19 de setembro de 2013

E SE O MUNDIAL DE RUGBY FOSSE DISPUTADO POR 24 EQUIPAS? *

O Mão de Mestre tem hoje o prazer de anunciar um novo colaborador nas suas páginas, que será o responsável no Portal pela cobertura do rugby global, dos Mundiais, e dos jogos internacionais.

Depois de longas negociações, Paul Tait começa hoje a escrever connosco, abordando um tema que merece toda a nossa atenção, até pelas implicações que isso teria no rugby nacional.

Paul é um kiwi que vive no Brasil, apaixonado pelo rugby sul-americano e acérrimo defensor do Mundial de 2023 na Argentina, que tem colaborado em inúmeras publicações da especialidade, com créditos firmados entre os jornalistas e escritores de rugby da actualidade.


* Paul Tait
E SE O MUNDIAL DE RUGBY FOSSE DISPUTADO POR 24 EQUIPAS?
A África é uma região com muito destaque no site do IRB.
O continente é a casa da selecção campeã do mundo de 1995 e 2007, a África do Sul, mas não conta com nenhuma outra selecção de Tier 1 ou 2.
É um continente com muitos países que jogam rugby nos formatos mais variados: masculino, feminino, juvenil e sevens.
O desporto está crescendo em termos de participação, mas há muita dúvida sobre o nível geral porque as nações africanas não são capazes de jogar bem onde mais importa – no Campeonato do Mundo de Rugby.

De todas as regiões designadas pelo IRB, a África é a única que não tem equipa
do Tier 2 e os desempenhos de todas as nações africanas, sem contar com a África do Sul, é muito preocupante para muitos adeptos do rugby.
O registo completo é de 24 partidas em Mundiais de Rugby, com zero vitórias, zero empates e 24 jogos perdidos.
O melhor desempenho foi em 1987, quando a Roménia venceu o Zimbábue por um ponto de diferença.
Zimbábue, Costa do Marfim e a Namíbia tiveram experiências muito difíceis em Mundiais.
Embora o Zimbábue tenha jogado bem contra a Roménia, a equipa concedeu mais de 50 pontos em todos os seus outros jogos, tanto no Mundial de 1987 como no de 1991.
A Costa de Marfim jogou no Mundial de 1995 que não teve vagas para Fiji ou os EUA.
Seu melhor desempenho foi uma derrota de 18 pontos contra Tonga, enquanto que para a Namíbia, perder para a Irlanda por uma diferença de 15 pontos, em 2007, foi o mais próximo a que chegou de uma vitória.

A tendência é clara: o representante “África 1” - e não o vencedor da repescagem - tem o pior registo em Mundiais de Rugby na era profissional.
O registo completo da participação em Mundiais das nações africanas é o seguinte:


O registo da participação africana sugere firmemente que as equipas que foram os representantes “África 1” não foram suficientemente bons ao longo da história dos Mundiais de Rugby.
A África, portanto, não merece ter uma vaga automática em Mundiais, mas ela tem. 

A América do Sul, em contraste, não tem um acesso automático mesmo que o Uruguai já tenha competido em dois Campeonatos do Mundo e tenha vencido dois de seus sete jogos. 
Em outras palavras, a América do Sul não é menos merecedora do que a África de ter uma vaga de qualificação automática. 

No entanto, simplesmente cortar a vaga “África 1” e substituí-la por uma da América do Sul não seria no interesse geral do desporto por várias razões. 

Um dos argumentos é que isso privaria a jogadores africanos amadores uma oportunidade de se exibirem num cenário global (perdendo uma grande chance de obter um contrato para jogar profissionalmente no exterior). 

A falta de uma vaga directa sul-americana provou ter prejudicado o rugby uruguaio, que desde 2003 não participa de um Mundial. 
Actualmente o nível da selecção é inferior ao daquele ano. 

A Namíbia, apesar de jogar nas últimas Copas do Mundo, mostrou pouco progresso durante o mesmo período.

Isso levanta uma questão importante que o IRB deve considerar seriamente: 
a expansão da Copa do Mundo de Rugby para possivelmente 24 participantes. 

Actualmente, as 12 melhores equipas de um Mundial classificam-se automaticamente para o Campeonato seguinte, sobrando apenas oito vagas de qualificação em disputa: 
África 1, Américas 1 e 2, Ásia 1, Europa 1 e 2, Oceania 1 e o vencedor do Play-Off (repescagem global). 

