5 de junho de 2015

O APURAMENTO OLÍMPICO NAS DIVERSAS REGIÕES (*1 e 2)

O apuramento para os Jogos Olímpicos já começou há bastante tempo, através do Circuito Mundial de Sevens, tanto de Homens como de Mulheres, em que se encontraram as primeiras quatro equipas a garantir as honras olímpicas, que se juntaram ao Brasil, país organizador.

Assim nos Homens já estão no Rio de Janeiro as Fiji, a África do Sul, a Nova Zelândia e a Inglaterra, enquanto nas Mulheres, a viagem já está marcada para a Nova Zelândia, o Canadá, a Austrália e a Inglaterra - mais o Brasil, nos dois géneros, num total de cinco por género.


Como esta primeira participação do rugby de sevens nos Jogos será disputada por 12 equipas em cada género, falta ainda encontrar as restantes sete equipas, o que vai acontecer através de torneios, ou séries de torneios, a realizar em cada uma das seis regiões de rugby que dividem o mundo, sendo a última equipa a classificar através de uma repescagem que envolve todas as referidas regiões.

A qualificação pelas regiões começou já em Março, com um pré-qualificativo disputado na Índia, mas a fase final das decisões da região Ásia apenas terá o seu termo em Novembro, com um só torneio em Hong Kong para os Homens, e dois para as Mulheres, em Hong Kong e no Japão.

Na África que também tem alguns pré qualificativos em Junho (neste fim de semana) e Julho, ambos para os Homens, a decisão das Mulheres terá lugar em Setembro na África do Sul e a decisão dos Homens apenas em Novembro, também na terra dos Blitzbockes.

A Oceania, como a Ásia ou a África, apenas vão conhecer as equipas que avançam para o Rio de Janeiro na Nova Zelândia, em Novembro

Mas será na América do Sul, na América do Norte e na Europa, que a acção vai começar a doer a partir de hoje mesmo sexta feira dia 5 de Junho.

AMÉRICA DO SUL
Assim, em Santa Fé, Argentina, sete equipas masculinas e oito femininas vão lutar pela qualificação directa da região América do Sul para o Rio de Janeiro e outras duas pelo acesso à repescagem mundial, que ainda não tem data marcada, sabendo-se apenas que terá lugar em 2016.

Nos Homens a Argentina é a principal candidata ao apuramento, mas o Chile e o Uruguai também vão estar com um olho na qualificação, e qualquer deslize será a morte do artista.
Paraguai, Chile, Colômbia, Venezuela e Perú estarão também presentes, mas ver alguma destas camisolas seguir em frente só acontecerá com uma mais do que improvável sucessão de milagres.
A nossa previsão aponta para a qualificação directa da Argentina, com o Chile e o Uruguai a avançarem para a repescagem.

Nas Mulheres, que além dos mesmo países que disputam a prova dos Homens, conta ainda com a presença da Costa Rica, a ausência das já qualificadas brasileiras, líderes incontestadas na região há uma dezena de anos, oferece um maior equilíbrio ao torneio, apesar da vantagem que a Argentina tem também à partida.
No entanto países como o Chile, a Colômbia e o Uruguai poderão ter uma palavra a dizer.
A nossa previsão é que, como nos Homens, a Argentina conquista o direito a avançar directamente para o Rio de Janeiro, e o Chile e o Uruguai passam à repescagem.

AMÉRICA DO NORTE E CARAÍBAS
No fim de semana de 13 e 14 de Junho, em Cary, na Carolina do Norte, Estados Unidos, será a vez da América do Norte e Caraíbas verem os seus representantes nos Jogos Olímpicos desvendados, e se nos Homens se vai assistir a uma decisão muito disputada entre os Estados Unidos e o Canadá, com um deles a seguir directo para os Jogos e o outro a ter que disputar a repescagem, já o segundo participante na repescagem é mais difícil de imaginar, já que são em geral equipas que poucos torneios internacionais disputam, e cujo nível técnico e físico está muitos furos abaixo dos mínimos exigíveis para a participação em competições desta natureza.
Nas Mulheres os Estados Unidos não terão concorrência à altura, mas quanto às duas equipas que vão à repescagem, aplica-se o mesmo que dissemos em relação aos Homens.
Neste momento ainda não foram divulgadas as equipas que estarão presentes em cada uma das provas, e apenas se sabe que existem 15 potenciais participantes em cada género:
Bahamas, Barbados, Bermuda, British Virgin Islands, Canadá, Cayman Islands, Curacao, Estados Unidos, Guyana, Jamaica, México, St Lucia, St Vincent and The Grenadines, Trinidad & Tobago e Turks & Caicos.

(*) Actualização 1 - Foi agora anunciado que as equipas que participam no torneio feminino são oito: Bahamas, Barbados, Cayman Islands, Estados Unidos, Guyana, Jamaica, México e Trinidad & Tobago.
E as que participam no torneio masculino são 10: Bahamas, Barbados, Canadá, Cayman Islands, Estados Unidos, Guyana, Jamaica, México, St. Vincent e Trinidad & Tobago.

