5 de setembro de 2015

A MENOS DE 60 DIAS DAS ELEIÇÕES, ENTREVISTA COM O CANDIDATO FRANCISCO MARTINS

A Federação Portuguesa de Rugby rege-se pelos seus Estatutos, aprovados em Assembleia Geral no dia 15 de Janeiro de 2015, e eles são claros ao estabelecer que "A Assembleia Geral para eleição de órgãos sociais da FPR realiza-se no mês de Outubro do último ano do mandato."

Na verdade esta é a determinação exacta e imperativa do nº 1 do Artigo 22º dos Estatutos da Federação e nem nos passa pela cabeça que o Presidente da Mesa da Assembleia Geral - a quem compete em exclusivo a marcação, organização e fiscalização do processo eleitoral - não cumpra aquela determinação.

Que não é facultativa, antes claramente obrigatória.
E não nos passa pela cabeça que João Pedro Pinto de Sousa faça como o actual presidente da FPR que tem, consistentemente desrespeitado o que está estabelecido nos nossos Estatutos e Regulamentos, passando a mensagem de que Ele detém o poder e é Intocável!

Assim, esta é a altura dos que não estão de acordo com o que se tem passado na gestão do bem comum que o rugby é, de se adiantarem e oferecerem o seu contributo para que o rugby português saia do lamaçal em que foi lançado por seis longos anos do consulado Amado da Silva.

Francisco Carvalho Martins já anunciou a sua disposição de ser candidato à Presidência da FPR, e concedeu uma entrevista ao Mão de Mestre em que falou de diversas matérias e deu esclarecimentos sobre alguns mitos que foram criados nos últimos anos, sobre o rugby nacional.

Recentemente foi dito que a Seleção Nacional Sevens se encontra no Circuito Mundial, graças à atual direção da FPR. Concorda com essa afirmação?
Discordo totalmente! As equipas residentes existem desde o início do circuito mundial em
1999/2000, onde Portugal não participou. O nosso país foi convidado só a partir da época 2000/2001, que foi o ponto de partida para os campeonatos mundiais.
Realizamos vários torneios nos anos seguintes, mas foi na época de 2006/2007 que a seleção conseguiu, pela primeira vez, participar por completo no circuito mundial, realizando oito torneios. Posteriormente continuamos a participar em diversas provas, e na época de 2011/2012 as equipas tiveram um torneio de qualificação para serem equipas residentes no circuito mundial.
No caso do Rugby feminino, aí sim ainda lutamos para participarmos nos Jogos Olímpicos. Mas o que foi que esta Direcção fez para dar condições às jogadoras e equipa técnica? Se alguém merece crédito neste tópico são, novamente, as atletas, e nunca a atual estrutura da federação.

O jogo contra o Quénia foi uma mancha negra nesta época. Fomos derrotados, diz-se que não havia condições e, se não bastasse, descemos no ranking mundial para a pior posição de sempre, desde que esta classificação foi criada - ocupamos agora o 29º lugar na tabela. Na sua opinião, o que aconteceu ?
É bom recordar que Portugal já se encontrava, antes do jogo com o Quénia, em 24º lugar, o que por si só não era muito positivo. Quanto ao jogo, penso que se não havia condições aceitáveis não devíamos ter competido, como no ano passado.
É conveniente revelar pormenores desse jogo. Primeiro não se preparou convenientemente o jogo, já que 12 jogadores vieram de França na última hora e por isso não se entrosaram com os de cá. 
O que nos leva a outra questão, quem escolheu os jogadores em França, e quais os critérios utilizados?
Depois durante a estadia no Quénia a comitiva não esteve reunida, pois houve jogadores que chegaram na véspera do jogo! 
Ou seja esses atletas nem tempo tiveram para se conhecer, quanto mais treinar! 
A preparação para este jogo foi praticamente nula e naturalmente todas estas falhas nos penalizaram no encontro com a selecção do Quénia.
Em resultado deste perfeito e completo amadorismo, caímos para o 29º lugar no ranking mundial, e por isso todos sabemos quem são os responsáveis por este desaire.

