Rodrigo Ribeiro, mas o derradeiro esforço portuense seria recompensado com Pedro Cordeiro a converter a penalidade que empatava a partida, mantendo as duas formações separadas por quatro pontos e ambas ainda esperançadas na qualificação para o play-off.


8 comentários:

Claudio disse...

Por acaso estive lá, muito impressionante o fisico do 7 do Técnico ! Mas o 16 da Agronomia (F Domingues) também muito impressionante fisicamente !

Anónimo disse...

Vi os jogos do Tecnico contra Direito e Agronomia e não tenho duvidas sobre a qualidade da equipa.
A equipa tem um sistema de jogo muito equilibrado e já há muito tempo que não via uma equipa Portuguesa jogar com um ritmo tão consistente durante toda a partida.
os estrangeiros são de excelente qualidade e não vejo qualquer problema na sua participação neste Campeonato, tb outras equipas no passado fizeram o mesmo para reforçar as suas equipas. Se aproveitam para lançar como o Direito fez uma boa base de sustentação o futuro o dirá.
Só uma questão, negativa, onde andavam todos estes que agora são ferozes apoiantes e que se manifestam não bancadas e fora delas como verdadeiros futeboleiros.
Esta equipa merecia adeptos mais bem educados.
Já agora não se esqueçma da velha frase as contas só se fazem no fim.

Anónimo disse...

Caro anónimo de 3 de Março das 12H50

Com todo o respeito, os «ferozes» adeptos são exatamente aos «ferozes» adeptos de Agronomia, do Direito ou do CDUL. Ou tens andado distraído ou não és presença habitual nos campos de rugby.

Também estive na Tapada e não vi essa ferocidade. Vi sim, os adeptos reagiram quando viam jogadores a ser objeto de intimidações (como o atesta o cronista do MdM sobre o jogo) à frente do árbitro e dos fiscais de linha e nada acontecer.

E vi os ferozes adeptos apoiar a sua equipa de cada vez que ou marcava pontos, ou faziam placagens ou boas jogadas.

Nota-se, enfim, alguma azia da tua parte, com essa frase com que terminas o comentário.

Parece que o Técnico incomoda muita gente. Mas creio que isso só trás vantagens a uma competição em que habitualmente apenas 3 ou 4 equipas contavam para as contas finais.

Ou também achas que isso é demasiadamente feroz?

Anónimo disse...

Vitória clara do Belenenses, embora o Crav, poderia ter saído facilmente de lá com 1 ou 2 ensaios.
Este jogo foi claramente ganho pela avançadada restelo.


Manuel Cabral disse...

Ao anónimo adepto do Técnico que se dirige ao autor do texto dizendo entre outras maravilhas: "informe-se sobre o nível académico dos atletas" ou "Quanto aos adeptos, informe-se sobre os acontecimentos no seu clube sobre agressões: a treinadores e jogadores e a enorme pressão sobre os árbitros e jogadores da equipa adversária.
Aguardando sua visita"

É por estas e por outras que muitos comentários são rejeitados. Primeiro porque os "meninos" que os fazem não sabem ler, são os chamados "analfabetos funcionais", ou seja, juntam as letras, repetem as palavras, mas não conseguem entender o que lá está escrito.

Se soubesse ler, o anónimo que escreveu aquelas preciosidades, teria entendido que o autor quando se referiu a "fanatismo idiota e inculto" se referia ao que se passou no Estádio Universitário e não ao que se passou na Tapada, que até classificou de "bom ambiente"...

Depois, porque em termos de rugby é ignorante e não faz ideia quem são as pessoas, não conhece a história do seu clube e pretende atingir com comentários daquela natureza, ou mesmo com ameaças, alguém que há mais de 30 anos leva a nossa modalidade a todo o lado, quer pela imprensa escrita, quer pela televisão, e que mereceu os dois prémios que a FPR lhe atribuiu directamente e os outros dois que foram atribuídos aos orgãos de comunicação para quem ele trabalha, e isto depois de uma longa carreira como jogador, num clube perto de si...

Finalmente, e rapidamente, porque pensa que um grau académico é sinónimo de educação, civismo ou fair-play, mostrando desprezo e sentimento de superioridade em relação a quem não possui um...

Que me desculpem os que usam a caixa de comentários de uma forma séria e ponderada, mas com tanto lixo a cair nela, por vezes sinto necessidade de libertar a alma...

Anónimo disse...

Nunca percebi a razão de tanta hostilidade em relação ao Técnico, suas equipas e seus adeptos. Foi necessário chegarmos a Março e liderarmos o campenato por 5 pontos para vermos referências à qualidade da equipa e dos seus jogadores Nacionais. Até à data, os nossos jogadores estrangeiros e os jogadores das outras equipas ao serviço da selecção Nacional têm servido de agumento para diminuir o percurso exemplar do Técnico.
Nós, os seus adeptos, iremos continuar a seguilos, a puxar por eles e a defendelos, numa época onde ainda contamos com grandes jogos, muita festa e muita alegria.

Anónimo disse...

Não sou, nem pouco mais ou menos, adepto do Técncio, mas se está em primeiro é porque o merece, se tem estrangeiros é porque os contratou, não vejo problema nenhum. O comportamento dos adeptos já é outra coisa! Não esqueço o jogo nas Olaias contra o CDUL, em que cada vez que o Pedro Cabral chutava aos postes vinha uma chuva de assobios dos adeptos do Técnico e quando se observava melhor verificava-se que na sua maioria eram jogadores de outros escalões do mesmo clube. Como isto é possível? Só se for pelo exemplo que vem de cima!

Anónimo disse...

E pronto...

Agora como já não têm argumentos para falar do nível da equipa, da qualidade dos seus jogadores (portugueses incluídos), começam a disparar para cima dos adeptos.

Não quero entrar em comparações, mas já viram jogos do CDUL? Do Direito? Do Belenenses? Do Montemor? de Agronomia? Não?

Então é melhor irem assistir antes de falarem!

Se calhar tudo isto se passa porque treinadores e dirigentes dos escalões de formação, em vez de incutirem os valores do jogo - como o respeito pelo adeversário dentro e fora de campo - incutem nos miúdos o ter de ganhar a todo o custo. Para não falar dos pais.

É claro que, depois, tudo isto tem reflexos.

O que me parece é que já basta de atirar chumbo ao Técnico. No capítulo da disciplina ou dos valores, não se devem atirar pedras pois todos têm telhados de vidro.