14 de outubro de 2010

PRIMEIRONA É DEMONSTRAÇÃO DE FRAGILIDADE ORGANIZATIVA


COM TRÊS JORNADAS CONCLUÍDAS NA PRIMEIRONA são bem visíveis os efeitos do abandono de duas equipas que teriam lugar certo entre as que se apresentaram à disputa da competição.



Se o abandono do Rugby da Linha tinha já mostrado a fragilidade da estrutura organizativa dos nossos clubes, com o Caldas a recusar disputar um lugar na divisão pela qual, pouco tempo antes lutava para disputar, a tardia desistência da Agrária em disputar uma divisão em que já militava mostrou claramente que nem todos os que competem estão interessados na competição.

O que teria acontecido se em Maio, quando o Caldas disputou a final da Segundona com o Montemor, tivesse sido a equipa da cidade da cerâmica a ganhar? Será que iria abdicar da subida de divisão?

A verdade é que no momento em que uma equipa participa numa competição, participa porque acha que num determinado momento a poderá vencer, e com isso receber os prémios a que tem direito, nomeadamente a promoção a um escalão superior.

E toda a estrutura competitiva se baseia nisso: quem ganha sobe, quem perde desce.

Mas esses prémios são mais do que isso, são também uma obrigação, pois pretende-se com o sistema que as divisões mais elevadas sejam disputadas pelas melhores equipas, e se as equipas que se provam como as melhores recusam a subida, estão a recusar as obrigações e os regulamentos que assumiram quando decidiram competir.

É assim como uma mulher que engravida, desfruta dos nove meses de concepção, e quando chega a hora de parir resolve que ainda não é desta, que não está preparada para ser Mãe, que vai fazer tudo outra vez...

Crescer, evoluir, traz problemas, traz dificuldades - nenhuma equipa do mundo nestas circunstâncias poderá dizer honestamente que as não atravessou - mas daí a que seja instituído o hábito e a norma de que quem ganha não sobe, vai uma grande distância.

Apenas em situações manifestamente extraordinárias os clubes poderiam ser autorizados a não cumprir essa obrigação, e essa autorização deveria não só depender do consentimento da Assembleia Delegada, como implicar em severas medidas de restrição à participação em competições futuras, que fossem por si só dissuasoras  daquele desejo de auto restringimento.

O que aqui se disse cabe também na carapuça da Agrária e de todas as equipas que disputando um título, não é esse título que disputam, mas sim um outro qualquer que aqui não está em disputa.

Perde-se tempo, dinheiro e paciência organizando um quadro competitivo, para que as equipas venham depois dizer: ah, eu participei mas não estava a participar....

Aqui ficam os comentários aos três jogos da jornada, que deveriam ser quatro...

Setúbal-Montemor

Depois de uma derrota para a Taça de Portugal por 17-10, o Vitória de Setúbal tudo fará para reverter a situação, ganhar aos seus rivais regionais de Montemor, e dar a conhecer o verdadeiro Setúbal deste ano.
Na Primeirona a equipa sadina não começou da melhor forma, e a deslocação à Lousã foi um desastre, que provavelmente não se repetirá. Aliás logo na jornada seguinte a vitória sobre o Cascais foi disso prova, e a derrota no Porto apenas pecou por não ter dado direito ao ponto de bónus.
O Montemor que folgou logo na jornada inaugural, fez um bom jogo em Évora apesar de derrotado por escassa margem, conseguiu a vitória para a Taça sobre os seus adversários desta semana, e fez um jogo-treino contra a UTAD que lhe deve ter permitido elevar os níveis de confiança, coordenação e consistência.
Este é um jogo de duplo sentido, com o Setúbal a querer fugir do grupo dos últimos, e o Montemor a querer fixar-se no grupo dos primeiros.

Lousã-CDUP

Um jogo entre dois clássicos na busca de um lugar ao sol. E se em anos anteriores a Lousã não tem feito grande questão em subir de divisão, os tempos são outros e os responsáveis serranos devem começar a preocupar-se com a fuga de talentos para clubes que disputam a divisão maior do nosso rugby.
Com uma vitória por números inflacionados contra o Setúbal, fruto de um mau início dos sadinos mas também do sentimento de ajuste de contas dos lousanenses em relação aos acontecimentos do ano passado, e uma derrota por margem mínima em Cascais, o rugby Clube da Lousã vai tentar aproveitar o fator casa e o pé afinado de Ricardo Santos, para interromper a sucessão de vitórias dos portuenses.
A equipa do Porto jogou três e ganhou três, e sempre com o respectivo ponto de bónus como resultado dos 14 ensaios marcados (4-6-4), parecendo pretender ser a destacada candidata ao título e ao regresso ao convívio dos maiores, mas será que a Lousã aceita esse favoritismo sem reclamar?

UTAD-Évora

Com de duas pesadas derrotas fora de casa, mas um bom jogo contra o CDUP em casa, a equipa de Vila Real como terá reagido aos acontecimentos da semana passada?
Dificilmente o Évora deixará escapar a vitória, depois de ter ganho em casa contra o Montemor e perdido fora contra a equipa do Porto, aproveitando para se juntar ao grupo da frente, ficnado por saber até onde podem ir os números do encontro.
A UTAD atravessa um momento muito delicado da sua existência, e fica a incógnita quanto à capacidade de reação dos seus jogadores, enquanto não surge um apoio qualificado da Associação de Rugby do Norte e da FPR, que promova a fixação definitiva do rugby na cidade transmontana, liderado pela equipa da sua universidade, que também terá que alterar alguns dos seus costumes e normas, abrindo as portas à comunidade.

Foto: Miguel Rodrigues

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