O actual Presidente da FPR afirmou publicamente que a responsabilidade da escolha da equipa técnica que agora foi afastada é da exclusiva responsabilidade de Tomaz Morais. Está de acordo com esta declaração?
Tomaz Morais é um elemento destacado, a quem o rugby nacional muito deve. Limitou-se a indicar os técnicos mediante as suas qualidades e competências técnicas especificas, tendo em conta os orçamentos disponíveis. E todos esses  contratos com os técnicos foram depois aprovados e assinados pela direcção.
Portanto a direcção e o seu presidente não podem eximir-se de responsabilidades.

Para melhorar o Rugby português, pensa que é melhor apostar no talento nacional ou estrangeiro?
Acredito que temos valores de muito boa qualidade em Portugal. Temos jogadores com elevado potencial a precisar de condições para amadurecer e assim atingirem o máximo das suas capacidades.
Vamos sempre precisar de jogadores a actuar no estrangeiro, já que nos trazem algo novo e diferente do que estamos habituados. 
O importante é não nos podemos deixar levar pela importação exclusiva de jogadores já formados. Não podemos esquecer que o principal objectivo de qualquer Federação é incentivar e investir no desenvolvimento dos jogadores, e nos clubes portugueses. 
Isso é a chave para fortalecer a nossa selecção nacional para os desafios que se avizinham.

O que pensa do timing da contratação do novo seleccionador?
Quando os resultados não são positivos, qualquer direcção está no seu direito em contratar um novo treinador. 
Mas neste caso o timing escolhido foi terrível, e nada do que sucedeu devia ter sucedido.
Para quê assinar um contrato a 31 de Julho, com o mês de férias de Agosto logo a seguir? 
As eleições são daqui a semanas e qualquer direcção deve abster-se de tomar decisões estruturantes a cerca de dois meses do fim do seu mandato. 
Portanto pergunto, porque se forçou esta situação?
Ou seja não faz sentido contratar um treinador e pouco depois uma nova direcção poder prescindir dos seus serviços.
Estas decisões deviam ter sido tomadas após as eleições e, nunca antes, mas já estamos habituados ao que chamo amadorismo militante desta direcção.

Outro tópico muito discutido é o facto de o seleccionador nacional ser residente em França…
Se esta direcção lhe dá essa liberdade, não há muito que discutir. 
Todavia, penso que um treinador além de treinar a selecção principal, tem de estar próximo das outras equipas portuguesas e das associações regionais, para que possa monitorizar a evolução e desempenho dos jogadores.
Acho que para isso acontecer, o seleccionador deve estar no país a tempo inteiro, o que não acontece com Olivier Baragnon. Com ele a residir em França, temo que os treinos da selecção passem a ser feitos em regime de part-time, pois treinar com um adjunto nunca é a mesma coisa… 
Ou então dar-se-á o caso de os treinos em Portugal serem efectuados por alguém que mantém um contrato com a FPR até Dezembro de 2016?

Mas sendo o seleccionador francês, acredita que a relação com os clubes franceses irá melhorar? Será suficiente para melhorar a relação entre os clubes franceses e a Federação Portuguesa de Rugby?Penso que estão a tentar pintar de ouro uma estátua de bronze, e não é sensato. O facto de termos um seleccionador francês não muda o trabalho que tem de ser feito cá, pela Federação.
Nos últimos dois anos esta direcção fez com que a nossa Federação deixasse de cumprir uma das suas obrigações: criar e manter relações com clubes estrangeiros onde actuam os jogadores portugueses. Nada disso tem acontecido, pois para que uma relação funcione é preciso olhar para ela como um processo contínuo.
O caminho que a actual direcção segue não está alinhado com o nosso ideal de Federação, e o facto de o novo seleccionador ser francês e não residente, confirma o desnorte que reina na modalidade.

Mesmo criticada, esta direcção trouxe-nos coisas positivas, nomeadamente torneios novos e melhoria das infra-estruturas do CAR em Jamor. O que tem a dizer sobre isso ?
Esta direcção dentro das suas obrigações tomou decisões, mas não se pode prender ao passado remoto para justificar o presente desastroso. 
Aliás, esquece-se que a melhoria das infraestruturas do CAR já estava planeada desde 2007/2008. 
Foi após o Mundial de XV, em 2007, que a nossa selecção ganhou reconhecimento mundial. 
As obras estavam a ser planeadas e a decisão nada teve a ver com a actual direcção.
Em termos de formação há que olhar para a base da pirâmide. É preciso incentivar o Rugby nas escolas, apoiar de forma diferente os clubes que estão fora dos grandes centros, há que voltar a ter selecções regionais, há que trazer os municípios para esta realidade, e tudo isto estagnou, deixou de ser feito.

