3 de dezembro de 2014

TOMAZ MORAIS FALA DOS SEVENS EM PORTUGAL COM ENTUSIASMO

O Director Técnico Nacional, Prof. Tomaz Morais, deu muito recentemente uma entrevista ao Mão de Mestre em que foram abordados diversos temas, falando abertamente sobre os temas propostos sem rodeios, frontalmente e claramente, como sempre tem feito.

Tomaz Morais voltou esta época a ter responsabilidades directas sobre as nossas selecções de seniores, e elas - tanto a selecção de XV, como a selecção de Sevens - foram o tema principal das nossas conversas.

Não respeitando a ordem em que os assuntos foram abordados, o Mão de Mestre aproveita a oportunidade da realização na sexta e no sábado, do Torneio de Sevens do Dubai, para publicar hoje a parte da conversa que recaiu sobre a variante reduzida.

Mão de Mestre (MdM): Tomaz Morais, na última vez que tive o prazer de te entrevistar, no verão de 2012, estavas afastado da direcção técnica das seleções nacionais, com Errol Brain na seleção de XV e Frederico de Sousa nos 7’s.
Hoje, passados quase 30 meses, passaste a ter de novo um papel activo junto das nossas representações nacionais e em relação aos sevens, nomeaste como treinador principal o Pedro Netto Fernandes, com quem trabalhaste durante anos na nossa seleção de 7’s, que foi afastado das seleções após a vitória no Europeu de 2011 sem que alguma vez se tenha sabido porquê, e que regressou no ano passado, como adjunto do Frederico de Sousa.

Tomaz Morais (TM): O Pedro Netto Fernandes foi convidado por mim, ele tinha o seu contrato
terminado e eu achei que neste final de ciclo o Pedro tinha todas as condições como treinador de sevens para estar comigo no terreno e com outro treinador que eu convidei prontamente que foi o Prof. Rui Carvoeira para podermos fazer um trabalho alargado com os sevens em Portugal e
fazermos a separação efectiva, de que falámos os dois tantas vezes nas nossas viagens, e que nunca conseguimos concretizar por diversos obstáculos que tivemos e que não conseguimos contornar e algumas forças de bloqueio também que havia na altura como a falta de jogadores de qualidade para representar Portugal nas mais diferentes competições.
Tivemos a coragem de o fazer, constituir um grupo forte, sempre passando aquilo que nos foi transmitido que o primeiro objectivo estratégico para o ano de 2014-2015 é claramente a selecção nacional de sevens.
Escolhemos os jogadores que estavam disponíveis, outros há que convidámos e não aceitaram o convite porque não tinham disponibilidade para o fazer, e com aqueles que aceitaram nós avançámos para um projecto que desenhámos, que escrevemos e que em primeira mão mostrámos aos jogadores e eles concordaram, passámos depois para fora, aos clubes numa reunião que fizemos, e à Direcção da Federação que depressa aprovou sem qualquer contestação e estamos a levá-lo à prática com muito trabalho, um trabalho muito duro, com grande rigor, e a escolha do Pedro Netto Fernandes passava exactamente por isto, é uma pessoa que tem uma obstinação muito positiva pelos sevens, tem uma paixão muito grande por esse jogo, na sua vida de rugby acabou por optar, como poucos treinadores o fizeram, apenas pela variante de sevens, e eu acho que o Pedro tem clara capacidade para estar neste projecto comigo, e portanto o convite que lhe fiz é um convite que se deve à sua competência.
Quanto à sua saída em 2011 ela ficou a dever-se ao facto do Errol Brain e do Frederico de Sousa acharem que não fazia sentido haver muitos treinadores, e que eu próprio também não devia estar ligado às selecções de sevens.

MdM: Bom quanto à nossa selecção de sevens acho que deve ser referido que o seu comportamento tanto no Campeonato da Europa como no Circuito Mundial, tem estado muito aquém do que se poderia esperar, e ainda que, em nossa opinião, tem sido difícil de compreender qual a importância
que a FPR deu à equipa desde 2010 e até agora, sem um critério claro quer em relação aos jogadores que a compões, quer à importância dada às provas em que participa.
Por isso gostava que nos dissesses o que se pretende com a selecção de sevens, qual a sua importância no contexto do rugby português, quais são os jogadores que a constituem e os seus objectivos quanto às provas em que participa, nomeadamente o Circuito Mundial, o Grand Prix da Europa e o Apuramento para os Jogos Olímpicos.

