29 de outubro de 2013

FIFA DEVIA SEGUIR O EXEMPLO DA IRB *

*Paul Tait
A obsessão de futebol com a ideia de que mais é melhor trouxe consequências devastadoras para os organizadores das últimas edições do Mundial de futebol.

O Mundial de futebol e o Elefante Branco andam de mãos dadas assim como o país responsável por sediar o torneio tem a difícil tarefa de construir muitos estádios. 
Os requisitos para este assunto são extremamente exigentes. 


Deve haver um estádio de 80 mil lugares para o jogo de abertura sentado. 
Além disso, outros estádios são necessários com uma capacidade mínima de 40 mil pessoas. 
Estas são as condições que estão fora de sintonia com as necessidades reais do torneio e que resultam no país investindo mais do que deveria.

Coreia do Sul e Japão gastaram 4,6 bilhões de dólares na construção de seus estádios para o Mundial de 2002. 
A África do Sul contribuiu com 8,6 bilhões em 2010. 
Quase metade foi para a construção de estádios. 
Muitos deles não eram necessárias. 

O termo elefante branco refere-se a um investimento financeiro cujo custo não é compatível com o seu uso. 
Em outras palavras, os custos de manutenção e de longo prazo vão ultrapassar em muito os rendimentos gerados pelo investimento.

O legado dos Mundiais em 2002 e 2010 são muitos estádios que actualmente tem pouco uso. 
Por exemplo, a construção do Estádio Green Point nunca deveria acontecido
porque já existia um excelente estádio na mesma cidade – Newlands. 
A mesma coisa aconteceu com o Estádio Moses Mabhida. 
Ambas as cidades já tinham grandes estádios de rugby com capacidade superior a 40.000 espectadores.

A FIFA, entretanto, tem outras ideias – cada Mundial de futebol tem que ser o melhor de todos tempos. 
Assim o Mundial é cada vez mais caro e bilhões de dólares tem que ser gastos sem necessidade.
A FIFA é responsável por duas políticas cruciais que contribuem para a crise actual no Brasil. 
Em primeiro lugar, os estádios nas cidades de Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal serão elefantes brancos, porque essas cidades não têm equipes na primeira divisão. 
Em segundo lugar, exigiu demais ao Brasil. 
O estádio do São Paulo foi recusado. O Brasil queria modificá-lo para atender às
normas necessárias. 
Mas agora a cidade terá um novo estádio construído com dinheiro publico, que no fim será a casa do Corinthians FC. 
O custo do novo estádio de Brasília entrou para a história como o mais caro já construído: 1,7 bilhões.

Por que a África do Sul e o Brasil foram obrigados a construir esses estádios em vez de renovar estádios existentes? 

A resposta é que FIFA tem que prestar atenção à International Rugby Board. 

Para sediar o Rugby World Cup um país precisa de um estádio com a capacidade de 60.000 espectadores para a abertura e a final. 

Os outros não precisam ter capacidade para 40.000 pessoas. 
Isso permite o uso de outras estruturas e um orçamento muito menor. 

Dos 11 estádios utilizados no mundial de 2003 na Austrália, apenas cinco tinham uma capacidade de 40.000. 
Em França no ano 2007 foram sete dos 10. 
Enquanto na Nova Zelândia de 2011, apenas dois dos 12.

Enquanto o futebol é um desporto mais popular e tem condições de chamar mais atenção em geral, houve muitos jogos na Copa de 2010 em que os estádios estavam longe de ser lotados. 
O jogo Chile-Honduras foi assistido por 34.763 pessoas, o Coreia do Norte-Costa do Marfim por 34.763, o Suíça-Honduras por 28.042, o Grécia-Coreia do Sul por 31.513, o Nova Zelândia-Eslováquia por 23.871.

O IRB, pelo contrário, opera com um sistema que garante que o torneio pode ser rentável em termos de custos para o país anfitrião. 
A decisão para construir novos estádios não vem do IRB mas do governo, uma diferença fundamental. 
No caso de um país organizador que esteja querendo melhorar suas estruturas, são bem-vindos, como é o caso de Tóquio no mundial de 2019. 
Os recursos aplicados no Eden Park para o mundial de 2011 foram elevados, mas quando comparados com os recursos utilizados em Brasília, e nos restantes 11 estádios que servirão o Mundial de 2014, verificamos que todos eles saíram mais caros do que o estádio de Auckland.

A Argentina tem condições de sediar o Mundial de rugby em 2023 e não vai precisar investir em obras. 
Não há necessidade de construir novos estádios, o que poderia custar milhões ou bilhões de dólares. 
Novos estádios não serão necessário. 
A Argentina poderia usar aqueles usados para a Copa América de 2011, além de alguns outros, até chegar ao número 12. 
Sete deles excederiam a capacidade de 40.000 pessoas.


