27 de março de 2014

ESCÓCIA E ITÁLIA DEVEM JOGAR COM GEÓRGIA E ROMÉNIA *

* Paul Tait
A organização do rugby europeu foi severamente questionada quando Escócia e Itália foram humilhadas no Torneio das Seis Nações. 

As duas selecções foram seriamente derrotadas e não pela primeira vez no torneio - elas perderam por 52-11 e 51-3 contra Inglaterra e País de Gales, respectivamente

No Seis Nações a Escócia ganhou uma partida e perdeu quatro, incluindo grandes derrotas contra País de Gales, Inglaterra e Irlanda. 

A Itália não conseguiu ganhar um jogo, mas sem dúvida teve pouca sorte ao perder contra a Escócia por um drop no final do jogo. 
Os dois países tiveram em geral, um comportamento semelhante pois não conseguiram competir com os quatro outros no torneio.

Como resultado, Escócia caiu no ranking mundial da IRB mas manteve a 10ª posição, e a Itália está
atualmente no 14º posto. 
O ranking está longe de ser perfeito mas, mesmo assim, permite formar conclusões racionais em muitos casos. 
Um deles é a falta de competição internacional entre as nações do Tier One e os do Tier Two da Europa. A Itália tem uma posição na tabela da IRB pior que Samoa, Fiji, Tonga e Canadá - quatro nações oficialmente do Tier Two.

A Itália enfrenta esses países todo os anos em casa e fora, incluindo jogos internacionais na Ameríca do Norte, Asia e Oceania. 
Mas, a Itália nunca enfrenta a Geórgia ou Romenia, seleções que estão atualmente nas posições 16 e 17 no ranking da IRB. 
Ou seja, mesmo tendo jogado em Toronto e Houston em Junho de 2012 e jogando em Tóquio, Suva e Apia no próximo mês de Junho, a Itália nunca fez um jogo teste em Tbilisi e a última vez que jogou contra a Roménia foi no Mundial de 2007.

A última vez que a Itália jogou na Roménia foi em 2004 e a Escócia jogou pela última vez no ano a seguir. 
Nenhum dos dois países jogou na Geórgia e esta deveria ser encarado como uma prioridade pela IRB. 
Com a proposta para desenvolver a Geórgia e a criação de um caminho para juntar as melhores seleções, tem que haver uma agenda internacional bem organizada tanto jogando em casa, como jogando fora. 

A Irlanda receberá a Geórgia no seu primeiro test match de novembro e Escócia e Itália deveriam repetir isso nos próximos anos, para além de jogarem em Tbilisi. 
Tal como a Itália, a Escócia jogou contra equipas do Tier Two como Fiji e Samoa em 2012 e fará o mesmo contra Canadá e Estados Unidos no final da temporada atual.

No ranking da IRB, a Escócia está mais próxima da Geórgia do que da Inglaterra, França, Irlanda ou País
de Gales. 
Mesmo assim jogará no Seis Nações de 2015, assim como a Itália, mas, curiosamente, a Itália está mais próxima dos Estados Unidos do que da Samoa. 
O ranking sugere firmemente que Geórgia tem uma grande necessidade de modificar o seu calendário internacional, e os membros do Seis Nações são os que deveriam colocar isto em prática.

Antes de entrar para antigo Cinco Nações em 2000, a Itália jogava regularmente contra os mesmos países que agora enfrenta todos os anos. 
A Itália jogou com regularidade contra os membros do Five Nations tanto como visitada como visitante. Entre Março de 1991 e Agosto de 1999, a Itália jogou cinco encontros contra o País de Gales, quatro contra a Inglaterra, três contra Escócia e oito contra a França. 
Ou seja a mudança ao entrar para o Seis Nações simplificou muito e com os italianos vencendo jogos oficiais contra Escócia e Irlanda, a pressão para ser incluída foi muito forte.