TM: Acho que desde 2010 tem sido muito mais difícil conjugar as duas selecções e em determinados momentos a opção principal recaiu sobre a selecção de XV, nomeadamente o apuramento para o Mundial. 
A Direcção da Federação, tanto na sua comunicação externa como no seu plano estratégico nunca disse o contrário, e disse que nos momentos em que pudesse conciliar os objectivos da selecção de XV com os sevens, o faria, como no caso da permanência no Circuito Mundial e a aposta em alguns torneios, com a presença dos seus melhores jogadores nessa variante.
No final do ano passado foi feita uma reflexão muito importante por parte da Direcção da Federação, que disse que vamos para a qualificação Olímpica, estamos suportados pelo programa de preparação Olímpica português, e portanto temos que apostar nessa variante e temos que separar as águas, nomeadamente em termos de treinadores.
Isso não acontece no meu caso, que estou nas duas selecções, mas acontece também nos jogadores, em que temos que apostar num grupo fixo, num grupo residente, que esteja disponível para a preparação dos sevens na sua totalidade.

MdM: Desculpa interromper, mas disseste que essa reflexão foi feita tendo fundamentalmente em consideração o apuramento Olímpico. 
A pergunta que é obrigatório fazer neste momento é se toda esta estrutura que agora está montada, depois do apuramento Olímpico ou não apuramento Olímpico simplesmente desfaz-se e voltamos à mesma situação do passado?
TM: Eu não posso responder a isso. Aquilo que me foi proposto pela Direcção foi até 31 de Agosto de 2015, e eu só posso responder até essa data.
Agora ficaria muito triste enquanto alguém que vive, que adora o rugby, e adora o rugby português e acima de tudo confia e acredita nele, e quero sublinhar isto, ficaria triste se nós não conseguíssemos continuar num projecto deste género e não conseguíssemos continuar a ter uma equipa apoiada, que pudesse ter alguns bons jogadores com experiência e lançar novos jogadores jovens nesta variante.
Porque Portugal tem que se honrar de estar no Circuito Mundial. 
Estão lá 15 equipas, são 15 potencias económicas mundiais, com raras excepções, com uma enorme capacidade de recrutamento de jogadores, com Federações muitíssimo fortes do ponto de vista financeiro e humano, e nós estamos lá no meio. 
Portanto eu acho que a nossa saída dali seria um erro estratégico muito grande, seria uma perda muito grande para os jovens que nós estamos a formar nos clubes e na Academia, não terem oportunidade de representar Portugal no Circuito Mundial.
Nós aparecemos em nove situações da máxima importância à volta do mundo, onde somos vistos por milhões de pessoas e o rugby português, – e custa engolir, custa ouvir para muita gente - o nome de Portugal no rugby surge muito mais nos sevens que no XV. 
Tem sido assim ao longo dos anos, nomeadamente depois de 2007 e da presença no Mundial, e seria uma perda irreparável se nós não nos conseguíssemos manter no Circuito Mundial, que é altamente complicado.
Eu estive lá, sei como o Circuito está a ser encarado, as equipas estão excepcionalmente bem preparadas, com especialistas de variadíssima ordem, a apostarem profissionalmente com salários muito elevados dos jogadores, e nós vamos estando, cada vez melhor é verdade, pois foram criadas condições melhores que não havia no passado para esta selecção de sevens, mas nesse aspecto da preparação e da constituição ainda estamos algo longe dos adversários.
Agora, temos conhecimento do jogo, temos muito querer, temos capacidade e vamos querer lutar pela manutenção neste Circuito com tudo o que estiver ao nosso alcance
Queremos garantir isso o mais depressa possível, mas sabemos que isto vai ser jogado ao ponto, vai ser jogado a cada segundo, temos que ser muito assertivos nos jogos em que queremos ganhar, temos que ser realistas e saber jogar as nossas cartadas - como de certa forma soubemos na Gold Coast - para sabermos pontuar e deixar adversários atrás de nós. Na Austrália ficámos à frente do Canadá, do Quénia e do Japão, e um deles, o Japão, nós sabemos que é uma das maiores potências em termos do número de jogadores e investimentos feitos no mundo do rugby nas duas últimas décadas.
Portanto sabemos onde estamos, sabemos com quem estamos, mas também sabemos como equipa para onde queremos ir.
Qualquer pessoa no rugby português sabe que sairmos do Circuito Mundial era uma grande perda.
Repara que no rugby europeu, à excepção dos países britâncios e da França, da Europa só estamos nós.
Isso fala por si, tanta palavra para quê, na verdade.

