10 de abril de 2012

PEDRO SOUSA RIBEIRO - CONTRIBUIÇÃO PARA A MUDANÇA

PEDRO SOUSA RIBEIRO É UMA REFERÊNCIA do rugby português, foi jogador e dirigente do Técnico, árbitro e dirigente federativo, esteve envolvido com o grande movimento de arranque do desenvolvimento e crescimento da modalidade em Portugal, no final da década de 70, como Presidente da FPR (cargo que voltou a desempenhar no início do século), foi o representante de Portugal nos congressos da IRB entre 1986 e 2001, e fez parte da equipa que criou e elevou o Lisboa Sevens ao patamar mais alto dos torneios da Europa, dos anos 80 e 90.

A propósito do importante momento que o nosso rugby atravessa, Pedro Ribeiro enviou-nos um pequeno documento onde faz uma análise da evolução da modalidade na última década e meia, e aponta alguns dos caminhos a seguir.

O Mão de Mestre agradece ao atual Vice Presidente da FPR a contribuição, que a seguir apresentamos na íntegra:

É inegável que o rugby português teve progressos significativos nos últimos 15 anos.
Com alguns altos e baixos todos os parâmetros que se podem considerar apresentam tendências crescentes : número de jogadores, número de clubes, resultados internacionais, projeção e reconhecimento do jogo.

Até 2000 ainda eramos derrotados pela Holanda, Marrocos, Republica Checa, dos quais já nos afastamos significativamente, e ainda defrontávamos Andorra.
A partir de 2000, com o início do Torneio Europeu das Nações, que originou um calendário internacional melhor estruturado as nossas prestações internacionais evoluíram positivamente com dois momentos altos : a vitória no Campeonato Europeu em 2004 e a qualificação para o Campeonato do Mundo de 2007.

O número de clubes participantes em provas subiu de cerca de 25 em 1995 para 55 em 2012 e o número de jogadores registados na FPR passou de 2.172 em 2003/2004 para 5.464 em 2010/2011, aumento notável de 152 % em oito épocas.

Época
Jogadores
Clubes
2003/2004
2172
29
2004/2005
2510
27
2005/2006
2737
29
2006/2007
3404
30
2007/2008
4723
36
2008/2009
4863
43
2009/2010
5224
44
2010/2011
5464
51
2011/2012
55


A seleção nacional de Sevens tem-se qualificado para todos os campeonatos do mundo realizados desde 1997 e nos campeonatos europeus obteve o primeiro lugar em oito dos dez anos da sua realização.

Chegados a 2012 e com obrigações acrescidas, fruto da recente e notável qualificação para as IRB Sevens World Series de 2012/2013 e do início da disputa do apuramento para o Campeonato do Mundo de 2015, há que repensar o modelo de desenvolvimento.

Por um lado, será sempre fator de desenvolvimento o aparecimento de novos clubes e portanto o atual modelo de introdução do rugby no âmbito escolar através do projeto Nestum –Escolas, gerador de um cada vez maior conhecimento e interesse no rugby, terá que ser continuado.

É a partir destas ações que têm aparecido os novos clubes e só através deles poderemos continuar a crescer, já que os clubes tradicionais têm as suas estruturas e capacidade quase completamente esgotadas.

Se esta politica continuar a ser promovida e sustentada não será de excluir que, dentro de cinco anos, poderemos atingir a fasquia de 10.000 praticantes federados com atividade regular.

Por outro lado teremos que encontrar um modelo que possibilite uma maior competitividade a nível de topo.

É normalmente aceite que há deficiência competitiva na divisão principal e que teremos trabalhar para melhorar essa competitividade.

Por outro lado na divisão seguinte não falta competitividade mas há que melhorar a sua qualidade.

A seleção nacional só é competitiva ao nível em que participa com a utilização de luso-descendentes e com jogadores naturalizados.
Se contássemos apenas com jogadores nascidos e criados para o rugby em Portugal, o nosso nível competitivo baixaria um escalão.

Como o fazer?

Alguns pontos que me parecem essenciais.
- Continuar a apostar na formação de jovens nos escalões Sub-16 e Sub-18, fundamentais para assegurar o futuro.
Temos vindo a melhorar a qualidade nestes escalões e há que continuar a apostar neles.
Os clubes deverão dotar estes escalões de técnicos capazes que não só preparem os jogadores mas que também os motivem para atingir plataformas mais altas.
Manter o atual esquema competitivo que me parece apropriado.

- Investir nas seleções nacionais Sub-17, Sub-18 e Sub-19 proporcionando-lhes a maior experiência internacional possível.
Só assim nos poderemos manter e melhorar a competitividade a nível internacional sénior em XV e Sevens.

