13 de março de 2014

O SALDO DO EUROPEU DAS NAÇÕES E OS OBJECTIVOS DE PORTUGAL

Com a última jornada da Europeu das Nações de 2014, chega ao fim mais um período importante da história do rugby no continente - se não considerarmos as equipas que participam no Torneio das 6 Nações que continua a ser um grupo hermético e sem dar nenhuma indicação de que o deixará de ser no futuro mais próximo - com a conclusão de mais um apuramento para um Campeonato do Mundo.

A verdade é que o Europeu das Nações funciona como uma segunda divisão europeia, com a particularidade do seu vencedor ser apenas isso - campeão da segunda divisão - e sem qualquer via de acesso à divisão mais importante.


O agora Torneio das 6 Nações sempre foi um grupo elitista, desde quando se tratava apenas de uma competição a quatro com o nome de Home Championship (1893-1909 e 1931-1939) em que apenas participaram as equipas britânicas, ou Torneio das 5 Nações (1910-1930 e 1940-1999) com a participação da França.

Foi em 2000, com a entrada da Itália no restrito grupo que tomou a designação de Torneio das 6 Nações, que a Europa começou a organizar-se e se disputou simultaneamente a Taça da Europa das Nações - a segunda divisão - com a participação de Geórgia, Roménia, Marrocos, Espanha, Portugal e Holanda (classificados por esta ordem).

A grande diferença é que no Europeu das Nações foram desde logo criadas diversas divisões e um sistema de promoção/rebaixamento que premiou os melhores e puniu os mais fracos, e Portugal tem conseguido manter-se desde o primeiro minuto na divisão de topo, e teve mesmo a ousadia de vencer a competição no biénio 2003/2004.
(Veja os detalhes da competição no nosso hot site a ela dedicado).

E este é que deve ser o principal objectivo de Portugal, hoje e nos anos mais próximos - manter-se nesta divisão, e ano após ano, afastar o perigo do rebaixamento.

A classificação acumulada de 2013 e 2014 do Europeu das Nações, serviu de qualificativo Europeu para o Mundial de 2015 e assim continuará até que uma das equipas que disputam o Torneio das 6 Nações não consiga  ficar entre os 12 primeiros de um Mundial, com a incrível pré qualificação garantida para a competição seguinte.

EUOPEU DAS NAÇÕES 2014 E DERRADEIRA JORNADA DO QUALIFICATIVO DA EUROPA PARA O MUNDIAL DE 2015 (Acumulado de 2013 e 2014)

Chegou então ao fim a longa caminhada, e se já são conhecidas as equipas que terão acesso ao Mundial de Londres - Roménia e Geórgia - e aquela que segue para a Repescagem - Rússia - ainda está por saber qual das duas apuradas directamente irá integrar, como Europa 1, o grupo C com a Nova Zelândia, Argentina, Tonga e o vencedor do Campeonato Africano de 2014 - entre Madagascar, Quénia, Zimbabwé e Namíbia - que se desenrola entre 28 de Junho e 5 de Julho, em Madagascar.

O segundo classificado do Europeu das Nações irá juntar-se ao grupo D do Mundial, com a França, Irlanda, Itália e Canadá, e assim se compreende a importância do jogo deste sábado entre a Geórgia e a Roménia, em Tbilisi.

GEÓRGIA - ROMÉNIA (9-9)
Em termos de rugby a Geórgia é uma nação recente, que se tornou membro da IRB em 1992, em consequência da sua independência declarada em 1991.

Antes disso, e desde os anos 60, jogava-se rugby no território, mas integrado na União Soviética , e apenas após 1997, quando o francês Claude Saurel foi nomeado treinador da equipa nacional de sevens e mais tarde (1999) da equipa de XV, a modalidade começou a se desenvolver no país, sendo hoje considerada uma das nações que progrediu mais rapidamente, em muito devido à pressão exercida por Saurel para que os seus jogadores emigrassem para jogar em França, onde ainda hoje se encontra a maior parte do seu plantel, em equipas do Top-14 e da ProD2.

Aceitando o facto de que a participação de jogadores seus nas fortes competições francesas era um essencial foco de desenvolvimento - e não os tratando de forma desprezível como pensos rápidos descartáveis - os georgianos foram desenvolvendo as suas competições internas e divulgando o jogo pelo país, e no sábado espera-se uma enchente no Mikheil Meskhi Stadium, em Tbilisi, falando-se da presença dos primeiros ministros dos dois países e eventualmente do presidente da Geórgia.
Recorde-se que no dia 22 de Fevereiro o jogo Geórgia-Rússia foi presenciado por 60 mil pessoas...

A rivalidade entre os dois países é grande, e o equilíbrio no global dos jogos disputados também (oito vitórias para cada lado e um empate) embora a Geórgia leve vantagem no confronto directo nos anos mais recentes, tendo vencido seis dos oito últimos encontros, e empatando no ano passado em Bucareste.

Recorde-se que a Geórgia venceu o Europeu das Nações em seis ocasiões, das quais as últimas cinco aconteceram nas seis mais recentes edições da prova...

A Geórgia espera vencer em Tbilisi, e espera em Londres ultrapassar os resultados das suas anteriores participações na competição, em que esteve sempre presente desde 2003, que se saldam por quatro derrotas em 2003, e uma vitória e três derrotas em 2007 (Namíbia 30-0) e 2011 (Roménia 25-9).
Caso consiga vencer duas partidas a Geórgia deverá garantir a participação automática no Mundial 2019, o que abre caminho para mais uma equipa europeia na prova...

A Roménia foi uma das grandes potencias do rugby na Europa, no tempo do regime comunista no país, tendo vencido, por exemplo, entre 1960 e 1990, a Itália por 13 vezes, empatando uma vez e perdendo sete, e tendo no mesmo período batido a França por oito vezes e empatado duas, em 32 partidas.

