30 de novembro de 2013

PORTUGUESES LÁ FORA - NOVA SÉRIE DE ENTREVISTAS DO MÃO DE MESTRE

A presença de jogadores de origem portuguesa ou naturalizados, nas selecções portuguesas de rugby não é coisa nova, acontece há mais de 30 anos...

Apesar disso alguns insistem em manter longas controvérsias sobre a matéria, naquela velha máxima nacional de que uns são mais puros que os outros, esquecendo-se que a legislação que regula a participação de jogadores que não nasceram em Portugal nas nossas equipas nacionais, é provavelmente das mais rígidas de todos os países que participam em provas da IRB.

E se em relação aos "naturalizados" a polémica está instalada com muita força, o que é absolutamente incompreensível é que se insista em criar o mesmo tipo de disputa em relação aos filhos ou netos de portugueses, que pelo simples facto de terem nascido além fronteiras, são considerados por muitos (imbecis) como portugueses de segunda.

O Mão de Mestre é frontalmente contra esta posição e só conhece uma categoria de portugueses...Os Portugueses!

A partir de hoje damos início a uma série de entrevistas com portugueses que nasceram e jogam fora dos limites de Portugal Continental, mas que nos merecem todo o respeito e carinho, ou talvez mais, por se entregarem de alma e coração a um país que muitas vezes só conhecem pela tradição familiar!

É uma oportunidade para os que nasceram e vivem neste cantinho da Europa, mas que são também filhos ou netos de portugueses, conhecerem um pouco mais daqueles que vestem - ou podem vir a vestir - a camisola (que devia ser) das quinas, e aprenderem a respeitar os seus iguais!

O primeiro escolhido para esta série é um português de 27 anos, nascido em França, filho de um transmontano de Mogadouro, que apesar de ter descoberto o rugby tardiamente tem já um percurso bem preenchido, a que se juntaram, na época passada, cinco presenças no XV nacional que disputou o Europeu das Nações, como pode confirmar no local próprio da FPR, mas onde terá que procurar por Tony Martins Costa e Tony Martins Marques, que foram os dois nomes dados pela FPR ao, simplesmente, Tony Martins.

Tony Martins joga a pilar, tem 1,81 mt e pesa 130 kg, e o clube que representa, o Limoges, segue na terceira posição do campeonato francês da Federal 1, série 3 - Tony jogou este ano em cinco dos nove encontros realizados pela sua equipa, dois dos quais no XV inicial.

Conheça melhor o Tony!

Tony Martins, português nascido em França, conta-nos um pouco da tua história antes do rugby ter invadido a tua vida.
Eu sou de origem portuguesa, graças a meu pai que nasceu em Mogaduro.
Tenho muito orgulho nisso, temos família em Portugal, não os conheço muito bem, mas vou aprendendo sobre as minhas origens graças aos meus tios, minha tia e meus pais.
Meu nome completo é Tony Martins, nasci em Chalon-sur-Saône no dia 2 de Outubro de 1986 e passei minha infância em Montceau-les-Mines onde meus pais têm uma pastelaria.
Enquanto criança não conheci o rugby e experimentei outros desportos, de que na verdade nunca gostei.
Comecei a jogar rugby com cerca de 20 anos, primeiro em Buxy, depois em Montchanin graças a um amigo que insistiu para que eu experimentasse.
Apaixonei-me de imediato e nunca mais parei, o rugby passou a ser grande parte da minha vida, desde o início fiquei fascinado, e hoje eu sou um jogador profissional de rugby - mas antes de começar com o rugby, tirei os meus diplomas de pastelaria como o meu pai.

E como foi a tua entrada no mundo do rugby?
Como já referi, comecei no Buxy e depois no Montchanin onde aprendi muito sobre as bases e os valores do rugby.
Depois disso joguei no Chalon-sur-Saône, em seguida em Perigueux, no CAPD, onde tive a sorte do clube acreditar em mim e me ter dado a oportunidade de não fazer nada senão jogar rugby.
Hoje estou em Limoges, que escolhi porque é um grande clube com um passado e ambições, e por outro lado há muita concorrência na minha posição, o que me vai forçar a continuar a progredir.
Eu sempre fui pilar direito, só jogo à direita, e, claro, é a minha posição favorita.

A tua histórias como internacional português começa em Fevereiro de 2013, como aconteceu?
Sim, comecei em Fevereiro contra a Roménia com uma derrota, mas foi um grande dia para mim.
Nessa altura os treinadores eram Errol Brain e Tomaz Morais dois grandes senhores do rugby.
Eu não os conhecia muito bem, mas eles deram-me a possibilidade de vestir a camisola de Portugal, só posso agradecer-lhes.
Quando fui chamado para ir treinar pela primeira vez com a seleção fiquei um pouco assustado, mas os jogadores, treinadores e dirigentes como Francisco Martins puseram-me imediatamente à vontade e eu senti-me muito bem.
Ficarei agradecido a todos, para sempre.
A primeira vez que eu usei a camisola de Portugal foi uma verdadeira honra, fiquei orgulhoso.
É indescritível, vou-me lembrar por toda a vida.

