17 de outubro de 2013

JACQUES LE ROUX UM ORGULHOSO LUSO-SUL-AFRICANO!

*Ricardo Mouro
No passado dia 12 o Mão de Mestre deslocou-se até Coventry com intuito de cobrir o jogo da equipa de rugby local onde pontifica o internacional português Jacques Le Roux.

Após o que foi uma dura vitória e ajuste de contas contra o Old Albanian o Jacques prontificou-se a disponibilizar algum do seu tempo para partilhar com os leitores do Mão de Mestre as suas opiniões sobre assuntos como o Coventry RFC, a Divisão de Honra, Portugal e a selecção e, claro, o seu futuro.

Deparámos com um verdadeiro homem do rugby, um cavalheiro à antiga, amante do desporto mas com os pés bem assentes na terra e com os seus horizontes bem definidos.

"(...)Se tenho valor para jogar num nível acima? Acredito que sim, talvez Championship, mas estou feliz no Coventry." 

Mão de Mestre - Estás na tua segunda temporada em Coventry, vindo do
Agronomia e Portugal onde eras considerado um dos melhores jogadores no campeonato.
O que te fez vir para Inglaterra e porquê o Coventry?
Jacques Le Roux - Pensei apenas que era tempo de seguir em frente. 
Joguei o melhor que consegui em Portugal e tive a honra de jogar pela selecção nacional mas a chegar quase ao fim da minha carreira, era tempo de mudar. 
Algo novo e desafiante, em Portugal já não havia mais nada para alcançar. 
Vim para Inglaterra pela oportunidade de jogar rugby de outro nível e também para procurar carreiras alternativas para o pós-rugby e ter um passaporte português certamente é uma vantagem porque agora sou comunitário.

MdM - Tiveste outras ofertas quando decidiste sair?
JLR - Tive algumas ofertas para outros lugares como França e Itália mas não quis ir para um sítio novamente onde não iria entender a língua e mais uma vez pensei na carreira depois do rugby. 
Se conseguiria jogar num nível acima? Sim acredito que sim, talvez Championship, mas estou feliz e fui bem recebido no Coventry.

MdM - Depois de uma primeira época a que podemos chamar no mínimo "turbulenta", com a tua lesão ao serviço da Selecção e os problemas com a tua família, finalmente pareces em forma e forte em todos os jogos. 
Na tua opinião como tem sido esta experiência até agora? 
JLR - Sim a última época foi muito dura, mas estive rodeado de gente fantástica e foi isso que me ajudou a ultrapassar todos os problemas. 
O clube e as suas pessoas deram-me muito apoio e isso ajudou-me tremendamente. 
Recebi a notícia acerca do falecimento do meu pai instantes antes de sair para o aquecimento de um jogo, o clube deu-me a oportunidade de nem jogar esse jogo mas eu decidi jogar, nessa mesma noite o Coventry pagou-me o bilhete de avião para a África do Sul e fiquei lá uma semana com o resto da família pois foi duro para todos nós.

"(...) as quatro melhores equipas portuguesas talvez fossem capazes de competir na NL1, mas seria muito duro." 

MdM - Lembro-me que uma vez me disseste que jogar na National League 1 é muito competitivo, como o comparas a jogar pela Agronomia e onde é que colocavas as outras equipas de topo portuguesas em comparação com o teu actual nível competitivo? 
JLR - Acho que subestimei um pouco esta liga! 
É definitivamente um desafio superior do que em Portugal, digo eu. 
Apenas pelo facto que há 15 equipas e todos os fins-de-semana se parecem (e sentem-se) como uma final. 
As equipas são todas razoavelmente fortes e em qualquer fim-de-semana qualquer equipa pode ganhar. 
Desta forma em todos os jogos tens que estar na tua melhor forma ou perdes, a competição pelo lugar na equipa é bastante elevada também e se não jogar bem em todos os jogos na semana seguinte arrisco-me a ir parar ao banco! 
Penso que as qautro melhores equipas portuguesas talvez fossem capazes de competir na NL1 mas seria muito duro. 
Se me tornou melhor jogador? Penso que sim, não há uma grande diferença entre as equipas do topo da liga e as da cauda, jogo constantemente num nível alto. 

