24 de setembro de 2013

O RUGBY DE LOULÉ SOFRE COM O ISOLAMENTO

O Rugby Clube de Loulé é o clube português que vive mais isolado, tendo que viajar, em qualquer escalão, mais de 200 km para fazer um único jogo, o que levanta uma série de dificuldades de difícil superação.

A completar 40 anos de actividade, o clube algarvio consegue manter-se graças ao amadorismo dos seus jogadores e técnicos, mas as dificuldades financeiras agravam-se e exigem que mais empresas e particulares apoiem quem mantém a chama do rugby acesa naquela região do país.

Presidente do clube desde 2006, Paulo Laginha mostra-nos como funciona um clube que tem no apoio da Câmara Municipal praticamente a sua única fonte de rendimento para cobrir as elevadas despesas.


Mão de Mestre: Quem é o Paulo Laginha no rugby e fora dele?
Paulo Laginha: O Paulo Laginha é um cidadão comum que divide o seu
tempo entre a vida profissional e familiar, com o lazer e o exercício voluntário de alguns hobbies que vem mantendo há já bastantes anos, designadamente, o automobilismo de estrada (essencialmente na vertente organizativa) e, mais recentemente, o rugby, na qualidade de dirigente do Rugby Clube de Loulé, assumindo o cargo de presidente da direcção desde o verão de 2006, na sequência do convite que lhe foi endereçado pelos membros dos órgãos sociais cessantes. 

MdM: Onde nasceste e cresceste e como se deu o primeiro contacto com o rugby?
P.L.: Nasci em Loulé, e a infância e adolescência foram vividas entre esta cidade e Faro. 
Aos 18 anos de idade, finalizado o ensino secundário e cumprido o ano propedêutico, rumei a Lisboa, cidade onde vivi durante alguns períodos, intervalados com regressos ao Algarve.
Tive o meu primeiro contacto com o rugby no Outono de 1974, numa brincadeira realizada num campo relvado em Vilamoura que, tanto quanto me lembro, já desapareceu há décadas. 
No entanto, a primeira participação “a sério”, dar-se-ia em Fevereiro de 1975 num convívio organizado em Coimbra pela Direcção-Geral dos Desportos, no âmbito das campanhas de desenvolvimento desportivo, salvo erro denominadas “ENDO”, que tiveram o mérito de espalhar a modalidade pelo país, para lá dos grandes centros universitários que, na altura, quase monopolizavam o rugby nacional. 

MdM: O que fizeste no rugby na época que terminou, e o que vais fazer na próxima?
P.L.: Conforme decorre da primeira resposta, desde o verão de 2006 que exerço o cargo de presidente da direção do Rugby Clube de Loulé, cargo que penso manter durante a próxima época, uma vez que as eleições para os corpos sociais do clube apenas terão lugar no próximo verão. 

MdM: Como surge o rugby em Loulé e quando?
P.L.: Tanto quanto sei, o rugby em Loulé surgiu nos finais de 1974, ainda que de um modo bastante informal, por iniciativa do Faustino Pires, que tomara contacto com a modalidade aquando da frequência da Escola de Regentes Agrícolas de Évora e de um grupo de amigos que se lhe juntaram. 
Nessa época realizaram-se algumas “brincadeiras” como a referido anteriormente, sendo certo que a primeira participação de equipas de Loulé em competições de rugby se deu no citado convívio de Coimbra.
Apesar da pergunta remeter para o momento do surgimento do rugby na nossa cidade, vou permitir-me a alongar um pouco mais temporalmente a minha resposta porque, qualquer momento inicial, tem tanto de revelador como de efémero, caso lhe não suceda a árdua tarefa de consolidação das frágeis bases iniciais. 
E, neste capítulo, há um nome que deverá sempre ser citado, quando o assunto for Rugby Clube de Loulé – o do saudoso João Adelino Gonçalves a quem devemos a continuidade do nosso clube. 

