1 de novembro de 2013

TOP 14 - O MELHOR CAMPEONATO NACIONAL DO PLANETA *

* Paul Tait
O Campeonato Francês de rugby, conhecido como TOP 14, está cada vez se desenvolvendo mais.
Isso é impressionante porque já faz muito tempo que é o melhor campeonato nacional no planeta. 

A evolução do torneio para ser cada vez melhor tem quatro fontes. Elas são:
1. Um calendário que serve ao rugby francês
2. Jogadores importados
3. Equipas de cidades maiores
4. Estádios maiores


O resultado é que o produto é muito superior do que era 10 anos atrás e ao qual nenhuma outra liga no planeta chega perto. 

As grandes ligas do hemisfério sul são a ITM Cup na Nova Zelândia e a ABSA Currie Cup na África do Sul. 
Em ambos os casos a qualidade da liga diminuiu muito por causa do Super Rugby e o calendário do Rugby Championship. 
Sem os All Blacks e Springboks jogando, o produto não é o mesmo e os estádios ficam cada vez com menos espectadores. 

A solução é mudar o calendário do Super Rugby para ser mais aparecido com o
rugby europeu que tem a Heineken Cup e a Amlin Challenge Cup durante a temporada e não ter dois calendários separados que dêem a preferêencia ao Super Rugby.

Isso é uma diferença fundamental e explica bem porque o rugby francês está tão forte hoje em dia. 
A preferencia pela Heineken Cup ainda existe, mas não é uma diferença significativa – não como no Super Rugby. 
Assim a liga francesa nunca perdeu seu nível de qualidade ou de respeito e os clubes estão ficando cada vez mais ricos. por outro lado, clubes históricos como Otago da Nova Zelândia estão perdendo muito dinheiro e até podem acabar. 

O que está acontecendo é triste. 
15 anos atrás, o Otago jogava sempre com o Carisbrook lotado, mas hoje é difícil ter muitos espectadores em jogos, até com o estádio novo que, na verdade é um dos melhores no planeta.

O contrário está acontecendo no norte, particularmente na França e na Inglaterra. 
Em ambos os casos os clubes estão buscando alternativas para sair dos estádios que são tradicionalmente pequenos. 
Também existem jogos transferidos para os maiores estádios, com muito sucesso como foi Saracens-Harlequins em Wembley com mais de 82 mil pessoas. 
Cinco anos atrás isso acontecia, mas com muitos menos times. 

O Stade Français Paris ficou conhecido por ter 80 mil pessoas no Stade de
France em três ou quatro jogos em cada temporada. 
Isso continua mas agora tem muitas mais equipas fazendo igual ao Stade Français e tem Racing Métro como vizinho. 
Curiosamente o jogo entre eles no Sábado passado não deu certo – só 30,000 pessoas no estádio.

Às vezes o Toulon usa o Vélodrome de Marselha (60 mil lugares), o Toulouse usa o Stadium Municipal (36 mil lugares), Biarritz e Bayonne usam o Estádio Anoeta de San Sebastián na Espanha (32 mil lugares), o Bordeaux-Begles usa o Chaban-Delmas (34 mil lugares), Racing Métro joga em Nantes e Grenoble usa o Stade dês Alps. 

Já Montpellier e Clermont hoje têm estádios maiores e bem modernos. 

O Perpignan lotou o estádio olímpico de Barcelona, na Espanha (57.000) em 2011 pelas quartas-de-final da Heineken Cup contra o Toulon. 

Também vale dizer que recentemente o Stade Français usou a MMA Arena de Le Mans e o Stade Metrópole em Lille (50,000). 

Em resumo, o rugby virou mania na França com muitos espectadores novos em seus jogos.

Os clubes estão tendo sucesso enorme porque a qualidade do rugby melhorou muito nos últimos anos. 
Os clubes não podem simplesmente usar jogadores da região local porque o resultado poderia ser o rebaixamento para a segunda divisão (Pro D2). 
Assim eles estão sempre em busca de mais jogadores importantes para ter mais qualidade em campo e, também, mais opções. 

A França foi derrotada por 17 a 12 em casa na abertura do Campeonato do
Mundo de 2007. 
O adversário, a Argentina, jogou com nove jogadores titulares que, na época, eram contratados por clubes franceses. 
Fiji derrotou o País de Gales, o Japão e o Canadá no mesmo Mundial muito por causa do Top 14 Orange.

Desde 2008 os clubes estão procurando ainda mais jogadores de fora da França. Agora tem astros de Inglaterra, Irlanda, Escócia e País de Gales jogando no campeonato francês. 
E apesar de tudo isso não existe nenhuma razão concreta para dizer que a selecção francesa está sofrendo. 

Mesmo com tantos jogadores importados, a França foi vice campeã no Mundial de 2011 e, na verdade, é o único país que se classificou para as semifinais de todos os Campeonatos do Mundo desde o começo do profissionalismo no rugby em 1995.

Os clubes estão contratando jogadores de fora da França por causa do sucesso enorme do Top 14 no país.
Eles têm mais dinheiro do que em qualquer outro momento na história. 

