3 de setembro de 2013

RUGBY DO SÃO MIGUEL OU O RENASCIMENTO DOS BULDOGS

Um dos clubes nacionais que mais se distinguiu nos finais dos anos 70 e nos anos 80, particularmente nos escalões mais jovens, o clube de Rugby de São Miguel "adormeceu" durante quase 20 anos, para regressar agora com a declarada intenção de recuperar - e ultrapassar! - o brilho que já conheceu.

Como no passado, o Clube põe a tónica nos escalões de formação, e graças ao acordo firmado com a Fundação Inatel pode agora exercer uma influência clara numa zona que ultrapassa os limites do bairro de São Miguel, se alastra pela Avenida de Roma, e Bairro de Alvalade, e acaba por estar por toda a cidade de Lisboa.

Diogo Vassalo começou a jogar pela mão de seu irmão Pedro, com apenas sete anos de idade, e hoje, um pouco mais velho, é o presidente do Clube e fala-nos do que foi feito e do que será a vida no São Miguel nos anos que se aproximam.

Mão de Mestre: Quem é o Diogo Vassalo, o que faz no rugby e fora dele?
Diogo Vassalo: Advogado, 46 anos, ex-jogador do CRSM até final dos
juniores, depois seniores na AACoimbra.

MdM: De onde és natural e quando nasceste?
D.V.: Lisboa, maternidade Clínica de São Miguel, Alvalade, 5/10/1966.

MdM: Como e quando surge o rugby na tua vida?
D.V.: Com o meu irmão Pedro, quando tinha 7 anos, a ir jogar para o meu clube de sempre.

MdM: O Clube de Rugby São Miguel surge nos anos 70 e teve grande projecção, em particular nos escalões mais jovens, mas deixou de ter actividade no princípio dos anos 90, ressurgindo em 2010. Queres contar-nos como foi este processo de ressurgimento do Clube?
D.V.: O CRSM teve, de facto, uma suspensão durante uns valentes anos, resultante de um conjunto de factores que vão desde o início da gestão universitária autónoma do Estádio Universitário de Lisboa, até à ligação natural que fizemos com a Universidade Livre e ao encontro que esta acabou por ter com a história. 
Nesse grande período de suspensão, a grande maioria dos nossos jogadores e ex-jogadores transferiram-se para outras equipas e fizeram lá o resto da sua história desportiva, como a dos seus filhos.
O ressurgimento surgiu com o 40.º aniversário do Afonso Costa Pereira (a quem chamo “Afonso o redescobridor”), que agora partilha funções de Direcção, como vice-presidente do Clube. 
O Afonso resolveu fazer nos seus 40 anos um jogo de rugby com antigos jogadores do clube e acendeu a faísca que nos ligou a todos desde sempre. Desde 2010 até agora, tem sido um vulcão de coisas a redescobrir e a tratar, sempre preocupados em manter o espírito familiar que tínhamos (e temos) no CRSM. 

MdM: Qual foi a actividade do São Miguel nos escalões de formação (até aos sub-14) em 2012-13 e quem foram os treinadores neste escalões?
D.V.: A atividade dos escalões de formação foi muito boa. 
As equipas de formação do CRSM estão em franca e estreita colaboração com a Fundação Inatel, que tem sido um parceiro excelente. 
As nossas equipas de formação até sub 16 são as equipas São Miguel – Inatel. Depois de um ressurgimento muito forte a partir de 2010, como confirmam o número de atletas federados na ARS, a Fundação Inatel resolveu na época 2011/2012 retirar no Estádio 1.ª de Maio o velho campo de relva natural e substitui-lo por um sintético, o que fez decrescer nesse ano as nossas escolas de formação que tinham surgido com grande força no ressurgimento. 
Foi um duro teste que ultrapassámos com distinção. 
Com a estabilidade do campo voltou o crescimento das equipas de formação e, actualmente, temos equipas de sub-8, sub-10, sub-12, sub-14, sub-16, seniores e feminino, tenso surgido nesta época os sub 18. 
Só nos falta mesmo os sub-21, mas tudo a seu tempo. 
Os treinadores foram dois a três por escalão, sempre coordenados por ex-jogadores do Clube. 
Todos os treinadores têm no mínimo o nível 1 de formação de rugby 15, sendo que nos sub-14 e em diante têm nível 2, a acabarem o nível 3 e/ou têm muita experiência, como o Albertino Minhoto nos seniores. 
Integramos sempre os pais dos atletas no nosso carismático ambiente familiar e é sempre um gosto ver gente que nunca esteve ligada ao rugby a ser directora de equipa e até a tirar cursos de formação de treinadores. 
Não destaco treinadores porque seria injusto. 
Destaco, no entanto, que vamos continuar a formar treinadores, directores de equipa, árbitros, dirigentes, tudo em prol de um clube de bairro que vai
expandindo as suas fronteiras e que tenciona ter sempre grande nível na
formação, preparando assim com solidez o futuro do clube. 