MdM - Encontras alguma diferença significativa entre a ética de trabalho e a abordagem dos treinos da NL1 em relação ao que passaste em Portugal?
JLR - Bem no Coventry treinamos apenas duas noites por semana em comparação a quatro noites em Portugal, treinava três vezes com a Agronomia e depois mais uma com a Selecção Nacional. 
Por isso o volume de treino em Portugal era muito maior, mas a ética de trabalho e a fisicalidade dos treinos eu diria que é bastante similar. 
Sabe bem ter a noite extra para descansar. 
Se faço algum treino extra no meu tempo livre? Neste momento ocupo os meus dias livres a treinar em algumas escolas que têm o rugby como disciplina, é também uma forma de procurar uma carreira pós-rugby.

"(...)acho que (esta época) conseguiremos (Coventry) terminiar no topo desta liga (...), temos equipa e jogadores para isso."
MdM - Até onde achas que este Coventry pode chegar depois de um empolgante início de época?
JLR - Acho que temos uma equipa bastante boa e se conseguirmos manter o nível exibicional definitivamente conseguiremos terminar no topo desta liga. 
Mas vai requerer muito trabalho e concentração porque a época é longa, vamos ter que tomar uma postura de encarar cada jogo como o último. 
Temos que continuar a jogar para o mesmo objectivo e unidos, definitivamente temos a equipa e jogadores para isso.

MdM - Um terceira-linha, a chegar aos 30, achas que já atingiste o topo da carreira ou ainda tens ambições para o futuro?
JLR - (risos...) Sim, o corpo está definitivamente a dizer-me que estou a ficar velho e que o fim está próximo! 
Mas acho que neste momento estou em boa forma e a jogar bem por isso o meu objectivo é jogar bem pelo meu clube e com esperança conseguiremos subir para o Championship. 
Quero apenas gozar os meus últimos aninhos que aí vêm. 

"A Agronomia será sempre a minha equipa (...)!" 

MdM - Seis anos em Portugal, numa equipa de topo onde chegaste a ser o melhor marcador de ensaios, houve alguma altura em que sentiste que a Divisão de Honra não era competitiva o suficiente para as tuas ambições? 
JLR - Penso que alguns jogos, definitivamente, eram mais fáceis de jogar do que
outros em Portugal. 
Jogar na taça contra equipas da segunda divisão ou mesmo do fundo da Divisão de Honra era de facto mais fácil do que jogar contra os cinco primeiros classificados, mas habituei-me ao rugby em Portugal e nunca diria que não era competitivo o suficiente porque há muitas boas equipas e muito bons jogadores, embora tenhamos sempre que ambicionar mais competitividade e eu acho que atingi o topo do rugby lá e quis exigir o máximo possível de mim próprio. 
No Coventry tive que recomeçar tudo e trabalhar para chegar ao topo novamente. 

MdM - Do que sentes mais falta, achas que alguma vez voltarás ou vês a África do Sul como a tua casa? 
JLR - Eu diria com certeza que do que sinto mais saudades é do clima (risos)! 
É muito difícil habituar-mo-nos ao frio e à chuva. 
Fiz alguns bons amigos em Portugal também, voltaria sempre a Portugal para visitar. 
É um país fantástico mas casa é onde está o teu coração e família e isso para mim será sempre a África do Sul. 
Se fosse para jogar? Não, o meu objectivo é ficar em Inglaterra e fixar-me por aqui e garantir uma vida fora do rugby. 

MdM - Ainda segues o que se passa por lá? Quem é que que achas que poderá ter sucesso este ano? 
JLR - Sim ainda sigo o rugby. 
A Agronomia será sempre a minha equipa por isso eu espero sempre que eles tenham a vantagem sobre as outras equipas (risos)! 

