4 de dezembro de 2013

PORTUGUESES LÁ FORA - MIKE TADJER A 100%

A participação de jogadores de nacionalidade portuguesa, nascidos e vivendo no estrangeiro não é coisa nova, e recordo aqui aqueles que penso terem sido os três primeiros a virem a Portugal para treinar com a selecção e dos quais dois chegaram mesmo a representar o nosso país.

Foi em 1993 e os três portugueses, residentes em França eram o Artur Gomes, 3/4 centro do Paris Université Club, que treinou mas não jogou, o Domingos Silva, talonador das esperanças do Dax, que jogou por Portugal frente à Tunísia, em Tunis, em 24 de Abril de 1993, e o Miguel Baptista, também talonador do St. Giron, que representou Portugal em 10 ocasiões, sendo a primeira em 17 de Abril de 1993 contra a Itália, em Coimbra.

Miguel Baptista é assim o mais antigo dos não residentes a ter vestido a camisola das quinas!

Se algum dos nossos leitores souber o que é feito destes três antigos jogadores, agradeço que me envie uma menagem para nos pôr em contacto.

Mais tarde, em 1995, Alexandre Lima tornou-se o primeiro não nacional a representar Portugal, o que veio a acontecer em 19 de Março de 1995, em Lisboa, contra Marrocos.

Hoje vamos falar com Mike Tadjer Barbosa - também ele talonador! - que sendo filho de pai português nasceu em França e lá começou a jogar e vive.

Mas quem é Mike Tadjer, de onde lhe vem a nacionalidade, onde nasceu e cresceu e como se deu a sua aproximação ao rugby?
Sou português pelo lado do meu pai, que nasceu em Paredes. Os meus avós ainda tem uma casa em Portugal e vão lá com frequência.
Eu sou muito chegado à minha família portuguesa e é frequente juntarmos-nos nas Festas e aniversários em
torno de uma boa refeição com especialidades portuguesas que minha avó nos prepara, tais como: rabanadas, bacalhau, pastéis de nata e outros.
Passei a minha infância em Massy, ​​na região de Paris, e comecei a jogar com o meu antigo treinador Alain Gazon que ensinava rugby nas escolas, aos alunos da CM2 .

E como começaste a joga rugby e que importância ele tem hoje na tua vida?
Comecei de rugby com a idade de 10 anos no Rugby Club Massy Essonne.
Depois o rugby tomou um lugar muito importante na minha vida de tal forma que fiz dele a minha profissão e a minha paixão.
Tenho a oportunidade de exercer o rugby profissionalmente e de viver dele.
No entanto, quero tirar o meu diploma de treinador desportivo de graduação para preparar a minha conversão.

Ao longo da tua carreira em que clubes jogaste e em que posições e quando começaste a sentir que podias ir mais longe no rugby?
Joguei primeiro RC Massy Essonne durante oito anos, depois fui para o Racing - Métro 92 por três anos onde joguei nas esperanças, mas também, por vezes , com a primeira equipe na ProD2 e depois na Top14.
Após uma lesão grave que me manteve fora de ação por quase um ano , voltei a RC Massy Essonne , onde vivi a promoção para a ProD2.
Desde muito cedo, com 16 anos, quando entrei no grupo de Espoirs do liceu de Lakanal, senti que o rugby seria o meu futuro.

Jogas a talonador desde quando? E jogas a outras posições?
Inicialmente, variei entre talonador e pilar mas depois, pouco a pouco, fui-me posicionando a talonador e aí fiquei. 
Também me aconteceu desenrascar a número 8 quando havia lesionados nessa posição.

Hoje jogas no Massy da Federal 1 – esta é a tua terceira época no clube e passaste um ano na ProD2. Do que conheces do rugby em Portugal, onde achas que as melhores equipas portuguesas se encaixam? Na ProD2, na Fed 1? Ou noutro nível?
Acho que as melhores equipas portuguesas podem ter alguns trunfos na fase final da Federal 1 e tentar enfrentar equipas da ProD2 .