MdM: E no que diz respeito aos sub-16 e sub-18 (pré competição) o que se passou? E quem foram os responsáveis pelas equipas?
D.V.: O que se passou foi que este ano criámos a primeira equipa de sub-18, ainda com poucos jogadores mas com muita coragem e futuro, bem alicerçados no nosso espírito familiar. 
Nos sub-16, a equipa não teve os atletas que pretendia e esse foi o único problema que detectámos em termos estruturais. 
O tempo tratará desse assunto. Ninguém tem pressa.

MdM: Tiveram alguma acção de divulgação, protocolo, com escolas da zona em que estão inseridos, e/ou pensam vir a fazê-lo em 2013-14?
D.V.: Tivemos obviamente acções de divulgação e vários protocolos celebrados mas não queremos crescer sem solidez e, por isso, a partir deste ano criámos um departamento na direcção só para este efeito. 
A captação será feita com regras e modelos definidos na Direcção e é nesse sentido que já estamos a trabalhar.

MdM: Como é financiada a actividade do Clube? Qual o papel da autarquia neste aspecto? E como tem sido a tarefa de encontrar empresas patrocinadoras?
D.V.: A actividade foi correctamente financiada com as quotas de atletas, quotas de ex-jogadores e patrocínios em dinheiro e espécie de empresas genuinamente interessadas nos valores do rugby de formação. 
Quando acreditamos que através do rugby, ensinamos os valores mais importantes na vida, foi com agrado que encontramos parceiros que viram a oportunidade de fazer a publicidade através das nossas camisolas, site, aparições em meios de comunicação de jornais e televisão. 
Acreditamos que as empresas que nos apoiam e que estão a crescer, estão genuinamente mais preocupadas com a sua responsabilidade social do que com o mérito desportivo. 
Procuram mais que os bons valores do rugby de disciplina, desportivismos, solidariedade, sejam transmitidos do que procuram afirmar que apoiam este ou aquele, por ligações habitualmente familiares. 
O nosso empenhamento no orçamento participativo e o nível estrondoso de votação online que conseguiu mostrou que existe um sentimento de bairro que ultrapassou os velhos e novos jogadores do clube. 
Temos uma boa ligação com as juntas de freguesia que agora se vai tornar mais forte e estamos agradecidos pelo apoio e interesse que a autarquia tem mostrado. 
É bom ver as equipas começarem com miúdos que nunca jogaram rugby e é um orgulho para nós transmitirmos que os bons valores do rugby trarão naturalmente a competição e as vitórias de mérito desportivo, mas também o respeito pelo bairro onde crescem, o sentimento de comunidade, o interesse dos valores existirem onde vivem. 
Fazemos no CRSM o nosso papel comunitário com o apoio da junta e autarquia e é assim que nos vemos a crescer. 

MdM: Para a época 2013-14 que equipas irá o clube apresentar nestes escalões, e quem serão os respectivos treinadores?
D.V.: O CRSM tenciona este ano manter os mesmos escalões que no ano passado mas com maior número de atletas e treinadores. 
Os treinadores terão, como já disse, sem excepção o nível 1 de rugby e
manteremos um número de dois a três por escalão, convidando os Pais a serem directores de equipa e fazerem desporto na Fundação Inatel enquanto os filhos treinam, seja natação, ténis, corrida ou simplesmente ver os treinos na bancada.