Embora a Federação não tenha financiado as obras do CAR, o seu vice-presidente afirmou que o orgão apoiou e acompanhou o seu desenvolvimento. Concorda ?A afirmação do actual vice-presidente é totalmente infundada. A Federação não apoiou de forma alguma as obras do CAR, e não se deviam louvar por algo que não fizeram.
Aliás, há mais coisas para comentar nas afirmações reproduzidas nessa entrevista mas a seu tempo falaremos sobre elas.
O actual presidente afirmou várias vezes que não se recandidataria. Porém, e surpreendentemente durante uma entrevista à BolaTV afirmou publicamente que afinal avança e será seu adversário nas próximas eleições. Estava à espera disto?
Estranho muito a sua candidatura, sobretudo porque o ainda presidente afirmou em diversas entrevistas que se não atingisse os resultados propostos não iria candidatar-se outra vez. 
Como quero acreditar que se considera um homem de palavra, acho estranha a sua recandidatura.
Pelo meu lado já disse que serei candidato porque discordo com este sistema criado, e porque tenho uma visão e objectivos bem diversos do actual presidente. 
Sou candidato com ideias diferentes, que serão executadas por uma equipa válida e diferenciada, onde reina a ambição e o bom senso.
Formalizarei a candidatura nos termos estatutários apenas na altura própria, e portanto só aí divulgarei a minha equipa e as nossas propostas de acção. 
A minha intenção de candidatura já gerou mais opiniões, entrevistas e movimentações do que durante a época inteira...
A minha mensagem por agora é para os clubes assumirem aquilo que querem, pelo que entendo a minha candidatura como de pacificação do conturbado momento que vive o rugby em Portugal.

O anúncio de um Congresso do Rugby foi algo bem recebido pela comunidade de Rugby?
Não entendo muito bem a ideia da actual direcção da FPR de organizar nos dias 6,7 e 8 Novembro um Congresso, onde se vão debater soluções, e onde determinadas conclusões vão ser votadas.
A existência de um espaço de debate para toda a comunidade de Rugby é sempre positivo. 
Todavia não concordo com a escolha da data, uma vez que a época já decorre, e o Congresso está marcado para depois das eleições, o que não faz sentido. 
Penso que um Congresso deve ser sempre a meio de um mandato e nunca roçar o princípio ou fim desse mesmo mandato.
Note que os temas a abordar serão escolhidos por esta direcção, mas as decisões deverão ser aplicadas pela próxima. Isto não tem pés nem cabeça...

E acha que o Congresso deve concretizar-se, ou não?
Acho que mais uma vez, a falta de norte desta direcção está à vista de todos. 
O Congresso é importante mas o momento para a sua realização é completamente ilógico. 
Os estatutos da Federação obrigam que haja eleições em Outubro, das quais sairá uma nova direcção. Essa direcção, qualquer que ela seja, é que deve organizar o Congresso.
Ou então estamos no domínio da publicidade e promoção. 
Ou seja a actual direcção pretende obter dividendos ao anunciar o Congresso antes do ato eleitoral que se aproxima. 
Uma espécie de condicionamento do ato eleitoral, pois anuncia-se antes e realiza-se depois...

4 comentários:

Duarte disse...

Boa entrevista, mas acho que faltaram duas ou três perguntas sobre o novo treinador dos sevens: momento da contratação, duração do contrato, currículo como treinador do escolhido.

Miguel disse...

Conhecem este jogador? https://en.wikipedia.org/wiki/Sebastian_de_Chaves - Jogador sul africano elegível para jogar por Portugal. Joga pelo Leicester.

Duarte disse...

Já afirmou que, pelo menos, por enquanto, não está interessado em jogar por Portugal. Salvo erro, é elegível por 4 países.

Placador disse...

3 paises. Africa do Sul, Portugal e Inglaterra. Tem quase 0 chances nos dois primeiros. Afirmou so querer jogar por Portugal na eventualidade de Portugal se apurar para o RWC! Portanto nao contem com ele para o dificil! So para o bem bom de jogar a fase final! Esfolar-se para o conseguir nem por isso!

Em relacao a 2 linhas estao dois luo-sul africanos a jogar nas equipas italianas que jogam na liga celtica...