27 de dezembro de 2014

O SISTEMA COMPETITIVO - CONTRIBUIÇÃO PARA MELHORAR 6

Na sequência dos artigos que temos publicado nos últimos dias, vamos hoje abordar algumas ideias que podem ajudar a resolver o problema do rugby em Portugal, sendo que na nossa opinião, e como é fácil de entender por quem nos tem lido nos últimos anos, não é no número de equipas das duas principais divisões nacionais que pode estar um passo importante naquele sentido.

Já abordámos esta questão em múltiplas ocasiões, e começamos agora por sugerir que leia o que escrevemos em 23 de Janeiro de 2010 e em 27 de Janeiro do mesmo ano, e ainda em 1 de Abril de 2011, ou mais recentemente, em 14 de Abril de 2014 - como podem ver, e ao contrário do que alguns pretendem fazer crer, aqui no Mão de Mestre critica-se, mas apontam-se soluções.

Pena é que só muito tarde quem tem obrigação de fazer o melhor para o nosso rugby, se lembre de abordar estas questões...

PRIMEIRO AS OBRIGAÇÕES
A primeira sugestão que fazemos passa, obviamente, pelo estabelecimento de um conjunto de obrigações dirigidas em primeiro lugar às equipas que disputam ou pretendam disputar a Divisão de Honra e depois às da 1ª Divisão, e que devem abranger matérias tão diversas como instalações desportivas, equipas em competição nos diversos escalões, número de jogadores por equipa, trabalhar com orçamentos cujo cumprimento é fiscalizado pela FPR, por exemplo.

Claro está que não será possível ser tão exigente como em França ou no País de Gales, mas uma coisa é certa - e sem pretender atingir nenhum clube em particular - e está a prejudicar o desenvolvimento do rugby português: Os clubes são irresponsáveis, gastam o que têm e o que não têm, não asseguram a utilização de instalações desportivas, têm número insuficiente de jogadores, e depois reclamam porque as competições não são competitivas!

O ESCALÃO SUB-SÉNIOR OU AS EQUIPAS B'S
Um dos aspectos mais importantes diz respeito às equipas dos escalões etários dos 14 anos em diante.
Aqui é necessário estabelecer se a actual divisão é adequada ou não, e se os diversos escalões devem existir todos desde já - quanto a nós a existência dos sub-18 e sub-16 (ou semelhante) é essencial, e os clubes que querem ter prática competitiva devem mesmo ser obrigados a manter equipas em ambos.

Mas neste momento temos sérias dúvidas se a existência do sub-escalão sénior é uma vantagem para o rugby nacional, ou se a sua existência não está demasiado à frente da realidade portuguesa.
Na verdade consideramos que o primeiro passo a dar passa pela reintrodução das equipas B's, com aplicação imediata às duas divisões, e a suspensão do já referido sub-escalão sénior.

Na verdade a prática diz que só conseguimos reunir seis equipas de sub-23, mas que se optássemos pelas equipas B's - que obviamente podem incluir os jogadores sub-23, mas também aqueles que não sendo sub-23 e sendo seniores, se não forem escolhidos para jogar na equipa principal, simplesmente ficam sem jogar - seria possível a muito curto prazo tê-las nas 20 equipas da Divisão de Honra e da 1ª Divisão.

E o argumento que os jogadores não querem jogar pelas equipas B's apenas é válido quando as competições desse escalão são mal organizadas ou deixadas ao acaso.

DEPARTAMENTO DE COMPETIÇÕES
Temos falado repetidamente nesta questão e ela é uma pedra chave para o sucesso do rugby nacional.
A Federação tem que ter consciência que a sua primeira função é organizar as competições nacionais.

E por organizar pretende-se dizer conhecer, ter capacidade de agir, ter capacidade de antecipar problemas, ter audiência junto dos clubes, reconhecer que para cada divisão as exigências são diferentes...

Apenas para dar um exemplo, a equipa técnica da FPR tem 17 técnicos ao seu serviço, mas para tratar das competições nacionais, quem tem?

