4 de fevereiro de 2016

6 NAÇÕES ESCOLHE CAMPEÃO EUROPEU, QUINTO DO MUNDIAL...*

* Victor Ramalho
Finalmente chegou a hora de conhecermos o quinto colocado do Campeonato do Mundo!
Ou melhor, o campeão europeu de 2016!
Brincadeiras de lado, no sábado, será dado o pontapé inicial para a mais antiga competição de seleção do mundo do rugby – e uma das mais antigas do mundo do esporte.

É hora de assistirmos ao Torneio das Seis Nações, ou Six Nations, uma instituição do rugby disputada anualmente desde 1883!


Quem leva essa?
Com a poeira da Copa do Mundo já mais baixa, uma coisa ninguém nega: todos os europeus têm algo a provar, e com urgência, após o desempenho ruim do continente na Inglaterra 2015.

Quem vive sob maior pressão são justamente as potências Inglaterra e França, que sofreram os maiores reveses, lamentando campanha genuinamente desastrosas, ao passo que a Irlanda, atual bicampeã europeia, mais uma vez morreu na praia e perdeu o brilho de outrora.

E a Itália conseguiu descer mais um degrau em seu arranhado prestígio internacional, com desempenho pífio.

Gales e Escócia, por outro lado, apesar de caírem nas quartas de final, foram os únicos que saíram do Mundial com saldo positivo e com mais elogios do que críticas.

Tanto Inglaterra como França trocaram de treinador após o Mundial e esperam reconstruir seus caminhos.
Os ingleses são agora comandados por Eddie Jones, australiano que conduziu o Japão a uma brilhante campanha no Mundial.
Logo no começo de seu trabalho, o treinador que já comandou os Wallabies (e foi derrotado pela Inglaterra na final da Copa do Mundo de 2003) apostou em um novo capitão, o hooker Dylan Hartley, e trabalha para levar harmonia e confiança a uma geração que é talentosa, mas padeceu no Mundial de falta de comando e excessiva inexperiência para suportar a pressão.

Sem vencer o Six Nations desde 2011, a Inglaterra de Jones sabe que para passar a borracha no vexame em casa no Mundial – quando foi a primeira seleção sede na história da Copa do Mundo de Rugby a ser eliminada na fase de grupos – o que é preciso é um título do Six Nations.

A França trocou de comandante também, trazendo o vitorioso Guy Novès para reconstruir os Bleus. Novès era a opção unânime no país e de longe o técnico mais respeitado por todos, seja atletas, imprensa ou torcedores.

A missão do ex comandante do Toulouse é fazer renascer o espírito coletivo dos Bleus e o orgulho de representar o país da parte dos atletas, que vivem cada vez mais focados em seus milionários clubes. Capitão novo – e hooker – também está na receita de inicio de trabalho de Novès, após a aposentadoria do respeitado Dusautoir do XV de France.
É Guirado quem liderará a nova França, que também está de olho na renovação do elenco.

A Irlanda saiu de um segundo título europeu para uma eliminação melancólica diante da Argentina no Mundial e a uma crise como há muito não se via em suas equipes na Champions Cup e PRO12.
Sem Paul O’Connell para liderar o Trevo, o técnico Joe Schmidt precisa urgentemente elevar o moral da equipe verde, e precisa de líderes para isso, sobretudo em um momento tão difícil.
Será Rory Best, o novo capitão, o homem para reconduzir aos triunfos os Homens de Verde?

Gales vai mais confiante para a disputa, depois de uma ótima Copa do Mundo, que acabou com duas sofridas e apertadas derrotas para Austrália e África do Sul.
Os galeses sofreram incontáveis problemas com lesões no elenco e ainda assim se superaram para saírem do Mundial de cabeça erguida.
O amadurecimento de homens como Warburton, North, Faletau, Biggar e Gareth Davies, aliada à experiência de Alun Wyn Jones ou Jamie Roberts oferece confiança de um elenco forte.
A fragilidade está no rugby doméstico, com mais fracassos de suas equipes tanto no PRO12 como na Champions Cup.

