22 de maio de 2013

PORTUGAL E OS SEVENS *

O primeiro torneio de Sevens foi realizado em Portugal em 1972 organizado pelo Técnico.

Em 1973 iniciou-se, numa organização da Académica de Coimbra dinamizada por Antonio Cabral Fernandes, uma série de torneios anuais de sevens que continuaram até meados dos anos oitenta.

Mas foi em 1987, com o arranque do Lisboa Sevens, da responsabilidade de quatro entusiastas, que a modalidade de rugby reduzido iniciou a sua grande divulgação.

O Lisboa Sevens rapidamente conquistou um lugar de destaque entre os torneios de Sevens realizados na Europa.

Grande equipas vieram a Lisboa, citando só algumas, Scottish Borders, Cambridge University, Warblers, Samurais, Thistles, Irish Wolfounds, Barbarian FC que integraram grandes nomes do rugby mundial como Gavin Hastings, Greg Osborne, Chris Sheasby, Andy Harriman, Eric Rush, entre outros, e ainda Rory Underwood convidado pelos Barbarians Portugueses.

A essas equipas sempre se opuseram as melhores portuguesas com destaque para o Cascais que, comandado por Nuno Durão, em vários anos atingiu posições de destaque.

O Cascais venceu mesmo o Lisboa Sevens em 1997.

A nível internacional Portugal teve a sua primeira participação no torneio de qualificação, para o mundial de 1993, em Catânia na Sicília durante o ano de 1992, mas infelizmente não se alcançou a desejada qualificação.

O prestigio e a qualidade da organização do Lisboa Sevens levou a IRB ( na época ainda com a sigla IRFB ) a atribuir a Portugal um dos torneios de qualificação para o 2º mundial a disputar em Hong Kong em 1997.

Esse torneio, realizado no EUL em 1996, contou com a presença da Nova
Zelândia, a primeira e única vez que os All Blacks, já dirigidos por Gordon Tietjens, jogaram em Portugal.

Com a obtenção do 5º lugar, Portugal alcançou a desejada qualificação iniciando uma presença continua nos mundiais de Sevens que se regista até à atualidade, com a participação no 6º mundial a realizar dentro de cerca de um mês em Moscovo.

A IRB, ciente do potencial que os Sevens poderiam ter na expansão mundial do
Rugby,e pela notável visão do seu então Chairman Vernon Pugh, lançou em 1999/2000 as IRB Sevens Series. Portugal foi convidado a participar na 2ª edição graças ao já referido prestigio que o Lisboa Sevens tinha alcançado e ao bem sucedido lóbi realizado.

Os convites, para um maior ou menor número de torneios, continuaram nos anos seguintes, fruto das boas prestações conseguidas

O crescimento dos Sevens levou a FIRA-AER a iniciar a organização do Campeonato da Europa de Sevens em 2002, que Portugal venceu por oito vezes em 11 edições.

Até 2010 o campeonato tinha dois ou três torneios classificativos e um torneio final.

Nos diversos torneios classificativos participavam equipas com muito diferentes índices competitivos o que os tornavam muito desinteressantes e constituíam um verdadeiro desperdício de recursos.

Portugal organizou em 2003, no Estádio Nacional, um desses torneio classificativos.

Pelo contrário, as finais tinham bom nível competitivo tendo em 2004 e 2008 servido como torneios classificativos para os mundiais de 2005 e 2009.

As vitórias de Portugal nesses campeonatos da Europa, fruto das sementes lançadas com o Lisboa Sevens, têm que ser postos na perspectiva da época, onde as grandes potências europeias não demonstravam interesse especial pela variante de Sevens. De referir no entanto que no campeonato da europa de 2008 Portugal bateu na final o País de Gales que, alguns meses depois, em 2009 no Dubai, se haveria de sagrar campeão mundial.

Em 2011 a FIRA reorganizou o Campeonato da Europa dividindo os países em
três divisões consoante a sua capacidade competitiva.

Portugal, que participa no designado Grand Prix constituído por três ou quatro etapas e que engloba já as potências europeias, venceu a edição de 2011 e classificou-se em 2º lugar na edição de 2012.

A morte do Lisboa Sevens, por falta de apoio dos patrocinadores e de empenho da Federação, representou para Portugal o fechar de uma porta na organização de grandes torneios internacionais, cujas repercussões se manifestam até à atualidade.

Se uma jornada das IRB Sevens Series não originaria grandes encargos financeiros, pois a IRB e seus patrocinadores asseguram a totalidade dos seus custos, já a FIRA-AER exige ao país organizador de uma jornada do Grand Prix, que cubra as despesas de deslocação e estadia das 12 equipa participantes.

No 1º caso, com duas jornada apenas na Europa, sendo a de Londres imutável, resta a possibilidade de substituir Glasgow o que se nos afigura extraordinariamente difícil.

