3 de novembro de 2015

DEPOIS DO "MELHOR DE SEMPRE" SÓ RESTA ESPERAR PELO JAPÃO 2019! *

* Pedro Sousa Ribeiro
O campeonato do mundo de rugby foi um sucesso global. 
Quer sob o ponto de vista desportivo, social e comercial o êxito foi total.

Grandes jogos com elevada qualidade técnica, estádios repletos de espectadores vibrantes e entusiastas, ambiente de grande animação, constituíram a imagem de marca deste campeonato. 
Quem se esquece da histórica vitória do Japão sobre a África do Sul, dos ensaios de Julian Savea, das placagens de Eben Etzsbergh, dos “off-loads” de SonnyBill-Williams?
Arbitragens equivalentes ao padrão do jogo praticado, sendo justo destacar Nigel Owens, o galês que dá sempre lições de bem arbitrar, e a quem, merecidamente foi atribuída a final. 
Enfim, o rugby ao seu mais alto nível.
Numa apreciação desportiva às diversas equipas pode dizer-se que houve algumas que ultrapassaram as expectativas, outras estiveram dentro do esperado e umas outras aquém do espectável.

Em primeiro lugar teremos que colocar a Nova Zelândia que se superiorizou a todas as outras e muito merecidamente alcançou o titulo mundial. 
Mas outras houve que tiveram comportamentos de mérito. 
A Argentina, que praticou um rugby de movimento muito espectacular, a Austrália que atingiu a final depois de ultrapassar o grupo da morte e um difícil e muito disputado quarto de final, o Japão que, além da vitória sobre a África do Sul, mostrou uma evolução e uma consistência assinalável, a Geórgia cuja evolução ficou aqui demonstrada e que, caso mantenha o percurso evolutivo, será um forte candidata a um lugar nos quartos de final em 2019, a Escócia que, nos quartos de final, causou um grande susto à Austrália e parece ter sustido a evolução negativa que se vinha a manifestar nos últimos anos, e por fim Fiji que, apesar ter sido apenas o quarto classificado no seu grupo, onde se bateu bem, embora perdendo com Inglaterra, País de Gales e Austrália, mostrou uma muito maior consistência competitiva.

Nas desilusões, sem dúvida, que a principal foi a Inglaterra que se mostrou totalmente incapaz de ultrapassar os seus adversários directos, logo seguida da França, desorganizada e sem rumo definido. Mas outras houve: o Canadá e os EUA com retrocesso relativamente a prestações anteriores, a Itália com um rugby estagnado há vários anos e que não mostra sinais de evolução, Tonga, a pior equipa do pacífico e por fim a Irlanda, por muitos apontada com possível finalista e que, mais uma vez, não ultrapassou os quartos de final, pese embora as ausências de jogadores chave no jogo decisivo.

As restantes equipas tiveram um comportamento mais ou menos dentro do esperado. 
África do Sul, após a surpreendente derrota com o Japão, reequilibrou as suas actuações, com uma boa e muito difícil vitória com o País de Gales,  apenas não conseguindo ultrapassar o obstáculo Nova Zelândia. 

O País de Gales, que muitos consideravam não passar além da fase de grupos, não só bateu o “old enemy” Inglaterra mas esteve a um passo de atingir as meias finais. 

Samoa e Roménia não deixaram marcas assinaláveis apenas alcançando uma vitória cada apesar da equipa do Pacífico ter colocados grandes dificuldades à Escócia e a Roménia ter estado muito próximo da Itália. 
Por fim Namíbia e Uruguai as duas equipas mais fracas da competição mas que, apesar de tudo deram boa oposição aos seus mais forte adversários e tiveram prestações de muita dignidade.

Relativamente a anteriores campeonatos do mundo a diferença entre as equipas de topo (“Tier One“) e das restantes (“Tier Two“) encurtou-se significativamente mostrando que o investimento, que ao longo dos últimos anos a World Rugby tem vindo a fazer, trouxe resultados positivos.

Fora do aspecto puramente competitivo os estádios estiveram sempre quase repletos ou mesmo com lotação esgotada. 
A taxa de ocupação foi superior a 95%. 
Nos 48 jogos a média de espectadores foi de 51.621 (acima da média do último campeonato do mundo de futebol realizado no Brasil que foi de 49.211) demonstrativo da atractividade que o rugby exerce sobre os povos das ilhas britânicas e de todas as grandes potências. 
Deslocaram-se à Inglaterra e a Cardiff mais de 450.000 espectadores provenientes de outros países entre os quais algumas dezenas de portugueses. 
E além deles, largos milhões de tele espectadores o acompanharam em todo o mundo.

Mas a característica principal deste campeonato do mundo foi a alegria que todos os participantes demonstraram. 
Todos sem qualquer excepção tiveram um comportamento exemplar proporcionando grandes espectáculos a quem teve o privilégio de a eles assistir. 
A exuberante presença de milhares de adeptos que, sem qualquer animosidade,apoiavam as suas equipas e lado a lado partilhavam alegrias e tristezas constituíram verdadeiras lições de desportivismo. 
Sem qualquer incidente, por menor que tenha sido, todos os jogos foram exemplares. 
Nos recintos, quer fora dos estádios quer dentro deles, não se viam quaisquer efectivos policiais e tudo era resolvido pelas indicações dos cerca de 6.000 voluntários e pelos “stewards“.

As palavras da mensagem da World Rugby impressa em todos os programas dos jogos “Integrity, Respect, Solidarity, Passion, Discipline“ foram bem seguidas e são uma demonstração da exemplar postura que todos os intervenientes neste nosso grande jogo tiveram.

Mesmo para o rugby inglês, apesar de profundamente afectado pela eliminação precoce da sua equipa nacional, o campeonato teve efeitos muito positivos pois despertou o interesse de largas camadas da população britânica que anteriormente não prestava a ele grande atenção. 
E como efeito dessa exposição mediática, o rugby passou a ser praticado, como desporto curricular, em escolas públicas do ensino secundário e onde anteriormente não o era.

Um Grande campeonato, deste nosso Rugby em que desde há largos anos temos o orgulho de nele estarmos profundamente integrados.

Depois do “melhor de sempre” só nos resta esperar por Japão 2019 e desejar que esteja a um nível similar.

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