Apareceste na Selecção Nacional em Fevereiro de 2012 contra a Roménia, fizeste todo o Europeu de 2012 com a equipa e foste também ao Uruguai e Chile desse ano. Como isso aconteceu? Quem te deu a conhecer aos treinadores da selecção, como foste contactado?
Os seleccionadores portugueses chamaram-me quando eu jogava no Racing-Metro, mas meu treinador na época não quis que eu aceitasse a convocatória, apesar do meu desejo de integrar a selecção. 
No início de 2012 , fui novamente chamado por Rodrigo (Churiço), o antigo manager, para falar com ele e me juntar à selecção.

O que sentiste quando foste convidado para treinar com a Selecção portuguesa, e o que sentiste quando vestiste a camisola nacional pela primeira vez?
Inicialmente senti muita apreensão e emoção, porque eu não sabia o que esperar. 
Depois, quando entrei no grupo, fui imediatamente posto à vontade pelos outros jogadores que jogavam em
França como o David dos Reis, Gonçalo Uva ou Pedro Leal , entre outros.
Durante a minha primeira selecção, senti-me muito emocionado no momento do hino nacional que eu tive que aprender rapidamente (risos).
Fiquei muito orgulhoso de representar meu país, com um pensamento especial para o meu pai.

Depois dos jogos de 2012, não voltaste a ser chamado aos trabalhos da selecção nacional. O que aconteceu para desapareceres?
Fui chamado para o torneio das 6 Nações B de 2013, mas lesionei-me na véspera da partida para a Geórgia, o que me obrigou a contragosto a regressar a França para me tratar.
O meu clube, então, pediu à equipa técnica portuguesa para me libertar, para me poderem incluir num Boletim de Jogo. 
Isto levou a um mal-entendido com os seleccionadores e o Presidente da Federação que pensaram que eu tinha simulado a minha lesão para regressar a França, quando o que se passou foi que o meu clube só queria colocar o meu nome na súmula, devido à falta de talonadores, mas não me queria fazer jogar.

Estás arrependido de ter aceite jogar por Portugal?
Não, eu não me arrependo de ter jogado por Portugal. Bem pelo contrário, tenho muito orgulho nisso.

Foste contactado para disputar os jogos da janela de Novembro (Fiji, Brasil, Canadá)
Sim, o novo manager entrou em contacto comigo, mas, infelizmente, eu não pude honrar a minha convocatória devido a uma rotura nos gémeos que me impediu de jogar por um mês.

Se fores convidado a representar em 2014 a selecção portuguesa, vais aceitar o convite? E como o teu clube vai encarar uma convocatória para jogares por Portugal? Será que te vão levantar dificuldades?
Aceitarei a convocatória com muito prazer !
Há outros internacionais na equipa (belgas e georgianos) e por isso não creio que o clube se vá opor a essa convocatória.

Estás em condições físicas boas para te juntares aos trabalhos dos Lobos?
Estou em muito boa condição física e estou totalmente recuperado da minha lesão.

Qual a tua maior ambição como jogador, no clube e na selecção?
No clube a minha maior ambição é terminar a temporada Campeão de França da Fédérale 1 e regressar à ProD2 .
Com a selecção, gostaria que nos classificássemos para o Campeonato do Mundo, mesmo que isso represente um enorme desafio a vencer!

Fotos: António Simões dos Santos, Miguel Rodrigues

13 comentários:

Anónimo disse...

muito bom jogador este mike tadjer

Anónimo disse...

Uma pergunta de quem percebe pouco disto: a Prod2 é uma terceira divisão nacional e as federal estão abaixo e são regionais, é isso?

Great_duke disse...

A PROD2 é a segunda divisão, logo abaixo do TOP14. Trata-se de um campeonato profissonal sob a alçada da Liga Francesa de Rugby e onde jogam muitos portugueses.