No 2º caso a actual situação financeira do país constitui um forte entrave, a não ser que uma Junta de Turismo, do Algarve por exemplo, entenda o potencial que poderá extrair dessa realização.

Desde a época passada, a IRB alterou o sistema de convites para a participação nas IRB Sevens Series para um sistema de mérito.

Portugal alcançou no torneio de qualificação de 2012 de Hong Kong o direito, por mérito próprio, a ser equipa residente ( “Core Team”) nas séries de 2012-2013.

Facto de enorme relevância, nem sempre compreendido, e que levou Portugal a competir em nove torneios, com as melhores equipas mundiais.

Algumas boas prestações, alternadas com outras menos boas, obrigaram Portugal a voltar a disputar o torneio de qualificação, realizado no passado fim de semana em Londres, para obter de novo o estatuto de Core Team em 2013-2014.

E obteve com todo o merecimento essa qualificação.

Mais um feito significativo do rugby português.

A decisão tomada pelo Comité Olímpico Internacional ( COI ), em Outubro de
2009, de incluir o Rugby sevens no programa para os jogos Olímpicos do Rio 2016, veio aumentar em forma de progressão geométrica o interesse mundial.

Não tenho duvidas que o torneio olímpico de 2016 será um grande sucesso e só foi pena que a miopia desportiva dos membros do COI não tenha aprovado, na primeira votação realizada em 2005, a sua inclusão nos Jogos de Londres 2012.

Aí seria certamente uma entrada espetacular no programa olímpico.

A partir daqui grandes potências desportivas como China, EUA e Rússia que disputam entre si a hegemonia no medalheiro dos Jogos, passaram também a dedicar forte atenção aos Sevens.

Os EUA e a Rússia estabeleceram equipas 100 % profissionais, a China apostando na vertente feminina e muitos outros países profissionalizando as suas equipas.

Até a Holanda, pais sem grandes tradições no rugby, formou um conjunto feminino que se dedica exclusivamente aos sevens com o objetivo de alcançar uma qualificação para os Jogos.

Portugal tem alcançado resultados notáveis nos últimos anos e conseguirá, com a sua base limitada de recrutamento, com os limitados recursos financeiros existentes, continuar a competir ao nível a que o tem feito e a alcançar resultados similares?

Esta uma grande questão que o rugby português tem urgentemente que equacionar.

Não me furto a escrever o meu ponto de vista.

No plano interno, onde apenas Coimbra e Arcos de Valdevez organizaram torneios nos anos 90 demonstrando algum interesse pelos sevens, há que melhor estruturar o circuito de sevens e motivar todos os clubes para a importância da sua participação sensibilizando jogadores técnicos e dirigentes para a importância que têm a nível mundial.

É ainda uma boa oportunidade para que clubes com menos aspirações competitivas em XV ou com número de jogadores mais limitado, se possam afirmar nos sevens.

E é ainda muito importante motivar também, desde cedo, os mais jovens para esta variante de rugby através dos torneios de Sevens para Sub-16 e Sub-18

No plano internacional e no futuro imediato, Campeonato do Mundo e FIRA Grand Prix Series de 2013, claro que há que manter o sistema atual tendo como objetivo obter um bom posicionamento no primeiro e uma classificação até ao 3º lugar no segundo.

Um conjunto de jovens, este ano lançados na competição internacional, e outros que despontam, indicam que Portugal dispõe do material humano que lhe possibilite continuar a manter e mesmo melhorar o anterior índice competitivo.

Para a época 2013-2014 e seguintes, se quisermos ter uma maior competitividade urge definir um grupo de cerca de 15 jogadores que se dedicariam exclusivamente aos Sevens estando sempre disponíveis quando a equipa técnica assim o entendesse.

Os clubes terão que abdicar da sua utilização em jogos de XV excepto em casos em que a equipa técnica explicitamente o autorize.

O mesmo princípio se aplicaria à seleção nacional de XV.

A esses jogadores seria proporcionada um apoio técnico eficaz com treinadores, preparador físico, psicólogo, apoio médico e escolar, se fosse caso disso.

Para que isso seja possível, urge encontrar meios que possam financiar essa opção e sensibilizar os jogadores e os clubes para ela.

Só assim, no meu entender, poderemos aspirar a ter comportamento que nos situe nos 10 primeiros do ranking mundial e a lutar por uma qualificação para os Jogos Olímpicos de 2016.

Continuando com o sistema actual, e face a concorrência cada vez mais e melhor preparada, apenas poderemos exigir aos nossos jogadores que continuem a representar Portugal com a dignidade com que o tem feito.

E seguramente, voltaremos a disputar o torneio de qualificação para a época 2014/2015.

* Texto: Pedro Sousa Ribeiro

10 comentários:

Great_Duke disse...