O que se sugere é o aumento de 8 para 12 no número de vagas nas eliminatórias. 
Tal expansão resolveria o problema da América do Sul instantaneamente. O problema sul-americano é idêntico na Europa, onde duas vagas nas eliminatórias também são insuficientes. 

No ano passado, a Namíbia (e o Zimbábue) perdeu em casa contra a Espanha, enquanto o Uruguai (e o Chile) perdeu em casa contra Portugal. 
No entanto, nenhuma destas duas equipas tem uma forte chance de ser o representante Europa 1 ou 2, dada a força da Geórgia e da Romênia, que é comparável ao que o Uruguai enfrenta diante de Canadá e EUA.
Portugal e Espanha estão lutando, junto com a Rússia, para ser a “Europa 3” e, portanto, tentar se qualificar para o Mundial 2015 como o vencedor do Play-Off Global. 

Aqui reside a solução lógica que deve ser considerada pelo IRB: a expansão para 24 equipas dos Campeonatos do Mundo de Rugby. 

Para entender, é preciso considerar que entre o actual 18º do ranking do IRB (EUA) e o 19º (Rússia), existe uma separação clara de nível.
Tanto que uma selecção é do Tier 2 e a outra do Tier 3. 
Entretanto, entre o 20º posto e o 23º (Namíbia), não há tanta diferença.
Além disso Geórgia, Portugal, Roménia, Rússia e Espanha (selecções que já foram ao menos um Mundial) estão à frente da Namíbia no ranking. 

A Europa, portanto, deve ter sem dúvidas mais vagas directas de qualificação
para o Mundial do que é disponibilizado hoje. 
O número exacto deve ser analisado no conjunto, mas é seguro dizer que a Europa deve ter pelo menos mais dois lugares. 
Isso criaria um cenário como Geórgia, Romênia, Rússia e possivelmente Portugal sendo os classificados das eliminatórias europeias, com a Espanha obtendo também uma vaga, mas por meio da repescagem global. 

O Uruguai também poderia se qualificar como América do Sul 1 (Américas 3) enquanto o Chile lutaria na repescagem mundial contra a Espanha ou com um dos vice-campeões de Ásia, África e Oceania. 
Ou pode competir no mesmo cenário com a Europa tendo um participante adicional na repescagem que poderia ser a Bélgica. As quatro vagas adicionadas estão logo abaixo em azul.

Formato de qualificação potencial para 24 equipas no Mundial de Rugby


Se um torneio de 24 equipa vier a ocorrer, isso significaria um novo formato de calendário. 
O formato 20 da equipa envolve um total de 48 partidas, com 40 delas sendo jogos da fase de grupos. 

Se quatro equipas fossem adicionadas haveria duas possibilidades: 
quatro grupos de seis equipas ou seis grupos de quatro. 

Quatro grupos aumentaria o número total de partidas na primeira fase de 40 para 55 e exigiria mais tempo do que o formato actual. 
Seis grupos de quatro diminuiria o número de partidas na fase inicial para 36 jogos. 

Isso abriria espaço para a criação de uma fase eliminatória adicional. 
Um cenário possível seria o IRB usar um sistema em que apenas avançam directamente para os quartos-de-final os quatro melhores vencedores de grupos. 
Os segundos colocados dos grupos e os dois ganhadores do grupo restantes formariam um play-off. 

Tal possibilidade significaria que o número total de jogos de um Mundial de Rugby permaneceria em 48 e o torneio poderia ser jogado sem interrupções adicionais para as competições de clube em todo o mundo.

2 comentários:

Great_Duke disse...

Olá Paul,

Obrigado pelo post. A tua proposta seria "ouro sobre azul2, mas parece-me que a discussão actual é precisamente no sentido inverso, o de reduzir o nº de participantes.

Segundo creio, os países mais poderosos não querem ter de fazer jogos em que, previsivelmente, ganharão por mais de 70 pontos de diferença.

Seria óptimo para os países de 2ª e 3ª linha esse alargamento que propões, mas parece-me difícil até porque implicaria extender o Mundial por um período ainad maior que aquele que ele já tem.

Fico a aguardar novos posts.

Anónimo disse...

O que não se percebe é porque é que existem 12 equipas fixas. Se elas tivessem que jogar apuramentos então todos teriam hipóteses de jogar com equipas grandes e evoluir fora do Mundial. É isso que acontece no Futebol e é por isso que o futebol evolui em todo o mundo.
Não faz sentido só se ter hipóteses de jogar contra as grandes equipas no Mundial, porque assim a evolução é feita de forma mito mais lenta.

Infelizmente no Rugby o negócio tem um peso muito maior do que no futebol e isso será impossível.