MdM: Essa questão que referiste de algumas pessoas terem dificuldade em aceitar que os sevens nacionais têm tido um papel fundamental na divulgação do nosso rugby por todo o mundo, vê-se por exemplo quando nós temos oito títulos de campeões europeus na variante e não aproveitamos isso, não divulgamos, não fazemos pressão junto dos mídia, não fazemos pressão junto do poder dizendo: Nós fomos campeões da Europa por oito vezes em 13 anos, ganhámos 57% dos campeonatos da Europa que se realizaram até agora.
Ou seja, a impressão que dá para quem está de fora, em relação ao que fazemos com a nossa selecção de sevens, é que estamos fazendo umas coisas, mas são coisas sem importância, ninguém liga a isto.
Por isso eu te pergunto mais uma vez, qual a importância, no contexto do rugby português, que a selecção de sevens tem, quais são os objectivos quanto às provas em que participa.
TM: O primeiro dos nossos objectivos é claramente a manutenção no Circuito Mundial, porque
achamos imperial para o futuro do rugby português esta manutenção, pois é aí que estamos junto dos
melhores, é aí que podemos jogar contra os melhores, já que no rugby de xv isso não nos é permitido, mesmo que tivessemos por mérito essa capacidade de  jogar contra a Inglaterra, contra a França, etc, e só podemos jogar um Mundial de quatro em quatro anos, e vamos depois jogando contra equipas da segunda linha mundial, como é o caso da Namíbia, do Canadá, de vez em quando as Fiji, e não podemos jogar contra os melhores.
Nos sevens podemos, nos sevens podemos inclusivé jogar contra as nações com mais nome no mundo do rugby, portanto para nós é imperial esta manutenção que foi conseguida com muito trabalho de muita gente, os jogadoress estão totalmente empenhados nesse objectivo.
O segundo objectivo é voltarmos a estar no grupo das quatro primeiros do Grand Prix da Europa, e estando aí podermos atacar o título europeu novamente, mas cá está, ele vai ser jogado em final de época e nós queremos e temos vindo a utilizar um grupo fixo de jogadores, mas estamos a utilizar mais jogadores porque queremos chegar com alguma frescura física ao final do ano pois uma

das fases para o apuramento para os jogos Olímpicos será disputado também durante o Grand Prix.
O Grand Prix será disputado em quatro Torneios, dois deles em Junho e os outros dois em Julho, e não podemos esquecer que o ponto alto da época de sevens será em Maio – com duas etapas do Circutio Mundial – em Junho e em Julho, e temos portanto que estar em grande forma nessa fase e por isso temos feito o nosso planeamento e temos jogado com essa prespectiva, temos que ser inteligentes, para chegarmos a esse momento bem e termos os melhores jogadores na melhor forma de sempre para podermos tentar esse objectivo.
Depois tudo vem por acréscimo.
Se conseguirmos fazer um grande Grand Prix temos possibilidade de nos qualificarmos para os jogos Olímpicos que é para isso que estamos a trabalhar.
E se não conseguirmos o apuramento directo no Grand Prix - o vencedor tem presença garantida nos Jogos Olímpicos - ainda nos resta o Torneio de Apuramento para o Torneio de Repescagem Mundial, que se realiza no primeiro fim de semana de Agosto.

MdM: E como tem corrido a preparação da equipa?
TM: Começamos às 7 da manhã como fizemos esta semana duas vezes e depois ao final da tarde e algumas vezes à hora do almoço, e os jogadores têm sido inexcedíveis, têm estado 100% presentes, a dar tudo, e é isso que nós queremos, e estou convencido que se assim continuarmos vamos alcançar bons resultados na Fórmula Um do rugby Mundial, onde tudo é jogado ao milímetro e ao segundo, e as equipas estão todas muito equilibradas à excepção das quatro, cinco primeiras que cravaram um fosso para as outras como acontece também no rugby de XV.

4 comentários:

Anónimo disse...

Até que enfim que alguém nos diz o que se espera da nossa seleção de sevens!

Anónimo disse...

Uma visão que só tem de ser aplaudida! Parabéns e um abraço forte ao Rui Carvoeira, um "velho" companheiro!

Manuel Cabral disse...

ESCLARECIMENTO
Recebi há poucos minutos um comentário reclamando pelo facto de eu não publicar um outro comentário que, alegadamente, "reporia a verdade dos factos" em relação ao que Tomaz Morais nos disse.
Fui procurar nos comentários rejeitados e o único que encontrei que dizia alguma coisa sobre as afirmações de Tomaz Morais, dizia assim (e transcrevo):
Consta nos mentideros...Consta também...E consta por aí...

Claro está que esta reclamação, como o dito comentário, são anónimos, o que só por si os desclassifica, mas é preciso ter lata de reclamar e notar a nossa falta de isenção, quando se faz um comentário com base no que consta por aí...

Claudio disse...

Alguem sabe se Steevy Cerqueira (2,04 m - 102 kg - 21 ano) do Lyon (que jogou os 80 minutos esta noite na challenge cup) esta em vista ?

Abraço.