2 de novembro de 2013

COMPETIÇÕES NACIONAIS, A VERDADEIRA BASE DO DESENVOLVIMENTO

O tema das competições tem sido abordado por muita gente, mas poucos são os que têm contribuído para a criação de um quadro competitivo verdadeiramente nacional e estabilizado.

O Mão de Mestre sempre defendeu o alargamento das duas principais divisões - o que veio a acontecer - e vamos hoje tentar fazer um pequeno balanço do que se está a passar, levantando a questão da organização da 2ª Divisão.


Claro que não será demais tornar a falar na questão da criação de um Departamento de Competições Nacionais que se dedique apenas às três principais divisões, deixando as decisões de serem tomadas de qualquer maneira, sem um critério regulador e sem qualquer consistência ou consonância com a realidade.

Não vamos hoje entrar nessas questões, mas vamos apenas dizer que as decisões sobre as competições nacionais devem ser tomadas com antecedência, a forma de disputa das mesmas, os seus regulamentos, devem ser do conhecimento público e não podem ser alterados depois das competições começarem.

Claro que tudo deve ser acompanhado com uma permanente informação de tudo o que se passa nas ditas competições, para não cairmos no ridículo de estarmos com as duas competições principais já na sétima (DH) e quarta (1ª divisão) jornadas, e não existirem quadros das respectivas classificações devidamente actualizados e esclarecedores...

Ou seja, a FPR não tem quem se preocupe em detalhe das competições nacionais, que movimentam semanalmente, até hoje, 20 equipas, ou seja, cerca de 400 a 450 jogadores, e a partir de hoje mais 16 equipas com mais 300 a 350 jogadores, ou seja entre 700 a 800 jogadores, sem contar com as equipas B's, que não se sabe se jogam sózinhas, se jogam na 2ª Divisão, ou se simplesmente não jogam... e são mais uns 150 jogadores...

Pelo que temos lido nas redes sociais o presidente da FPR acaba de nomear um Vice-Presidente com o pelouro do rugby da 2ª Divisão e das equipas emergentes, como se tudo fosse farinha do mesmo saco...

Mas não é, como já vamos ver, e esta nomeação - independentemente do nome escolhido - não vem resolver o problema...

Mas vamos por partes e começamos por dizer que, quanto à Divisão de Honra e 1ª Divisão, e apesar de algumas vozes discordando com o seu alargamento de oito para 10 equipas, eu acho que estão muito bem como estão.

PRIMEIRONAA Primeirona está altamente competitiva, e ainda se espera que venha a estar
mais.

Não vejo o que se ganharia agora com a sua redução.
Reparem que as equipas que parecem mais fracas são a Agrária, o Santarém, o São Miguel e o Loulé.

Acontece porém que a participação destas equipas juntamente com as outras que parecem mais fortes, apenas irá elevar o seu nível - só jogando com os melhores se evolui (se este argumentos serve para tantos casos, porque não há-de servir aqui?).

O Santarém está numa fase de óbvia passagem de grau, com a construção do seu campo próprio, e é natural que cresça e se desenvolva.
Não deu qualquer falta de comparência nos últimos anos (não sei se alguma vez isso aconteceu), o grupo já deu mais do que provas de vontade e espírito de sacrifício, aposto que dentro em pouco estará ao nível, se não dos melhores, pelo menos do meio da tabela.

O Loulé é o exemplo claro de um grupo de malucos que todos os 15 dias viajam 300 ou mais km apenas para jogar rugby.
Fazê-los descer de divisão é condenar todo o esforço feito na implantação da modalidade em escala verdadeiramente nacional.
Tecnicamente não estão muito bem?
Acho que têm altos e baixos, mas apenas no confronto com os melhores pode crescer.
Fala-se muito na questão da sua indisciplina, mas a verdade é que pela voz do seu presidente assistimos ao reconhecimento de que existe um problema, mas que o clube o está a tentar resolver, continuando a jogar e a formar.
O Loulé não é caso único de indisciplina no país, que se verificam um pouco por todas as divisões, desde a DH à Segundona, mas é certamente caso único de reconhecimento da existência do problema e de compromisso em tentar resolvê-lo.
Apesar de promovido inesperadamente ao escalão, tem tentado adaptar-se e parece que isso está realmente a acontecer.
Não duvido que acompanhará o Santarém na sua caminhada para o meio da tabela.

