29 de dezembro de 2014

DA IRFB À WORLD RUGBY - UMA VIAGEM COM 128 ANOS *

A história do rugby no mundo está intimamente ligada à história da IRB/World Rugby, bem como o crescimento global do jogo.

Pedro Sousa Ribeiro teve na década de 80 e até 2002, um papel fundamental na ligação de Portugal à IRB, aproveitando de forma ímpar os conhecimentos pessoais que adquiriu desde cedo e pondo-os ao serviço da nossa modalidade.

A ele e às suas amizades, muito deve o rugby nacional, e Pedro Ribeiro dá-nos hoje uma aula sobre a evolução da própria IRB, hoje World Rugby.

Aprenda com quem sabe!

* Pedro Sousa Ribeiro
1- Antecedentes
Até 1885 as Leis do Jogo de Football-Rugby eram decididas pela Federação Inglesa ( RFU ) como primeira federação a ser constituída.

No entanto, devido a uma disputa ocorrida em 1884 entre a Inglaterra e a Escócia sobre uma interpretação das leis, levou esta a não disputar um jogo com a Inglaterra em 1885. 

A Escócia, a Irlanda e o País de Gales decidiram então reunir-se em Dublin em 1886 e lançaram as bases de uma federação internacional no que constituiu o seu ato fundador. 

Uma nova reunião realizou-se em Manchester em 5 de Dezembro de 1887 e na qual a Inglaterra se recusou a participar a pretexto de ter mais clubes que as três outras federações juntas.

Em 1888 e 1889 a Inglaterra não realizou nenhum jogo devido a esta disputa.

2- A Constituição da International Rugby Football Board ( IRFB )
Após a sua fundação, em 1886, e ultrapassado que foi o diferendo com a Inglaterra, esta juntou-se à IRFB em 1889, passando a dispor de seis lugares enquanto as outras três federações dispunham de dois lugares cada. 
Nesse mesmo ano foram escritas as primeiras Leis do Jogo aprovadas pela IRFB

Em 1893 a IRFB enfrentou a sua primeira grande questão : a divisão entre amadorismo e profissionalismo.
Com a introdução no rugby nos meios da classe operária do norte de Inglaterra e sendo os jogos ao sábado, um dia normal de trabalho, os jogadores tinham que optar entre o rugby e a sua actividade profissional. 
Alguns clubes passaram a atribuir aos seus jogadores uma retribuição financeira para os compensar de salários perdidos, o que causou que outros clubes apresentassem reclamações junto da IRFB. 
Após a realização de um inquérito e o debate subsequente, 22 clubes do norte de Inglaterra abandonaram a RFU e constituíram a Northern Rugby Football Union que veio a originar um nova modalidade com 13 jogadores – Rugby League, que se mantém até aos dias de hoje.

Em 1911 as federações da África do Sul, Austrália e Nova Zelândia aderiram à IRFB cada uma com um representante tendo a Inglaterra reduzido a sua representação de seis para quatro, mantendo a Escócia, Irlanda e País de Gales dois representantes cada. 
Esta situação manteve-se até 1958, data na qual a representação passou a ser equitativa: dois representantes de cada uma das sete federações, perfazendo um total de 14 membros.

A IRFB não tinha sede, reunia normalmente uma vez por ano, tratando fundamentalmente das Leis do Jogo e das digressões das respetivas seleções nacionais. 
Os assuntos correntes eram tratados por um secretário geral baseado em Londres. 
A presidência era anual e rotativa entre todos os 14 membros representantes das sete federações.

Apenas em 1978 foi a França admitida neste clube, com dois representantes tendo assumido, pela primeira vez, a presidência rotativa da IRFB em 1985.

