14 de setembro de 2013

UBUNTU RUGBY APOSTA NA INTERVENÇÃO SOCIAL

Com três anos de vida e uma actividade dominada pela intervenção social, o projecto hoje designado Academia Ubuntu Rugby nasce da semente lançada por Philip Kellerman, mas quer crescer cautelosamente pela integração e promoção dos seus jogadores.

Depois de um ano na 2ª Divisão, e com o acordo de cooperação firmado com o Instituto Padre António Vieira, o clube tem na falta de um campo próprio uma das maiores dificuldades para poder crescer.

Pedro Vaz conta-nos a história do Ubuntu Rugby e fala-nos dos seus projectos.


Mão de Mestre: Quem é o Pedro Vaz no rugby e fora dele?
Pedro Vaz: Casado, 40 anos, cinco filhos, e com muitos e bons amigos que
se juntaram de forma generosa a este projecto.

MdM: Onde nasceste e cresceste e como se deu o primeiro contacto com o rugby?
P.V.: Comecei a ver Rugby com 10 ou 11 anos, no Torneio das Cinco Nações, que dava na televisão, e cerca de um ano depois comecei a jogar no Belenenses.

MdM: O que fizeste no rugby na época que terminou, e o que vais fazer na próxima?
P.V.: O trabalho iniciado no clube na época passada tem ainda muito pela frente. Afirmar a presença da Academia Ubuntu Rugby no panorama do rugby nacional, e continuar a dotá-lo de uma estrutura que garanta a sua sustentabilidade serão os grandes desafios.

MdM: Como surge o Kellerman Rugby e quando?
P.V.: O Kellerman surge pela mão do Philip Kellerman, que treinou em Portugal o Agronomia, o Cascais e o Belém, e que acreditava que o potencial existente em zonas periféricas, de pouca tradição de Rugby, era imenso, e por isso levantou este projecto em 2010-2011 e foi juntando à sua volta alguns jogadores e ex-jogadores.

MdM: Qual foi a actividade que o clube teve na época 2012-13?
P.V.: Com a saída do Philip do país, acreditámos que valia a pena manter a actividade de um núcleo mais importante que foi criado no Cacém. 
Assim, com uma equipa de voluntários que olharam para o projecto essencialmente como um elemento de intervenção social, tratámos de inscrever os jogadores na FPR, e jogámos para o campeonato nacional da 2ª divisão.
Sabendo que grande parte dos jogadores nunca tinham jogado Rugby antes, pensamos que os resultados, que melhoraram visivelmente ao longo da época, bem como as melhorias na disciplina, são uma parte muito importante do caminho que fizemos.


MdM: Quem foram os seus treinadores?
P.V.: Para além de algumas ajudas mais esporádicas, o Luís Maria Andrada, o Luís Guilherme Cunha e o Bernardo Peters. 

MdM: Que ações estão previstas para alargar o recrutamento nas camadas jovens?
P.V.: Temos primeiro que conseguir estabilizar as condições práticas de campo e financiamento para pensarmos no alargamento. 
Adicionalmente, temos um projecto de integração e promoção dos nossos jogadores que faz sentido nos seniores e eventualmente sub-18. 
Terá portanto que ser um passo de cada vez.

MdM: Existe alguma parceria com escolas/estabelecimentos de ensino da região?
P.V.: Não, pelas razões anteriormente apontadas.

MdM: Onde decorrem os treinos e os jogos do clube?
P.V.: Os treinos estão a ser feitos no Atlético Clube do Cacém, e os jogos
tipicamente no Estado Nacional, uma vez que não temos campo relvado onde receber. 
Isso é aliás um aspecto que dificulta o envolvimento da comunidade local, e estamos a tentar alternativas mais próximas. 

MdM: A actividade do Kellerman passou para a Academia Ubuntu, de acordo com o que foi anunciado. 
Podes explicar esta mudança?
P.V.: Esse foi realmente um turning point do projecto. 
Em Janeiro de 2013 firmámos um acordo de cooperação com o Instituto Padre António Vieira, que gere um programa de educação denominado "Academia Ubuntu" (www.academiaubuntu.org), que procura educar jovens adultos na "Liderança pelo Serviço", usando como referência grandes líderes, entre os quais o Mahatma Gandhi, Aung San Suu Kyi, Nelson Mandela.
A coincidência de valores entre o projecto original e o IPAV/Academia Ubuntu permitiu a fusão de intenções neste novo projecto, doravante designado por Academia Ubuntu Rugby.