A Agrária está a sofrer as consequências de uma passagem de testemunho entre gerações e ainda pela quebra na divulgação da modalidade na cidade de Coimbra.
No entanto é conhecido o esforço e empenho que tem sido feito, esperando-se que consiga acompanhar as restantes equipas na sua melhoria.
Um eventual rebaixamento será prejudicial? Vou esperar mais uns meses para dizer se, pelo contrário, a manutenção na Primeirona não será benéfica...
Para já é importante que a região Centro esteja representada na 1ª Divisão por mais de um clube...
Finalmente o São Miguel, outro clube que subiu um pouco inesperadamente, o que pode ter levado a que a equipa talvez ainda não estivesse preparada para o salto qualitativo entre as duas divisões.
Mas uma coisa é certa, a equipa é organizada, sabe o que anda a fazer, tem escola e tem instalações.
E se conseguir manter-se este ano posso apostar que será nos anos que se seguem um candidato certo ao meio da tabela...

Dito isto, não vejo porque reduzir a 1ª Divisão...


DIVISÃO DE HONRA
Falemos agora da Divisão de Honra.
É claro que existem dois andamentos na divisão e mesmo na Top-14 de França ou na Premiership - ou mesmo no Super Rugby - isso acontece...
Entre nós as equipas mais cotadas estão sistematicamente privadas de alguns dos seus melhores elementos, e o alargamento apenas levou a que mais jogadores desses clubes possam ser testados e forçados a evoluir, porque competem...

Quanto às equipas mais fracas, peguemos no exemplo do Técnico, que tantas vezes é falado nos comentários aos textos aqui escritos.
Condenado a descer em 2011-2012, o Técnico beneficiou do alargamento da DH e ficou na Divisão de Honra.
Como resultado disso, em 2012-13 foi sétimo entre 10, com mais 19 pontos que o oitavo. 
E este ano está entre os melhores...
O que teria ganho o rugby português com o seu rebaixamento? 
Nada, absolutamente nada!
Da mesma forma, o que ganhariam Cascais ou CRAV, ou o rugby nacional, com a sua despromoção? O mesmo, ou seja nada...

E o que seria do vencedor da Primeirona - que tem todo o direito a subir de divisão - se na DH apenas houvesse direitos, cdules, agronomias...

Como poderia uma equipa que sobe adaptar-se ao andamento superior? 
Ou só serviria de saco de porrada condenada antecipadamente a descer?

Não me parece errado que a DH tenha dois andamentos - será que em França o Biarritz, o Bordeaux, o Bayonne ou o Oyonnax têm o mesmo andamento do Clermont, do Toulouse ou do Toulon, por exemplo?

Cabazes? Acontecem um pouco por todo o lado...
Ou não serão cabazes os 62-12 do Toulon ao Brive, os 55-0 do Clermont ao Bayonne, os 39-0 do Castres sobre o Biarritz, ou, noutras paragens, os 40-6 do Exeter sobre o Worcester, os 44-12 dos Saracens sobre o Gloucester, ou os 38-11 do Northampton sobre o Exeter?

Tudo resultados deste ano, e não vejo qualquer movimentação para reduzir a Top-14 para 12 ou 10 equipas ou a Premiership para 10 ou 8...

Isto para não falar dos cabazes dos Lusitanos na Amlin Cup.

Se nuns casos só jogando com os melhores, embora levando cabazes, se aprende e se cresce, porque se defende que noutros casos essa participação a um nível mais elevado é prejudicial??

Concluindo, o alargamento das duas principais divisões foi bom, precisa de algum tempo para estabilizar, mas os resultados são bastante positivos - os mais fracos estão a crescer, os mais fortes tem mais jogadores em competição, e não é com certeza culpa das mais fracas se as mais fortes não se desenvolvem...

SEGUNDONA - O CAMPEONATO EM QUE NINGUÉM QUER MEXERPasso agora à questão da Segundona.

Estou de acordo com as duas zonas, mas acho da maior importância que se defina com carácter permanente quantas equipas participam em cada um dos dois grupos, e como estes são disputados.

Essa é a primeira questão - a Segundona não pode continuar a ser uma rebaldaria.
Uns anos jogam seis, no outro jogam dez, depois jogam oito... Umas vezes joga-se em duas fases, de outras numa fase só... Agora entram as equipas B's, depois já não entram.
Ponto fundamental - definir as regras da competição!

Dentro desse espírito, eu acredito que um número de jogos entre 15 e 20 será adequado.
Menos de 15 só se for para brincar, mais de 20 é com certeza um exagero - NESTE MOMENTO.

Então, talvez se possam organizar duas zonas de seis equipas, que joguem regionalmente em duas voltas - Zona Centro/Norte e Zona Sul/Lisboa.