Assim, a nossa previsão é que nos Homens os Estados Unidos conseguem o apuramento directo, com o Canadá a garantir a presença na repescagem, enquanto nas Mulheres, com o Canadá já apurado, a vaga directa será com toda a certeza dos Estados Unidos.
Quanto ao resto, as equipas que talvez tenham mais possibilidades de conseguirem assegurar a presença na repescagem são o México e a Jamaica nos Homens (uma delas apenas, que se juntará ao Canadá) e duas equipas de Mulheres entre México, Jamaica, Trinidad & Tobago ou Guyana.

FINALMENTE A EUROPA
A região mais prejudicada pelo formato reduzido a 12 equipas do torneio de sevens nas Olimpíadas, é claramente a Europa.
Na verdade a região é aquela que mais equipas de nível tem em actividade, e acaba por não ter uma representação proporcional nem ao número de equipas, nem à sua posição relativa no ranking da World Rugby.
Repare o seguinte:
As 16 melhores equipas do mundo - as que vão disputar o Circuito Mundial em 2015-2016 - são, separadas por região:
Estados Unidos, Canadá (América do Norte); Argentina (América do Sul); Fiji, Nova Zelândia, Austrália, Samoa (Oceania); África do Sul, Quénia (África); Inglaterra, Escócia, França, País de Gales, Portugal e Rússia (Europa) - note-se que com o afastamento do Japão, a Ásia não tem qualquer equipa entre as 16 melhores.
A verde assinalamos as que já estão apuradas e a vermelho a que não se pode apurar.

Então, da América do Norte e Caraíbas (que no total apresenta 15 equipas) temos duas equipas entre as 16 melhores, e uma vai conseguir o apuramento directo e a outra vai estar na repescagem - que apura para o Rio de Janeiro apenas uma equipa - sendo que a outra que se apura para a repescagem não está entre as 16 melhores.
Da América do Sul (que no total apresenta 7 equipas) temos apenas uma entre as 16 melhores, e ela será certamente apurada directamente pela sua região. Serão ainda apuradas para a repescagem duas equipas que não se encontram entre as 16 melhores.
Da Oceania (que no total representa 12 países) temos quatro entre as 16 melhores, duas já se encontram apuradas e das duas outras uma vai conseguir o apuramento directo e outra estará na repescagem. Teremos ainda uma equipa na repescagem que não se encontra entre as 16 melhores.
Da África (que no total representa 25 países) temos duas entre as 16 melhores, uma está apurada e a outra vai-se apurar directamente na região. As três que estarão na repescagem, não fazem parte do grupo das 16 melhores.
Da Europa (que no total apresenta 46 equipas) temos seis entre as 16 melhores, uma está apurada, uma não se pode apurar e quatro vão disputar um acesso directo, com as outras a poderem qualificar-se para a repescagem, através de um torneio de repescagem europeu. Ou seja, das quatro da repescagem, provavelmente uma não está entre as 16 melhores.

Assim, olhando para estes números, é fácil chegar à conclusão com que começámos esta análise - a Europa é a região mais prejudicada com o formato de 12 equipas com que se disputarão os Jogos Olímpicos.
Nunca se entendeu bem porque a então IRB insistiu sempre nesse formato, depois de se ter comprovado pela prática que o formato das 16 equipas funciona muito bem - é o formato do Circuito Mundial - e depois dessa mesma questão ter sido levantada por um membro do COI na sessão de discussão da candidatura do Rugby, em Outubro de 2009, a um lugar entre as modalidades Olímpicas.
Essa intervenção abriu a possibilidade de alteração no número de participantes, mas nunca houve por parte da IRB nenhuma iniciativa nesse sentido.
Claro que a partir de certa altura essa alteração passou a não ser possível, mas o que se espera é que para os Jogos Olímpicos de 2020 a Europa Rugby exerça o seu papel de defensor dos interesses das suas associadas, e pressione a World Rugby e o COI pelo alargamento da prova, com uma substancial parte desse bolo a reverter a favor das equipas europeias.

Mas falemos agora da qualificação da região Europa.

Enquanto a qualificação das Mulheres vai decorrer em dois torneios, dos quais o primeiro terá lugar no fim de semana de dias 13 e 14 de Junho, e tem como grandes favoritas a Holanda, a Rússia, a Espanha e a França, a qualificação dos Homens vai ser discutida no Grand Prix Séries, que se desenrola em três etapas, com a primeira a ter lugar neste fim de semana em Moscovo.

(Incluímos posteriormente a Espanha no grupo das favoritas nas Mulheres, pois não tinha sido incluída por lapso)

O GPS conta com a participação das equipas da Inglaterra e do País de Gales, mas elas não contam em termos de qualificação olímpica, pelo que acreditamos que o apuramento directo para o Rio de Janeiro venha a ser discutido entre a França, a Rússia, a Espanha e Portugal.

Em condições normais, poderíamos mesmo dizer que seria entre Portugal e França que ele seria discutido, mas a verdade é que as condições objectivas da prova, e do momento que as equipas vivem, não permite fazer essa afirmação.