Depois da queda do regime, e apesar de se manter entre as melhores da Europa, a equipa perdeu muito do seu brilho, embora apenas em 2007-2008 (3º), 2009 (4º) e 2012 (3º) não tenha ficado entre os dois primeiros do Europeu das Nações, que venceu por quatro vezes, em 2000, 2002, 2005-2006 e 2010.

Este ano a Roménia adiantou-se na classificação, graças ao ponto bónus que a Geórgia não conseguiu em Espanha, mas o encontro de Tbilisi é um jogo claramente de tripla...

Em termos de Mundial a Roménia participou em todas as edições da prova, e se em 1995 e 2011 não conseguiu evitar a derrota em todas as partidas, em 1987 venceu o Zimbabwé por 21-20, em 1991 bateu a Fiji por 17-15, em 1999 derrotou os Estados Unidos por 27-25, em 2003 ganhou à Namíbia por 37-7 e, finalmente, em 2007 levou a melhor sobre Portugal por 14-10.
Também do lado romeno existe a convicção que em 2015 a equipa vai conseguir mais do que uma singela vitória, e para que isso aconteça a participação no grupo C iria ajudar bastante...

BÉLGICA - RÚSSIA (32-43)
Duas equipas com destinos diferentes no Europeu das Nações, com os belgas a serem rebaixados para a divisão 1B e os russos a conseguirem o terceiro lugar que dá direito a disputar a repescagem para o Mundial de Londres.

Esta foi a primeira participação da Bélgica na principal divisão do Europeu, mas como a Alemanha em 2009-2010 e a Ucrânia em 2011-2012 a equipa não se conseguiu impôr entre as restantes e o melhor resultado obtido até agora foi o empate conseguido em Bruxelas contra a Espanha no ano passado.

Apesar de ter tentado o concurso de jogadores belgas a jogar em França, os Diabos Negros foram claramente a pior equipa da prova e terão ainda um longo caminho a percorrer até conseguirem voltar a esta divisão e aqui permanecer.

Quanto à Rússia tudo é diferente, e o que mais se estranha é que um país com um enorme potencial sinta tanta dificuldade em se afirmar como equipa de topo na Europa, a par da Geórgia ou da Roménia, ficando apenas num espaço abaixo daquele patamar, mas ainda assim uns pontos acima do par Espanha/Portugal.

Participando no Europeu desde o seu segundo ano, os russos nunca venceram a prova, mas também nunca terminaram em quinto, contando dois segundos lugares (2007-2008 e 2009), quatro  terceiros (2001-2002, 2010, 2013 e 2014) e outros tantos quartos (2003-2004, 2005-2006, 2011 e 2012).

Em termos de Mundial a Rússia apenas participou na edição de 2011, depois de ter conseguido o apuramento directo no acumulado dos anos de 2009 e 2010, juntamente com a Geórgia e deixando a Roménia com a necessidade de disputar a repescagem.

PORTUGAL - ESPANHA (9-9)
Portugal é com a Roménia e a Geórgia um dos totalistas da divisão 1A do Europeu das Nações, tem nas suas prateleiras um título na prova (2003-2004) e participou num Mundial (2007), após um processo de repescagem em que bateu Marrocos e o Uruguai.

A Espanha participou em todos os Europeus da Nações com excepção do de 2005-2006, depois de
rebaixada no final de 2004, e de voltar à divisão 1A em 2007, a melhor classificação que conseguiu na prova foi o 2º lugar em 2012, já que nos restantes anos ficou no 4º posto em 2000, 2001-2002 e 2007-2008, na 5ª posição em 2009, 2010 e 2011, e em 6º lugar em 2003-2004 e 2013.

Quanto ao Mundial, os espanhóis estiveram no de 1999 em que perderam os três jogos que realizaram, e quanto ao frente a frente com os Lobos, os Leões levaram vantagem até 1998, com 17 vitórias, um empate e duas derrotas, mas a partir de 2000 as coisas mudaram de figura e os portugueses passaram para a frente com oito vitórias, um empate e quatro derrotas até ao presente.

O encontro deste fim de semana vai definir quem fica na quarta posição e quem fica na quinta, não estando nenhuma das equipas em risco de rebaixamento, já reservado para a Bélgica, assim como nenhuma delas pode chegar ao terceiro posto, que é já da Rússia.

Mas está em jogo o domínio da Península Ibérica, que os portugueses detêm em termos de clubes com a vitória do Direito (2013) e do CDUL (2012) na Taça Ibérica, mas que não está claro em termos de selecções com a superioridade praticamente alternada entre as duas nações, desde 2007 para cá - (Portugal-Espanha) 21-18 (2007), 17-21 (2008), 24-19 (2009), 33-15 (2010), 10-25 (2011), 23-17 (2012) e um empate em 2013 (9-9).

E este sim deverá ser o segundo objectivo da nossa representação nacional este ano e nos anos mais próximos - assegurar a supremacia Ibérica.

A par destes dois objectivos desportivos, os Lobos precisam urgentemente de voltar a ser uma equipa amada pelos portugueses, uma equipa que todos sintam que lhes pertence e que, cada vez que entra em campo leve consigo a vontade de todos, num estádio cheio como acontecia no passado, fosse o jogo em Lisboa, em Coimbra, nos Arcos...

Hoje o divórcio entre selecção e público é uma triste realidade, enquanto os Lobos jogam em Lisboa grande parte dos potenciais adeptos e apoiantes estão a jogar por esse país fora, impedidos de participar na festa, ou tão desinteressados por falta de informação ou desconsolados com uma informação deficiente que tanto lhes faz que jogue Portugal ou a selecção das Berlengas...

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