Bom dia,

Salvo erro e/ou incompreensão da minha parte, este texto é da autoria de um membro da direcção da FPR.

Se assim é, pergunto-me: porque esperamos nós para tentar implementar esta visão das coisas (restrinjo-me aos sevens)?

É o dinheiro que falta? Qual é o montante que o IRB nos dá para e por causa dos Sevens? Como é ele gasto?

Anónimo disse...

Antes de mais, um agradecimento ao autor deste post pela resenha histórica dos Sevens em Portugal e pela coragem de apresentar a sua visão das coisas em termos de futuro.

Embora seja um adepto fervoroso do rugby de XV - é esse o verdadeiro rugby - não posso deixar de concordar que os Sevens representam no presente um variante fundamental do jogo. Não apenas pela sua espectacularidade, mas pelos contornos financeiros que representam.

Aliado a isto, um fim-de-semana de sevens é um tempo bem passado, entretido, que permite ver jogar, de manhã ao fim do dia, a elite das equipas mundiais, aliado à diversão que proporciona.

E têm sido os Sevens a fazer emergir equipas que, no XV, não teriam grandes chances de aparecer no panorama mundial, casos do Quénia, do Zimbabwe e, porque não dizê-lo, de Portugal.

Creio que, no plano interno, falta sobretudo uma estratégia, uma definição clara de objectivos. E isso passará por sentar à mesa Federação e Clubes, no sentido de discutir posições, definir metas, encontrar forma de se apostar no Sevens, mas sem nunca esquecer o XV.

Sabemos que a manta é curta e, muitas vezes, puxar para um lado, acaba por destapar o outro. Não temos, por assim dizer, um lote de jogadores que permita separar, em permanência, o XV do Sevens.

Mas, eventualmente, poderemos ter um «núcleo duro» que pode alimentar uma ou outra destas equipas. E, face aos novos valores que despontam, provavelmente não será complicado fazer isso ns equipa de Sevens. Já quanto ao XV, parece mais complicado e o sucessivo recurso a apostas falhadas, ao «afrancesamento» e à ausência de alargamento à prospecção nas equipas nacionais parece ser um erro de evitar.

É hora de grandes decisões, de estebelecer metas e definir estratégias! Resta saber se os clubes estão interessados e se a FPR tem vontade para o fazer (E aqui refiro-me a diretores técnicos nacionais, treinadores dos Sevens e do XV, staff, etc, etc)?

Era bom que assim fosse! E que bom seria ter uma etapa do Circuito Mundial de Sevens em Portugal, seja em Lisboa, no Algarve ou noutro local.

Substituir Glasgow, com um mês de Maio já com bom clima, permitiria trazer a Portugal uns milhares de adeptos, excelente para a economia e para a divulgação do potencial turistíco do país. Alguém avança?

Anónimo disse...

Colocar de novo o Lisboa Sevens no calendário do Rugby internacional é uma prioridade!

Anónimo disse...

Não percebo porque não se trabalha no sentido de existir uma competição só de sevens em portugal durante o ano todo, não haverá clubes mais pequenos que só tenham capacidade/interesse em jogar a variante de VII ? alguém duvida que a variante de VII seja já uma modalidade independente do XV ? podem encarar como quiserem, podem dizer que não faz sentido uma sem a outra ou que os VII são só brincar na areia (a opiniao e muitos treinadores da velha guarda) mas a realidade é que há clubes que poderiam sobreviver melhor e talvez crescer só jogando a modalidade de VII

Anónimo disse...

Boa tarde Pedro,

concordo com tudo o que escreve no que toca aos Sevens, excepto num ponto: os jogadores não se devem dedicar, unica e exclusivamente, à selecção, seja em Sevens ou em XV.

Dado o nosso diminuto tamanho no que toca a jogadores e clubes, não podemos pegar naqueles que nos apetece e dizer aos clubes (que os formaram) que a partir de agora só jogam quando a FPR e a sua direcção técnica quiser - fazê-lo irá estagnar a rede de prospecção da FPR e alhear os jogadores da selecção com os seus congéneres dos clubes, criando uma cisão difícil de recuperar no futuro.

Vejo duas maneiras de os Sevens em Portugal evoluirem:

Em primeiro lugar, fazendo um campeonato digno desse nome mas no princípio do ano, empurrando o início do Campeonato de XV para o fim de Outubro, já que no principio do ano os clubes ainda têm dinheiro para deslocações e os jogadores estão motivados para jogar.

Em segundo lugar, descentralizar o rugby (e isto serve para tudo o resto).

Penso que o Rugby Nacional só se irá desenvolver no dia em que tivermos campeonatos Regionais INDEPENDENTES dos campeonatos Nacionais, um pouco à imagem do que o futebol brasileiro faz: um e outro existem em separado e uma equipa pode por exemplo, estar na 1ª Série da sua Região mas na 3ª Série do Campeonato Nacional, com subidas e descidas associadas ao lugar final de cada campeonato (um pouco à imagem ao que tinhamos antigamente em Portugal também).