- Manter o esquema competitivo nos seniores nas duas divisões principais trabalhando para dotar os clubes menos competitivos com estruturas que lhes permitam diminuir esses fossos.
Não me parece boa solução, a médio prazo, a diminuição do número de clubes na divisão principal pois isso iria contribuir para um afunilamento dos melhores jogadores num número limitado de clubes o que se me afigura negativo.

- Promover a participação de equipas B dos clubes principais nas divisões inferiores como meio de manter em atividade um maior número de jogadores desses clubes.
Verifica-se que muitos jogadores que transitam para escalões seniores abandonam a prática pois não têm acesso imediato à equipa principal desse clube.
Como alternativa, incentivar esses jogadores a passarem para outro clube onde possam ter acesso a uma prática continuada.

- Definir um calendário competitivo para as duas épocas seguintes, 2012/2013 e 2013 / 2014, de modo a ser possível uma planificação a longo prazo.
Iniciar a época para a divisão de honra no segundo ou terceiro fim de semana de Setembro e incluir nesse calendário torneios nacionais de Sevens nas mesmas datas em que se realizam alguns dos torneios da IRB Sevens Series.

Aqui ficam alguns contributos para uma discussão que será tanto melhor quanto mais alargada o for.

Pedro Sousa Ribeiro
6 Abril 2012

Foto: Miguel Carmo

6 comentários:

Anónimo disse...

esse senhor e um grande homen e tem razao no que diz


rui

José Lopes disse...

Estou quase inteiramente de acordo com o exposto, só discordando do facto de os clubes tradicionais estarem com a sua capacidade esgotada, Existem oportunidades a explorar com a vinda (regresso)do SCP ao rugby a presença de emblemas reconhecidos de outros desportos, assim como, espero, a presença de Portugal nos Jogos Olímpicos vão trazer uma maior exposição mediática e, consequente, alargar o campo de recrutamento de novos atletas. Os clubes já existentes devem preparar-se para esse afluxo já na próxima época. Para esse efeito têm de estabelecer regras e princípios que permitam baixar o valor do acesso à modalidade e enfatizar o papel formativo do rugby enquanto desporto colectivo de "combate"

Anónimo disse...

De acordo... mas não chega. Parece-me pouco para uma estratégia de 10 anos. Os clubes estão no limite da sua capacidade de encontrar patrocinadores e sem estes não há capacidade de se reformarem. E esta reforma é urgente! Há que separar as águas da formação e desenvolvimento da Alta Competição. E a nossa Alta Competição é-o a uma escala ainda muito baixa. Tenho defendido dois caminhos: Por um lado a aproximação (leia-se parcerias) dos clubes às grandes estruturas do futebol (de que o Sporting primeiramente me parece estar receptivo) - como já há alguns exemplos em Espanha - para as matérias da Formação e com grande empenho e enquadramento da FPR; Por outro lado a criação da Liga Ibérica de Clubes, organizada por clubes e/ou regiões, com maior autonomia das federações, que poderá concorrer autonomamente aos fundos IRB/FIRA e a um quadro mais profissional de jogadores e patrocinadores, para a Alta Competição. Nas actuais condições, os clubes não terão capacidade para receber o dobro dos jogadores nos escalões de formação e desenvolvimento e reforçarem o nível desta formação e, ao mesmo tempo, prepararem e manterem conjuntos de nível tendente para a Alta Competição Internacional.
Tiago Sousa e Silva

João Pedro Guimarães disse...

É sempre do maior interesse ler os contributos de quem conhece muito bem o nosso Rugby, como é o caso, para melhor se pensar o futuro da modalidade em Portugal (para mais, quando o autor é, também, membro da actual Direcção da FPR – logo, com capacidade para influenciar directamente as respectivas decisões).
No entanto, fiquei curioso relativamente a qual seria a opinião sobre o escalão dos Sub 21 que, penso, não refere.
Defende a sua existência (no modelo actual) para que, na linha do que escreve, os jogadores não abandonem mais cedo a prática por não jogarem nas equipas principais dos clubes?
Ou considera que melhor seria a sua integração nos seniores, podendo, por exemplo, "alargar-se" o escalão de Sub 18 para Sub 19, integrando-se os Sub 20 e Sub 21 nos séniores, potenciando assim a existência de mais jogadores e, em consequência, de mais equipas B’s?
Muito obrigado,
João Pedro Guimarães

Manuel Cabral disse...

João Pedro Guimarães agradeço que entre em contato comigo via e-mail (mestrerugby@gmail.com).
Obrigado

Manuel Cabral disse...

Atenção Carlos Mota
Agradeço que me contato por e-mail, para mestrerugby@gmail.com
Obrigado