Os clubes da Inglaterra como o Leicester Tigers e o London Wasps não podem oferecer salários iguais actualmente e com isso a liga inglesa não melhorou nos últimos anos. 
Um dos problemas é o baixo Salary Cap que existe na Inglaterra (4.3 milhões de libras), a metade do praticado na França (10,0 milhões de euros). 

Com isso as equipas tem um limite de quanto podem gastar e os melhores jogadores estão cada vez mais buscando alternativas.

O Top 14 Orange tem muitos mais equipas competitivas do que no passado. 
Este ano o Biarritz está com enormes problemas e pode sair do Top 14. 

O que está acontecendo no país é bem visível e vai continuar com consequências negativas para clubes de cidades pequenas. 

Historicamente a região sudoeste da França é o ponto mais forte do rugby. 
Hoje a região ainda é a mais importante, mas seu poder diminuiu muito. 
Na temporada actual cinco equipas – Bayonne, Bordeaux, Biarritz, Castres, e Toulouse são do sudoeste. 
Brive e Perpignan são de perto mas considerados de fora.

O que está acontecendo é que existem agora menos equipas do sudoeste no Top 14.
Cinco em 2013-2014 é pouco.

(Equipas do sudoeste sinalizadas em creme)

Em comparação, haviam mais duas na temporada de 2012-2013. 
Agen e Mont-de-Marsan foram rebaixados.
Em 2009-2010
Albi e Montauban foram rebaixados. 
Em 2008-2009 as equipas rebaixadas também foram do sudoeste: Dax e Mont-de-Marsan. 
Em 2007-2008 Albi e Auch foram rebaixadas e em 2006-2007 foram Agen e Narbonne. 

É bem claro o que está acontecendo. 
As equipas do sudoeste estão saindo do Top 14. 
Não ocorre somente com equipas desta região, mas a grande maioria dos casos é assim.

As equipas do sudoeste estão ficando na ProD2.

Elas também são equipas de cidades menores. 
As maiores cidades tem as equipas mais fortes da ProD2. 

Em 2010-2011 quem conquistou as vagas no Top 14 foram Bordeaux e Lyon,
clubes de duas das maiores cidades da França. 
O Lyon foi rebaixado com Brive em 2012 e em 2013 foi Mont-de-Marsan e Agen – ou seja 75% são do sudoeste.

Na temporada actual esta tendência pode continuar com Biarritz, Bayonne, Bordeaux-Begles e Castres longe de da zona de segurança. 
Só o Toulouse não está neste momento.

Nenhuma daquelas quatro se pode sentir muito à vontade. 
Até o campeão actual, Castres, pode cair. 
O clube tem problemas complicados pelo fato de ser uma cidade pequena, sem cidades grandes próximos.

Biarritz é menor, mas tem San Sebastián por perto.

Castres tem Toulouse, Montpellier ou até Bordeaux mas as três têm equipas no Top 14. 
O estádio do clube, o Stade Pierre-Antoine, é o menor estádio no Top 14. 
Mesmo depois das reformas em 2008, o estádio continua sendo pequeno.

Curiosamente, o Bourgoin era bem parecido com o Castres até pouco tempo atrás. 
O Bourgoin tinha uma equipa que participava sempre na Heineken Cup. Jogadores como Morgan Parra, Julien Bonnaire, Julien Pierre e Yann David eram da equipa. 
Eles saíram e a equipa colapsou. 
E foram jogar para o Clermont e o Toulouse. Coincidência?

(As equipas rebaixadas/promovidas desde o mundial de 2007 - verifique no quadro que apresentamos acima - com a sua população aproximada. 
Na coluna da direita (+) significa promoção, e (-) significa rebaixamento)

A ligação entre rebaixamento e cidades pequenas está bem clara e Biarritz e Bayonne no campeonato actual (confira a classificação aqui) são demonstração que a tendência continua. 
Entre eles na tabela tem Oyonnax, mais uma cidade pequena mas que não faz parte do sudoeste.


Tanto o Oyonnax (9,17 milhões de euros), como o Biarritz (16,94), não tem um orçamento para enfrentar clubes como Toulouse (35,42), Racing Métro (22,45), Toulon (23,66), Clermont (26,72) ou Stade Français (24,97).
Castres (17,33) também não tem, mas o clube é demonstração da importância de comprar jogadores baratos no mercado.


Castres foi campeão depois de contratar varios nomes da ProD2 ou de equipas em vias de rebaixamento como Remi Tales (La Rochelle), Brice Dulin (Agen) e Romain Martial (Narbonne).
Além disso há jogadores importados que foram baratos em comparação com os que o Toulon contratou - Antoine Claassen (Brive), Rory Kockott (Sharks) e Richie Grey (Sale). 

O Biarritz, por outro lado, não contratou jogadores de alta qualidade, mas perdeu Marcelo Bosch, entre outros, e ainda tem jogadores caros que já não são estrelas como Imanol Harinordoquey, Damien Traille e Dimitri Yachvilli. 

O Castres está tendo um retorno bem melhor com Kockott, Tales e Claassen, jogadores das mesmas posições.

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