1 de dezembro de 2011

PRIMEIRONA - A LUPA DO MÃO DE MESTRE


CONCLUÍDA A PRIMEIRA VOLTA DO CAMPEONATO NACIONAL DA 1ª DIVISÃO algumas conclusões se podem tirar da análise dos resultados e da respectiva classificação.

Esta é, como todas as outras que se escrevem nestas páginas, uma visão pessoal do que se passou e uma interpretação dos fatos elaborada com franqueza, honestidade e expressa com palavras simples e diretas.

Nunca por aqui passaram recados seja de quem for, e tudo o que neste portal é escrito, mesmo quando se critica ou reclama, é feito com um ingrediente essencial - respeito por todos e cada um daqueles que se dedicam a este desporto.

Vem isto a propósito de alguns comentários aos nossos textos (meus ou de colaboradores), que tem sido enviados através das caixas de comentários desses mesmos textos, em que uns certos idiotas, a coberto do anonimato, insultam, utilizam uma linguagem própria de quem não respeita os seus próprios pais, e ainda pretendem que tais verborreias sejam publicadas!

É claro que não o faremos, sem prejuízo de continuarmos a publicar aqueles comentários que sejam feitos com educação e respeito, mesmo quando nos criticam ou discordam das nossas opiniões, e desafiamos quem assim queira contribuir para o diálogo e a convivência, que o faça identificando-se.

Mas vamos ao tema de hoje!

Começando pelo fim, vamos encontrar o Caldas Rugby Clube que foi, sem sombra de dúvida, a equipa mais fraca de todas as que disputaram a prova.

O Caldas esteve envolvido no verão passado, num processo de re-organização que envolveu duas outras equipas – Marinhense e Peniche – que tem todas as condições para ser bem sucedido, mas que não é fácil de gerir, em particular num momento em que a equipa que lidera o processo se vê "metida" numa promoção da 2ª para a 1ª divisão, para a qual não estaria – no momento – completamente preparada.

Claro está que a sequência de maus resultados pode vir a afetar todo o referido processo, mas em nossa opinião ele não deverá, de modo nenhum, ser abandonado – as dificuldades e os entraves podem ser elevados, mas com paciência e persistência o resultado só pode ser positivo.

E mesmo olhando para os resultados – sete derrotas em sete jogos – com atenção verifica-se que os caldenses conseguiram numa ocasião (Lousã) obter o ponto de bônus defensivo, e noutras duas situações (Évora e Setúbal) estiveram muito perto de conseguir o ponto de bônus de ataque ao marcarem três ensaios.

Ou seja, embora perdendo, o Caldas deu – nessas três ocasiões – muito boa conta do recado.

Naturais foram as pesadas derrotas frente ao CRAV e ao Cascais, e apenas contra o Santarém (na primeira jornada) e o Montemor (na segunda jornada) se poderia esperar mais da formação do Oeste.

Vamos acompanhar com atenção a segunda volta e os resultados que a equipa vai conseguir, com a certeza de que o pior que pode acontecer será o envolvimento por uma onda de desalento, que em nada se justifica.

Esta é uma situação típica de uma equipa que necessita de mais tempo para se integrar no ritmo e nas exigências competitivas da divisão a que sobe, e uma eventual descida à divisão de origem em nada beneficiará quer o clube quer o conjunto do rugby nacional e a sua urgente necessidade de crescimento.

Já abordamos esta questão em relação à DH e o mesmo se aplica à 1ª divisão – apenas o seu alargamento poderá contribuir para o desenvolvimento e crescimento global do rugby português.

Alguns argumentam que isso poderá prejudicar as melhores equipas – isto é, Agronomia, Direito, CDUL, Académica e Belenenses – mas a verdade é que o salto qualitativo dessas equipas nunca se encontrará no âmbito das competições nacionais, que devem, por outro lado, preocupar-se sim, com o desenvolvimento global do nosso rugby (em quantidade e qualidade).

Continuando a analisar as equipas na sua posição na tabela classificativa, encontramos um duo curioso composto por Vitória Futebol Clube de Setúbal e Rugby Clube de Santarém, com o mesmo número de pontos, o mesmo número de vitórias, o mesmo número de pontos de bónus e (quase) o mesmo saldo de pontos marcados sofridos, com a vantagem a ficar do lado escalabitano em virtude da sua vitória no confronto direto entre as duas formações.

