18 de dezembro de 2013

AURÉLIEN BECO PREPARADO PARA REFORÇAR A TERCEIRA LINHA

Aurélien Beco foi na última época uma escolha certa para a terceira linha de Portugal, e continua disponível para vestir a camisola da selecção.

Uma lesão crónica nas costas, contraída no jogo com a Espanha, razões do coração e um desejável equilíbrio entre a representação nacional e as necessidades do seu clube, impediram-no de estar presente nos jogos de Novembro, mas Aurélien não faltará quando a coisa for a doer, e acreditamos que ele possa ser uma peça chave na articulação da equipa.
Duma família portuguesa que se dividiu entre a França e o Brasil - como tantos outros milhares de portugueses - Beco apenas lamenta não ter aprendido a falar português, já que parte das suas relações familiares e amigos, são como ele de origem portuguesa.

Fala-nos um pouco das tuas origens, da tua família.
Sou de origem portuguesa por parte do meu pai, que nasceu em Portugal e viveu lá até a idade de 14 anos.
Não mantenho outras relações específicas com Portugal, excepto com membros da minha família e amigos também de origem portuguesa.
Já não tenho família imediata em Portugal.
Uma parte instalou-se no Brasil e outra em França, como meus avós.
Por outro lado, a família ainda possui a casa familiar no país.

Onde passaste a tua infância e como se deu a tua ligação ao rugby?
Passei minha infância em Allassac, uma pequena aldeia perto de Brive-la-Gaillarde, cidade onde nasci.
Sempre fui atraído para este desporto sem realmente saber porquê. Minha família do lado da minha mãe gostava de acompanhar o rugby.
Quando foi criado um clube na minha aldeia, inscrevi-me com o meu primo.

Quando começaste a jogar e desde quando és profissional? Além do rugby tens outra profissão?
Comecei a jogar aos oito anos e desde jovem que o rugby ocupa um lugar importante na minha vida.
Desde há dois anos que jogo como profissional, mas entretanto tirei o curso de Professor Escolar.
Cheguei a ensinar numa classe CE2 (crianças de oito anos), na época em que jogava no Limoges.

Em que clubes jogaste e a que posições jogas?
Comecei no clube na minha aldeia em Allassac, depois continuei no Objat quando os clubes se fundiram.
Com a idade de 15/16, entrei para o CA Brive onde joguei até aos 23 anos, quando passei dois anos no clube de Limoges.

Desde 2011, jogo no Colomiers, perto de Toulouse.
Jogo na terceira linha e posso jogar dos dois lados, não tenho preferência, depende da escolha dos treinadores.
Posso ainda desenrascar a número 8 no decurso de uma partida, se houver necessidade por causa duma lesão ou de um cartão, mas não sou especialista no lugar.

Do que conheces do rugby português qual acreditas que será o nível das melhores equipas portuguesas, se comparadas com as divisões do rugby francês?
Eu conheço o rugby português através de conversas com os jogadores da selecção.
Conheço os nomes de alguns clubes, mas não sei muito sobre o nível do campeonato.
Por outro lado, pude constatar no decurso dos treinos que há jogadores excelentes. Eles são poderosos, brilhantes e têm um bom estado de espírito.
Então eu acho que, em função dos jogadores que conheci, as melhores equipas portuguesas poderiam jogar na ProD2.

Apareceste na selecção em 2009 nos jogos contra os Jaguares Argentinos e contra Tonga. Como isso aconteceu?
Os primeiros contactos foram estabelecidos com Bryan Freitas que fez um óptimo trabalho para criar uma ligação entre a selecção e os jogadores que jogam em França.
Ele também me acolheu em casa de seus pais antes de eu embarcar para Lisboa.
Conheci, como treinadores, Murray em 2009 e Errol Brain no último torneio 6 Nações B.

O que sentiste quando foste convidado a treinar com a selecção nacional, e o que sentiste quando jogaste pela primeira vez por Portugal?
Senti muito entusiasmo com a perspectiva de descobrir novos jogadores, novos métodos de treinamento, mas também um pouco apreensivo porque eu não falo a língua.
Aliás eu critico o meu pai por isso!
Ao jogar pela primeira vez senti-me orgulhoso por estar representando um país que viu nascer meu pai e meus avós.
Sobretudo não queria decepcionar os jogadores e, principalmente, as pessoas que me permitiram participar nos jogos internacionais.