9 comentários:

Anónimo disse...

Com o devido respeito porque o que é que me interessa se a FIFA deve ou não deve fazer o mesmo que a IRB?

São dois desportos diferentes e com lógicas diferentes. Certamente ambos os desportos têm coisas melhores e piores do que o outro, querem um exemplo?
1.- Porque é que a IRB não segue o exemplo da FIFA e não coloca todas as equipas (excepto a anfitriã) a lutar por um lugar no mundial?
2.- Porque é que a IRB ou a FIRA não fazem o mesmo que a UEFA ou a FIFA e não colocam todas as equipas a lutar por um lugar no Europeu em vez de serem sempre as mesmas seis, não dando hipóteses a mais ninguém?
Porque é que as competições europeias de clubes não seguem a lógica, infinitamente mais democrática, das competições europeias de clubes de futebol?

Esta história de querer comparar o que não é comparável ou de querermos ser melhores e mais "pudicas e virgens" do que a vizinha é um bocado ridícula e imbecil.

Anónimo disse...

Não concordo quando diz: "A FIFA é responsável por duas políticas cruciais que contribuem para a crise actual no Brasil", pois foi o Brasil que se candidatou à organização da copa e a tal não foi obrigado. E como tudo o que escreve neste artigo é verdade, quem se candidata à organização da copa já sabe o que esperar, e aí deverá assumir a sua opção e não responsabilizar os outros, sejam eles quem forem!

Anónimo disse...

Além disso, não foi a FIFA que escolheu as cidades sede. Nem disse que tinham que construir tantos estádios. Assim como no Euro 2004 em Portugal, o problema é que os políticos querem agradar a todos, e muitos querem ganhar dinheiro fácil

Anónimo disse...

O Millenium em Cardiff custou uma fortuna e a relva está sempre num estado deplorável, por falta de luz do sol, ou algo assim.

Preocupemo-nos com o rugby e deixemos os outros desportos com os problemas deles. Não devemos querer dar lições aos outros, devemos afirmar-nos pela positiva.

Anónimo disse...

Podemos e devemos dar lições quando os dinheiros são do estado, ou seja, são de nós todos e uns quantos se aproveitam deles. Era bom fazerem esses estádios megalómanos se fosse com o dinheiro da FIFA. Mas não, o que acontece é que a FIFA se implantou como organização mundial, com uma força tremenda que compra tudo, sobretudo políticos corruptos em determinados países, nomeadamente em Portugal e Brasil.

Anónimo disse...

Isso é como cidadãos, não como adeptos do rugby.

Ou então teremos que ter um longo debate sobre a IRB, a forma como gere os seus dinheiros, como as decisões são tomadas, as pressões exercidas, etc.

Anónimo disse...

Numa coisa a IRB faz diferente da FIFA.
Não suborna políticos para lhes construírem estádios para o futebol. Nesse ponto, que é o que está em discussão há uma enorme diferença entre a IRB e a FIFA. Mas há quem goste de estádios megalómanos, ou porque estão envolvidos na sua construção, ou porque pertencem à classe dirigentes e gostam do fausto.
NÃO NOS ESQUEÇAMOS: AVEIRO, LEIRIA, ALGARVE. E agora façam manifestações a dizer que isto está mal.

Manuel Cabral disse...

Confesso que fiquei surpreendido com a agressividade de alguns comentários em relação a esta matéria, quando um pouco por todo o lado se tem comentado os tais Elefantes Brancos.
estive no Estádio do Algarve no sevens do ano passado e fiquei espantado com tudo aquilo.
Uma estrutura de excepcional qualidade, perdida no meio de nada e que tem com certeza custos de manutenção elevadíssimos.
E como diz o anónimo das 11:49, não esqueçam Aveiro e Leiria, e digam-me porque se gastaram todos esses milhões???
A IRB - que tem muitos defeitos - neste particular tem um comportamento exemplar, não obrigando à construção de momos que todos são obrigados a pagar.
Mas o mais importante do artigo de Paul Tait é chamar a atenção para o facto da Argentina já ter toda a estrutura preparada para receber um evento como o Mundial de rugby, sem precisar de gastar fortunas em obras.
O que num período de dificuldades económicas é sempre de salientar.

Francisco Gomes disse...

Precisamente. Basta ver o caso de Portugal. estádios de futebol praticamente parados, outros com um número irrisório de assistências... Certamente que acontecerá o mesmo nos novos estádios das cidades brasileiras que não têm equipa na primeira divisão. E honestamente, por mais que tente, não consigo perceber esta política das organizações de futebol...