O campeonato Regional faria com que os clubes locais tivessem mais hipóteses de se desenvolverem, com custos bem menores, podendo os clubes inscrever-se posteriormente (ou não) no Campeonato Nacional, impulsionando assim o rugby a nivel regional primeiro e o nacional por acréscimo.

Um abraço,
Luis Supico

Anónimo disse...

Espantoso como um Vice Presidente escreve sobre um assunto que deve ser da responsabilidade da Direção. Será que se trata de uma posição pessoal ou é a posição oficial? Estou de acordo com a sua opinião. Não há outra possibilidade que não seja a de preservar um grupo de jogadores quw só excepcionalmente poderão jogar pelos clubes. São opçoes que devem ser feitas envolvendo a vontade dos jogadores. É o que acontece com todos os outros países. Ignorar isso é ter a certeza de que na proxima época não teremos capacidade para nos mantermos no Circuito mundial. E então é que nunca mais voltamos. Todos temos que perceber esta situação sem tibiezas

Anónimo disse...

li o texto com toda a atenção, bem como li com toda a atenção os comentários e pergunto se a realidade do Rugby mudou assim tanto desde o ultimo fim de semana.
Fazemos torneios de sevens onde os clubes não vão e agora querem fazer um campeonato? temos clubes que não têm dinheiro para as deslocações e agora querem fazer mais um campeonato? falam num grupo exclusivo, entenda-se profissionais, nos sevens e quem lhes paga? a FPR nem os subsídios que agora lhe paga os consegue pagar a tempo e horas. Temos um rugby incipiente em Portugal e vamos retirar ao campeonato os melhores jogadores? então como vai evoluir o Rugby se não lhe deixarem os melhores jogadores a actuar. Os clubes que temos são suficientes para termos apenas trinta clubes a jogar, não acham que a falta de sustentabilidade está aqui? não acham que a tão falada sustentabilidade se consegue nesta fase pelo aumento do numero de clubes e de jogadores? fazemos isso retirando os melhores jogadores e consequentemente espectacularidade ao jogo que acontecem nos campos nacionais? temos que aceitar que o que nos faz falta são as bases, devíamos mais estar preocupados em colocar o rugby no mapa do desporto escolar e não se vamos ou não ficar no circuito mundial. A verdadeira sustentabilidade e a verdadeira revolução do Rugby está em colocar o Rugby no mapa do desporto escolar, Não acreditam? olhem para os países de topo no Rugby.
Claro que em Portugal somos diferentes a sustentabilidade não interessa, acreditamos sempre no milagre, no improviso e no desenrasca e depois admiramo-nos.

Great_Duke disse...

12 jogadores dedicados a 100% é tudo quanto se precisa.Em caso de lesão, então sim, se deveria ir buscar alguém aos clubes (é o que faz a França e, creio, a Inglaterra, por exemplo).

Quanto ao dinheiro, volto a perguntar quanto é que o IRB dá para os Sevens e como é que esse montante é gasto?

Mas é evidente que se deve perguntar aos jogadores o que querem? Muito se fala nos clubes, mas se eles não pagam aos jogadores como é que poderão exigir que alguém não aceite uma proposta de profissionalização (ainda que temporária) se esta for boa?

Já sei que me vão dizer que eu não percebo nada e não conheço a realidae portuguesa, mas a minha intenção é, apenas, de provicar o debate.

Os Pequenos Lusos disse...

Sr. Eng. Pedro Ribeiro envio-lhe um abraço e digo-lhe que sabe sempre bem ler o que escreve. Já foi 2 vezes presidente da Federação e lá diz o ditado que não há duas sem três. Fico triste de o ver refém deste elenco federativo em que aceitou ser Vice-presidente. Agora que está reformado tenho a certeza de que não iria pedir um salário, como outros que conheço, e iria ser o timoneiro que o nosso rugby necessitava. Reflicta. Um grande abraço anónimo.

Anónimo disse...

Não concordo com um campeonato de sevens durante todo ano. Isso é impensável, por exemplo o inverno. Obrigar os atletas a estarem durante tantas horas em torno dum relvado, pode ser aceitável se estiverem numa selecção, mas a nível interno.... Esqueçam. Mesmo a partir de Maio, ao fim de 3 ou 4 torneios os atletas que não esteja a lutar pelo título, começam a desmobilizar. Andar 800 kms e depois estar 6 horas à volta do relvado é um sacrifício que nem todos estão na disposição de suportar. Depois, ou à faltas de comparência ou as equipas aparecem com 8 ou 9 atletas e mesmo esses rebuscados por telefone.