Havia sentido de pertença, vontade de ser não só mais um mas sim um dos que fez alguma coisa por um clube com o qual nos identificamos e onde queremos deixar marca.
Fiz o meu 1°jogo nos seniores em 1998/1999 e aí atingi um dos meus objectivos de miúdo: ser jogador de Rugby (e esse estatuto só se adquire nos Seniores) e isso só podia ser no meu Belenenses!
Durante largos anos trabalhou-se nos clubes para se conseguir chegar ao topo do campeonato nacional e sempre com uma certeza/um lema: formar homens e também atletas (amadores) mas 100% apaixonados por aquilo que faziam!
Atletas em que época após época apostavam na sua formação para um dia terem as ferramentas para conseguir vencer no Rugby e na vida.
E dessas gerações (1976 até 1983) conseguiram-se muitos e bons nomes do Rugby Nacional mas não só: do mundo profissional também.
Conseguiu-se um inédito (e arrisco dizer que não voltará a acontecer) apuramento para o Mundial ao mesmo tempo que se fazia do Pipas Médico, do Vasco Uva Advogado, do Zé Pinto Médico, do Francisco Moreira Médico entre outros...mas esse foi um ponto se viragem, a meu ver mal aproveitado e desde aí muita coisa se alterou.
Surgiu dinheiro, muito dinheiro! Na selecção mas não só...nos clubes também e se na selecção foi mal aproveitado nos clubes o erro foi o mesmo.
Apostou-se em muitos estrangeiros, e se é verdade que passaram excelentes jogadores por Portugal, também é verdade que passaram (e em grande maioria ) alguns muito maus!!!
E para mim essa vinda de estrangeiros (quando eram de qualidade) só trazia benefícios para o rugby português. É assim que se evolui.
Depois criou-se a ilusão que os jogadores Portugueses podiam ser profissionais e viver do rugby e que Portugal estava preparado para isso.
Jogadores que deixavam de lado os cursos académicos e treinavam duas vezes por dia com o objectivo de viver uma experiência no estrangeiro ou até ser "semi-profissionais" (se é que isso existe) em Portugal.
E isto fez mudar o objectivo de existência da selecção e em vez de ser a equipa onde os melhores vão jogar e representar o país (com base no trabalho que era feito nos clubes), passou a ser o sítio onde aqueles que são teoricamente melhores, onde aqueles cujos corpos da Federação (directivos ou técnicos) têm mais confiança, treinam em conjunto e com as melhores condições que há em Portugal para se tornarem ainda melhores.
Onde os "clubes fortes/influentes" conseguem colocar mais atletas que obviamente evoluem de forma mais consistente e onde se começa a cavar um fosso entre clubes mais ricos/influentes e os clubes menos ricos/influentes.
Os jogadores deixaram ter sentido de pertença ao clube pois só treinam lá 1 ou 2x semana, e começaram a sentir isso em relação à selecção que é onde fazem os treinos de ginásio + alguns treinos de campo.
Aliado a isso surgiu a última moda, talvez a pior, que foi quando os clubes se começaram a aperceber que o dinheiro não estica e que seria preferível em vez de importar quatro ou cinco estrangeiros para acertar num bom, ir directamente aos clubes nacionais e "contratar" os melhores de cada clube pagando muito menos.
Óbvio que depois nem todos os clubes estão em condições de o fazer, mas para quem pode é uma verdadeira mina e a Federação ainda dá uma ajuda (alterando os estatutos dos direitos de formação) pois quer ter ainda mais jogadores bons para serem seleccionáveis e se eles tiverem nos clubes mais influentes melhor ainda, pois o trabalho deles é controlado por alguém de confiança da Federação.
Além disso os chamados "clubes fortes/influentes" nem precisam de gastar muito dinheiro na formação, pois já vêm formados ou pré-formados.
E estas "contratações" têm ainda outra característica: não são médicos, advogados ou alguém que acredita fielmente num projecto de um determinado clube e que é por isso que muda.
Normalmente são jogadores/miúdos mais vulneráveis, ou sem licenciatura, ou sem emprego, ou sem licenciatura e sem emprego.
Todos de clubes também eles sem poder de resposta.
Pode ser um defeito meu, e com os últimos acontecimentos começo mesmo a achar que sou eu que estou mal, mas não me sinto preparado para o rugby que está a ser criado em Portugal.
Hoje em dia debato-me com um dilema enorme: treino miúdos (Sub18 e Sub16) e faço-o (ou tento fazer) tentando passar os meus valores do rugby e nem quero imaginar que com todo o tempo que estou a investir neles um dia eles possam mudar de clube...embora tenho perfeita noção que é o mais provável.
Faço-o pela paixão e não pelo dinheiro que recebo (que são trocos), perco horas de tempo com a família por essa mesma paixão e pelos valores que acredito e que quero passar às gerações que aí vêm (inclusive ao meu filho que já joga).
Mas não estou minimamente preparado para saber que há clubes e treinadores que estão constantemente a aliciar os melhores jogadores mas também os mais vulneráveis do meu e de outros clubes...
Invistam na formação e retirem daí os vossos frutos...não se façam valer do dinheiro que têm para contratar!!!
Pode ser um defeito meu, e com os últimos acontecimentos começo mesmo a achar que sou eu que estou mal, mas não me sinto preparado para o rugby que está a ser criado em Portugal.
Hoje em dia debato-me com um dilema enorme: treino miúdos (Sub18 e Sub16) e faço-o (ou tento fazer) tentando passar os meus valores do rugby e nem quero imaginar que com todo o tempo que estou a investir neles um dia eles possam mudar de clube...embora tenho perfeita noção que é o mais provável.
Faço-o pela paixão e não pelo dinheiro que recebo (que são trocos), perco horas de tempo com a família por essa mesma paixão e pelos valores que acredito e que quero passar às gerações que aí vêm (inclusive ao meu filho que já joga).
Mas não estou minimamente preparado para saber que há clubes e treinadores que estão constantemente a aliciar os melhores jogadores mas também os mais vulneráveis do meu e de outros clubes...
Invistam na formação e retirem daí os vossos frutos...não se façam valer do dinheiro que têm para contratar!!!
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