MdM: Qual foi a actividade que o clube teve nos escalões de formação (até aos sub-14) e de pré-competição (sub-16 e sub-18) na época 2012-13?
P.L.: Para caracterizar a participação do clube nos escalões de formação e pré-competição, durante a época passada, torna-se necessário efectuar uma análise sectorial, uma vez que a mesma não foi uniforme para todos os escalões.
Relativamente aos sub-8, sub-10 e sub-12, o desempenho não foi brilhante, devido à diminuição acentuada do número de atletas (excepto neste último escalão), como consequência directa da grave situação económica que assola a região.
A este insucesso também não terá sido alheia a incapacidade do clube realizar acções de captação nas escolas ou de coordenar este tipo de acções com a actividade do coordenador técnico regional.
Por outro lado, ao nível dos transportes vivemos fortes restrições, que também se reflectiram no número de participações nos vários convívios.
Pela positiva, saliento o incremento das interacções com o CRUAlg, bem como a incorporação pontual de atletas deste clube nas equipas do RCL.
Em sentido contrário, o escalão sub-14 assistiu a um aumento do número de atletas, que asseguraram uma participação regular nas competições que lhe estavam destinadas, fornecendo ainda atletas para completar as formações da CRUAlg que participaram em encontros “extra-torneio” nos dois torneios organizados em Loulé, os quais se constituíram em verdadeiros sucessos organizativos, a julgar pelos elogios formulados pelas equipas visitantes.
Os sub-16 também tiveram uma forte redução do número de atletas, devido às promoções ao escalão superior que não foram compensadas pelas promoções dos atletas vindos dos sub-14, nem pela entrada dos atletas que iniciaram a prática da modalidade. 
Esta redução, condicionou a participação da equipa no campeonato nacional, grupo B, necessitando frequentemente de integrar um contingente considerável de atletas do escalão inferior para completar o plantel para os vários encontros. 
Com estas condicionantes e no final de um campeonato “aos bochechos”, creio que o 6.º lugar entre as equipas do grupo B acaba por ser meritório para o desempenho destes jovens atletas.
Os sub-18, por seu lado, não conheceram as dificuldades do escalão inferior e, depois de um início de campeonato fulgurante, perderam um pouco do brilho na segunda metade. 
O segundo lugar entre as equipas do campeonato nacional, grupo B, depois da derrota na final frente à Bairrada, apesar de saber a pouco, não
deixa de ser um justo prémio para o esforço dos atletas desta equipa.

MdM: Quem foram os treinadores destes escalões?
P.L.: Sub-8, sub-10, sub-12 – Tiago Silva coadjuvado por Ana Delgado, Stephen Hodgson e Daniel Cartwright;
Sub-14 – Hugo Laginha, coadjuvado por Nelson Nascimento;
Sub-16 – João Luís Nogueira, coadjuvado por Nuno Ótão e Bruce Liddle;
Sub-18 – José Moura, coadjuvado por Bruce Liddle.


MdM: Que acções estão previstas para alargar o recrutamento nas camadas jovens?
P.L.: Está prevista a realização de campanhas de captação de atletas junto das escolas de ensino básico locais, a par de outras acções de divulgação do clube e das suas actividades.
MdM: Existe alguma parceria com escolas/estabelecimentos de ensino da região?
P.L.: Não. Até ao momento não foi possível estabelecer qualquer parceria com escola alguma.

MdM: Onde decorrem os treinos e os jogos das camadas jovens?
P.L.: No Campo de Rugby de Loulé.

MdM: Para a época 2013-14 quais os principais objectivos desportivos nos escalões de formação?
P.L.: O principal objectivo será, sem dúvida alguma, a expansão do número de atletas. 
Se a esta associarmos uma maior participação nos convívios que vão sendo organizados ao longo da época, será ouro sobre azul.