A Escócia foi a seleção europeia que mais impressionou no Mundial, tendo tudo para avançar às semifinais, o que não ocorreu por conta de detalhes na partida contra a Austrália nas quartas.
A geração escocesa é a melhor desde o último time do pais campeão europeu, em 1999.
Com uma linha hábil, veloz e definidora como há muito não se via no país, a Escócia, finalmente, volta a ser candidata a título.
Mas, o técnico Vern Cotter sabe que, apesar da boa campanha no Mundial e do título do Glasgow Warriors (base da seleção) no PRO12 passado, a Escócia chega a 2016 depois de terminar no amargo último lugar do Six Nations 2015.
Acima de tudo, a missão deve começar com recuperar a rotina de vitória no torneio do lado do Cardo.

Por fim, a Itália é, mais do que nunca, favorita à Colher de Pau, vinda de uma desastrosa campanha no Campeonato do Mundo e vendo seus times de PRO12 seguindo a tradição de campanhas pífias em suas temporadas.
Jacques Brunel sobreviveu no comando dos Azzurri e busca uma renovação completa no elenco, mas mantendo sua confiança no trabalho de seus forwards veteranos, sobretudo Sergio Parisse.

Quando o assunto é Six Nations, o calendário deve ainda ser ponderado. E ele favorece França, Gales e Irlanda, que jogam três vezes em casa.
Os três terão pela frente em seus domínios a combalida Itália, sendo que nos duelos mais difíceis a França receberá a Inglaterra e a Irlanda, mas visitará Gales, enquanto os galeses visitarão os irlandeses logo na primeira rodada, em partida que poderá vir a ser determinante para ambos. 

Já ingleses e escoceses farão apenas dois jogos em casa, sendo que os eternos rivais duelam na Escócia na primeira rodada, em jogo crucial às pretensões de ambos.
Se passar pela Escócia, a Inglaterra passará a ter o favoritismo, pois receberá Gales e Irlanda, enquanto a Escócia terá mando depois apenas contra a França.

Para “sair do muro”, a composição da tabela favorece o renascimento de França e Inglaterra, não é boa para a Irlanda e Itália, e apresenta-se como neutra (em pontos positivos e negativos) a Gales e Escócia.

Formato, taças e tradições
As seis seleções se enfrentarão em turno único, com cinco partidas para cada equipes (três ou duas em casa, dependendo do ano) e, diferente de outros campeonatos de rugby, não haverá disputa de ponto bônus nas partidas. Seguindo a tradição imutável, no Six Nations a vitória vale 2 pontos e o empate 1 ponto.

Mas as tradições não param ai. No Six Nations, há muito mais em jogo além do título do campeonato. Para muitos jogadores e torcedores, muito mais importante que o título é o Grand Slam, a glória máxima do torneio, conferido ao time que for campeão com cinco vitórias em cinco jogos. Inversamente, a equipe que perde todos os seus jogos fica com a chamada Colher de Pau (Wooden Spoon), que é igualmente contada ao longo da história. Mas, quem acaba em último pode ser rebaixado? Não, não existe rebaixamento no Six Nations, pois trata-se de uma liga fechada, organizada pelos seis países participantes.

Entre as taças, estão ainda em disputa a: Tríplice Coroa (Triple Crown), disputada entre Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda e dada ao time que vencer todos os seus confrontos diretos entre os quatro países; a Calcutta Cup, a taça mais antiga do mundo do rugby ainda em disputa entre seleções, lançada em 1879 e dada ao vencedor de Inglaterra-Escócia; o Centenary Quaich, dado ao vencedor de Irlanda-Escócia; o Millennium Trophy, dado ao vencedor de Inglaterra-Irlanda; e o Troféu Giuseppe Garibaldi, dado ao vencedor de França-Itália.