Desde seu ingresso no Seis Nações os jogos contra outras equipas europeias foram tão reduzidos que agora simplesmente não existem fora dos Mundiais.
Isso contribuiu significativamente para o seu ranking atual porque a Itália joga com nada menos de sete nações do Tier One por ano. 
Se a Itália enfrentasse a Geórgia e Romania todos os anos, poderia ganhar pontos no ranking e subir.

Rugby global precisa da Itália e Escócia no Torneio de Seis Nações mas também é importante fazer algo para incorporar a participação de Geórgia. 
Alterar o formato deste Torneio é o objetivo de torcedores dos Lelos mas isso demorará muito tempo a ser realizado. 
Politicas tem que ser tomadas para que as mudanças aconteçam. 
Entre elas, a Itália e Escócia precisam jogar em Tbilisi. 
A IRB tem que tomar a atitude para que a Geórgia consiga organizar encontros em casa contra ambos antes da Copa do Mundo de 2015.

9 comentários:

Anónimo disse...

Caro Paul Tait,

Continuo sem entender muito bem os repetidos comentários sobre a Itália e Escócia "saírem" do Torneio das Seis Nações e "entrarem" a Roménia e Geórgia!

Tanto quanto sei, o 6 Nações é um torneio provado, que não está sob a égide do IRB e muito menos da FIRA. É algo distinto e não existe qualquer relação.

Além disso nem se pode em falar que uns desciam de competição, passando do 6 Nações para o Torneio das Nações da FIRA.

Pessoalmente acho que seria desastroso em termos competitivos, económicos e não representaria qualquer grande valor acrescentado. Não estou a ver estádios cheios num Inglaterra x Roménia (como sempre acontece com a Escócia e a Itália). Depois, em relação á Escócia seria interrompida a disputa da Calecuttá Cup, que se disputa há muitos e muitos anos.

Além disso, não estou a ver os adeptos a deslocarem-se a Bucareste ou à Geórgia, países ainda sem infraestruturas modernas e para competições deste nível.

É certo que estas 2 equipas estão uns furos abaixo de Gales, França e Inglaterra. Nada que não se resolva, é questão de tempo...

É apenas um ponto de vista - o meu - mas sou de opinião de que as coisas devem continuar como estão!

Anónimo disse...

As razões economicistas? Em desfavor do desporto! Não sera?

Luís Canongia Costa disse...

Há aqui um enorme equivoco sobre o que levou a Itália a entrar no 6 Nações. 0 6 Nações, como já aqui referi, é a maior fonte de financiamento do rugby internacional. A Itália não entrou no 6 Nações apenas por aspectos desportivos. A sua entrada significou um aumento de valor comercial do torneio. Por isso foi realizado um trabalho de longo prazo no sentido de a integrar.

A entrada da Geórgia, passando a 7 Nações, não valoriza o torneio (um sobe e desce matava económicamente o torneio, como já expliquei, com consequências para o rugby mundial que é por ele financiado).

Importa lembrar que no ano passado foi a França quem ficou em último, e que esta época foi assumidamente uma época de transição tanto para a Escócia (com um treinador a prazo) como para a Itália, que optou por lançar vários jovens nos torneio, preparando o Mundial de 2015.

Um 7 Nações seria um problema para o calendário internacional, que já não tem datas - veja-se que tanto a Premiership como o Top 14 têm de fazer jogos ao mesmo tempo do 6 Nações.

Encaixar mais dois fins-de-semana quando o que se quer é reduzir (por isso a "liga" dos campeões vai ser reduzida para 20 equipas) é impossível na óptica dos clubes. Os jogadores já não têm tempo suficiente de descanso, por isso as lesões estão a aumentar. Ainda aqui referi há dias porque o O'Shea deixou de fora os seus craques ingleses na última jornada: precisavam de repouso.

O rugby inglês e francês tem nos clubes a sua base, e os seus interesses não podem deixar de ser considerados. Por isso os clubes são contra qualquer mexida no 6 Nações.

É bom ter em conta que toda esta discussão resulta de uma política de desenvolvimento da IRB, que tem injectado milhões nas federações - incluindo a da Geórgia - com o objetivo de dar dimensão mundial à modalidade. E que esta política, financiada pelo 6 Nações, tem dado resultado (basta comparar com o Rugby League).