MdM: No escalão sénior, o clube participou do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, mas depois de uma primeira fase em que prometeu muita coisa, ficando apenas a um ponto do 5º lugar, e com uma boa vantagem sobre o 7º classificado, acabou por ter uma fase final um pouco desanimadora, e foi público algum mau estar com o comportamento de parte dos seus adeptos.
Quem foram os responsáveis pela equipa?
P.L.: Penso que o percurso da equipa sénior não se afastou do que era esperado. 
É normal que a segunda fase do campeonato seja mais penosa do que a primeira, porque ao cansaço natural que se vai acumulando ao longo da competição, juntam-se, também, as inevitáveis lesões, tudo em prejuízo do rendimento da equipa.
Importa salientar que o nosso clube não se situa num grande centro populacional, nem nas suas imediações. 
A cidade de Loulé não terá mais do que 23.000 habitantes e a sua juventude dispersa-se pelas muitas modalidades que, felizmente, estão ao seu alcance. 
Logo, as nossas “fontes” de captação de atletas não “jorram” em abundância, pelo que, a substituição de atletas lesionados nem sempre pode ser realizada sem afectar de forma significativa o rendimento do conjunto.
Quanto ao comportamento dos adeptos do nosso clube, parece-me que existe alguma “mistificação” em seu redor.
É verdade que temos adeptos que, a espaços, se manifestam de um modo mais efusivo, mas não são, nem de perto nem de longe, do que de pior tenho assistido em muitos campos por esse país fora.
Também é verdade que não gostamos de nos comparar com os piores exemplos e, apenas por isso, senti necessidade de alertar para os danos que um mau comportamento dos adeptos, pode causar ao clube.
Na época passada, a equipa sénior foi dirigida pelo Paulo Lampreia (diretor de equipa e vice-presidente da direção) e, no capítulo técnico, pelo André Gomes (treinador e director técnico do clube), assistido pelos adjuntos Rui Mendonça e Mike Hynch.


MdM: Que lições têm sido tiradas da actividade sénior e como vai ser o futuro?
P.L.: Em termos técnicos, deixo esse tipo de análises para quem tem competência na matérias – director técnico e treinadores.
No entanto, importa recordar que este é um clube com recursos limitados, pelo que a totalidade dos atletas são amadores. 
Vivemos, pois, exclusivamente com os recursos humanos que se nos apresentam, uma vez que não temos nenhuns atletas contratados.
O mesmo se passa com a quase totalidade dos técnicos que, de um modo totalmente voluntário e desinteressado, dispensam uma parte importante do seu tempo livre em prol do nosso clube e da modalidade.
A colaboração dos nossos voluntários, constitui, aliás, um dos mais preciosos activos que o RCL possui.
Por isso o futuro vai ser aquele que for possível construir com as limitações que nos enquadram.


MdM: Como é financiada a actividade desportiva do clube? Qual o papel da autarquia neste aspecto?
P.L.: A autarquia é o maior parceiro do nosso clube, não apenas devido à atribuição anual de uma verba no âmbito do contrato-programa, mas também através da cedência de instalações – sede social e campo – bem como de alguns transportes, apesar do corte drástico verificado na época passada neste capítulo.
Dada a pouca expressão das receitas provenientes de quotizações dos associados e da venda de merchandising, para completar o orçamento torna-se necessário participar em eventos e angariar apoios junto de empresas privadas, apesar destes escassearem nos tempos que correm.
A exploração do bar da nossa sede, constitui outra fonte de rendimento, se bem que, um ano e meio volvidos sobre a inauguração das obras de requalificação do Parque Municipal de Loulé, ainda não assistimos à esperada franca recuperação das “mazelas” deixadas por quase três anos de encerramento. 
Encerramento esse que também incluiu a sede propriamente dita e que, por pouco, não provocou danos irreversíveis no funcionamento do clube .

MdM: Qual o papel das empresas da região?
P.L.: Bem gostaríamos que fosse um papel mais profícuo do que aquele que têm na realidade.
Convém, no entanto, não esquecer que o Algarve terá sido, porventura, a região do país que mais sofreu com a eclosão da crise económica que se abateu sobre o nosso país, sendo disso um bom indicador o facto de nela se ter verificado o maior aumento da taxa de desemprego a nível nacional.
O que não é de espantar tendo em consideração que duas das principais actividades económicas da região – a construção civil e a imobiliária – quase que paralisaram, arrastando conseguimos um sem número de outras actividades subsidiárias, como a decoração e venda de mobiliário, a manutenção de edifícios, a construção e manutenção de jardins, a instalação e manutenção de equipamentos térmicos etc.
Como se isto não bastasse, outra das actividades importantes para a região – restauração e bebidas – assistiu à queda acentuada dos seus lucros, vitimada, não só pela natural perda de clientes, mas também pelo agravamento da taxa do IVA, uma vez que a quase generalidade dos

empresários do ramo optaram por não repercutir esse aumento nos preços de venda, a exemplo do que o próprio RCL fez no bar da sua sede.
Posto isto, não será de espantar a quase total ausência de apoios privados ao nosso clube.
No entanto não posso deixar de salientar a generosa amizade dos responsáveis do NoSolo Grupo, bem como a importante parceria com o Hospital Privado de Loulé que nos permite uma considerável poupança de recursos.