Entre as mulheres, Six Nations vale vaga na Copa do Mundo
Além do Six Nations masculino adulto, o Six Nations organiza mais dois torneios paralelos e disputados ao mesmo tempo que o torneio mais famoso. Tratam-se do Six Nations Feminino e do Six Nations M20 (masculino), que têm formatos idênticos ao Six Nations.

O torneio feminino deste ano será ainda mais importante porque valerá como qualificatório para o Campeonato do Mundo Feminino de 2017, que acontecerá na Irlanda. 
Inglaterra, campeã mundial, França, terceira colocada do último Mundial, e Irlanda, quarta colocada e país sede, já estão garantidas na Copa do Mundo e não jogam pela classificação. Com isso, apenas Gales, Escócia e Itália brigarão pela classificação ao Mundial, com as duas melhores entre essas três seleções na somatória do Six Nations 2015 e do Six Nations 2016 garantindo a classificação. 
A pior entre Gales, Escócia e Itália enfrentará a campeã do Europeu Feminino, que reúne as demais seleções do continente, valendo a última vaga europeia. 
Em 2015, a Itália venceu tanto Gales como Escócia, terminando na inédita terceira posição (a melhor do país em qualquer Six Nations na história, masculino ou feminino), enquanto as galesas superaram as escocesas.

Na disputa pelo título em 2016, o favoritismo no feminino estará com as três potências, Inglaterra, França e Irlanda. 
Historicamente, as inglesas são as mais fortes e chegam credenciadas pelo título mundial, mas não vencem o título europeu desde 2012, com as francesas abocanhando dois títulos desde então, incluindo o último, e a Irlanda ficando com um. 
Muito da força das três seleções estará a mercê da política que tiverem com o sevens. 
A princípio, a França leva a vantagem por jogar em casa contra inglesas e irlandesas.

Já o Six Nations M20 servirá, como sempre, como preparação de luxo para os europeus para o Mundial Juvenil, que rola em junho. 
Os ingleses são favoritos pelo retrospecto recente, tanto no Mundial como no Six Nations. 
Porém, a tabela também favorece os franceses, que terão jogos em casa contra ingleses e irlandeses. 
Gales, no entanto, corre forte também, recebendo os franceses.

Six Nations 2016
1ª rodada
Dia 06/02: França-Itália, em Paris – Árbitro: JP Doyle (Inglaterra)
Dia 06/02: Escócia-Inglaterra, em Edimburgo – Árbitro: John Lacey (Irlanda)
Dia 07/02: Irlanda-Gales, em Dublin – Árbitro: Jérôme Garcès (França)

2ª rodada
Dia 13/02: França-Irlanda, em Paris – Árbitro: Jaco Peyper (África do Sul)
Dia 14/02: Gales-Escócia, em Cardiff – Árbitro: George Clancy (Irlanda)
Dia 15/02: Itália-Inglaterra, em Roma – Árbitro: Glen Jackson (Nova Zelândia)

3ª rodada
Dia 26/02: Gales-França, em Cardiff – Árbitro: Wayne Barnes (Inglaterra)
Dia 27/02: Itália-Escócia, em Roma – Árbitro: Jaco Peyper (África do Sul)
Dia 27/02: Inglaterra-Irlanda, em Londres – Árbitro: Romain Poite (França)

4ª rodada
Dia 12/03: Irlanda-Itália, em Dublin – Árbitro: Angus Gardner (Austrália)
Dia 12/03: Inglaterra-Gales, em Londres – Árbitro: Craig Joubert (África do Sul)
Dia 13/03: Escócia-França, em Edimburgo – Árbitro: Glen Jackson (Nova Zelândia)

5ª rodada
Dia 19/03: Gales-Itália, em Cardiff – Árbitro: Romain Poite (França)
Dia 19/03: Irlanda-Escócia, em Dublin – Árbitro: Pascal Gaüzère (França)
Dia 19/03: França-Inglaterra, em Paris – Árbitro: Nigel Owens (Gales)

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