Cada equipa faz 10 jogos numa primeira fase, disputando-se depois uma série de apurados com três equipas de cada zona a duas mãos (mais 10 jogos, num total de 20) atribuindo o título directamente, sem play-off.

Ou, em alternativa, a uma volta (5 jogos, perfazendo 15 jogos) com play-off (mais 2 ou 3 jogos para os melhores...)

Quanto aos não classificados - três de cada zona - disputam os lugares de baixo a uma volta (mais 5 jogos, para um total de 15).
O último classificado será rebaixado para as competições regionais de que já falaremos.
Ou em alternativa, com o rebaixamento das piores classificadas de cada zona - já nesta segunda fase - o que manteria o número de equipas por zona na fase de apuramento...

Existem outras opões? Claro que sim, mas só a falar é que a gente se entende - no respeito por regulamentos, que não podem ser alterados com as competições em curso, e sem deixar terminar um ano sem se saber o que vai acontecer no ano seguinte...

COMPETIÇÕES REGIONAIS
Quanto à competições regionais elas devem aceitar soluções de compromisso, como refere João Quintela no seu comentário publicado ontem, e que podem passar pela organização de torneios de XV num determinado fim de semana com jogos de tempo reduzido, com flexibilidade na constituição das equipas, tentando chamar a atenção das equipas emergentes, e cativá-las para o rugby completo...

Mas as competições regionais devem também ter uma parte mais "séria" que possa conduzir as equipas que queiram evoluir, a um ambiente mais competitivo e de preparação para a entrada na Segundona.

O Como Fazer fica em aberto, com cada uma das quatro regiões - serão quatro as regiões "naturais"? - a encontrar a sua solução que mantenha as Emergentes em actividade durante todo o ano, mas criando o caminho do rugby de XV, incentivando-o e apoiando-o.

E criando uma via de promoção para a Segundona - talvez com o acesso de uma equipa por Zona, e não apenas de uma no total... Com play off entre as últimas da Segundona com as primeiras das regionais?

Há muitas soluções, mas o problema neste momento é que não temos solução nenhuma!

Uma última palavra para dizer que, conseguida a estabilização da Segundona, a mesma deve evoluir para duas zonas de oito equipas.

No geral tudo isto pode conduzir a um esqueleto do rugby nacional com 32 equipas em competição estruturada, apontando para, em breve, chegar às 36 - 10 na DH + 10 na Primeirona + 2x8 na Segundona.

E então, a partir daí, o rugby exclusivamente regional, com competições e regulamentos a decidir nas regiões, mas com carácter de permanentes e com uma via de acesso à Segundona.

20 comentários:

Luis Canongia Costa disse...

Já escrevi muito sobre esta questão, designadamente no Forum, pelo que não me vou alongar demasiado. Apenas deixar uma reflexão, pelo respeito que o Manuel Cabral me merece, de modo a garantir o contraditório :).

No passado fim-de-semana tive a oportunidade de ver um bocado do Sporting-Setúbal, e aquele não foi um verdadeiro jogo de rugby, porque os princípios do jogo não estavam lá.

Não é pelos jogos serem equilibrados que são bons e servem para evoluir. Um jogo mal jogado, sem ritmo, sem verdadeira intensidade, aonde os princípios do jogo, passam ao lado, como aquele, pode até cimentar ideias falsas, como as que aqui são expostas (grande "primeirona", grande competitividade, grandes jogos - talvez, mas sem verdeiro rugby).

O rugby que se joga em muitas equipas seniores portuguesas não traz nada à evolução do nosso jogo nem dos seus jogadores. Impera o combate e pouco mais há. É o que os ingleses chamam de rugby social. Joga-se melhor em alguns grupos da National League 3 (5ª divisão inglesa) do que na nossa "Primeirona" (pelo menos nos jogos do Aylesbury e do High Wycombe que vi este ano).

Naquele Sporting-Setúbal ninguém aprendeu nada de importante. Os mais velhos jogam como sempre jogaram (adoram bater no muro), os mais novos vão entrando neste modelo de jogo e vão estagnar ou evoluir muito pouco.

Há algumas equipas que procuram jogar verdedeiro rugby, adaptado à necessidades de evolução dos nossos jogadores (espero, tenho de ver mais uns jogos), mas não são muitas.

Em Inglaterra as equipas de Premiership colocam jogadores a rodar, por vezes até na National League 1 (3ª Divisão). Em Portugal, se fosse treinador de um dos grandes, não pensaria colocar jovens com futuro a rodar na Primeirona, porque seria contraproducente - não iriam desenvolver as bases do jogo, essa coisa chata que tem de ser trabalhada todos os dia.

