10 de abril de 2014

REDUZIR O NÚMERO DE EQUIPAS NO MUNDIAL É ERRADO *

* Paul Tait
Os críticos das nações de níveis de rugby baixo e intermédio (Tier Three e Tier Two) dizem habitualmente que há apenas um número limitado de equipas que disputam os Campeonatos do Mundo, que podem ser consideradas candidatas ao título.

Na verdade, muitos baseiam-se nos resultados de mundiais anteriores para reforçar a sua posição e sugerem que ter vinte equipas na competição, é demais.

Mas reduzir a dezasseis equipas não é uma boa idéia.


Em 2003 Itália e Tonga jogaram no mesmo grupo da Nova Zelândia e do País de Gales.
Aquelas duas primeiras nações tiveram quatorze dias para disputar quatro jogos no Mundial.
O País de Gales, por outro lado, teve mais sete dias e a Nova Zelândia oito para realizar o mesmo número de jogos.
A outra equipa do mesmo grupo, o Canadá, jogou suas quatro partidas em dezassete dias.

A Argentina estava no mesmo grupo que Austrália e Irlanda, mas terminou o torneio uma semana antes do jogo entre australianos e irlandeses.
O calendário foi tão controverso que os Pumas foram eliminados antes da Inglaterra disputar o seu terceiro jogo.

É preciso dizer que o calendário de jogos beneficiou os países mais fortes e tradicionais, em detrimento das nações em desenvolvimento.
Consequentemente, conclusões imprecisas surgiram para apoiar a decisão de reduzir o número de equipas no torneio. 

O desempenho da Argentina teve um papel significativo para a IRB admitir que a redução seria um erro e que havia muita coisa a corrigir.

No Mundial de França em 2007, a Argentina eliminou três equipas do Seis Nações e Fiji eliminou o País de Gales. 
Além disso Tonga quase derrotou a África do Sul e a Geórgia empurrou a Irlanda até ao limite. 
Os erros de 2003 permaneceram, mas alguns foram corrigidos. 
As correções introduzidas em 2007 ajudaram a diminuir a diferença, mas os membros do Tier One continuaram a ter mais dias de descanso.

As mudanças, no entanto, permitiram uma diferença substancial e possibilitaram o progresso em 2011, mas alguns dos mesmos erros permaneceram. 

Em 2007 Samoa e Tonga tiveram menos dias de descanso que seus rivais do grupo, a Inglaterra e a África do Sul, Austrália e País de Gales tiveram mais dias de descanso do que Canadá e Japão no Grupo B, Portugal e Roménia tiveram menos dias de descanso do que a Escócia, Itália e Nova Zelândia no Grupo C enquanto a Namíbia e Geórgia tiveram menos que a Argentina, França e Irlanda no Grupo D.

Com os países do Tier One recebendo mais dias para descansarem após os seus jogos, as chances de uma zebra foram pequenas ou até praticamente impossível. 

Assim, em função apenas dos resultados, o argumento de reduzir os mundiais de vinte para dezasseis participantes ganhou mais apoio. 

As vitórias da Argentina e Fiji não conseguiram satisfazer todo o mundo, e o problema da organização continuou em 2011 com a Namíbia fazendo uma coisa totalmente sem justificação - disputar jogos do Campeonato do Mundo contra África do Sul e País de Gales nos dias 22 e 26 de Setembro... 
Outras equipas, incluindo Canadá, Estados Unidos, Geórgia, Japão, Roménia, Rússia e Samoa, também tiveram que jogar duas vezes com poucos dias de descanso.

As autoridades falharam no seu papel principal - criar um Campeonato do Mundo que seja justo. 
Os erros mantiveram-se para 2015 com mais um Campeonato do Mundo extremamente desigual. 


Mas ele está redondamente enganado. 

Caso o Japão se classifique como Ásia 1 terá que enfrentar África do Sul no dia 19 de Setembro e Escócia no dia 23, enquanto os Estados Unidos terão apenas três dias de descanso entre seus jogos contra os Springboks e o país asiático. 
Tonga terá quatro dias entre enfrentar a Argentina e a Nova Zelândia, a África 1, no mesmo grupo, terá três dias de descanso entre seus jogos contra Geórgia e Argentina e o Play-Off Winner e a Roménia também terão problemas semelhantes.