3- Os Tempos Modernos
Em 1983 a Austrália e a Nova Zelândia propuseram a realização de um campeonato do mundo tendo sido decidido realizar um estudo de viabilidade. 
Em 1984, na sua reunião anual realizada em Paris foi aprovado por 10 votos contra seis a realização, em 1987, do primeiro campeonato do mundo de Rugby sendo a organização atribuída conjuntamente à Austrália e à Nova Zelândia. 
Para este campeonato inicial, foram convidadas a participar 16 federações. 
Após o sucesso inicial logo foi decidido passar a realizar campeonatos do mundo de quatro em quatro anos, sendo o seguinte, em 1991 ainda com 16 participantes, tendo a sua realização sido atribuído conjuntamente às quatro federações britânicas. 
Neste segundo campeonato já foram realizadas qualificações para apurar nove dos participantes, sendo os outros, sete das oito federações membros da IRFB, já que a África do Sul, tal como acontecera em 1987, foi impedida de participar devido ao regime de “apartheid“ então vigente,

Quando nos anos 30 as quatro nações britânicas decidiram excluir a França do Torneio das 5 Nações, a pretexto que esta permitia um profissionalismo encapotado, foi constituída, em 1934, sob a iniciativa da França a FIRA, Federação Internacional do Rugby Amador, da qual Portugal é membro fundador. 
Foi a FIRA que ao longo dos anos promoveu todas as competições europeias para além do Torneio das 5 Nações. 
Posteriormente viriam a aderir à FIRA nações de outros continentes como Marrocos, Tunísia, Argentina, Estados Unidos da América mas continuando sempre submetida ao poder da França.

A transformação da FIRA, de uma federação europeia para uma federação mundial, lançou o alarme nas nações da IRFB que temeram vir a perder a sua hegemonia.

Decidiram então realizar, em comemoração dos 100 anos da sua existência, o Congresso do Centenário que teve lugar em Inglaterra em Abril de 1986. 
A IRFB decidiu convidar para esse congresso dois representantes de cada país onde o rugby era já praticado e foi este o ponto de viragem para uma federação internacional abrangente, já que nesse congresso foi decidido que todas federações de rugby nacionais poderiam solicitar a sua adesão à IRFB. 
Portugal é membro desde 1988.

Como consequência dessa abertura a IRFB que não tinha sede nem estrutura, passou a ter um secretário geral profissional e uma sede que inicialmente se fixou em Bristol na Inglaterra.

Em 1991 a IRFB decidiu alterar os seus estatutos, contemplando a realização, de dois em dois anos, de uma Assembleia Geral, a primeira em Bristol, com a participação de todos as federações membros, mas com poderes muito limitados, e definindo como órgão deliberativo, o “Council” constituído pelas oito federações que já a integravam com dois representantes cada, alargado com a inclusão das federações da Argentina, Canadá, Itália e Japão, atribuindo a cada uma destas um representante.

Esta é a situação que se mantem até á atualidade apenas com a inclusão da Associações Regionais que vieram a ser integradas sucessivamente, com um representante cada.

Foi também alterada a rotatividade anual do seu presidente que passou a ser eleito por períodos de 3 anos, sendo o galês Vernon Pugh o primeiro. 
Foi ainda neste ano que IRFB, iniciou o apoio financeiro ao desenvolvimento do rugby a nível mundial.

Neste período foram determinantes na definição da estratégia, o inglês John Kendall-Carpenter, os galeses Keith Rowlands e Vernon Pugh, o francês Marcel Martin, o irlandês Sid Millar e o neo-zelandês Rob Fisher.

4 – A Expansão Mundial
A existência de duas federações mundiais era impeditivo da re-inclusão do Rugby no Comité Olímpico Internacional ( COI ) e consequentemente a uma candidatura à sua integração no programa dos Jogos Olímpicos. 
A IRFB , com os proveitos obtidos com os campeonatos do mundo de 1987, 1991 e 1995, principalmente destes dois últimos, passou a ter uma situação financeira muito confortável, enquanto a FIRA se mantinha numa dependência da França. 
Por essa razão e também tendo em conta a sua história passou a ter uma preponderância esvaziando-se a pretensão da FIRA de vir a ser a federação mundial.

Foi em 1996, na sua reunião anual realizada em Paris que o “Council“ tomou, por maioria, uma decisão história, a abertura do Rugby ao profissionalismo, pondo assim fim a mais de 100 anos de um amadorismo, que aliás já vinha a ser infringido em alguns países.