O modelo que o Manuel Cabral apresenta é um bom modelo para quem pretende crescer sem cuidar da qualidade, porque qualidade só se garante com patamares adequados de intensidade competitiva.

É um modelo que hipoteca o rugby nacional de alta-competição por muitos anos.

Além disso, o dinheiro para o rugby (federação), como em tempos no forum expliquei, depende da alta-competição, e se falharmos ai, ele deixa de vir.

Eu ainda acredito que Portugal pode ter um rugby de qualidade, e para isso este modelo proposto não serve: Não temos jogadores de qualidade em número suficiente para o alimentar.

O grande desafio do desenvolvimento regional do rugby português não é o modelo competitivo, é os clubes conseguirem parecerias com as forças vivas locais, ganharem impacto local, no quadro de uma estratégia de desenvolvimento sustentada. Perceber como o clube pode ter verdadeiro impacto local é essencial. Porque tendo impacto verá o dinheiro aparecer.

Lembro que em Inglaterra, o primeiro campeonato nacional aconteceu em 1987 - envolvendo cerca de 1000 clubes em diversas divisões -, e só têm taça desde 1972. Mas isso não impediu que a Inglaterra fosse a força importante do rugby mundial que é. As equipas não deixaram de fazer jogos, de ter público, e a selecção de ganhar 5 Nações.

Não é o campeonato o importante, o importante são os jogos, e a qualidade dos jogos.


Anónimo disse...

Excelente a visão deste senhor Luis, tocou no verdadeiro problema do rugby nacional, muito poucos clubes que jogam "rugby", um numero muito pequeno de treinadores que sabem de rugby e um excesso de clubites, em que não importa a qualidade do jogo mas sim os resultados... é isto que temos de mudar no rugby português

Anónimo disse...

Concordo totalmente com Luís C. Costa.

É uma visão um bocado impopular em Portugal, mas muito realista. Então a questão do dinheiro para a FPR...

P. Martins

Miguel de Castro disse...

Ao diminuirmos a nossa DH e a nossa Primerona criamos aquilo aq que chamo de efeito Six Nations, ou seja criamos 5 ou 6 potencias inatingiveis e que depois de terem um determinado satus-quo sera como pinheiros para outros projectos com jovens interessantes e alem disso comecarao a ser (ainda mais) "os donos da bola".

Tanta gente que critica a falta de vontade da IRB em abrir portas a competicoes para paises como a Georgia e a Romenia se poderem bater com as melhores sao os mesmos que advogama elitizacao das nossas mais importantes divisoes...

Miguel de Castro

Anónimo disse...

Tudo para as elites e nada para os pequenos ... Quem fala dentro dos grandes clubes é assim, mas é o Rugby não devia ser para todos?

Anónimo disse...

Uma pequena pergunta a Primeira corresponde a 5 Divisao Inglesa e a DH corresponde a qual? Seguramente nao mais do a 3 liga. Logo a diferenca entre DH e Primeira nao e assim tao grande.
O facto de na primeira existir muita competicao ira obrigar a mais solucoes por parte dos clube e uma delas sera o aumento de qualidade, agora sem competicao a qualidade nunca sera elevada.
O que se passa e que existe um conjunto de clubes e de pessoas em Portugal que acha que isso de se ter que jogar fora de Lisboa e um aborrecimento e por isso entendem que elevar o nivel do Rugby significa dar mais condicoes a alguns clubes.

Anónimo disse...

as equipas B deveriam continuar na 2ª divisão e com hipotese de subir caso a equipa "mae" não esteja na divisão para a qual a B subiu.

na 2ª divisão..so se sabe se sobe 1 ou 2 no verao seguinte...
isso é desajustado e...coloca ate alguma desconfiança quanto a "poderes" dentro da FPR quanto aos clubes visados na final mesmo nao vencendo havendo forcing para subir de divisao

Anónimo disse...

Enquanto estas questões forem vistas como "uns gajos de Lisboa não querem jogar fora de Lisboa", não há debate possível.

Anónimo disse...

"Além disso, o dinheiro para o rugby (federação), como em tempos no forum expliquei, depende da alta-competição, e se falharmos ai, ele deixa de vir. "

"O grande desafio do desenvolvimento regional do rugby português não é o modelo competitivo, é os clubes conseguirem parecerias com as forças vivas locais, ganharem impacto local, no quadro de uma estratégia de desenvolvimento sustentada. Perceber como o clube pode ter verdadeiro impacto local é essencial. Porque tendo impacto verá o dinheiro aparecer."

