Mesmo no meio do rugby isso acontece, e há portugueses envolvidos com o nosso desporto desde Macau até ao Brasil, passando pela Austrália, por exemplo.
Entre estes nossos compatriotas, destacam-se curiosamente alguns árbitros, como o Carlos Miraldo na terra dos Wallabies, e, mais recentemente, do João Mourinha no Brasil.
É com este português que já guarda consigo a atuação nos principais campeonatos nacionais de três países - Portugal, Espanha e Brasil - que hoje vamos conversar.
Não sabíamos da presença do João no Brasil, mas no passado fim de semana ele apitou uma meia final do Super 10 (como noticiámos) que foi transmitida em direto pela TV e acabámos por tomar conhecimento da sua atividade no rugby brasileiro.
O João Mourinha é um dos mais conceituados árbitros portugueses, mas, por razão da sua atividade profissional, nos últimos anos tem apitado sobretudo em Espanha, e surge agora, mais uma vez empurrado pela profissão, no Brasil.
Agradecemos a atenção e disponibilidade do Mourinha, que nos deu esta entrevista num intervalo de mais uma viagem entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Lisboa...
Mão de Mestre: João, o seu percurso internacional é um exemplo e um estímulo para os árbitros (e não só) portugueses. Como isso tudo aconteceu?
João Mourinha: Sou árbitro há 14 anos e felizmente tive oportunidade de passar por muitos países, frequentar inúmeros cursos nacionais e internacionais. O meu percurso tem sido acompanhado pelos organismos internacionais e isso ajudou muito na hora de iniciar atividade vivendo em Espanha e mais recentemente no Brasil.
Como já conheciam o meu curriculum consegui
ter acesso às ligas principais desses países e com isso continuar a fazer o que
gosto.
A única atividade que fica prejudicada
neste momento é a internacional porque não tenho como viajar do Brasil para
arbitrar jogos na Europa em períodos de um fim de semana e também não tenho
disponibilidade (por motivos profissionais e pessoais) para torneios com três
semanas de duração.
Quanto às
viagens, sempre encontro um ginásio para onde vá e tenho sempre um par de ténis
na mala. De há uns anos para cá o meu treino é essencialmente de corrida.
MdM: E essa viajem para o Brasil? Você tinha uma vida dividida entre Portugal e Espanha, e aparece agora do outro lado do oceano...
JM: A minha atividade relacionada com o marketing e patrocínios de grandes eventos trouxe-me para o Brasil onde devo ficar pelos próximos anos sem data de regresso.
Mantenho interesses em Espanha e Portugal
mas com foco neste momento no Brasil.
O plano é continuar ligado a FPR mas
atuando como árbitro convidado da CBRU enquanto a FPR me quiser nos seus
quadros.
MdM: Da sua longa permanência em Espanha, com que opinião você ficou do estado do rugby em casa dos nossos vizinhos?
JM: Tenho que dizer que a Division de Honor
espanhola é uma competição muito interessante e deveria até ser explorada como
treino para os árbitros portugueses, assumindo que a competição em Portugal
pelo título nos últimos anos está concentrada apenas em três ou quatro equipas.
Em Espanha, apesar das diferenças, a
competição é mais equilibrada - os jogos são todos disputados e o marcador não
costuma ser muito desnivelado.
As principais equipas portuguesas, a meu
ver, conseguem bater-se de igual para igual com as melhores espanholas.
A diferença maior está quando começamos a
descer na tabela. Há mais clubes espanhóis perto dos lugares de topo do que
creio haver em Portugal.
Em Espanha, as Federações Regionais, com os
incentivos ao desporto dos seus Estados, têm permitido investimentos a alguns
clubes (uns bem aplicados, outros não) que têm dado frutos nos últimos anos.
Portugal luta com muito mais dificuldades nesse
aspecto e isso só traz mais mérito à comunidade rugbística portuguesa que tem
lutado para manter e melhorar o nível da modalidade ano após ano.
MdM: E agora que está a viver uma experiência nova, quais são as suas primeiras impressões
JM: A minha relação com a CBRU é muito recente
e por isso não posso opinar demasiado.
Sou muito bem tratado, conto com um apoio
regular e bastante profissional do Xavier Vouga e do novo responsável pelo
desenvolvimento, o argentino Marcelo Toscano, e há um trabalho muito
interessante desenvolvido com alguns jovens árbitros, dos quais destaco o
empenho e dedicação do jovem Henrique Platais, no Rio de Janeiro.
Até pela proximidade geográfica troco
ideias frequentemente também com o Henrique para o desenvolvimento de novos
projetos e apoio a árbitros.
O TMO e o uso de rádios só existem nas
provas acompanhadas pela TV (semi finais do super 10, final e brasil sevens). O
sistema não é perfeito mas funciona e é
louvável o esforço por tê-lo.
O rugby por aqui cresce a passos largos no escalão
senior mas também na formação, onde há poucos dias a seleção de M18 conquistou
o titulo sul americano B, liderada pelo nosso amigo João Uva.
Fotos: João Mourinha/Facebook e Miguel Rodrigues
1 comentário:
O João Mourinha é um magnifico embaixador do rugby português, quer pela sua qualidade enquanto árbitro, quer pela excelente personalidade.
Ao Mão de Mestre parabéns pela entrevista; ao Mourinha deixo um grande abraço e, sempre, as maiores felicidades.
João Pedro Guimarães
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