Já o dissemos anteriormente e repetimos que o Santarém surpreendeu pela forma como conseguiu integrar-se na divisão, fazendo esquecer desde o princípio a sua condição de recém promovido.

Naturais as derrotas frente ao Cascais e ao CRAV, e a vitória sobre o Caldas – afinal uma confirmação do que se passou na Segundona no ano passado, apesar de não ter havido um confronto direto entre as equipas – mas um sucesso excelente frente ao Setúbal, uma equipa com um traquejo diferente e de quem se esperaria mais.

Quanto às derrotas frente ao Montemor e à Lousã, elas em nada mancham a equipa do Ribatejo, bem pelo contrário, e os pontos de bônus conseguidos nesses encontros são a melhor prova desta afirmação.

Agora só há que continuar a trabalhar, mantendo os níveis competitivos alcançados nos seniores (ou conseguindo a sua melhoria!) e aumentando o número e a qualidade dos seus escalões mais jovens – os resultados vão aparecer, mas apenas como resultado do trabalho interno que se desenvolver.

Quanto ao Setúbal, a questão é mais complexa, e da equipa que no ano passado venceu, em casa, Cascais, CDUP, Lousã e Évora, esperava-se que se apresentasse este ano disposta a lutar por um lugar nos quatro da frente, situação que lhe fugiu em 2010-11 apesar das seis vitórias conseguidas, uma a menos que o quarto colocado (Montemor).

Não foi nada disso que aconteceu e a sua posição na metade inferior dos quatro de baixo leva a pensar existirem outros fatores a influenciar a situação, que não serão do conhecimento do público.

Sem contestação as derrotas frente ao CRAV, ao Cascais e à Lousã, mas inesperada a que sofreu perante o Santarém, já que se exigia uma vitória perante uma das novas participantes no escalão, e, em menor grau, a incapacidade de repetir a vitória em casa frente ao Évora.

O momento alto do Setúbal foi a vitória frente ao Montemor em casa (o ano passado perdeu por 10-19), e ganhar nas Caldas da Rainha tem que se considerar um resultado “normal” – em resumo, muito pouco para quem tinha obrigação de fazer muito mais...

O Rugby Clube da Lousã foi outra das desilusões desta primeira volta, já que tudo indicava que os serranos tinham intenção de apostar fortemente pela disputa dos lugares cimeiros da prova – o que ainda pode vir a acontecer – mas a derrota em Évora na primeira jornada fez bailar nos lábios da critica a velha máxima que “a Lousã viaja mal...”

No entanto, os lousanenses cumpriram as suas obrigações nas restantes viagens realizadas (vitórias nas Caldas e em Santarém, e ponto de bônus defensivo em Arcos de Valdevez) e acabaram por ter um menor rendimento em casa, nomeadamente com a derrota com o Montemor (na época passada venceram por 27-13), já que a vitória frente ao Setúbal era uma “exigência”.

A quatro pontos de um lugar no grupo dos apurados, a Lousã tem pela frente uma tarefa muito difícil, apesar dos quatro jogos que vai realizar no Estádio José Redondo, em que não pode falhar para acalentar a esperança de se apurar, e onde as viagens a Setúbal, Montemor e Cascais serão determinantes.

O Rugby Clube de Montemor segue na quarta posição, com quatro pontos de vantagem sobre o seu mais direto perseguidor, a Lousã, e tem todas as condições para segurar o apuramento.

Depois de um início em que se aguardava a repetição da vitória do ano passado em Setúbal (onde venceu também para a Taça), mas que se concluiu com uma derrota de que se salvou o ponto de bônus conseguido, o Montemor cumpriu a sua obrigação frente ao Caldas e ao Santarém, foi buscar os pontos da vitória à Lousã, onde perdera em 2010-11, e teve o ponto alto do ano com a vitória sobre o líder até então invicto, o CRAV.

As derrotas sofridas perante o Cascais e o Évora, apesar de confirmarem o que se passou na época passada, acabaram por empurrar os alentejanos para uma situação que pode tornar-se desagradável, apesar de sabermos que “candeia que vai à frente...”

Em relação a estas derrotas, o histórico recente apenas se confirmou, já que dos quatro encontros que teve com os cascalenses na época transacta, o Montemor perdeu três, tantos quanto realizou e perdeu face aos seus companheiros de região, o Clube de Rugby de Évora.