"Não sei ainda se estarei envolvido nos jogos de Novembro, por agora quero apenas concentrar-me em jogar bem pelo clube e em estar em forma." 

MdM - Portugal está um passo atrás para chegar ao Mundial de 2015, estiveste
envolvido até à tua lesão, o que é que achas que faltou para conseguir melhores resultados? 
JLR- Essa é difícil! Acho que tínhamos umas excelente equipa e excelentes jogadores, todos os jogos se decidiram nos últimos minutos. 
Talvez se tivéssemos tido mais tempo como equipa para a preparação tivesse sido melhor. 
Todos os internacionais normalmente se juntam aos treinos uma semana antes de jogos importantes e acho que é difícil para os treinadores e para equipa para se prepararem exaustivamente. 

MdM - Sentes-te empolgado para que chegue Novembro e estejas envolvido novamente? 
JLR - Não sei ainda se estarei envolvido nos jogos de Novembro, por agora quero apenas concentrar-me em jogar bem pelo clube e em estar em forma. Ainda não fui contactado por ninguém de Portugal e o Coventry ajudou-me muito durante a minha lesão e eu devo-lhes isso.

"(...)Sinto-me muito grato por ter jogado por Portugal." 

MdM - Obviamente tenho que perguntar, tanto foi falado por causa de luso-descendentes e naturalizados jogarem por Portugal, alguma vez te sentiste à parte durante os trabalhos da selecção e como é que o resto do grupo te recebeu? 
JLR - Acho que para mim foi um pouco diferente, pois apesar de ser estrangeiro joguei em Portugal nos quatro anos anteriores antes de ser chamado, portanto todos os jogadores já me conheciam e eu já conhecia os jogadores por isso penso que isso me ajudou a ser bem recebido. 
Foram sempre gentis para comigo e fizeram-me sentir bem-vindo por isso nunca me senti como um estranho, isso fez-me trabalhar mais e jogar ainda melhor pela equipa para não desapontar ninguém. 
Sinto-me muito grato por ter jogado por Portugal. 

MdM - Sendo sul-africano como é que te sentiste a jogar por Portugal e por quanto tempo mais é que pretendes continuar a vestir as cores da selecção? 
JLR - Joguei em Portugal a maior parte da minha carreira e se não tivesse sido por Portugal nem sequer estaria neste momento a jogar em Inglaterra. 
Eu considero Portugal a minha segunda casa e sou um orgulhoso luso-sul-africano! (risos). 
Foi uma grande honra jogar por Portugal e sempre joguei o melhor que pude, tentarei continuar a jogar enquanto conseguir... ou enquanto o corpo me deixar
(risos)!
MdM - Quem consideras ser o melhor jogador com quem jogaste/defrontaste e o melhor jogo que tenhas memória de ter disputado? 
JLR - Joguei com e contra alguns excelentes jogadores, todos únicos nas suas posições por isso é-me impossível nomear apenas um. 
Mas o melhor jogo e que sempre recordarei será a final contra o Direito na minha primeira época quando a Agronomia venceu o campeonato pela primeira vez! 
Só o facto de fazer parte desse momento foi incrível!

MdM - Tens alguma superstição antes e pós-jogos?
JLR - Toda a gente pergunta isso! (risos). 
Não, antes dos jogos gosto de caminhar no campo, de postes a postes, a ouvir música e concentrar-me no jogo que aí vem.

Fotos: www.coventrytelegraph.net, www.coventryobserver.co.uk, António Simões dos Santos, Ricardo Mouro/Mão de Mestre

Agradecimento: O Mão de Mestre agradece a forma simpática e profissional como foi atendido nas suas solicitações por Jacques Le Roux e pelo Coventry RFC, em particular pela Office Administrator Joanne Hill e pelo Team Manager Norman Smith, que tornaram possível a realização do nosso trabalho e esta entrevista com o internacional português.

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