13 de setembro de 2013

40 ANOS DE RUGBY MUDARAM A VILA DA LOUSÃ

Quando, 40 anos atrás José Redondo mostrou uma bola de rugby na Lousã, muita gente pensou que ele estava louco...Hoje, as pessoas ficam loucas ao ver o que é possível fazer quando existe vontade e determinação, mesmo em condições muito adversas!

O Rugby Club da Lousã vai concluir um ciclo de quatro décadas, e é, sem qualquer sombra de dúvida, um dos mais importantes clubes de rugby em Portugal - particularmente pelos laços que soube criar com a comunidade e com o envolvimento no apoio e liderança da juventude lousanense - e eu tive a honra e o privilégio de fazer parte dele, nos anos 80, como treinador da sua equipa sénior...

José Redondo sempre jogou em dois campos, com um pé na administração da empresa que produz o Licor Beirão, e o outro no, agora, Estádio José Redondo - e o sucesso da sua intervenção aí está, com o Licor Beirão a ser uma das mais conhecidas (e bebidas!) marcas portuguesas, e o Rugby Club da Lousã a afirmar-se como um dos pequenos clubes mais estruturados e preparados para o futuro, do desporto nacional.

Mão de Mestre: Quem é o José Redondo, no rugby e fora dele?
José Redondo: No rugby sou actualmente o Presidente da Direcção do
Rugby Club da Lousã no ano em que comemoramos o 40º Aniversário. 
Profissionalmente sou administrador da J. Carranca Redondo, Ldª, empresa produtora do Licor Beirão.

MdM: Onde nasceste e cresceste e como se deu o primeiro contacto com o rugby?
J.R.: Fui nado e criado na Lousã. 
Em 1962 tive o meu primeiro contacto com o rugby na Académica de Coimbra, onde joguei até 1974 e onde passei muitos bons momentos da minha carreira desportiva. 
Fui sócio fundador do Rugby Club de Coimbra na altura um clube social que teria como principal objectivo ser o aglutinador de todo o rugby do centro. 
Fui igualmente um dos fundadores do Comité de Rugby do Centro.

MdM: O que fizeste no rugby na época que terminou, e o que vais fazer na próxima?
J.R.: Nos quase 40 anos de existência, a época que terminou foi a única em que estive mais afastado do Clube. 
Como a direcção eleita para 2 anos se demitiu em Junho deste ano decidi pela primeira vez assumir o lugar de Presidente da Direcção. 
Desde que fundei o clube em 1973, assumi sempre o lugar de Presidente da Assembleia Geral com a ideia de que se um dia o clube acabasse teria de ser eu como Presidente da A.G a ter de ficar com “chave”. 
Isso nunca impediu que actuasse sempre junto de todas as Direcções eleitas como um dos elementos mais responsável pelas directivas a assumir fazendo tudo mas mesmo tudo, dentro do clube como se fosse um elemento da Direcção. 
Recordo que o primeiro presidente eleito em 1974 tinha 14 anos, e o primeiro tesoureiro somente 12 anos. 
Este formou-se posteriormente em economia. 
Aliás quase todos os Presidentes do Rugby Clube da Lousã acabam por estar ligados ou a dirigir muitas das melhores empresas da região. 
Julgo que aí, mais do que lhes ensinar rugby - fui o único treinador de todos os escalões durante os primeiros 15 anos - foi dar-lhes ferramentas de gestão pessoal para se tornarem elementos válidos e cidadãos de corpo inteiro.
Para a próxima época como presidente terei como principal objectivo continuar a construir o clube de maneira a poder finalmente, daqui a dois anos, usufruir na bancada do prazer de ver rugby praticado por um grande número de atletas.


MdM: Como surge o rugby na Lousã e quando? Quando surge o RC da Lousã?
J.R.: O rugby surge na Lousã em 1973. 
Depois de algumas tentativas para o implantar junto da população sem o conseguir, decidi ir dar aulas para uma Escola Preparatória em simultâneo com a minha actividade profissional. 
Logo na primeira aula em 25 de Outubro de 1973 mostrei uma bola aos alunos, que nunca tinham visto tal coisa. 
Relembro, para os mais novos que nos lêem, que naquela altura a comunicação social e mesmo a televisão praticamente não falava de rugby. 
Recordo até que alguns alunos pensavam que era uma bola de futebol defeituosa. 
Só passados três anos tive a primeira equipa sub-16, passados cinco anos surgiu a primeira equipa sub-18 e só oito anos depois do primeiro contacto dos meus alunos e com outros que entretanto se foram juntado consegui formar a primeira equipa de seniores. 
Foi todo este percurso que me permite compreender o enorme esforço que actualmente todos estes novos directores de rugby em Portugal estão a fazer, mesmo que em melhores condições de trabalho. 
A todos eles espalhados por Portugal a minha muita consideração e admiração pela dedicação à nossa modalidade. 

MdM: Qual foi a actividade que o clube teve nos escalões de formação (até aos sub-14) e de pré-competição (sub-16 e sub-18) na época 2012-13?
J.R.: Participação em convívios regionais e nacionais de sub-8 , 10 e 12. 
Torneios inter - regionais seven´s de sub-14 e de pré-competição sub-16 e sub-18. 
Disputa no campeonato nacional sub-16 e sub-88 do grupo B.
Nos sub-12 e sub-14 tivemos também a visita das equipas francesas da École de Rugby du Canigou, que estiveram durante uma semana na Lousã, tendo-se efectuado vários jogos.
Os treinadores dos diversos escalões foram:
Sub-8 - Pedro Tiago
Sub-10 - Fernando Mateus
Sub-12 - Tiago Parreira
Sub-14 - Luís Ramos
Sub-16 – Fernando Rosário
Sub-18 - Ricardo Rodrigues
Seniores - Miguel Serra
Feminino - Diogo Marques


MdM: Que acções estão previstas para alargar o recrutamento nas camadas jovens?
J.R.: Consolidação do rugby no concelho vizinho de Vila Nova de Poiares, onde desde há alguns anos temos ido buscar para treinos e jogos uma dezena de atletas. 
Iremos igualmente tentar aumentar o número de atletas em Miranda do Corvo. 
Para isso um dos treinos semanais passará a ser feito naquela vila vizinha.
Iremos também dinamizar a Sala de Estudos para atletas que vivam na periferia do concelho, atendendo a que temos esta época três treinadores/ professores a tempo inteiro no clube.
Continuaremos a ir com duas carrinhas de nove lugares às freguesias vizinhas para transportar atletas para os treinos. 
De notar que os atletas pagam 20 euros por ano, repito, 20 euros por ano para praticarem rugby. 
Ao contrário de muitos clubes muito do orçamento do clube é para financiar a prática da modalidade nas camadas jovens.
Nas Escolinhas de rugby eu suporto pessoalmente o valor da quota de todo e qualquer atleta cujas famílias não possam pagar a quota.


MdM: Existe alguma parceria com escolas/estabelecimentos de ensino da região?
J.R.: Apenas existe a parceria com o projecto Nestum que é dinamizado pelo Comité. 
Este ano vamos tentar entrar nas escolas com um projecto local, visto que em termos de programa as escolas da Lousã, incompreensivelmente não ensinam esta modalidade. 
É um absurdo que não dá para entender.

MdM: Para a época 2013-14 quais os principais objectivos desportivos nos escalões de formação?
J.R.: O mais importante para a próxima época é manter todos os escalões activos, participando em todas as provas de carácter regional e nacional. 
Aumentar o número de praticantes em todos os escalões. 
Procurar fazer convívios particulares com os clubes vizinhos.

MdM: No escalão sénior, o clube participou do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, e como nos últimos 10 anos, com apenas duas excepções (2008-09 e 2010-11), terminou a prova entre os quatro primeiros classificados.
Quem foram os responsáveis técnicos da equipa?
J.R.: Os seniores participaram na 1ª divisão e na fase de apuramento na 2ª divisão. 
A época foi, pode-se afirmar, um pouco atípica. 
Só tivemos um treinador na equipa principal de seniores - o Miguel Serra - o que à partida limitou de forma significativa a prestação dessa equipa. 
No entanto o brio e a raça de pertencerem ao clube permitiu que um grupo de 15/20 jogadores conseguisse levar a “carta a Garcia” e terminar a prova num honroso 3º lugar. 
Pior, é certo, em termos de ranking nacional ao que estávamos habituados, face à subida de duas equipas à DH, mas mesmo assim acima daquilo que poderia ter acontecido.

MdM: Que lições têm sido tiradas da actividade sénior e como vai ser o futuro, agora que se concretizou o alargamento da 1ª Divisão para 10 equipas?
J.R.: Ao longo destes 40 anos ligado ao rugby da Lousã e 52 anos de rugby em geral fui sempre aprendendo. 
Vi aparecer muitas equipas e desaparecer algumas delas, muitas vezes por alguns directores terem “mais olhos que barriga”. 
Num concelho com cerca de 17.000 habitantes sempre geri o clube de forma a que ele fosse crescendo, criando estruturas e sobretudo integrando-o como peça fundamental para o desenvolvimento do desporto do concelho.
Poderia sem muita dificuldade, sobretudo na década de 90 em que sempre

estivemos nos oito melhores clubes portugueses, tentar dar um salto a nível sénior. 
Mas sem as estruturas a funcionar convenientemente isso levaria certamente a uma queda futura com consequência imprevisíveis para a continuidade do rugby na Lousã.
Criadas as condições mínimas para ter o futuro assegurado, já se pode pensar noutros voos. 
Mas estes não dependem só de nós. 
Dependem igualmente dos nossos adversários que, ao que me consta, estão globalmente a trilhar um caminho de boa qualidade. 
Sendo assim, como nem todos podem vencer, há que ter esperança que o campeonato da 1ª divisão aumente de qualidade e se tudo correr bem, algum dia havemos de subir à DH. 
Importante para mim, isso sim, é ver todos os dias largas dezenas de pessoas no estádio, seja a fazer rugby, seja a utilizar o ginásio na dúzia de vertentes que ele oferece, seja simplesmente a conviver e a socializar.