Nenhum membro do Tier One terá que fazer o que Ásia 1 tem e, assim, as autoridades terão que se preparar para mais perguntas sobre a justificação de ter vinte países no Campeonato do Mundo. 

Enquanto o sistema continuar, as possibilidades de ter surpresas no Mundial serão pequenas. 
Chances existem, mas mais importante ainda é a imagem do rugby como um desporto sério, crescendo em mais países todos os anos.

No futuro existe a real possibilidade dos países actualmente entre o 11º e o 20º no ranking oficial da IRB virem a ganhar cada vez mais força do que os que se encontra entre a 1ª e a 10ª posição.

Eles são comercialmente essenciais ao Rugby World Cup em termas de status, mercado e população. 
Eles dão ao Campeonato do Mundo, a credibilidade que está faltando numa variedade de outros desportos e oferece oportunidades económicas significativamente melhores no longo prazo, atingindo populações maiores.

Os All Blacks não tem patrocinadores principais nacionais. 
Em vez de ter empresas neo zelandesas tem nomes como Adidas da Alemanha e AIG dos Estados Unidos. O país tem uma população de quatro milhões e não é o único país no top-10 com uma população pequena. 
Outros, incluindo Escócia, Irlanda, País de Gales e Samoa não tem populações grandes e também ocupam áreas pequenas. 
Entre os países de 11º a 20º no ranking,  incluindo Fiji, Geórgia, Tonga e Uruguai há mais exemplos, mas a diferença é significativamente maior quando comparada. 
A população total dos países no ranking do 11º ao 20º é de 715 milhões enquanto a população dos 10 melhores é apenas de 252 milhões.

IRB Rankings 1-10
2014 População
IRB Rankings 11-20
2014 População
1 Nova Zelândia
4.4 milhões
11 Fiji
903 mil
2 África do Sul
48,37 milhões
12 Tonga
106 mil
3 Austrália
22,5 milhões
13 Japão
127,1 milhões
4 Inglaterra
53 milhões
14 Itália
61,68 milhões
5 Irlanda
6,64 milhões
15 Canadá
34,83 milhões
6 País de Gales
3,06 milhões
16 Geórgia
4,9 milhões
7 França
66,2 milhões
17 Roménia
21,72 milhões
8 Samoa
196 mil
18 Estados Unidos
318,89 milhões
9 Argentina
43 milhões
19 Rússia
142,47 milhões
10 Escócia
5,29 milhões
20 Uruguai
3,3 milhões
Total
252,65 milhões
Total
715,89 milhões

3 comentários:

Ignatius disse...

Viva!

Neste momento creio que o sistema mais justo seriam 6 grupos de 4 equipas, pois assim no grupo ninguém era beneficiado com folga. Apuravam-se os dois primeiros classificados e os 4 melhores terceiros, passava-se então para os oitavos de final com jogos a eliminar.......O nº de jogos por equipa seria exactamente o mesmo, havia mais equipas no torneio e não havia "folgas" a meio do torneio........

Hurricanes disse...

Os criticos afirmam que ha apenas um numero limitado de equipas que disputam o campeonato do mundo, que podem ser candidatas ao titulo. Ok, perfeito. Entao suponho que nao faça grande sentido a Italia ir ao mundial, nem a Escocia. A Argentina e a Irlanda historicamente tambem nunca passaram dos quartos de final (excepto a Argentina em 2007), e no caso da Argentina, actualmente nao têm a minima hipotese de bater consistentemente os "3 grandes do hemisferio sul". Entao os candidatos a campeoes do mundo sao a Nova Zelandia, Africa do Sul, Australia, Inglaterra, França, Gales e, so para fazer 8, Irlanda e Argentina. Porreiro, que grande campeonato do "mundo". Os "futeboleiros" podem ter muitos defeitos, mas conseguiram perceber que ha vantagens em a Espanha, Brazil, Alemanha, Italia, etc... terem de jogar com o Senegal, Estados Unidos, Japão, Russia... Chama-se disseminaçao da modalidade (e do profissionalismo do futebol) e lucro. Que curiosamente, e exactamente o que falta ao rugby. Vá-se lá perceber!

Great_duke disse...

Eu acho que em parte o problema é MEDO. Medo de perder os privilégios e de ver outros países passarem à frente de casos como a Escócia, (sempre tão conservadora) simplesmente pelo facto da competitividade poder aumentar noutras latitudes.

E isso é aplicável ao n° de equipas como à forma vergonhosa como os calendários são feitos.