MdM: Ainda quanto aos seniores, sabendo que o Loulé foi uma das equipa da 1ª Divisão que apresentou uma distribuição de jogadores pelos diversos escalões etários mais equilibrada das que disputaram a prova, e que o isolamento a que está devotado tem tido custos importantes com deslocações longas de duas em duas semanas, quais são os objectivos da equipa para 2013-14, agora que se deu o alargamento da Divisão para 10 equipas?
P.L.: É verdade que, apesar das distâncias que persistentemente tem que percorrer para competir, o RCL tem mantido em actividade a quase totalidade dos escalões. 
Também é verdade que esse envolvimento acarreta custos, principalmente com transportes que, brevemente, poderão ser incomportáveis para os cofres do clube, caso se verifique novo corte nos apoios camarários a este nível.
No entanto, não deixamos de trabalhar no sentido de procurar alargar o número de atletas, de corrigir os erros cometidos e, se possível, melhorar as performances das várias equipas.
Quanto à equipa sénior, os objectivos são simples – melhorar os resultados da época anterior.


MdM: Confirma-se a inscrição de uma equipa B para disputar o Nacional da 2ª Divisão?
P.L.: Neste momento já não o posso confirmar porque creio ter sido encontrada uma solução mais satisfatória – a competição para as equipas B.
A criação de uma equipa B visa apenas oferecer alguma competição aos atletas que sobem dos sub-18 directamente para os seniores, bem como a outros atletas que, pelas suas aptidões físicas ou técnicas, não têm, transitoriamente, lugar na equipa principal, evitando a sua saída do clube por falta de motivação.
A inscrição desta equipa B no Campeonato Nacional da II Divisão era a única solução que, até há bem pouco tempo, se nos oferecia, sendo certo que, muito dificilmente reuniríamos condições financeiras que nos permitissem disputar esse campeonato, caso não se tivesse alcançado a solução actualmente adoptada.


MdM: Quem vão ser os treinadores do clube para a próxima época?
P.L.: A exemplo do que sucede com os atletas, também ao nível dos treinadores não haverá grandes novidades, uma vez que temos que continuaremos a trabalhar com a “prata da casa”. 

MdM: Quem quiser jogar rugby no RC Loulé o que deve fazer?
P.L.: Basta aparecer no campo ou na sede do clube, de preferência durante a parte da tarde e entre terça e sexta feira, ambos situados no Parque Municipal de Loulé.
Também pode contactar o clube através do seu endereço de e-mail – rugbyclube.loule@sapo.pt ­– solicitando os esclarecimentos que entender necessitar.
Em termos burocráticos, os interessados dispõem da possibilidade de se socorrer do nosso site – www.rugbyclubeloule.pt – para descarregar os impressos necessários, designadamente o indispensável termo de responsabilidade.


2 comentários:

Anónimo disse...

Os adeptos do Loulé podem ter a fama mas pelo enos fazem-nos "ás claras" em apoio da sua equipa. Por vezes excedem-se mas depois dos jogos são malta muito porreira.
Existem outros muto mais civilizados mas que depois "nos corredores" e de forma muito subtil, ou não, tentam influenciar os resultados de forma vergonhosa. Pena foi que nos jogos decisivo de despromoção da Primeira divisão do ano passado não tivessem enviado equipas de arbitragem completas a todos os jogos, pena foi que no ano passado não tivessem tido respeito pelo Loulé.

Anónimo disse...

ja joguei pelo oeiras nesse campo em loulé umas 4,5 vezes e é de saudar o modo "vivo" como vivem os jogos do loulé... é uma das coisas que mais pica da as equipas de longe irem aí jogar ter "publico" vivo a ver o jogo.
Faz por isso com que seja uma deslocação interessante.


. . . de resto tirando umas bocas á "futebol" que se ouvem...durante o jogo quando se joga aí, tudo 5 estrelas.


tudo de bom para o loulé clube com o qual simpatizo.

Abraço.