A Geórgia já tem um campeonato profissional (pago na ordem dos 250 euros / mês por jogador), já enche o estádio nacional nos jogos com a Rússia, mas é um país "longíquo", com elevadas despesas de deslocação, sem condições para albergar 30.000 turistas podem ir ver um jogo (o anónimo tem razão, o estádio em alguns jogos ficará ás moscas), se for caso disso, onde quase ninguém fala inglês, etc..

Por exemplo, o aeroporto de Tblissi sofreu obras, está bonito, e tem uma nova estação, mas o limite máximo do comboio deve ser para ai 100 passageiros (bonita, mas pequena). O terminal da última vez que lá estive, e não foi há muito tempo, só tinha 3 mangas, e tem para ai uma média de 2/3 partidas por hora. Lembro-me que apanhei o voo para Munique pelas 5 da manhã, e que até às 10h havia mais meia dúzia de voos.

Era bom que quem escreve estas coisas tivesse estado em Tblissi (ou pelo menos estudasse o assunto), para perceber a impossibilidade de montar por lá, em condições, um jogo internacional de rugby com standard 6 Nações (impossivel receber os mais de 40.000 ingleses que foram a Roma no último jogo deste ano). Rugby tem 3 partes!

Miguel Barbosa disse...

E so mais um jogos a levarem 50 pontos e o publico deixa de ir ver jogos da Inglaterra contra Italia ou Escocia. Por outro lado, se a Georgia e a Roménia derem luta, nao tenho duvida que o estadio enche. Mais, sempre ouvi dizer que o aumento de competição leva ao sucesso financeiro, pelo que a introdução de equipas que teoricamente aumentam o nivel competitivo, devera aumentar e nao diminuir os potencias lucros... Mas, infelizmente, o rugby nesta ilha e comandado por velhos tradicionalistas, e isso sim e que e o maior entrave a entrada de equipas como a Georgia e Romenia.

Luis Canongia Costa disse...

Acho que escrevi uma coisa que não é bem assim. A SNRL não dá dinheiro directamente à IRB, dá às federações, que por sua vez financiam projetos de desenvolvimento da IRB (por exemplo, a vinda de técnicos a Portugal). O impacto é indirecto. Cada federação recebe mais de 14/15 milhões de euros por ano da SNRL. A entrada da Geórgia não aumenta valor. A SNRL (Six Nations Rugby Limited) é uma empresa privada vocacionada para o lucro, não é uma federação/associação desportiva.

Anónimo disse...

A Itália e a Roménia encontraram-se no Mundial de 2007, com a vitória a sorrir aos primeiros por 24-18. Os resultados entre 3 destes países naquele Mundial, cujo grupo também fazia parte Portugal foram:
ITA 24 ROM 18
ITA 16 ESC 18
ROM 0 ESC 42

Anónimo disse...

Caro Luís C. Costa,

O 6N não é, de modo nenhum, a maior fonte de financiamento do rugby mundial.

Essa fonte é a RWC.

O 6N (torneio particular organizado por 6 federações), com mais ou menos lucros, não dá um cêntimo, nem um, aos países que não participam nele.

De outros não me admiraria tamanha confusão. De si, é que não esperava esta!

Cumprimentos amigos,
Pedro S. Martins

Anónimo disse...

PS - No restante, concordo consigo; sonhar com um 7N é um disparate; sonhar com promoção/despromoção no 6N é outro disparate. Já nem vale a pena explicar mais vezes porquê.

PSM

Anónimo disse...

Caro Luís C. Costa,

Li agora o seu segundo comentário.

"federações [das 6N] , que por sua vez financiam projetos de desenvolvimento da IRB (por exemplo, a vinda de técnicos a Portugal). O impacto é indirecto".

???

Pode dar um exemplo?

Tanto quanto eu sei a IRB é que financia os projectos de desenvolvimento pseudo-patrocinados pelas federaçãon das 6N.

PSM