Esta é uma necessidade urgente, e sem a qual a FPR vai continuar a parir uns regulamentos da treta, a organizar as provas apenas em função dos interesses das selecções e não dos clubes, a estabelecer exigências para a 2ª Divisão que nem sequer na 1ª ou na Divisão de Honra são integralmente cumpridas.

Querem um exemplo? Se aceitamos que as equipas que disputam a Divisão de Honra comecem a época directamente no campeonato nacional, acreditamos sinceramente que as equipas da 2ª Divisão deveriam começar com competições do género Torneio de Abertura, que permitissem reunir os jogadores, e desse tempo a que as equipas se preparassem para o campeonato.

Mas isso serão coisas que um departamento de competições pode avaliar e decidir da melhor forma, consultando os clubes, conversando com as pessoas, frequentando os campos onde se joga o rugby dos clubes.

SEVEN-A-SIDE
Vamos finalizar por hoje, não sem fazermos uma referência aos sevens, que tão mal têm sido tratados em Portugal, embora em termos de selecção nacional, tenha havido uma mudança esta época que apenas se lamenta ter levado tanto tempo a ser avançada.

Lembro-me frequentemente duma reunião no Comité Olímpico de Portugal, em 2011, onde Amado da Silva snobava duma solução do género daquela agora adoptada - que pena que se tenham perdido mais de três anos antes da snobagem passar a realidade...

E se sugerimos a criação de um verdadeiro departamento de competições, sugerimos também a criação de um organismo que se preocupe em exclusivo com os sevens, que trate do seu desenvolvimento junto dos clubes, que pense e trate das suas competições, que seja capaz de realizar aquilo que a World Rugby está a fazer há década e meia e que afinal se resume numa frase que Beth Coalter disse numa entrevista que nos deu no Algarve, no verão de 2012 - Os sevens hoje já não são o divertimento de final de época que foram no passado. Hoje são um desporto olímpico.

Esse organismo deve ter uma intervenção directa no futuro do rugby nacional, e deve portanto ter assento na Assembleia Geral em pé de igualdade com as Associações Regionais, representando na AG os interesses da variante.

Aliás estranho que ainda não tenham sido criados mecanismos que possibilitem a existência de clubes dedicados em exclusivo aos sevens, e que possam ter também um lugar na Assembleia Geral da FPR.

Continuamos com a cabeça enterrada na areia, e a tratar dos sevens como se não passassem de uma chatice que a World Rugby nos obriga a gramar...

Mas acreditem, se não souberem gerir os sevens, arriscam-se a que um dia eles não se deixem gerir por quem deles não quer saber...


1 comentário:

João Miguel Ejarque disse...

ha muito anos quando passei uma temporada nos estados unidos, o meu clube que jogava na divisao superior no nordeste (massachussets, NY, maine, etc) estava obrigado a apresentar 3 equipas cada sábado. o detalhe importante - fundamental alias- era que primeiro jogava a equipa principal, logo seguida da equipa B por sua vez seguida da equipa C. plantel e substituicoes eram estritos apenas no jogo da equipa A. nos jogos seguintes o unico criterio era que os jogos se fizessem. assim, suplentes de um jogo jogavam sempre no jogo seguinte, mesmo se tivessem sido utilizados no jogo anterior. e nao só. se um clube falhasse algum dos jogos tinha de pagar uma multa a federacao, com penas mais pesadas para repeat offenders. Nós (Mystic River RC) tinhamos sempre cerca de 50 jogadores cada fim de semana e arrastava uma claque de uma centena de almas. Uma vez jogamos contra outro clube que so trouxe cerca de 30 jogadores e houve alguns que tiveram de jogar 2 jogos e meio. Mas os jogos faziam-se sempre. O meu clube tinha na altura o N8 dos estados unidos, Richard Tardits, mas nao era o clube mais forte oda regiao. isto antes da liga profissional que existe agora nos EUA. J. Ejarque. PS: antes dos jogos que tinham lugar num jardim publico, tinhamos de marcar o campo com a cal e por os postes, e no final dos jogos limpar tudo. nao sobrava uma beata no chao. assim era a america (e no meu clube MRRC ainda é).