24 de fevereiro de 2016

UBUNTU VENCE BELAS EM JOGO COM MUITOS ENSAIOS

Num calendário cheio de buracos que não houve a coragem de reorganizar a zona Sul/Lisboa da Segundona viu apenas a realização de um jogo - em contraste com a zona Norte/Centro, pujante, que encheu os campos com quatro encontros cheios de interesse!

Um único jogo, mas que atraiu a atenção, e encheu a manhã do Estádio Nacional com 11 ensaios marcados e um enorme entusiasmo de parte a parte, Ubuntu e Belas, mostraram ao que vieram e demonstraram que há rugby entre Lisboa e Sintra!

Lamentavelmente o jogo em atraso entre o United XV e o Loulé não se realizou por falta de comparência do United - que avisou antecipadamente os algarvios que não poderiam apresentar-se em campo.
Como consequência deste desfecho, o Loulé somou os cinco pontos de uma vitória bonificada, mas não contabilizou ensaios, o que se nesta situação concreta não terá reflexos em termos de classificação - o numero de ensaios marcados é o terceiro fator de desempate em caso de igualdade pontual, depois do número de vitória e do diferencial entre pontos marcados e sofridos, e se você acha que isso não é importante, olhe para a tabela classificativa da zona Norte/Centro, onde o Guimarães está na frente da Agrária, graças a mais dois ensaios marcados! - mas que pode muito bem ser decisiva.
Aconselha-se a revisão desta norma.

UBUNTU RUGBY 42-37* RC BELAS (6-5)

Numa manhã de bastante sol, com duas equipas muito novas e cheias de vontade de crescer, o Belas entrou melhor no jogo e aos 10 minutos vencia por 13-0.
Mas o Ubuntu não baixou os braços e o intervalo chegou com 20-14 favoráveis aos esquilos.

No segundo tempo manteve-se o equilíbrio com as equipas a marcarem por diversas vezes - um total de 11 ensaios encheu os olhos de quem assistiu ao encontro - com o Ubuntu a conseguir sobrepor-se ao adversário nos derradeiros 10 minutos da partida, acabando por vencer, mas o Belas segurou o ponto de bónus que lhe garante a quarta posição, pelo menos por mais uma semana.
O dia foi do Ubuntu, e deixamos aqui o testemunho de quem conhece a equipa por dentro e sentiu necessidade de dar a conhecer a sua realidade, Luis Andrada, antigo jogador do Cascais e do CDUL, e hoje Diretor da Equipa do Cacém:

Vi estes jovens adultos nos últimos anos: 
  • Correr 20Km numa noite de 6ª feira para treinar em relvado e jogar no sábado de manhã seguinte (não tínhamos dinheiro para alugar relvado nem carros para os transportar a todos…) 
  • Treinar à luz dos faróis dos carros (não tínhamos dinheiro para a electricidade) 
  • Durante 3 anos não tivemos água nos balneários (e depois durante 1 ano só a tivemos fria…). Apenas desde Novembro último é que tivemos acesso a balneários com água quente. 
  • Vi-os largar comportamentos desviantes e (devido à auto-estima que o rugby incute) procurarem empregos. 
  • Ouvi: “Treinador, é a 1ª vez na minha vida que tenho que cumprir horários”. Este jogador em particular era ex-presidiário e, actualmente, é electricista (e dos bons). 
  • Foi-nos recusada a entrada como secção de rugby em 4(!) clubes de futebol na área do Cacém sempre que começámos a ter mais de 20 seniores nos treinos e, actualmente, 30 jovens abaixo dos 18 anos. Luta intensa contra o lobby/máfia do futebol. Chegaram ao ponto de nos retirar o pelado onde treinávamos na véspera de jornada decisiva sem nos avisar e já quando tínhamos fundos para pagar o aluguer do mesmo… 
  • Relvado: treinamos atualmente (e desde Novembro 2015) num relvado sintético de… futebol de 5.  E foi a 1ª vez que tivemos relva nos treinos, desde sempre!! Jogos: temos que alugar no Jamor. 
  • Esse apoio provêm de um protocolo assinado entre o Instituto Padre António Vieira, IPAV (instituto católico ligado aos Jesuítas) e a CM Sintra. Apostaram no rugby porque acreditam ser uma óptima ferramenta de formação dos jovens e de criação de líderes. Mas não se iludam: os estatutos desse instituto não lhes permite transferir fundos para desporto! Logo, dão-nos o nome, recursos humanos (o que já é óptimo), mas o resto tem que ser tudo esforço nosso.
  • RH’s: somos 3 adultos. 2, no dia-a-dia. Mais ninguém. E eu moro em Lisboa… 
  • Camadas jovens: devido a iniciativa completamente ad-hoc nossa visitámos 10 escolas na área, nos intervalos do campeonato e ao longo de 2 anos (não temos RH’s para mais…) e conseguimos 30 jovens regularmente nos treinos. Pretendemos apresentar a 1ª equipa a competição na próxima época. 
  • Equipa de séniores: no início da época 2014/2015, o rugby do Sporting levou-me 3 jogadores e outros 10 emigraram devido à fraca condição económica. Fomos parar aos emergentes. Houve 2 jovens jogadores que aguentaram, reconstruíram e melhoraram os séniores. Por um triz não acabámos… Logo, muitos dos jogadores que ganharam este fim-de-semana apenas começaram a jogar esta época (nunca, nunca tinham pegado na oval!). 
Para quem só pensa em selecções nacionais e academias de alto rendimento, um exemplo do que é verdadeiramente importante...

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