Depois dos dois jogos em 2009 o que aconteceu para que só fosses visto na equipa em 2013?
Fui convocado noutras ocasiões entre esses dois períodos, mas tive que renunciar devido a lesões ou ainda por causa do meu trabalho como professor.

Lamentas ter jogado por Portugal?
Não, eu não me arrependo. Jogar pelos Lobos é mais uma grande experiência na minha carreira desportiva.

Foste convocado para os jogos de Novembro, contra Fiji, Brasil e Canadá?
Sim, recebi uma convocatória para participar nos jogos de Novembro.
Mas tive que renunciar porque estava a recupera de uma pequena lesão, especialmente, porque estava a fazer a mudança da minha companheira que veio ter comigo a Colomiers.
Após o último torneio 6 Nações B, falei com o presidente da federação para explicar que eu queria privilegiar o clube em Novembro, porque é um momento importante.

Se fores convocado para representar Portugal em 2014, vais aceitar? E se aceitares como vai o teu clube encarar esse facto?
Sim, vou aceitar.
O meu treinador sabe a importância de uma selecção e por isso não impede os jogadores de participarem.
No entanto é difícil participar em todos os jogos.
Precisamos encontrar um bom entendimento, um bom compromisso entre a selecção e o clube, de acordo com o calendário.

E estás em boas condições para representar os Lobos?
Eu trato da condição física para ser o mais competitivo possível seja no clube, seja na selecção. 
Tenho tentado livrar-me de uma lesão crónica nas costas que contraí no jogo com a Espanha, em Março passado.

Qual a tua maior ambição como jogador, tanto no clube como na selecção?
Divertir-me e responder presente todas as vezes em que me encontro em campo.
Espero que o meu clube garanta a manutenção o mais rápido possível, porque é importante para o futuro do clube e - por que não? - fazer o papel de desmancha-prazeres na segunda metade da temporada.
Com a selecção espero ganhar o maior número possível de jogos e tentar reverter a situação na corrida pela qualificação.

Fotos: Aurélien Beco, Fernando Nanã Soares, Miguel Rodrigues, António Simões dos Santos

9 comentários:

Claudio disse...

O Aurélien Béco não fala o português ?

Não conheço pessoalmente o jogador, mas pretende bem conhecer a historia da comunidade portuguesa em França dos ultimos 50 anos tanto como as politicas francesas ditas de "integração" e, por isso, mesmo não conhecendo o Aurélien, arrisco-me a uma hipotese : se ele não fala o português a culpa não é d'ele nem do pai, nem dos avós. À culpa é "daqueles" que nos fizeram, entre as linhas, perceber que valorizar uma cultura do sul da Europa ou do Norte da Africa seria um travão a intergração, ou seja nos impediria de ser um "bom Francês".... O que curiosamente não acontece com as culturas ou línguas do Norte !

Estou tanto mais a vontade para desculpar o Aurélien e os seus ascendentes que, no meu caso, apesar ter nascido em França a quase 40 anos, sempre falei português para os meus pais e espero atingir o mesmo resultado com as minhas filhas mesmo serem elas de mãe francesa.

De resto, dúvido que os "nossos" naturalizados Sul Americanos tivessem um grande controlo da lingua de Pessoa quando começaram a vestir a camisola dos Lobos, o que não os impediu de fazer grandes coisas com a seleção das Quinas.

Tambem não possou garantir o grau de conhecimento da língua francesa que ele tinha quando o Peter de Villiers escolheu representar a França.

E convem recordar-se uma coisa muito importante : seja o seu nivel de português o que for, seja a sua disponibilidade aleatoria ou não, um lusodescendente que escolheu vestir a camisola vermelha e verde nos seniores, nunca mais vai poder pensar em representar a França. Quando uma tal escolha é feita por um jogador na força da idade e não por um reformado em breve, ela diz muito a proposito do grau de orgulho português que habita o interessado...

Força Aurélien, estamos a tua espera

Anónimo disse...

Já jogou e não mostrou nada de especial mesmo!
Uma perda de tempo, há cá melhor, é apenas uma opinião.

Leonardo disse...

"Uma perda de tempo" ???
Acho que o senhor nao sabe muito do rugby frances... e se calhar nunca viu um jogo do Aurelien no seu clube. Estou enganado?