MdM: Já no respeitante aos seniores, depois de uma primeira fase em que dominou a zona sul/Lisboa da 2ª Divisão, e garantida a presença na final, com mais dificuldades do que se esperaria (derrota em Guimarães e vitória em Lisboa), o São Miguel acabou por perder a final do campeonato para o Sporting. Apesar disso, e beneficiando do alargamento da 1ª Divisão para a época que se aproxima, o Clube foi promovido a essa divisão. 
Quais foram os aspectos mais importantes da época que passou, até que ponto se conseguiram atingir os objectivos desportivos, e quais as lições que tiraram de tudo o que se passou?
D.V.: O objectivo que foi proposto para o ano que passou foi formar uma equipa sólida que permitisse a chegada da formação dos nossos atletas e que no futuro a dois anos, permitisse lutar pela subida. 
Tudo se concretizou mais cedo do que esperávamos. 
Acabámos por dominar a zona sul e na meia final, apesar da derrota em Guimarães por um ponto no primeiro jogo, foi com toda a vontade que nos estreámos no Estádio Inatel para fazermos o primeiro jogo de sempre já com o campo de rugby homologado e, com naturalidade, chegamos à final, apesar da excelente replica do Guimarães. 
A final foi um jogo atípico porque acaba muitas vezes por premiar o jogo em si, em vez da regularidade da época onde fomos claramente superiores. 
De qualquer forma, na final mostramos que foi apenas um jogo, enquanto nas bancadas o número de apoiantes do CRSM eram significativos e apoiaram civilizadamente a equipa, valorizando a vitória do Sporting. 
Vi, ouvi e não gostei, e quero deixar registado, que foi com muita pena que vi outras claques de vários clubes no jogo da final a chamarem-se constantemente nomes e aos árbitros também e a darem uma errada noção do que deve ser um jogo de rugby. 
Para um jogo de cavalheiros a nós dirigentes cabe-nos uma dura tarefa de que o futuro não seja esse e no CRSM não será esse o comportamento. 

MdM: Quem foram os responsáveis técnicos da equipa mais representativa do Clube?
D.V.: Os responsáveis técnicos da equipa sénior são o Filipe Conde como Director desportivo e ex-jogador do Clube e depois o treinador principal Albertino Minhoto, coadjuvado pelo Silva e Cunha e por uma notável equipa de fisioterapia, coordenada pelo António Silva. 
A identificação que fazemos com todos os treinadores é muito boa e natural. 
Na direcção sempre definimos que defendemos no clube o que defendemos nas nossas famílias, que a mais liberdade corresponde maior responsabilidade e acho que os treinadores tem tido a liberdade que o clube lhes pode oferecer em termos de condições e tem correspondido com maior responsabilidade nos objectivos. 
A acrescer, o modelo de rugby defendido pelo Minhoto identifica-se com o modelo de jogo que a Direcção do Clube definiu como o modelo do clube. 

MdM: Para 2013-14 quais os principais objectivos da equipa principal, e quem
será o seu treinador?
D.V.: Não existem somente objectivos da equipa principal. 
Existem os interesses do clube e aqui é importante deixarmos uma mensagem. 
O Clube tem uma estratégia sólida na formação e na defesa dos valores do rugby, pelo que queremos a equipa principal a reflectir esses valores de flair play, coragem, abnegação, boa educação, disciplina etc, como o fez no ano passado. 
Se mantiver o mesmo espírito a equipa sairá ganhadora. 
Os objectivos da equipa sénior não são a um ano, nem a dois, mas um dia, o mais breve possível, ocupar o nosso lugar com naturalidade na divisão de honra. 
Um trabalho sólido tal como fez o Cascais. 
É de relembrar que nos últimos 6 anos do clube, antes de “suspender” a sua actividade, fomos campeões nacionais de juniores três vezes. 
Ano sim, ano não, éramos candidatos. 
Por pouco não vencemos quatro desses seis campeonatos. 
Quando íamos começar as verdadeiras condições para a 1.ª divisão tivemos um encontro com a história. 
Agora os filhos dos nossos antigos atletas estão noutros clubes. 
Ficamos com a noção que foi uma pena na altura, mas também sabemos que nunca erramos no trabalho desportivo. 
Falhamos nas estruturas de apoio que todos os clubes precisam. 
Vamos corrigir esse aspecto e ano após ano vamos sedimentar o nosso caminho. 
Para a história retiro duas conclusões: a boa imagem que o Clube teve sempre ao nível da formação com os consequentes resultados desportivos de mérito nessas camadas e o rugby aberto que sempre defendemos como modelo. 