Portanto, alimenta-se uma "elite" que por sua vez tapa o buraco que a FPR faz...

Mete-se os clubes a trabalhar para formarem os seus jogadores para estes por sua vez poderem vir a integrar a elite que por sua vez tapa o buraco que a FPR faz.

E etc. por ai adiante, concordo que o caminho é o rugby se regionalizar e as estruturas regionais conseguirem se fortalecer, mas nunca com o objectivo ultimo de "alimentar" a FPR... Não concordo que o caminho é alimentar a alta competição.

Que se hipoteque a alta competição até o rugby português ter uma realidade que o faça merecer estar nela... ou crêem que o lugar que a seleção portuguesa ocupa no actual ranking mundial reflete a realidade daquilo que é o rugby português ?

Anónimo disse...

Sem resultados não existe dinheiro , a FPR depende dos resultados da alta competição e não dos clubes , é tudo muito esperto em Portugal só lá fora é que são burros , na SA reduziu-se a Currie Cup para 6 equipas devido à competitividade , em Itália igual e as melhores juntaram - se a celtic league , na Escócia igual , galês , Irlanda e na NZ ia pelo mesmo caminho , eles estão todos mal , é melhor ter um campeonato medíocre como é o nosso e que as mesmas equipas chegam sempre a fase final .

Luís Canongia Costa disse...

Algumas notas adicionais.

Recordo que já escrevi que o modelo do Manuel Cabral é um caminho legitimo (e até popular). Defendo outro, apenas isso.

Nunca escrevi que o rugby "regional" deve alimentar a FPR. Aliás raramente me vêm escrever sobre a FPR, ou sobre o nosso modelo associativo. E quanto o escrevi foi para provar que a Alta Competição financia o desenvolvimento regional. Factos são factos.

Aliás devo dizer que pouco me importa a FPR, o que faz ou o que deixa de fazer. Importante é que nos deixe trabalhar em paz e nos deixe seguir o nosso caminho.

Defendo e pratico-o.

Estou num clube que não precisa da FPR, dos seus apoios, que segue o seu trilho, de acordo com uma estratégia clara. Um clube que angaria os seus meios financeiros, e actua de acordo com o que tem. Um clube que forma jovens que quando chegam a seniores vão para outros clubes e temos orgulho nisso (nem temos seniores). Um clube criado e mantido por pessoas que conhecem bem o rugby e o desporto, criado para desenvolver jovens e ajudar a deles fazer homens. Orgulho porque esta é uma das dimensões essenciais do Desporto.

A realidade do desporto é, seja no rugby, no futebol, aonde for: os clubes mais fracos formam jogadores para os clubes mais fortes (e os melhores chegam às selecções). Será sempre assim porque um jovem para atingir o seu zénite precisa de desafios cada vez mais exigentes.

No desporto, todo o atleta que quer chegar à alta-competição deve ter condições para isso. O desporto desde a sua fundação na Grécia antiga tem esta componente elitista.

Como no futebol o sonho de qualquer criança é chegar ao Sporting, Porto ou Benfica, e depois ao Manchester United, Real Madrid e Barcelona, natural será que um miúdo queira chegar ao Direito, CDUL ou Agronomia.

Quem não o perceber, não percebe a essência do desporto (Citius, Altius, Fortius) e muito menos um valor essencial do rugby: a superação (para não falar de outros).

Quanto às questões mais específicas de FPR-clubes, Lisboa-País, uma só frase: aprendam com o FC Porto!

(a tal questão do impacto local)

PS: Uma palavra para o Sport Clube do Porto, esse grande clube da cidade invicta, que agora dá os primeiros passos na modalidade, e que, pelo que dele conheço, também seguirá o seu rumo com segurança.

Anónimo disse...

No meio de opiniões abalizadas com fundamentos e realismo há sempre quem venha com a historia dos buracos que a FPR cria Que buracos? Financeiros? Certamente que não, até porque todos os apoios que recebe são praticamente dirigidos à alta competição e têm que ser justificados.
Buracos e incomoetencia na organização das provas ? O MdM até acha que na FPR ninguém liga nada ao assunto esquecendo-se que pessoas das mais competentes neste País gastam muitas horas e fazem um tra alho muito sério que esbarra muitas vezes na incapacidade e incertezas de muito Clubes cuja organização lideradpa por amadores dedicados não consegue fazer melhor, não por incompetencia mas por falte da apoios de jogadores que não aparecem ou das autoridades locais que só se envovem, com raras exceçoes no futebol.
A FPR, tenho que reconhecer que nada cobra com a arbitragem, seguros dos mais novos, emergentes e raparigas e apoio tecnico vai muito alem do que está previsto regulamentarmente se calhar utilizando verbas com outros destinos iniciais.
A evolução do rugby passa obrigatoriamente pela evolução do clubes o que se vai verificando sendo certo que há um abismo enorme entre a organização da FPR e dos clubes o que é compreensivel e desejavel.

