14 de novembro de 2013

ARGENTINA UM MODELO DO TIER 1 A SER SEGUIDO

*Paul Tait
No rugby, as competições internacionais são divididas em três categorias.
A classificação em Tiers (camadas) é usada para estabelecer o patamar de capacidade actual e futuro das selecções, servindo para avaliar a quantidade de trabalho necessário para fazer uma equipa avançar para um Tier superior e também não cair para um nível inferior.

A hierarquização mundial proposta pelo IRB tem noventa e seis nações, mas a parte superior dos Tiers (Tier 1 + Tier 2) conta apenas com as melhores dezoito equipas.

Das equipas consideradas como sendo dos dois primeiros Tiers, todas (excepto a Geórgia) competiram em todas os Mundiais de Rugby, desde que foi ampliado o número de participantes de 16 para 20 em 1999. 
O primeiro nível é composto por dez equipas – Austrália, Argentina, Inglaterra, França, Irlanda, Itália, Nova Zelândia, Escócia, África do Sul e País de Gales.

As mesmas equipes são responsáveis por todos os lugares do Torneio 6 Nações
e do Rugby Championship. 
O segundo nível é composto por oito selecções – Canadá, Estados Unidos da América, Fiji, Geórgia, Japão, Roménia, Samoa e Tonga . 
O Mundial de 2011 juntou estas 18 equipas com a Namíbia e a Rússia. 
Como esperado, nenhuma destas equipas se classificou para as quartas-de-final do torneio e nem a Namíbia nem a Rússia venceram um jogo sequer – o que mostrou que os Tiers são um bom reflexo da ordem mundial do rugby.

Apesar dos Tiers não serem organizados geograficamente, a IRB e a Rugby World Cup Limited operam numa estrutura de base regional que, no caso da Namíbia por exemplo, resultou na qualificação do país africano para os quatro últimos mundiais, apesar da equipa nunca ter chegado perto de ganhar um único jogo do Mundial. 

A Namíbia, um país de Tier 3, tem sido a melhor da África durante os últimos doze anos (claro, sem precisar de competir contra a África do Sul), mas só participa dos Mundiais porque o continente tem uma vaga directa de qualificação. 

Esta controvérsia destaca as falhas das autoridades mundiais do rugby em criar um sistema justo para todos, em que africanos do Tier 3 têm uma enorme vantagem sobre todos outros do Tier 3 das outras regiões – Ásia, Europa, Oceania e Américas.

Enquanto a Namíbia se qualifica após derrotar equipes que não jogaram nos Campeonatos de 1999, 2003 ou 2007, a Rússia classificou-se após derrotar equipes que já participaram ao menos de uma daquelas provas – Portugal, Roménia e Espanha. 

E ainda há exemplos de outras equipas europeias que disputaram as eliminatórias dos Mundiais (Bélgica, Alemanha, Ucrânia, Polónia) com colocações melhores na hierarquia do IRB em relação  maior parte dos adversários que a Namíbia enfrentou para chegar ao Mundial 2011 (Senegal, Costa do Marfim, Zimbábue).

Enquanto a Namíbia é a grande beneficiada desta situação, a maior perdedora é
a América do Sul; o continente é o único que não garante ao vencedor de sua eliminatória a qualificação directa para o Mundial. 

O sistema injusto funciona de modo que o vencedor sul-americano enfrente o segundo da América do Norte com o ganhador do duelo se classificando para o Mundial ocupando a vaga “Américas 2”. 

Isso ignora a estrutura dos Tiers já que a América do Norte tem duas equipas do segundo Tier e a América do Sul nenhuma.

O sistema que tem o Uruguai como vencedor sul-americano enfrentando uma selecção do Tier 2 enquanto a Namíbia se classifica automaticamente depois de só enfrentar selecções do Tier 3 é injustificável e simplesmente estranho. 

Aparentemente, o recorde do Uruguai em Mundiais em que os Teros conseguiram duas vitórias em sete partidas foi totalmente desacreditado pela IRB.

Curiosamente, a equipa que o Uruguai derrotou no Mundial 2003, a Geórgia, passou a ser agora uma equipa do segundo Tier.

Apesar da IRB não estar fazendo o suficiente pelas Américas, a Argentina continua sendo um líder regional. 

Há pouco o que sugerir para que as equipes possam diminuir a diferença de qualidade entres elas e os Pumas. Ao contrário, Los Pumas é um conjunto permanentemente forte do nível mais alto (Tier 1) que continua a jogar muito bem contra os melhores.

Sem seus jogadores profissionais, a Argentina ainda é muito forte para os outros na América do Sul, as partidas contra Brasil, Chile e Uruguai fazem pouco sentido para o rugby argentino, mas são cruciais para o crescimento dessas selecções. 

A participação anual da Argentina no sul-americano (CONSUR A) dá uma chance aos potenciais atletas dos Pumas, mas ainda mais importante, funciona como uma sistema de parâmetro para os adversários da Argentina, todos os quais são de Tier 3 do rugby.

Das outras nove selecções do Tier 1 nenhuma equipe joga em uma competição regional anual comparável ao Campeonato Sul-Americano. 

Não há uma “Oceania Cup” envolvendo Austrália, Nova Zelândia e as três
selecções do Tier 2 – Fiji, Samoa e Tonga. 
Nem há um Campeonato Africano envolvendo África do Sul e outras equipes do continente. 
Na Europa, da mesma forma, não existe nenhuma competição com as equipas do Seis Nações e as nações emergentes. 

No Mundial de 2011, a Escócia derrotou a Geórgia por 15 a 6. 
A equipa do Tier 1 não conseguiu marcar um único ensaio. 
Mas ainda não há nenhuma competição internacional envolvendo as duas equipas ao mesmo tempo e a partida foi, surpreendentemente, a primeira entre as duas nações.

A explicação para não ter competições regionais não são as habilidades diferentes; se fosse assim, os Mundiais só teriam equipas do Tier 1. 

O primeiro nível simplesmente não tem interesse nesses encontros, devido aos custos financeiros envolvidos. 

Além de termos a Argentina enfrentando os seus homólogos sul-americanos na CONSUR, o único torneio comparável é a primeira divisão do Asian 5 Nations que tem o Japão (Tier 2) e os quatro próximos melhores asiáticos – actualmente Hong Kong, Filipinas, Coreia do Sul e Sri Lanka.

O Japão é a única selecção da Ásia que não é um Tier 3 e participou em todos os Mundiais. 
Por ser a maior liderança da Ásia o Japão sediará o Mundial 2019. 

De forma semelhante a Argentina se destaca como um líder regional. 

O Campeonato Sul-Americano é uma parte fundamental do desenvolvimento do
jogo global e salienta ainda que a Argentina tem sim como se candidatar a país-sede de um Mundial. 
E os brasileiros que tem interesse pelo rugby sabem disso e muitos esquecem totalmente as rivalidades inventadas pelo futebol para apreciar/apoiar a sus hermanos.

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