17 de janeiro de 2014

FEDERAÇÃO NÃO PRESTA CONTAS, IRB SUSPENDE ABONOS...

A dúvida já pairava há muito tempo e esperava-se a qualquer momento que a bronca rebentasse, e foi isso mesmo que agora aconteceu.

A IRB distribui abonos e ajudas a muitas federações por esse mundo fora, e como é natural quer saber como essas verbas são consumidas pelos destinatários.

Neste caso as suspeitas de má gestão já se avolumavam, e não restou ao orgão dirigente da modalidade outra decisão que não fosse o corte das verbas que eram o maior suporte financeiro da actividade do rugby no país - em termos gerais uma espécie de abono de família para as federações mais pequenas.
Já em 2009 as Fiji sofreram represálias da comunidade internacional que então comentámos nas nossas páginas, e que impediram a selecção de sevens do país de participar nos Jogos da Comunidade Britânica que tiveram lugar na India em Outubro de 2010, mas agora o assunto diz apenas respeito ao rugby.

Recebendo em 2013 subsídios directos da ordem de 1,2 milhões de euros por ano - valor semelhante a significativa ajuda suplementar para participação em competições internacionais, os fijianos estão agora numa difícil situação que leva, por exemplo, Ben Ryan, novo treinador da selecção de sevens, a aceitar que o seu salário nos três primeiros meses, ficasse na gaveta...
metade do orçamento global da FPR - além de uma

A participação das equipas nacionais de Fiji está em perigo em futuros eventos, mesmo se em relação ao Wellington Sevens a presença está garantida, já que a organização decidiu suportar os custos de viagens e alojamentos, certos que a qualidade da equipa atrairá um maior número de visitantes...
Mas como se irá desenrolar o futuro?

A decisão foi relutantemente tomada após se ter verificado que a Federação não tinha implementado um conjunto de medidas que foram aconselhadas e que se destinavam a garantir à IRB que ela (a Federação de Fiji) estava a adaptar-se para resolver as mais significativas preocupações do orgão internacional, e esta decisão pode ser encarada como um solene aviso a todas as entidades que, recebendo fundos do organismo, não sejam absolutamente claras na justificação da aplicação daqueles fundos, sob risco de os verem cair pela pia abaixo.

Acrescem a esta falta de clareza, outras situações obscuras no rugby em todo o mundo - como o eventual branqueamento de capitais na revenda de bilhetes pela Federação Francesa de Rugby, ou desvios continuados de valores ao longo de mais de uma década noutra federação europeia - que carecem de completo esclarecimento para que os rugbistas continuem a orgulhar-se da sua herança ética...


8 comentários:

Great_Duke disse...

Como auditor, fico satisfeito por o IRB estar atento a estas situações.
Fico também preocupado com o que poderá vir a lume na sequência deste caso.

O meu trabalho actual é, precisamente, verificar se as verbas atribuídas aos beneficiários são gastas de acordo com os contratos estabelecidos.
A isto nós chaammos o controlo da Legalidade e da Regularidade das transacções (em 3 vectores: occurence, accuracy e eligibility).

Em tempos perguntei ao IRB se eles realizavam um exercício similar e a resposta foi que delegam o controlo a firmas de auditoria privada (para mim não é a melhor opção pois acho que deveriam ter um pequeno corpo próprio para o efeito).

Fiquei, todavia, com a impressão que esses controlos se limitavam apenas à "tradicional" auditoria feita à contas. Depois de 12 anos a trabalhar na área em que estou, estou certo que este tipo de controlo não é suficiente...

Manuel Cabral disse...

Great_Duke, obrigado pela contribuição.
Já agora aproveito a tua competência profissional para te pôr uma questão hipotética, para a qual te pergunto qual é a melhor solução:

Imagina uma situação de irregularidade contabilística que se arraste durante muitos anos.
Num determinado momento, descobre-se uma segunda irregularidade, com responsabilidades criminais, que vai colocar a descoberto as outras irregularidades contabilísticas.

O que se deve fazer?
1- tábua rasa de todo o passado para que as irregularidades contabilísticas não sejam reveladas, deixando impunes irregularidades e crimes;
2- esclarecimento de toda a história, mesmo que isso traga "inconvenientes" financeiros;
3- punição judicial dos crimes detectados;
4- completa regularização da situação contabilística.

Repara que esta é apenas uma situação hipotética, pelo que qualquer semelhança com a realidade não passa de mera coincidência, e a intenção é apenas dar uma visão profissional de como clubes e outros orgãos devem ser governados.

Great_Duke disse...

Olá Manel,

Parece-me evidente que, pelo menos do ponto de vista teórico, a situação não deveria ser ignorada por quem dela tivesse conhecimento.

Os ilícitos criminais deveriam ser denunciados às entidades competentes e a confirmarem-se os prevaricadores punidos.

No que respeita às irregularidades contabilísticas, as necessárias correcções deveriam ser introduzidas. Neste caso, a origem das mesmas deveria ser explicada para eventual apuramento de responsabilidade disciplinar.

Pessoalmente creio que a manutenção de uma irregularidade:
- acaba por ser descoberta;
- pode ampliar as consequências no momento em que é descoberta.

No âmbito do meu trabalho, a consequência menor é a devolução dos fundos com responsabilização pessoal dos envolvidos. E isto com base apenas no desrespeito de uma norma (legal ou contratual), o que pode até nem ser intencional ou se dever ao desconhecimento da regra ou inexperiência.

Mas na realidade as coisas por vezes passam porque o n° de controlos e a quantidade do controlo em cada beneficiário é insuficiente para detectar todas as irregularidades.