Anónimo disse...

Um pouco confuso o comentário das 0.52. Contradiz-se mas no essencial confirma que os clubes é que têm de alimentar a Federaçao. E para a alimentar têm de melhorar, utilizando as estratégias que indica. Acordos e parcerias com as autoridade locais e regionais. Defesa intransigente das regiões, e só depois com a melhoria dos clubes é que se pode pensar numa Fedracao com peso. Não esquecer que a Federaçao deve ser o topo das regiões e as regioes o topo dos clubes. Tb concordo que a selecção não traduz minimamente a realidade do nosso rugby. É como um clube de elite. Igualmente concordo, que é com a dinâmica da selecção principal e de Sevens que os dinheiros vêm da cúpula. Trata-se portanto do problema do ovo da galinha, ou se quiserem melhor, uma pescadora co o rabo na boca.
Sem má base forte não vamos lá e para isso, como tem dito o MdM a Federaçao tem de constituir um departamento exclusivamente virado para isso, com pessoas já desligadas dos clube e com peso e historial na modalidade. Só esses serão capazes de estruturar sem bar para o seu clube e promover competições , sobretudo cá por baixo, com alguma credibilidade e fomentadora de modalidade. Vamos a isso, Senhor Presidente da FPR.

Luis Canongia Costa disse...

Apenas para uma correcção, que só hoje ao receber um e-mail de um amigo dei conta. O Aylesbury e o High Wycombe jogam no equivalente à 7ª Divisão. O Amersham e o Blacknell, dos que vejo, é que jogam na 5ª. Este último tem jogo para a nossa Divisão de Honra. As minhas desculpas pelo erro.

Manuel Cabral disse...

Anónimo das 09:49
Defender pontos de vista é legítimo, fazer afirmações falsas como se fossem verdadeiras chama-se manipulação a opinião pública e devem ser desmascaradas.
Vou começar pela Irlanda, Escócia e Gales:
Cada uma destas Nações tem equipas que disputam a Celtic League (agora RaboDirect Pro12), a Heineken e a Amlin Cup - e os seus financiamentos dependem quase em exclusivo o que recebem dos direitos televisivos dos jogos da Heineken Cup. Daí a guerra que existe neste momento e que vai com ceretaz alterar as competições europeias, como as conhecemos - Mesmo a Celtic League só existe porque a Heineken paga.

Quanto ao rugby nacional de cada uma dessas nações, já o publicámos no Mão de Mestre:
Irlanda em http://www.maodemestre.com/2010/01/competicoes-pela-europa-fora-irlanda.html e não tem nada a ver com o que afirmas já que o rugby nacional está separado em 4 divisões (Div 1A com 8 equipas, Div 1B com 8, Div 2 com 16 e Div 3 com 16.
Para chegar às divisões nacionais referidas, as equipas passam pelo crivo das competições regionais, que começam com 48 equipas divididas reginalmente, para depois irem até um total de mais de 250 equipas envolvidas, só no rugby regional.

País de Gales em http://www.maodemestre.com/2010/01/competicoes-pela-europa-fora-pais-de.html em que além das quatro equipas profissionais se jogam as competições nacionais, PRINCIPALITY PREMIRSHIP, com 14 equipas, Division 1 West mais East com 12 + 12 equipas, depois Division 2 West mais East, com 12+ 12 e depois um largo conjunto de divisões onde jogam mais de 200 equipas...

Dentro de dias o Ricardo Mouro vai publicar a situação na Escócia, que é semelhante, com a existência de duas equipas profissionais, financiadas pela Heineken Cup, e depois com o rugby nacional, semelhante ao que se passa em Gales ou Irlanda.

Em Itália, existem duas equipas profissionais que disputam a Celtic League nos mesmos termos das equipas profissionais galesas, irlandesas e escocesas (Zebre e Benetton), e as outras, incluindo os Cavalieri, o Viadana, o Calvisano e o Mogliano (que disputam a Amlin Cup), disputam as competições nacionais italianas que começam pela ECCELENZA com 12 equipas (incluindo as já referidas), depois uma Série A com 12 equipas e depois 4 Series B (A,B,C,e D) com 12 equipas cada...
Quanto à Currie Cup, que falas com tanta sabedoria, é uma competição de selecções regionais, composta por duas divisões de 7 equipas. Só depois é que se entra nas competições de clubes...