Alguma vez te arrependeste de teres vestido a camisola de Portugal?
Nunca me vou arrepender, foi uma das melhores coisas que já me aconteceram.
Tenho muito orgulho de dizer que jogo na equipa nacional de Portugal.

Os Lobos disputaram este mês três jogos internacionais, e tu tinhas estado nos jogos anteriores.
Foste convocado para estes jogos?
Não, não fui convocado e confesso que fiquei um pouco decepcionado, mas é a escolha do seleccionador.
Eu compreendo que ele escolha jogadores a jogar em Portugal, que jogam juntos no Lusitanos XV na Challenge Cup.

E se vieres a ser convidado, aceitas voltar à equipa?
Com todo o prazer, se me convocarem responderei presente. É óbvio!
Estou em condições físicas adequadas, treino diariamente no meu clube, e estou com 130 kg, o que facilita a minha tarefa como número 3. Eu só jogo a pilar direito, é a minha posição favorita
E como no Limoges somos vários pilares direitos, acredito que o meu clube me deixará ir.

Quais são as tuas ambições, tanto no teu clube como na selecção nacional?
No meu clube gostaria de jogar na ProD2, mas isso passa ainda por muito trabalho, e com a selecção o meu sonho é participar num Campeonato do Mundo, nem que seja uma só vez.

Fotos: Miguel Rodrigues, Tony Martins

10 comentários:

Claudio disse...

Excelente iniciativa, Parabéns !

François D. disse...

Bom dia a todos, obrigada Mao de Mestre por esta boa ideia de nos fazer conhecer melhor os nossos compatriotas "rugbyman" da diaspora. Agora é so necessario incorporar alguns nos jogos da seleçao, mas isto é o trabalho do treinador e dirigentes.
FORçA PORTUGAL !!

Anónimo disse...

Boa iniciativa mas o mesmo deve ser feito com os jogadores que estão em Portugal. Os resultados de Novembro farão o seleccionador nacional pensar nesta questão, já que sem estes jogadores estrangeiros ou naturalizados dificilmente conseguirá atingir o objectivo do mundial. FOrça Portugal!!

Leonardo disse...

Muita boa ideia!!!
Mas vais ter muito trabalho porque ha bastantes jogadores lusos com grande valore em franca...
O Tony e o enorme pilar pela sua qualidade e pelo seu peso. Ele faz muito bem na primeira linha portuguesa.

FPR nao esquecem esses jogadores para os proximos jogos!!!

Anónimo disse...

1º Exmo Sr Cabral, está visto que para si quem tem opinião diferente da sua é imbecil...bonita maneira de moderar um blogue.
2º Refilam porque o Gonçalo Uva não é titular no clube dele, uma ou duas divisões acima, e que não devia ser chamado à SN e agora estão muito indignados porque este sr não é chamado à sN , ele que apenas tem 2 jogos como titular...
3º Concordo que são tão Portugueses como os que nasceram cá mas para virem não podem ser iguais aos que cá estão , têm qe ser muito melhores... Esta é a minha opinião mesmo que para si seja uma imbecilidade...

Manuel Cabral disse...

Anónimo das 07:46
O teu comentário na verdade não devia ser publicado, pois quem não sabe ler não pode saber escrever...
Aqueles a quem chamei de imbecis, e volto a chamar, são os que pretendem criar duas categorias de portugueses, como claramente se diz no texto.
Agora se tu tens essa opinião, és um imbecil.
Quanto às opiniões sobre rugby, desde que colocadas com respeito e educação, e fundamentadas, são sempre publicadas, mesmo quando em oposição às minhas.
Infelizmente, quem não sabe escrever não consegue transmitir uma opinião sem cair em afirmações ridículas.
Vamos ver o que tu dizes:
1. Quem não tem a mesma opinião do que eu é um imbecil.
Nunca me viste, aqui ou noutro lugar qualquer, hoje ou no passado, fazer essa afirmação.
Como já te expliquei, os que considero imbecis são os que consideram os filhos de portugueses (ou de um(a) português(a) e um(a) estrangeiro(a)) pelo facto deterem nascido e viverem fora de Portugal, menos portugueses do que aqueles que também são filhos de dois ou de um português, mas nasceram em Portugal ou vivem em Portugal.
2. Quanto ao Tony Martins, e apesar de não ter escrito ou dito em lugar algum que estava indignado por ele nãos ser chamado à SN, apenas te lembro que ele fez parte do conjunto de jogadores que disputaram todo o Europeu das Nações de 2013 em representação de Portugal, pelo que apesar de o não ter dito acho absolutamente razoável se for chamado... Afinal se ele foi importante - todos os que jogaram foram importantes - não vejo porque não poderá continuar a ser...
3. Quanto à imbecilidade ou não dos teus comentários, tu é que fazes a classificação...

Termino dizendo-te qual a mensagem que pretendo deixar bem marcada: Todos os portugueses são iguais, e devem ser chamados à selecção nacional aqueles que melhor a possam defender.
Quanto à oportunidade do texto, parece-me óbvia, depois de uma sova de 70 pontos frente ao Canadá...
É bom que se conheçam os portugueses que jogam lá fora, que se saiba o que eles pensam, onde jogam e o que sentem.