Trata-se da problemática do custo dos controlos...

Fico satisfeito por saber que estas situações são apenas casos académicos para reflexão

Anónimo disse...

Acho que todos gostariam de perceber estas informações. Ou serão apenas especulações que pretendem confundir os menos avisados ? Quem lê fica com a ideia de uma insinuação sobre o comportamento da nossa Federação. Se assim for o MdM deve assumir e não esconder-se atrás dum Duk qualquer. O que não diz é grave e como todos sabemos é absolutamente falso se realmente se pretendem referir à FPR. Não sejam cobardes. Assumam as mentiras miseráveis com que querem confundir as pessoas que ingenuamente ainda acreditam em tudo o que aqui se diz. Sejam dignos.1125

Great_duke disse...

Caro anónimo das 01:46,

E não sou anónimo e já participo nos fóruns à bastante tempo. Procure o meu perfil no Google.

Vivo no Luxemburgo e não faço ideia do que se passa na FPR.

Comentei o artigo porque, por força da minha vida profissional e do meu gosto pelo Rugby, já me tinha colocado a questão de como é que o IRB controla os gastos feitos com as suas subvenções.
Na realidade, o que eu gostaria mesmo seria poder conjugar os dois mundos, mas o mundo não é o lugar ideal com que sonhamos...

Foi-me depois colocada uma questão que não faço ideia se diz respeito à FPR, FPF, FPA ao Benfica, ao Sporting, ao Porto, à Câmara da Amadora, à Junta de Freguesia da Graça (se ainda existir)ou a outra coisa qualquer.

A questão tem a ver com a moralidade, a honestidade e a legalidade com que se fazem as coisas. PONTO!

Se para si, ela tem a ver com a FPR, é um problema seu. Eu não falei de nenhum caso concreto, mas imagino (pela minha experiência profissional, inclusivamente em Portugal) que situações como a que foi hipotéticamente exposta existam às centenas em Portugal.

Portanto se quer pessoalizar as coisas faça-o, mas deixe-me de fora, porque eu não tenho (nem quero) ter nada a ver com as vossas guerras.

Já por várias vezes escrevi que o mal do rugby português é cada um remar para o seu lado. Eu limito-me a apoiar todas as equipas de Portugal e portuguesas, sem excepção.

E, já agora, se quiser continuar esta discussão, procure o meu email no meu blog "join the maul", deixe o anonimato e não incomode os outros.

Cumprimentos.

Manuel Cabral disse...

Great_Duke mais uma vez tens completa razão.
Existe uma enorme incapacidade de se avaliarem situações abstractas sem o envolvimento deste indivíduo ou daquele caso.

Por exemplo em Portugal já tivemos situações de envolvimento de dirigentes em ilícitos de natureza vária, como foi o caso de um antigo presidente do Sporting, e outro do Benfica, lembro-me há muitos anos de um problema com uma equipa de basquetebol de Lisboa, que não recordo o nome (Ases da Avenida??), lembro-me também do presidente dum clube de futebol francês que foi processado pelos mesmos, ou outros semelhantes, motivos, e com toda a certeza muitos dos que nos lêem conhecem casos de clubes ou de associações que apresentam irregularidades nas contas que são sistematicamente disfarçadas...

O artigo diz respeito ao corte dos apoios da IRB à Fiji, fala no branqueamento de capitais verificado em França, e faz referência a um outro caso que alguns associam à FPR - eles devem saber porque fazem essa associação...
Mas não se esgotaram as possíveis referências a situações anómalas, que se comentam nos bastidores e que não saltam para o conhecimento público ou porque os respectivos organismos temem as consequências, ou simplesmente porque não há como provar a responsabilidade deste ou daquele.
Poderia referir que existem federações na Europa onde se desconfia fortemente de lavagem de dinheiros das mafias organizadas, ou outras onde são feitos pagamentos de prestação de serviços sem qualquer cobertura legal, de federações em que os clubes deixam passar anos e anos sem sequer olharem para os documentos contabilístico, ou ainda outras em que há sobrefaturamento aos patrocinadores, e por aí fora...

Há ainda federações europeias que exigem clareza e controle na contabilidade dos clubes (caso da França)e quando se verifica que as normas não são cumpridas há penalizações para os clubes, como aconteceu há poucos anos com o Bourgoin, que foi despromovido por não cumprir as disposições sobre as finanças que a FFR exige...

Mas neste momento o que se pretendia com a chamada de atenção era entender o que devem fazer os clubes ou associações em que porventura existam situações esquisitas.
Nada mais.

O que não invalida que o Mão de Mestre volte ao assunto se entender que tal se justifica perante uma ou outra situação concreta.

Agradeço de novo a tua valiosa colaboração e lembro-te que, felizmente, para cada comentário insultuoso recebo diversos de apoio, que pelo seu carácter mais pessoal, evito publicar.

Vasco Alexandre Durão disse...

Essa equipa era o Estrelas da Avenida, Manuel.

Abraço

Manuel Cabral disse...

Obrigado Vasco, era isso mesmo...Será que ainda existem?
Uma das práticas mais correntes é a sobre faturação... Os clubes dão como recebida uma quantia de 20 mil, por exemplo e só recebem 7 ou 8... o restante ou vai direto para o bolso de alguém, ou é para diminuir os lucros, reduzindo o valor dos impostos...

Um dia chegará em que essa prática vai ser perseguida pelos orgãos fiscalizadores, e então vai ser bonito...

Mas sem que a um documento corresponda uma realidade, haverá sempre alguém que se pode aproveitar e desviar para seu uso pessoal valores que deveriam estar ao serviço de todos...

Abraço