Anónimo disse...

para aquele que fez o comentario das 08h58
deves estar enganado! ou nao percebes nada de rugby ou entao estàs a puxar a roupa para o teu lado! vem de vez em quanto ver jogar o colomiers de certeza que mudas de idéia!

Claudio disse...

Claro que temos muitos bons terceiras linhas em Portugal (gostei muito até agora de ver jogar o António Duarte que pouco conhecia e o que o Vasco Fragoso Mendes fez nos dois últimos jogos dos Lusitanos démontra uma bela capacidade ofensiva, sem falar do "nosso" grande n°8 que parece ter agora 20 anos), claro que não é a posição onde temos as maiores dificuldades em encontrar jogadores em Portugal, no entanto não faz sentido dizer que o Aurélien Beco não tem ligar no XV nacional.

De resto, se li bem, os que encararam a responsabilidade do futuro do rugby português sabem d'isso....

Para podemos constituir para todos os jogos do torneio um grupo com 23 jogadores no "top" vamos precisar, tendo em conta as possiveis lesões e inevitaveis impedimentos, d um grupo de 30 jogadores dos quais 6 terceiras linhas entre o quais pareceria me normal ver pelo menos o Aurélien e o Julien, tratando-se das forças francesas.

Miguel Ribeiro disse...

Infelizmente para o rugby nacional os terceiras linhas a jogarem em Portugal so sao verdadeiramente testados nos jogos da SN, da Amlin (os que fazem parte desse grupo) e em 3 ou 4 jogos ja numa fase muito adiantada do campeonato (na fase a eliminar) e portanto o Aurelien e outros em campeonaots mais fortes (Inglaterra e Franca) estao expostos a um nivel muito superior numa base mais regular...
Alem disso o Aurelien e um bom saltador, o que na nossa selecao tambem nao e de desprezar tendo em conta que as vezes dependemos demasiado de dois ou tres jogadores nessa funcao especifica...
Por tudo isto e por muito mais como ele ja provou no campo, para quem quis ver, o Aurelien e um jogador a ter em conta se queremos ter uma restia de esperanca no apuramento para o RWC 2015...

Anónimo disse...

Dizer que o Beco não traz nada à Seleção só pode ser por ignorancia. Acham que se é titular e capitao de equipa de uma boa equipa profissional francesa por acaso? É um grande jogador elogiado pelo Selecionador frances de sub 21 ...Sabem quem é ?
Que venha que é bem preciso.

Anónimo disse...

Alguem pode confirmar se o Jean Sousa do LOU e de origem portuguesa, e se, tendo ele jogado por franca sub 20 poderia ainda jogar por Portugal ou nao? Estaria ele interessado?

Manuel Cabral disse...

Cano "anónimo" das 03:43
Só agora dei com o teu e-mail onde fazias a mesma pergunta, uns dias atrás.. Desculpa pelo atraso, mas aqui fica o que sei sobre o assunto:
Um jogador fica "preso" a uma federação nacional, não podendo representar outra, desde que tenha jogado numa selecção nacional principal de XV, ou na "próxima equipa representativa de XV" (NEXT SENIOR NATIONAL REPRESENTATIVE TEAM), ou ainda na selecção nacional de 7's.
Mas atenção: isso apenas se aplica, se o, o os jogos realizados, forem disputados contra outras selecções nacionais, ou "próximas equipas representativas de XV".
Para o efeito a IRB recebe informação das federações sobre qual é a sua "next representative" e a tabela correspondente pode ser consultada aqui para as equipas nomeadas até 2012: http://www.irb.com/mm/Document/LawsRegs/Regulations/02/06/29/68/nsrt.pdf

Assim um jogador que seja à partida qualificável para jogar por duas federações, fica ligado a uma delas depois de ter participado num jogo naquelas condições.

Por exemplo, Thomas Laranjeira jogou pela França Sub-20 na JWRC 2012, contra uma ou várias destas equipas: Argentina, Austrália, Irlanda e Escócia, mas como nenhuma destas equipas era na altura a NEXT REPRESENTATIVE TEAM daquelas federações, Laranjeira ainda pode optar por representar Portugal.

Quanto ao Jean de Sousa não sei qual é a situação, mas espero ter ajudado.