Quanto à moderação dos comenta´rios, é simples, nem todos são admitidos e quem faz a selecção sou eu. E como deve acontecer em todas as selecções, apenas os melhores, aqueles que trazem algum contributo válido ao conjunto, devem ser aprovados.
O que manifestamente não é o teu caso, apesar de teres servido de exemplo de uma leitura distorcida da realidade, provavelmente baseada em fraca agilidade mental - em três pontos apenas disseste uma falsidade (que eu considero imbecil aquele que não concorda comigo), tentaste fazer passar um facto circunstancial (que o Martins só foi titular no seu clube este ano por duas vezes) por uma apreciação de valor esquecendo outros factos relevantes para essa apreciação (que o Martins fez parte e jogou todos os jogos do Europeu de 2013 - Roménia, Geórgia, Bélgica, Rússia e Espanha), e classificaste a tua própria opinião com o veneno que pretendeste desferir em mim...
Nada mau...diria mesmo, em três pontos não era possível fazer pior.

Anónimo disse...

Caro MdM eu também considero que todos os portugueses são iguais e que não existem portugueses de primeira ou de segunda. Vivi muitos anos, imensos, no exterior, e os maiores exemplos de porteguesismo foram exactamente vistos no exterior de Portugal.

Outra coisa completamente diferente é considerar que os jogadores que não têm qualquer ligação afectiva a Portugal, que se "cortam" e não vêm jogar quando não convêm, são iguais aos que cá jogam.
A Selecção Nacional deve ser também um veiculo de promoção e um motor do Rugby Nacional, que impacto tem uma selcção que só joga com "estrangeiros" e jogadores de Lisboa, que impacto tem no Rugby Nacional? acha que alguém na provincia se importa com a Selecçao Nacional e os seus resultados? ela não nos representa, não existe ligação afectiva á selecção. Os nossos jogadores sabem que só jogam na selecção se jogarem em clubes de Lisboa e quando são bons são muito pressionados a isso, aliás os clubes de Lisboa usam exactamente isso como forma de pressão.

O problema não está nos "estrangeiros" ou em Lisboa, é mais profundo do que isso e o artigo do Goulão, aqui publicado a semana passada tocava no assunto. O Rugby só tem reais hipóteses de desenvolvimento se se espalhar por todo o país, se tiver mais clubes e mais jogadores a jogar. O que é que acha que puxa mais pelo rugby na zona norte do país, existirem jogadores do CRAV e do CDUP a jogarem na SN, ou dois "estrangeiros"? e no Sul do país é melhor ter jogadores do Évora e do Montemor ou um de Lisboa.

O que se passa na selecção nacional e na equipa da AMLIN é irrelevante para o Rugby, ninguém liga, não só os portugueses como os amantes do Rugby (excepção aos de Lisboa), não servem de exemplo nem puxam pelo Rugby.

É preciso ter a coragem de dizer vamos puxar o nosso Rugby para cima como um todo, vamos desenvolver e dar apoio aos emergentes e aos clubes da provincia, ainda que isso signifique estagnação no topo, só assim a médio prazo o Rugby Nacional poderá sair da encruzilhada e deste aparente beco sem saída. Acham mesmo que a geração de 2007 não se repete porque eles eram extraordinários, ou não se repete porque os outros evoluíram e nós não? se assim é porque é que nós não evoluímos? é nisto que o artigo do Goulão é brilhante.

Anónimo disse...

Na minha opinião não evoluímos porque o rugby se profissionalizou mesmo nos países onde era amador. Em 2007 ainda Portugal vivia bem com o dinheiro emprestado. Éramos os maiores no consumismo. Muitos clubes viviam á tripa forra com dinheiros de empresas publicas. Agora fomos apanhados com as calças na mão e temos de nos capacitar da realidade. O rugby não gera receitas e ou nos pomos à tabela, ou rapidamente começam a desaparecer, clubes como está aq acontecer no futebol, andebol, basquete e outras modalidades.

Anónimo disse...

Não me recordo de Portugal ter levado uma sova de 70 pontos frente ao Canadá. Perdeu por 52-8, foi uma derrota pesada, mas é um pouco diferente. Não parece bem que quem está sempre (e com razão) a exigir rigor aos outros, escreva este tipo de incorrecções, mesmo que para enfatizar uma ideia.

Manuel Cabral disse...

Anónimo das 16:22
Agradeço a chamada de atenção e reconheço que se trata de um erro, não de uma tentativa de tentar enfatizar o facto.
Obviamente trata-se de uma gralha num texto que não é passível de correcção, mas confesso que nem dei por ele.
Contrariamente ao que se passa por exemplo no site da FPR, admitimos quando erramos, não nos limitamos a apagar o erro e pensamos contribuir dessa forma para uma informação mais verdadeira, sem jogos escondidos, e agradecemos sempre que nos chamam a atenção para erros e incorrecções, que nunca tentamos varrer para debaixo do tapete.
Onde está " uma sova de 70 pontos" leia-se "uma sova de 44 pontos".
Porque foi uma sova, o que se passou no EUL, não apenas uma derrota..