As Federais são os campeonatos subsequentes (FED1, FED2 e FED3): 3a, 4a e 5a divisões. São campeonatos ditos amadores sob a alçada da FFR.

Claudio disse...

Vamos ter uma grande equipa para o 6 Nações !

Anónimo disse...

Miguel batista foi um jogador que veio para o técnico ainda com idade de junior ?

Anónimo disse...

tenho informaçoes sobre o miguel batista

Manuel Cabral disse...

Agradeço ao anónimo das 22:43 que me contacte através da opção CONTACTE-NOS na etiqueta DIVERSOS na barra superior de links desta página

Anónimo disse...

Obrigado, Great_Duke. O campeonato francês será o mais forte da Europa, ou será o inglês? E dos campeonatos periféricos, a que nível se situará o nosso? Peço desculpa por todas estas perguntas, mas assim será mais fácil perceber este desporto. Abraço, MC.

Great_duke disse...

Bem, isso é sempre relativo. Eu creio que o campeonato francês, porque envolve mais dinheiro e tem um maior n° de jogadores internacionais vindos de todo o lado (incluindo Inglaterra) será o mais forte.

O inglês é, seguramente, o segundo. Em terceiro lugar poria o italiano.

Não podemos esquecer que as principais equipas galesas, irlandesas e escocesas jogam entre si (e com mais 2 italianas salvo erro) uma Liga à parte.

Depois vem o resto: o campeonato russo é profissional; o espanhol assim-assim; os georgianos e os romenos apostaram na exportação dos seus jogadores para França, logo os seus campeonatos não são nada de especial.

É complicado (para mim, vivendo no Luxemburgo) dizer onde é que estamos...diria que as nossa melhores equipas poderiam disputar a FED1/FED2 mas não para ganhar.

Se compararmos com os espanhóis, o campeonato deles parece ser mais forte, mas na verdade nos últimos anos quando nos cruzamos, temos tido vantagem...

Mas a minha opinião vale pouco porque não sou um entendido...

Anónimo disse...

Muito obrigado, Great_duke. Portanto, há 4 campeonatos fortes e depois, a larga distância vêm os outros. Curioso como os russos conseguem não ser, pelo que percebo, grandes exportadores de jogadores e mesmo assim ter uma selecção que parece estar uns furos acima da nossa, neste momento e manter uma competição profissional quando têm dezenas e dezenas de desportos onde são dos melhores do Mundo, pelo que o rugby não deve estar no topo das preferências desportivas da população. Abraços e, mais uma vez, obrigado.

Great_duke disse...

A grande vantagem dos russos é terem o dinheiro que lhes permite ter os jogadores focalizados apenas no rugby e, muito importante, irem buscar os melhores e mais especializados treinadores para trabalhar os seus jogadores.

Ainda assim e apesar de, nesta fase, estarem mais fortes que Portugal, a diferença não é muita. Nos jogos com eles têm sido os nossos erros individuais que têm deitado tudo a perder.

Nos Sevens, por exemplo, e apesar de terem ido buscar o Serevi (melhor jogador de Sevens de todos os tempos) para os ajudar com o Mundial de Moscovo, ficaram abaixo de Portugal que tb não esteve grande coisa (fruto do cansaço estremo em que se encontrava a maioria da equipa) apesar de ganhar à Argentina.

Estive em Moscovo e uma coisa é certa, os russos só gostam de ganhar (por isso o estádio estava vazio); se o investimento não começar a dar frutos, esse investimento acaba. Digo eu.
Apesar do IRB apostar imenso neles, mas o rugby por ora concentra-se em Moscovo e Krasnoyar; o que eles querem é espalha-lo...

Manuel Cabral disse...

Great-Duke
Boas tardes Duke!
Consta nos bastidores que a federação russa está falida, e que os efeitos disso se vão começar a sentir muito em breve...
Será verdade?

Great_duke disse...

Não faço ideia, mas por la é fácil arranjar patrocinadores dispostos a gastar milhões...

Não sabia desse rumor...