Concluindo, o Montemor tem o apuramento nas mãos, mas tem que demonstrar dentro de campo que é capaz de repetir os êxitos recentes, nomeadamente frente à Lousã - sob risco de ver o apuramento fugir entre os dedos...

Na terceira posição segue o Clube de Rugby de Évora, que este ano disputa os jogos em casa..fora de casa!, já que a deslocação quinzenal a Arraiolos é uma enorme desilusão para todos os que acreditam (ou acreditaram...) que o rugby tinha um lugar na histórica cidade do Templo de Diana.

Como compreender que não seja possível encontrar um local para jogar rugby na cidade que já produziu tantos bons jogadores, e trouxe para Portugal a Taça Ibérica de Juniores em 2001?

Será a culpa de quem? Da Câmara Municipal? Da Federação Portuguesa de Rugby? Do Instituto Nacional dos Desportos? Ou simplesmente do...Clube de Rugby de Évora?

Ou será que isto tem também a ver com a incapacidade dos alentejanos criarem a sua própria Associação Regional de Rugby, e haver mesmo alguns que preferem manter a ligação umbilical com Lisboa, em vez de se afirmarem como força desportiva na região?

Apesar de todas as dificuldades, a verdade é que o Évora lá vai, economicamente, ganhando o que precisa de ganhar para se manter no grupo dos quatro, tendo chegado à volta do campeonato com derrotas apenas frente ao CRAV e ao Cascais...

E se as vitórias frente ao Caldas e ao Santarém devam ser encaradas com naturalidade, e Montemor e Lousã já tinham perdido frente aos alentejanos na última época, a verdade é que a vitória em Setúbal foi uma melhoria em relação ao ano passado (derrota por 23-22), enquanto a derrota em casa, frente ao Cascais, foi uma quebra em relação à vitória conseguida em Novembro de 2010 (26-25).

Quanto ao resto, não pode deixar de ser encarado com alguma surpresa o fato do Évora ter o pior saldo de pontos marcados/sofridos das cinco primeiras equipas da tabela classificativa, e apenas estar acompanhado pelo Caldas com um solitário ponto de bônus...

Ou seja, o Évora segue na terceira posição, mas falta firmeza na sua posição, parece que tudo está preso por arames – o que levanta algumas dúvidas quanto à sua capacidade de manter um lugar entre os quatro apurados, apesar de ter conseguido manter a sua posição de melhor equipa alentejana...

Quanto às duas primeiras equipas, separadas por dois pequenos pontos de bônus, o Cascais além da derrota frente ao CRAV, apenas no jogo com o Évora e a Lousã pareceu sentir algumas dificuldades, já que nos restantes cinco jogos marcou 35 ensaios e sofreu sete, apresentando um saldo geral de pontos marcados/sofridos de 186.

Depois duma jornada inaugural contra o recém rebaixado CRAV, e duma desagradável, mas de certo modo natural derrota, os cascalenses conseguiram mostrar o seu valor e foi com facilidade que derrotaram Setúbal, Santarém e Montemor, e, sem facilidades, o Évora (14-6) e a Lousã (38-20), na última jornada.

O CRAV, indiscutivelmente a melhor equipa da divisão até este momento – apesar da derrota frente ao Montemor na quinta jornada – somou pontos de bônus em todos os jogos realizados (seis de ataque e um de defesa), tem o melhor saldo de pontos marcados/sofridos (203), e a única dúvida quanto ao seu favoritismo para a subida de divisão reside na sua capacidade (ou falta dela) de manter a concentração e os níveis competitivos, face à generalizada fraqueza dos seus adversários – o CRAV já marcou 42 ensaios e sofreu apenas quatro, e mesmo no jogo que perdeu no Alentejo, marcou dois e sofreu apenas um – os restante foram obtidos pelo Cascais (2) e Lousã (1).

Para concluir, a primeira volta da Primeirona disse que CRAV e Cascais não vão falhar a qualificação, e de Évora, Montemor e Lousã, um ficará de fora dos apurados, tendo cada uma destas equipas aspetos que as favorecem e outros nem tanto...

Quanto a Santarém e Setúbal, só um terramoto lhes permitirá entrar na luta dos melhores, enquanto ao Caldas resta a esperança de conseguir a difícil aquisição de experiência e consistência necessária a evitar, na segunda fase da prova, o regresso à Segundona.

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