MdM: O São Miguel utilizou na época passada as instalações do Estádio 1º de Maio, e gostaríamos de saber em que condições essa utilização foi garantida e se está assegurada a continuação da sua utilização para 2013-14 e anos seguintes?
D.V.: O São Miguel utilizou e utiliza as instalações do estádio 1.º de Maio porque as nossas escolas de formação são São Miguel – Inatel. 
O São Miguel preencheu a lacuna de não existir rugby no Inatel e o campo do 1.º de Maio junto à Avenida de Roma é onde o clube nasceu. 
O nosso bairro de São Miguel nos anos 70 na Avenida de Roma é paredes meias com o Inatel. 
É uma ligação natural de bairro. 
O São Miguel tem parceria com a Fundação Inatel e o Clube tem-se mostrado responsável nessa parceria. 
Todos os anos aumentam os utilizadores (atletas e famílias) da infraestrutura que é uma das melhores da cidade de Lisboa. 
Até os funcionários da Inatel estão interessados no resultado do fim de semana. 
As famílias que colocam os seus filhos no clube tem-se mostrado contentes e vem os seus filhos num ambiente cheio de condições desportivas. 
O clube tenciona manter esta parceria e este ano vai reforçar com a existência de jogos de rugby de 1.ª divisão no estádio. 
Em poucos anos de actividade o São Miguel mostrou à Fundação Inatel que valia a pena o investimento num campo de rugby e assim nasceu em Lisboa um campo de rugby central e o renascer de um espírito de bairro. 

MdM: Quem queira treinar e jogar no São Miguel, o que deve fazer?
D.V.: Deve contactar-nos por telefone, 925 068 747, mail : administrativo@crsm.pt, ou simplesmente aparecer no estádio. 
Deixo as indicações necessárias: Acesso pela entrada do Ténis, a secretaria do CRSM fica situada por cima das bancadas e está aberta das 18h30 às 21h00 de 2ª a 5ª Feira. 
Os atletas devem dirigir-se primeiro à secretaria afim de preencherem um termo de responsabilidade para poderem fazer os treinos de captação.

3 comentários:

Filipe disse...

Aproveitando a parte da entrevista que saliento " ...Integramos sempre os pais dos atletas no nosso carismático ambiente familiar e é sempre um gosto ver gente que nunca esteve ligada ao rugby a ser directora de equipa e até a tirar cursos de formação de treinadores... " Era muito importante explicar que o Rugby até aos escalões de sub 16 é pura formação e sobretudo adquirir o gosto pela modalidade. Como tal custa-me a ver a determinados comportamentos, sobretudo de pais e treinadores que aplaudem e incitam a comportamentos/atitudes inaceitaveis, assim como as atitudes demasiado competitivas em escalões tão novos. Saudações desportivas

Maria disse...

"adormeceu" durante quase 20 anos, para regressar agora com a declarada intenção de recuperar - e ultrapassar! - o brilho que já conheceu.

MÃO DE MESTRE ressalvo na sua parte introdutoria que o "regresso" não é de agora, e que a intenção de "recuperar" teve inicio logo, após Janeiro de 2008 e foi fruto de um querer muito forte de ex atletas com nome, pais abnegados que se apaixonaram pelo clube e pela modalidade envolvendo-se com toda a Direcção, patrocinadores que acreditaram em nós e juntos conseguimos a objectivo a que nos propusemos ou seja desde 2008,vencemos o Orçamento Participativo de 2010 (construção de um campo de Rugby em Lisboa), de zero atletas passámos a 210 (final epoca 2012/13) os sub 14 foram campeoes da serie B, o Clube no fnal da época passou à 1ª Divisão.

Por tudo isto e muito mais,que já foi e muito bem relatado nesta entrevista, julgo que irá entender que a nota introdutoria a esta entrevista carece desta informação. Eu por exemplo, que sou mãe de um atleta se não conhecesse o clube e a Direção anterior diria que o clube renasceu este ano.

Anónimo disse...

"o clube de Rugby de São Miguel "adormeceu" durante quase 20 anos, para regressar agora com a declarada intenção de recuperar - e ultrapassar! - o brilho que já conheceu."

A intenção não é de agora e o brilho já foi imenso.O blogue mão de mestre esta atrasado 5 anos. Ou sucesso são só Sénores???? Enfim é um mal portugues. esquecem o quanto importante é semear. E é isso que o S. Miguel faz, semeia e vai de certeza colher muito sucesso.