MdM: Como é financiada a actividade desportiva do clube? Qual o papel da autarquia neste aspecto?
J.R.: O clube é financiado pela Câmara Municipal, por empresas locais, regionais e nacionais, e ainda pelos sócios. 
Nestes apoios a autarquia - não sendo quem patrocina mais em termos monetários - acaba por ter um papel preponderante, não só na quantia que nos entrega pelo contrato-programa que assinamos anualmente, mas sobretudo pela participação da manutenção do estádio.

MdM: Qual o papel das empresas da região no financiamento da actividade do clube?
J.R.: As empresas que contactamos, salvo raras excepções, colaboram todas com o clube. 
Umas mais que outras, mas dentro das suas possibilidades colaboram. 
Muitas não esperam qualquer retorno publicitário que não seja aquele de sentirem que têm o dever social de estar presentes.

MdM: Ainda quanto aos seniores, quais são os objectivos da equipa para 2013-14, e que medidas foram tomadas para o conseguir?
J.R.: A nível sénior o objectivo é conseguir subir mais um ou dois lugares no ranking nacional. 
Sentimos que já poderíamos integrar o lote de clubes da DH, mas seguramente que há outros clubes, como já disse atrás, que também estão nessas condições. 
Portanto os êxitos dependerão de muitos factores ao longo da época. 
Estamos a falar de desporto e como tal o factor aleatório tem muito peso. 
Não dramatizo, como não dramatizei na última época, se as nossas equipas não conseguirem melhorar. 
Aí só terei que me sentar com os respectivos treinadores e directores e ouvir as razões do insucesso para tentar corrigir e melhorar na época seguinte.

MdM: Quem vão ser os treinadores do clube para a próxima época, nos diversos escalões?
J.R.: Sub-8 - Paulo Magro
Sub-10 - João Bonny / José Pedro
Sub-12 - João Tavares / Paulo Batista
Sub-14 - José Miguel / Arsénio Tomás
Sub-16 - João Bonny /João Tavares
Sub-18 - Ricardo Rodrigues / Ethan Matthews
Feminino - João Tavares /João Bonny
Seniores A e B - Ethan Matthews / Ricardo Ferreira / Pedro Curvelo

MdM: Quem quiser jogar rugby no Rugby Club da Lousã, o que deve fazer?
J.R.: Quem quiser jogar no RCL basta dirigir-se à secretaria do Estádio entre as 10 e as 21 horas para se inscrever, enviar um mail para o clube rugbyclublousa@gmail.com , ou dirigir-se a um dos seguintes directores:
Paulo Batista: paulojorge.batista@gmail.com (Director das Escolinhas)
Ricardo Rodrigues: ric_rodrigues@sapo.pt (Director Desportivo)
Gonçalo Janeiro: goncalo-janeiro@hotmail.com (Secretário do Clube)

1 comentário:

Francisco Bernardino disse...

O meu nome é Francisco Bernardino, gerente da Groundlink (patrocinador do Caldas Rugby Clube), gostaria de deixar aqui o meu testemunho de admiração e de imenso respeito pelo senhor José Redondo.

Habituei-me a seguir e a admirar o trabalho deste senhor não só a nível empresarial, onde conseguiu criar uma Marca cheia e personalidade e reconhecida a nível nacional mas também já a nível internacional, este facto é tanto mais extraordinário quando estamos a falar do muito competitivo sector das bebidas.
É um empresário que não se limitou a ter sucesso a nível empresarial, que não se limitou a ganhar dinheiro mas foi um cidadão que entendeu que parte do seu sucesso deveria reverter para a sociedade onde está inserido, entre outras coisas através do desporto.
Não sabia que esta era a primeira vez que assumia a direcção mas quando diz que sempre foi Presidente da AG porque em caso das coisas correrem mal queria ser ele a ficar com as chaves do clube, sinal que seria ele a assumir os destinos e a não deixar que o projecto acabasse, sinal que é o avalista e guardião o clube.

Por tudo isto o senhor José Redondo foi um exemplo para mim na sua perseverança e consistência enquanto empresário mas também na forma de retribuir á região que o viu nascer.

Ambos somos empresários e isso é sinal que nenhum de nós gosta de copiar modelos, podemos estudar exemplos, ver como outros fazem mas depois gostamos de criar o nosso próprio modelo, comigo e com a forma de apoio ao Caldas passa-se o mesmo, mas o exemplo deste senhor e do Lousã foi um dos que eu mais estudei.

Gostaria de lhe desejar sucessos na sua vida empresarial e muito sucesso ao seu Lousã (menos nos jogos contra o Groundlink Caldas).
Que os jogos entre estas duas equipas, independentemente de quem ganhar, sejam excelentes jogos de Rugby.

O Lousã é um grande do Rugby nacional, um exemplo de clube. O senhor José Redondo um exemplo de empresário e um exemplo de dedicação á sociedade em geral e ao Rugby em particular. Aqui fica a minha homenagem