A Assembleia Geral de 1997, realizada em Vancouver no Canadá, foi chamada a votar alguns pontos que se viriam a tornar decisivos no futuro :

- Candidatura dos Sevens, em detrimento do XV, à integração no programa Olímpico

- Campeonato do Mundo XV com 20 participantes

Portugal votou, nos dois casos, pela proposta vencedora. 
No caso do campeonato do mundo de XV estava em jogo 16, 20 ou 24 participantes. O representante português foi muito pressionado pela Espanha para votar pela opção 24, que era a preferida dos espanhóis, mas a FPR entendeu que, nessa época, 20 seria a melhor alternativa.

Estas propostas foram posteriormente aprovadas pelo “Council“, passando assim a serem vinculativas. 
Nessa reunião foi ainda estabelecido um acordo entre a IRFB e a FIRA, na qual esta reconhecia a representação mundial do rugby à IRFB, abrindo assim o caminho para a sua adesão ao COI, o que se viria a concretizar no ano seguinte.

Por outro lado, a FIRA alterou os seus estatutos, na sua reunião anual realizada em Cardiff durante o Campeonato do Mundo de 1999 passando a designar-se por FIRA-Associação Europeia de Rugby (FIRA-AER ).

Entendeu então a IRFB que era tempo de incluir no seu seio as Federações continentais, as já existentes FIRA-AER, Asian Rugby Union (ARU) fundada em 1968 e a Confederación Sudamericana de Rugby (CONSUR) fundada em 1988.

Posteriormente foram constituídas a Confédération Africaine de Rugby (CAR) em 1996, a Federation of Oceania Rugby Union (FORU), em 2000 e por fim a “ North America and Caribbean Rugby Association” (NACRA), em 2001, e que originalmente foi designada por North America West Indias Rugby Association. (NAWIRA).

Entretanto em 1998 a IRFB alterou a sua designação para IRB ( International Rugby Board ) eliminando a designação “football“ para tornar mais relevante a palavra Rugby.

Na época 1999/2000 foram lançadas as IRB Sevens Series que se, numa fase inicial foram financeiramente apoiadas pela IRB já são actualmente uma fonte de receita. 
Portugal tem nelas regularmente participado desde a época 2000/2001. 
Actualmente são constituídas por nove torneios prevendo-se que em 2015/2016 passem a ser 10.

Nos dias de hoje a IRB tem 101 membros e 19 membros associados e em Novembro 2014 alterou de novo a sua designação para “World Rugby “

Em cerca de 20 anos a IRB passou de um grupo de federações com um secretariado diminuto para uma forte organização mundial, com um vasto conjunto de funcionários cobrindo a totalidade do globo e com uma forte situação financeira o que lhe permite apoiar o desenvolvimento do rugby em todas as federações que a constituem. 
Apoio esse que é variável consoante os critérios, nem sempre muito claros, que a sua estrutura estabelece e que o “Council” aprova.

Organiza duas provas de grande cobertura mundial, o Campeonato do Mundo de XV, cuja 8ª edição se via realizar em 2015 em Inglaterra e as IRB Sevens Series cujo prestígio tem vindo a ser elevado ano a ano.

Tudo isto demonstra a capacidade dos homens do rugby a adaptarem-se a novas realidades, sem abandonar os princípios fundamentais que sempre os nortearam, e perspectivando um futuro sempre em contínuo crescimento.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um obrigado ao MdM e, em particular, ao Engº Pedro Ribeiro, uma referência incontornável do rugby português.

A ele muito se deve a divulgação do rugby e os bons serviços prestados, sobretudo pela forma como soube construir amizades e contactos a nível internacional, quer no IRB, hoje WR, quer em várias federações fortes como a England RFU e a Wales RFU, quer a nível de clubes, lançando pontes que foram particularmente úteis à FRP.

Pena que tenha abandonado os órgãos sociais da FPR. Afinal, há princípios, valores e formas de estar que se sobrepõem a tudo.

E assim, lá vai o rugby nacional perdendo os contactos e a influência que tinha, tal é a inépcia que grassa para os lados da Julieta Ferrão

Manuel Cabral disse...

NOTA: Foi feita uma correcção ao título - onde estava IRB devia estar, e agora está, IRFB - e à apresentação do autor, Pedro Ribeiro, cuja influência nas relações de FPR com a IRB se prolongou de foram muito activa até 2002.