Portanto não só estás a dizer mentiras, como estás a tentar que se misturem conceitos numa mesma discussão - O título do artigo é COMPETIÇÕES NACIONAIS, VERDADEIRA BASE DO DESENVOLVIMENTO, não estamos a falar de equipas profissionais - que devem ser autosuficientes financeiramente - ou de selecções regionais, que só podem existir se houver rugby regional...

Miguel de Castro disse...

O caminho para o rugby de elite portugues a meu ver nada tem a ver com as competicoes nacionais, ou pelo menos muito pouco.
O caminho a ser trilhado pelo rugby nacional no que concerne a alta competicao deveria no meu entender numa primeira fase passar pelo rugby de exportacao tal como a Georgia e a Romenia tem feito nos ultimos 10 anos.

Ou seja aqueles que querem se tornar jogadores de elite, que sao cada vez mais aqueles que pretendem ter uma carreira profissional, mais do que ha uns anos em que eram quase todos universitarios, devem ser "ajudados" por um departamento de alta competicao da FPR a encontrar colocacao nos campeontos profissionais de Franca (TOP 14, PROD2 e FED1), Inglaterra (Premisership, Championship e National 1), Nacoes Celticas e Italia de modo a se desenvolverem.

A DH deve ser o palco para estes jovens se mostrarem de forma a sairem para os campeontaos competitivos, ou para aqueles cujo nivel nao chega a ser o suficiente para pertencer a esta elite.
Nao podemos continaur com o sonho de ter uma divisao de elite competitiva a formar jogadores para ombrear com as selecoes de TIER 2 so os desenvolvendo intr-muros.

A Argentina e um caso fulcral de como as competicoes internas e o rugby de elite nao tem de andar de mao dada e de como uma selecao de elite pode ser formada com base na exportacao.

Anónimo disse...

Concordo com o ponto de vista do sr. Manuel Cabral e há muito mais a dizer sobre isso - a base do Rugby em Portugal são os clubes que, bem ou mal, nos trouxeram até aqui. Há que apostar neles e torná-los auto-suficientes, tanto a nível financeiro como de número de jogadores e esse é que deveria ser o ponto principal para a FPR e as suas associações.

É conhecida a opinião imutável do sr. Luis Canongia. Há que dar os parabéns por isso: acredita numa ideia e leva-a até ao fim. Não concordo por várias razões, que não quero enumerar por serem muitas e estaria eu a escrever durante várias horas e quem quer que lesse durante muitos minutos.

Gostaria no entanto de perceber o porquê do seu clube (St. Julian's) continuar a apostar na inscrição nas Séries B dos escalões de Competição (com excepção dos sub18 este ano, muito bem diga-se de passagem), onde até se auto-proclamou à uma série de anos como Campeão Nacional de sub12 e 14 literalmente para Inglês ver (não existe campeonato nacional de sub12 e foram Campeões regionais de sub14, na série B), bem como a não inclusão de jogadores nas selecções regionais de sub16 e sub18 do passado fim-de-semana? Se quer rugby de elite, porque não mostrar isso no seu clube?

E já agora, se todos os miúdos querem chegar aos Benficas, Sportings, Portos para depois passarem para Barcelonas e afins, porque é que nesse caso não se fazem escolinhas desses 3 clubes no país inteiro, desmembram-se todos os outros clubes e se faz um Campeonato em que só jogam os 3 entre eles o ano inteiro? Dessa maneira sabiamos sempre quem é que iria à Champions, apenas não saberiamos quem é que jogava a pré-qualificação... Era muito mais fácil e, jogando a um nível tão alto (todos os fins-de-semana era um clássico ou derby), concerteza que iriamos ter grandes jogadores na selecção.

Um abraço.

Luis Canongia Costa disse...

1. Para o anónimo das 23:56. O que eu escrevi sobre o St.Julian's volto a citar foi: é um clube "criado para desenvolver jovens e ajudar a deles fazer homens". Não queira confundir as coisas.

O St.Julian's é um clube auto-suficiente, que não precisa da FPR.

O St.Julian's opta pelas competições mais adequadas ao nível dos jogadores que tem, de modo a garantir a sua permanência na modalidade e a sua evolução.

