1 de outubro de 2013

O QUE PODE A GEÓRGIA FAZER PARA SUBIR NA HIERARQUIA DO RUGBY *

* Paul Tait
O formato existente do Torneio Seis Nações é óptimo para aqueles que o jogam, uma grande competição que traz lucros enormes para os seus seis membros e que tem estádios lotados em praticamente todos os jogos. 

O problema é que a Geórgia deveria ser incorporada, mas não será. 

Entrar numa competição do Tier One (primeiro escalão) é também uma necessidade para Fiji, Samoa e Tonga, já que todas as quatro equipas participantes da Taça das Nações do Pacífico têm condições de vencer uns aos outros (o Japão foi campeão na edição 2011 e último do torneio 2012). 

Com a incorporação do Japão e também os Estados Unidos e Canadá o torneio virou algo bem melhor do que o antigo Três Nações do Pacífico que contava só com Fiji, Samoa e Tonga. 

Além de ter mais rugby de qualidade, o torneio tem muito mais sucesso do ponto de vista económico. 

Distintamente, a Geórgia é claramente a melhor equipe europeia fora do Seis Nações, mas sem condições de participar do torneio europeu do primeiro Tier.

Não há nenhuma chance que qualquer uma das federações integrantes do Torneio das Seis Nações (Escócia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália e País de Gales) votarem num sistema de promoção/rebaixamento simplesmente com medo
de serem rebaixadas. 

No caso da Escócia e também da Itália as chances disso acontecer seriam reais. 

A Escócia não conseguiu marcar um ensaio sequer contra os Lelos no Mundial de 2011 e a Itália, apesar de melhorar muito, nunca se classificou para as quartas-de-finais e, como a Escócia, só tem duas equipas profissionais no nível superior e, novamente como a Escócia, usa muitos jogadores importados.

A Escócia ganhou por 15 a 6 contra a Geórgia no mundial de 2011 e este foi o primeiro jogo na história entre os países. 

Jogos contra equipas do Tier One são muito raros. 

A Geórgia estreou no Mundial de 2003 contra a Inglaterra. 
Seu último jogo antes da prova foi contra a Itália, perdendo por 31 a 22. 
Entre os Mundiais de 2003 e 2007 a Geórgia não enfrentou nenhuma selecção do Tier One e essa situação manteve-se entre os anos dos Mundiais de 2007 e 2011. 

 Assim, os únicos jogos dos Lelos, fora dos mundiais, contra uma selecção do Tier One foi em 2002 contra a Itália e em Junho de 2013 contra a Argentina. 

Também vale a pena lembrar que no mundial de 2007 a Geórgia esteve muito perto de derrotar Irlanda.

Sem soluções reais para o problema, a Geórgia vai continuar a vencer com poucos problemas na Divisão 1A da Copa das Nações Europeias (ENC). 

Mas pelo menos a IRB concordou em analisar o problema e ajudou com o calendário marcando jogos fora para a Geórgia, em Junho último, contra adversários do Tier Two (Estados Unidos e Canadá) e em casa contra o Japão e as Fiji, em Novembro passado, e contra o Canadá, EUA e Samoa em Novembro deste ano. 

Este calendário pode ser aceitável para os próximos cinco anos, mas a Copa das Nações Europeias não é. 

Acredito que para 2015 é fundamental que a Escócia e a Itália joguem na Geórgia durante o período da digressão de 2017 dos Lions Britânicos e Irlandeses pela Nova Zelândia. 
Seria um verdadeiro exame de rugby para a Geórgia, dentro e fora de campo.

Infelizmente para a Geórgia, e para o mundo inteiro fora do Seis Nações, não há chance alguma de substituir o Seis Nações por um Campeonato Europeu, semelhante ao utilizado no futebol (Euro). 

A configuração do Tier One no rugby global dá vantagens enormes para as selecções históricas, impedindo um maior desenvolvimento das equipes emergentes. 

Quando a Argentina derrotou a França em Paris na abertura do Campeonato do Mundo de 2007 não foi uma grande surpresa porque a Argentina havia ganho quatro dos últimos cinco jogos contra os Bleus e a derrota foi de apenas um ponto em Paris em Novembro de 2006. 

Mesmo assim os jornalistas ficaram em estado de choque com a vitória da Argentina no dia 7 de Setembro de 2007. 
A lição a tirar é que só os jogos de rugby nos mundiais importam. 

É apenas nessas partidas que o Tier One presta atenção e mostra respeito.

Não foi por acaso que Tonga teve que lutar arduamente para obter todos os testes de Novembro de 2008 a 2010, apesar de ter oferecido à Inglaterra e à África do Sul grandes jogos no Mundial de 2007. 

O facto é que a equipa de Tonga era boa, mas não venceu selecções do Tier One em jogos nos Campeonatos do Mundo. 

Quatro anos depois a mesma equipe derrotou a França em Wellington, numa partida no Mundial e agora tem uma digressão decente agendada para Novembro deste ano, como também teve em 2012, quando enfrentou a Escócia e Itália (além de EUA). 
Isto é o ideal para Tonga. 

A Geórgia esteve muito bem contra a Escócia em Invercargill (NZL), mas não ganhou e aqui reside o problema. 

Equipas do Tier One só fazem qualquer coisa por equipas do Tier Two quando perdem.

Firmar um nome e uma reputação é difícil quando as oportunidades são limitadas. 
Isso só vai mudar quando a IRB se tornar democrática em vez de ter um sistema em que a maioria não tem voto.

Os países do velho Três Nações (África do Sul, Austrália e Nova Zelândia) e do velho Cinco Nações (Escócia, França, Inglaterra, Irlanda e País de Gales) têm dois votos cada, mas, estranhamente, Argentina e Itália ainda têm apenas um voto cada...
As equipas do Tier 2 e do Tier 3 não têm o direito de votar. 

É um sistema não democrático que parte do princípio que as equipas do Tier One merecem ter mais poder para tomar decisões. 
E mesmo assim, a Argentina e a Itália não têm dois votos.

No total são 28 votos, mas mais de metade (16 votos) vem das oito Federações originais – África do Sul, Austrália, Escócia, França, Inglaterra, Irlanda, Nova Zelândia, País de Gales. 
Outras quatro Federações tem um voto cada – Argentina, Canadá, Itália e Japão e as seis regiões tem um voto cada através das Confederações Regionais - ARFU (Ásia), CAR (África), CONSUR (América do Sul) FIRA (Europa), FORU (Oceania) e NACRA (América do Norte e o Caribe). 
O presidente da IRB e o seu vice também têm um voto cada. 
Actualmente, e como sempre, eles pertencem a países do Tier One – França e África do Sul.

Um exemplo concreto do nível não democrático deste sistema foi na decisão de quem ia sediar o mundial de 2011. 

A grande maioria dos membros do IRB queria que o Campeonato fosse no Japão mas a maioria dos votos decidiu que seria na Nova Zelândia. 

Se a mudança do Seis Nações para um sistema de promoção/rebaixamento, fosse votado na IRB, as perspectivas não seriam boas pela simples razão que os membros com equipas participando na competição têm onze votos, mas a FIRA tem apenas um. 

Assim a única hipótese para que a Geórgia seja tida em conta, para uma eventual subida ao Seis Nações, seria se ela derrotasse equipas do Tier One no Mundial de 2015.

Já é mais que hora para a Geórgia receber equipas do Tier One em Tbilisi. 

Em Novembro próximo a Itália, além de receber as Fiji, vai receber a Argentina e a Austrália. 
Um cenário similar seria os Lelos receberem a Escócia na Geórgia.

Sem comentários: