13 de abril de 2012

2ª DIVISÃO - A RAIZ (MALTRATADA) DO RUGBY PORTUGUÊS

QUATRO CANDIDATOS PARA UM TÍTULO, que se decide em três jogos apenas, deixando o grosso do rugby português de férias até Outubro - um calendário que necessita de imediata reforma sob risco de matar a raiz de todo o rugby nacional.

Porque o nosso rugby não é feito apenas dos jogos entre os quatro ou cinco grandes, e o desprezo e abandono a que os clubes menores estão votados (há décadas, reconheça-se...) é a grande razão dos males que nos afetam - falta de competitividade, abandono dos jogadores, fuga dos patrocinadores...

Querem fazer um rugby de qualidade sem quantidade que o possa sustentar? - Só contaram para você...

Uma competição que atravessa todo o território nacional, que apresenta nas meias finais uma equipa do Minho, outra de Coimbra, uma de Lisboa e outra ainda do Algarve, merece mais!
E se a própria natureza regional da competição nas duas primeiras fases ajuda a manter esta dispersão, a verdade é que chegaram ao fim as quatro melhores equipas do escalão, as que melhores condições apresentam para disputar o título e subir um degrau na hierarquia do rugby português.

O Rugby Clube de Loulé foi uma das duas equipas que bisaram a primeira posição na tabela, da fase inicial e na fase final do campeonato, e afirma-se como guardião solitário do nosso jogo no Algarve, longe dos centros de decisão e do contato fácil com os seus iguais - quando quer jogar tem que se deslocar, e correr pelo menos metade do país.
O seu apuramento para as finais, no entanto, não aparece como prémio de antiguidade, antes como consequência natural da caminhada de um clube que mantém em atividade algumas centenas de jovens, divididos pelos diversos escalões etários.
Com a recente nomeação de um técnico federativo para a região - o antigo internacional Faustino Pires - espera-se que o Algarve possa crescer no universo (pequeno) do rugby português, e é exigência iniludível o surgimento de mais equipas no extremo sul de Portugal.
Para as meias finais o Loulé jogará no Minho - o mesmo que lhe aconteceu em Novembro, em jogo para a Taça de Portugal para defrontar o Guimarães - contra o Famalicão, a primeira mão da etapa, e, apesar do natural desgaste que a viagem provoca, é o favorito para a vitória.

No outro extremo de Portugal o adversário deste fim de semana do Loulé tem um percurso de mais de 20 anos a jogar e ensinar a jogar rugby.
Apesar de ser uma equipa pouco conhecida fora da sua região, a verdade é que o Clube de Rugby de Famalicão tem feito um extraordinário trabalho junto dos escalões de base, a que se junta agora uma equipa feminina, que tem prevista para breve a organização de um torneio associado a uma causa social, como demonstração de que o rugby não se joga apenas dentro das quatro linhas...
O Famalicão é a única das equipas presentes nestas finais que nunca ganhou o campeonato da 2ª Divisão, e qualificou-se para a segunda fase da prova como segundo classificado da Zona Norte.
O seu apuramento para esta fase eliminatória não foi fácil, e ficou a dever-se a uma vitória folgada sobre a Bairrada, com quem acabou empatado em pontos na tabela classificativa, na segunda posição.
O Famalicão apenas perdeu em casa uma vez, este ano, contra a Lousada, mas o seu comportamento fora denota uma falta consistência que é fundamental a um verdadeiro candidato, e é apenas por isso que damos o favoritismo à equipa visitante.

O Núcleo de Rugby da AEFCT é o mais recente dos quatro candidatos,  venceu o nacional da 2ª Divisão em 2004-05, e se se qualificou, quer na primeira, como na segunda fase da prova, no segundo posto classificativo, foi também a única  equipa que apenas perdeu dois dos quatro jogos que fez com os algarvios,  empatando um na fase de apuramento, e vencendo outro na fase complementar.
Ou seja, apesar de ser também a única das quatro que não tem escalões de formação, os "tecnológicos" são capazes de jogar de igual para igual com qualquer dos outros candidatos.
Apesar desta força, a FCT, como o Famalicão, aparenta ainda não ter a consistência que consideramos essencial para ser um verdadeiro candidato ao título, pelo que ainda atribuímos o favoritismo para a eliminatória à Agrária.

A Associação dos Estudantes da escola Superior Agrária de Coimbra, herdeira da "velha" Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, que me lembro de ter defrontado nos idos da década de 60 do século passado, no escalão de juvenis, e onde fiz a minha estreia como treinador de juniores depois do meu regresso do antigo Ultramar, com a equipa de Direito, foi a segunda equipa a conseguir bisar a primeira posição nas duas fases anteriores da prova.
A Agrária, que esteve envolvida em polémica quando renunciou ao direito de participar da Primeirona na época 2010-11, aproveitou estes dois anos para se fortalecer, e aparece agora como uma das duas principais candidatas ao título, apesar de apenas na última jornada da fase complementar ter garantido a passagem às finais, com uma vitória sobre o Famalicão que lhe deu o primeiro lugar e impediu a Bairrada de aceder à disputa do título.

Em resumo, e sabendo bem que todas as previsões não passam disso mesmo, pensamos que a final vai acabar por ser disputada entre o Loulé e a Agrária, que, com maior ou menor dificuldade acabarão por deixar para trás Famalicão e FCT, respectivamente.

Fique com o quadro explicativo de como se desenrola esta fase da competição, quer no grupo dos candidatos ao título, quer no grupo dos não apurados.

Aproveito para esclarecer que esta - ou outras - previsão, não denuncia nenhuma preferência pessoal, nem é de qualquer modo ofensiva das equipas que não são apresentadas como favoritas, sendo portanto desnecessário o habitual ritual de comentários de pseudo ofendidos, apenas porque o seu clube não foi apontado como provável vencedor dos embates.

E como as previsões foram feitas para serem contraditadas pelos fatos, também eu não ficarei nem ofendido, nem magoado, se as equipas que aponto como perdedoras da eliminatória, acabarem por dela sair vitoriosas - e do fato darei o devido destaque se e quando tal se vier a concretizar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Existe uma incorrecçao, quando escreve que o FCT foi o mais recente vencedor da 2a Divisao. A Agrária venceu em 2005/2006 se nao me engano.

Manuel Cabral disse...

Tem razão..distração quase imperdoável...foi em 2006-07.
Vou retificar o texto, mas fica aqui a nota.
Obrigado

andre disse...

Cara Manuel,


Muitos parabéns pelo artigo, de facto este é o único meio de comunicação que presta a devida importância a uma divisão que na qual existe clubes de norte a sul de este a oeste do território nacional e onde jogam mais de 50% dos jogadores de rugby federados em Portugal.

André Coelho
RCL para sempre!!!

Anónimo disse...

Nunca tinha lido o seu blog, desde ja o felicito, pois parec-me isento ( do que li), mas sobretudo por dar o devido destaque à 2° divisao. Parabens e que continue o bom trabalho.
Nuno Otão
Rugby Clube Loulè