2. Nunca escrevi que os clubes devem trabalhar para a elite (alguns devem ter esse objectivo, naturalmente, pois são a elite), como volto a referir,
«nunca escrevi que o rugby "regional" deve alimentar a FPR». Apenas escrevi que há um fenómeno natural no desporto (e dai o exemplo dos clubes de futebol).

Sempre escrevi que os clubes são essenciais ao futuro do rugby. E que precisam de estratégias sustentáveis de desenvolvimento.

3. O que tão somente digo e continuo a dizer, e esse é o tema, competições como a verdadeira base do desenvolvimento é:

a) é possível desenvolvimento sem competições nacionais (a história do rugby mostra-o);

b) o topo da pirâmide do modelo competitivo deve ser de alta-competição;

c) não temos jogadores de qualidade para alimentar a actual dimensão do topo da pirâmide.

4. Não tenho opiniões imutáveis, ai estamos no domínio das crenças.

5. O que me preocupa é o jogo do rugby e a sua qualidade.

Infelizmente o resultado do alargamento foi uma redução da qualidade do jogo.

A qualidade média dos jogos da Divisão de Honra caiu a pique. Na "Primeirona" joga-se longe dos princípios do jogo.

Isto tem reflexos na evolução dos jogadores, que devem ter acesso a patamares competitivos cada vez mais exigentes.

Um pequeno exemplo. Há um ano via no José Vareta o potencial número 10 de que Portugal tanto necessita para suceder ao Duarte Cardoso Pinto e ao Pedro Cabral. Um ano depois está mais individualista, comete mais erros na tomada de decisão, não está melhor. No Direito não jogava a 10. Os 7s são 7s, e não é o melhor local para desenvolver médios de abertura. No CRAV o modelo de jogo não é adequado ao seu desenvolvimento como médio de abertura - ainda não vi o CRAV, se calhar até uma das estrelas da equipa (isto porque apresentou alguns tiques). Poderá ainda vir a ser o 10 que todos nós gostaríamos, mas deu um passo atrás neste período.

6. Como também sempre escrevi: o modelo do Manuel Cabral é bom numa óptica regional. Agora não se pode defender este modelo e querer a seleção no Mundial.

7. Quanto a exportar jogadores. Era bom, estou totalmente de acordo que é um caminho. O problema é como o percorrer.

O que a Geórgia e Roménia exportam são avançados, porque mesmo em França há falta de jogadores com dimensão física para avançados. Nós não temos gente com essa planta física em quantidade. Nem estamos a criar jogadores de qualidade acima da média para podermos exportar, nem este modelo competitivo o vai permitir.

8. Posso estar errado? Gostaria. Até era bom, e ficaria satisfeito em mudar de opinião - sinal de que o rugby em Portugal tinha evoluido. Mas infelizmente não é o que vejo.

Anónimo disse...

Caro Manuel Cabral,

Parece-me muito exagerado dizer que as equipas da Celtic League dependem quase exclusivamente dos direitos televisivos da Heinneken Cup.

Por exemplo, as 4 províncias irlandesas têm várias fontes de rendimento, e uma delas é o dinheiro que recebem directamente da IRFU, dinheiro esse que vem em grande parte da IRB.

P. Martins

Anónimo disse...

Caro Manuel Cabral,

Não tenho nada a haver com o anónimo que escreveu sobre a Currie Cup e mais não sei o quê, mas o seu post deixou-me tão intrigado que fui confirmar se alguma coisa importante tinha mudado desde a última vez em que me informei.

Não, nada mudou. Desculpe lá, mas dizer que as equipas profissionais célticas dependem financeiramente, em primeiro lugar, das receitas televisivas é um erro.

Elas dependem, em primeiro lugar, das respectivas FEDERAÇÕES, e o dinheiro dos direitos televisivos (que, aliás, parece-me que vai para as federações) não excede os 20% das receitas dessas federações (talvez nem a 10% chegue).

Um dia, quando houver tempo, seria interessante que um dos colaboradores do MdM escrevesse um artigo sobre as relaçções entre as federações célticas e as suas equipas provinciais / regionais / franchises.

Parece-me que existe uma enorme confusão a esse respeito. As federações célticas - bem ou mal - investem imenso na alta competição.

Eu sou a favor do investimento na alta competição, mas tem que ser tudo muito bem pensado.

Em Gales, actualmente ninguém liga ao campeonato e muito poucos adeptos ligam à Celtic Cup. Foi um processo mal conduzido.

Na Irlanda, com a grande tradição que as províncias já tinham, tudo foi diferente.

P. Martins