MdM: Que lições têm sido tiradas da actividade do clube e como vai ser o futuro?
P.V.: Penso que o mais relevante é percebermos todos (voluntários e jogadores) que tudo é possível, com esforço, coragem e respeito. 
Temos muito que andar, mas vemos exemplos de outros clubes que têm também progredido e é isso que pretendemos.
Percebemos também que podemos fazer a diferença no campo, dando testemunho do que é jogar Rugby, quando se levam os valores do Rugby a sério. Não resisto a copiar as palavras generosas do Carlos Castro, Treinador principal do Sporting Clube de Portugal Rugby, que nos dizem muito, e que mostram também a sua própria grandeza:
"Muitas pessoas dizem-me que o rugby é escola de vida, mas para certas pessoas a vida também pode ser escola de rugby. 
Quando percebi isso? Simples, aquando de um jogo de rugby onde a minha equipa - o Sporting Clube de Portugal - defrontava na segunda mão a equipa Kellerman.
O que eu consegui ver para além da habitual análise técnica da minha equipa foi sem duvida um grupo de jovens - 12 no total, nem sequer tinha uma equipa completa - mas da maneira como jogava o jogo pelo jogo, sem olhar para a diferença pontual, ou sequer se estava a ganhar ou a perder. O que eu vi foi um grupo de amigos sempre a tentar ultrapassar os seus próprios limites.
O que eu vi, e que pela primeira vez fez sentido para mim, é que nem sempre quem perde, perde, e quem ganha, ganha. Este grupo, que nunca virou a cara ao desafio, este grupo que nunca, mas nunca, baixou os braços, este grupo – não!, esta EQUIPA - é que venceu o jogo.
Foi para mim, treinador da equipa adversária, uma enorme alegria ver estas caras cheias de alegria, independentemente da derrota. Via nos olhos e nas caras que o prometido tinha sido cumprido, uns pelos outros, ninguém a baixar a cabeça, sabendo que dentro do campo tinha deixado tudo, pela amizade, pelo companheirismo, e sobretudo pela alegria de poder ainda jogar alguns minutos com esta equipa. Grande trabalho dos dirigentes, grande trabalho do meu amigo treinador mas sobretudo grande lição que estes meninos nos ensinam.
Se isto é rugby, sim senhor: após 34 anos a praticar este desporto, voltaria a fazer isso tudo de novo só para reviver estes 80 minutos que para mim deram um sentido à palavra Rugby.
Continua esta fabulosa viagem talvez com outro nome, mas para mim, Carlos Castro, a equipa do Kellerman ganhou o meu respeito.”

Queremos avançar no sentido de melhorar os resultados desportivos, de marcar sempre pela vivência dos valores do Rugby, e também de transformar os actuais jogadores em dirigentes, capazes de traçar o seu próprio caminho.
MdM: Como é financiada a actividade desportiva do clube?
P.V.: Com o apoio do IPAV, conseguimos este ano um apoio pecuniário, que complementado com actividades de angariação de fundos e alguns
beneméritos que permitiram que a época passada acontecesse.

MdM: Qual o papel das empresas da região?
P.V.: Apesar de bastante esforços nesse sentido, não conseguimos apoios desse tipo. A equipa tem muito pouca visibilidade, numa região onde, mais ainda do que em Lisboa, o futebol é rei. 
Não devemos esquecer também que muitos dos clubes tradicionais contam com muitos ex-jogadores que naturalmente se envolvem no apoio ao seu clube, o que não se passa ainda connosco. 

MdM: Para a época 2013-14 quais os seus principais objectivos desportivos?
P.V.: Começar a ganhar jogos, e manter um registo disciplinar de excelência. 

MdM: Quem vão ser os treinadores do clube para a próxima época?
P.V.: Continuamos com os mesmos treinadores. 

MdM: Quem quiser jogar rugby na Academia Ubuntu o que deve fazer?
P.V.: Quem quiser jogar na Academia Ubuntu Rugby pode deixar-nos uma mensagem no facebook: https://www.facebook.com/UbuntuRugby

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