Comecemos pelas condições objectivas da prova, para constatarmos que uma das etapas se realiza em Moscovo, na Rússia, e outra em Lyon, na França, o que desde logo dá uma enorme vantagem a estas equipas na luta pela vitória final.
Por outro lado, a participação da Inglaterra e do País de Gales pode ter a mesma influência nos resultados finais, que tem a participação de equipas satélite nos campeonatos nacionais da 1ª e da 2ª Divisão - podem e vão com certeza influenciar a classificação final.
Apenas se desconhece quem pode beneficiar daquela influência, como se desconhece com que espírito aquelas duas equipas participarão na competição - podem muito bem apresentar equipas com grande número de jogadores inexperientes, que jogarão uma ou duas partidas que eventualmente poderão perder, prejudicando com isso os adversários que enfrentarem com a artilharia pesada e a quem vençam.

(*) Actualização 2 - Já depois de publicado este artigo foram anunciadas as equipas da Inglaterra e do País de Gales, e verifica-se que na equipa inglesa houve nove alterações em relação à equipa que esteve no Londres 7's, e na equipa galesa não sobrou sequer um jogador em relação àquele mesmo torneio!

Falemos agora do momento das diversas equipas, começando pela Rússia - que joga em casa - e que apresenta uma equipa com grandes alterações em relação à sua recente participação no Glasgow Sevens (onde jogaram e perderam com Portugal por 10-7), nomeadamente com a chamada à equipa de cinco novos jogadores, de que destacamos Vladimir Ostroushko (28 anos, 25 vezes internacional de XV pela Rússia, que joga habitualmente a ponta) e Anton Rudov, um cazaquistanês que representou a equipa nacional de XV do Cazaquistão entre 2006 e 1015, e aparece agora a vestir a camisola da Rússia.
Rudov tem 32 anos, joga habitualmente a número 8 e é considerado um reforço de peso para a equipa de sevens.
Todos os integrantes da equipa jogam em clubes que disputam a Liga Profissional de Rugby da Rússia - no Kuban Krasnodar, no VVA Moscow e no Enisey-STM Krasnoyarsk - e além dos já referidos Ostroushko e Rudov, também se destacam Ivan Kotov (ponta), Vladislav Lazarenko (ponta), Denis Simplikevich (ponta/defesa) e Ramil Gaysin (abertura).
Parece ter havido uma certa preocupação em ir buscar jogadores rápidos, pelo que esse é um factor a ter em conta.

A França substitui três dos jogadores que apresentou em Londres no mês passado, e acrescentou ao grupo de trabalho mais dois atletas, sendo que desses cinco, quatro disputaram a Top-14.
Eles são Remy Grosso e Roman Martial do Castre, Fulgence Ouedraogo do Montpellier e Marvin O'Connor do Bayonne.
Destaque para Ouedraogo que é um terceira linha com uma média de 14 placagens tentadas por jogo, com uma taxa de sucesso de 96%, e para Grosso, um três quartos com 1,88 mt e 102 kg, que marcou 10 ensaios esta época.
Se estes jogadores se integrarem e adaptarem à equipa e aos sevens, podem alterar significativamente o poder da equipa.

Quanto à Espanha não conseguimos saber a composição da equipa, que não se encontra disponível no site da Federação espanhola.

Falemos então de Portugal, onde já é conhecida a ausência de Pedro Leal, que é uma quebra muito grande para o conjunto, e que foi substituído pelo jovem João Belo (19 anos), que esperemos saiba refrear o seu habitual excesso de entusiasmo e se preocupe mais com a sua integração na equipa.

A equipa no conjunto parece equilibrada, é uma mistura de experiência e juventude, e tem a qualidade necessária para poder discutir o primeiro lugar.

No primeiro dia apenas terá um jogo difícil (ou não...) com a Inglaterra, mas tem que conseguir bons resultados contra a Bélgica e a Lituânia para que nos quartos de final enfrente uma das equipas mais frágeis das apuradas.

Muito do sucesso dos Linces depende da atitude dos seus elementos, e temos que reconhecer que essa atitude nem sempre tem sido a melhor.
Esperemos que todos se convençam que não se ganham jogos sem muito trabalho, sem sacrifício e sem uma tremenda vontade de vencer.

Se os jogadores portugueses conseguirem apresentar-se concentrados e dispostos a morrer em campo, então Portugal pode sim ambicionar a vitória final e o acesso directo aos Jogos Olímpicos, porque a repescagem final será uma prova muito difícil onde teremos à nossa frente equipas como o Canadá (ou os Estados Unidos), o Quénia (* corrigido) e Samoa (ou a Austrália), para referir apenas as que estão em degraus superiores ao nosso no ranking da World Rugby.

Ou seja, Portugal ou se apura directamente no GPS, ou pode arrumar as botas.

Repare ainda que na Europa se realiza uma repescagem regional, para determinar quem são as quatro equipas que disputarão, em 2016 a repescagem final para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Fique com o quadro dos torneios de qualificação Olímpica:


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