11 de janeiro de 2014

EM INGLATERRA MIKE DIAS MANTÉM PORTUGAL À VISTA *

* Ricardo Mouro
Apesar da maior parte dos jogadores de rugby luso descendentes viverem em frança, a verdade é que a diáspora lusitana tem ramificações em tudo o que é sítio, incluindo muitos outros onde o rugby é um desporto maior.

É o caso da cidade de Durban na África do SUl, onde o rugby faz parte das tradições e que é a terra da equipa dos Sharks, uma das franquias que disputam a Super Rugby do Hemisfério Sul, e que é também a terra natal de Michael Dias, que já representou Portugal em duas ocasiões, em 2011, contra a Namíbia e o Uruguai, e também contra os South Africa Kings (jogo considerado não internacional).

Mike jogou uma época no CDUL, depois esteve quase um ano no Gernyka que na altura disputou a Amlin Cup, e agora é jogador do Rotherham Titans da inglesa Championship, que o Mão de Mestre tem acompanhado em crónicas semanais.

Fomos falar com Mike Dias e começámos por lhe perguntar de onde lhe vinha a sua ascendência portuguesa, onde nasceu e como chegou ao rugby europeu.


Nasci na África do Sul e vivi lá até aos 12 anos. 
O meu pai também nasceu na África do Sul mas todo o lado da família dele é portuguesa e ele cresceu entre os dois países. 
Do lado da minha mãe todos nasceram e cresceram na África do Sul sendo ela uma entre sete irmãos. Infelizmente perdi o meu pai quando tinha 9 anos o que deixou a minha mãe a tomar conta de dois rapazes,
eu e o meu irmão. 
Desde que o meu pai faleceu apenas vimos o lado da família dele uma mão cheia de vezes devido a diferentes situações. 
Eventualmente trocámos a África do Sul pela Ilha de Man onde frequentei a escola e joguei rugby antes de ir para Cardiff frequentar a universidade e jogar rugby pelo UWIC agora conhecido como Cardiff Met. 

Durante os meus tempos na Universidade desenvolvi-me e aprendi bastante através do que era fundamentalmente um currículo de rugby a tempo inteiro. 
No meu último ano alguns amigos meus jogaram pelos English Students contra Portugal então eu dei o meu vídeo pessoal de rugby a um dos meus amigos para dar ao então treinador de Portugal, Errol Brain, e foi assim que fui seleccionado para a Nations Cup na Roménia em 2011. 

Depois disso acabei por fazer uma temporada no CDUL a seguir à Nations Cup e vencemos a Divisão de Honra o que foi incrível, apesar de eu ter tido uma má temporada a nível desportivo com pequenas lesões que me afastavam às duas semanas de cada vez o que significou que nunca consegui ter o impacto que queria. 
O estilo de vida e a forma como as pessoas tomaram conta de mim durante a minha estada em Portugal foi perfeita e eu apaixonei-me pelo lugar e pelas pessoas que conheci. 
Jogar e treinar a tempo inteiro por Portugal foi uma grande experiência e construí uma ligação e uma paixão pelo país. 
Durante o tempo passado em Portugal apercebi-me do quanto alguns jogadores abdicam para jogar pelo seu país e isso foi algo que me inspirou a, esperançadamente, ter o mair número de internacionalizações possível por Portugal.

Onde passaste a tua infância e como se deu a aproximação ao rugby

Comecei a jogar rugby muito novo pois vivendo em Durban isso faz parte da cultura e tu és criado a adorar rugby desde o primeiro minuto que seguras uma oval.
Quando mudei para a Ilha de Man liguei-me ao rugby assim que pude, e tenho jogado sempre com o objectivo de me tornar profissional.

Tens outra profissão para além do rugby?
Não tenho um segundo emprego mas dou alguns treinos a miúdos que é algo que gosto e talvez o faça
depois de deixar de jogar. 
Tenho uma licenciatura em Gestão Desportiva mas ainda não a utilizei.

Em que clubes jogaste, em que posições e quando começaste a sentir que podias ir mais longe no rugby?

Comecei como sénior por uma equipa chamada Ramsey RFC na Ilha de Man e depois fui para o UWIC, CDUL, Gernika e Rotherham Titans.
Durante a universidade aproveitei a oportunidade que tive de jogar ao mais alto nível de rugby universitário e também a liga ao Sábado e daí para a frente procurei por uma oportunidade profissional.

Hoje jogas no Rotherham Titans e antes jogaste no Gernyka, em Espanha. Porque mudaste?

A época no CDUL foi um passo em frente e deu-me uma excelente oportunidade de viver uma diferente cultura da qual quero fazer parte, e também me deu a oportunidade de treinar a tempo inteiro com a selecção nacional portuguesa que foi bom demais para recusar e não alteraria essa escolha por nada.
Depois fui para o Gernika porque estavam na Amlin Cup e tinha contratado alguns bons jogadores por isso sabia que ia ser uma boa equipa. 
Estivemos bem no geral, ganhámos dois jogos na Amlin e marcar contra um Perpignan com todos os seus jogadores mais importantes em campo, foi um destaque a nível pessoal. 
Foi tudo muito bom, até os problemas com o clube apareceram o que alastrou a nível financeiro deixando-me e a oito outros jogadores sem qualquer alternativa que não a de deixar o clube em Fevereiro, o que não foi nada bom porque estávamos no topo da liga e na semi final da taça, mas não tivemos escolha. 
Estou agradecido pela oportunidade que me deu porque joguei contra alguns dos melhores do mundo como Nicolas Mas (internacional francês) e Euan Murray (internacional escocês) e deu-me muita experiência e, claro, também me deu a oportunidade de assinar um contrato full time pelos Titans de Rotherham. 
Portanto eu tenho usado todas as oportunidades que me foram dadas e progredi e espero ainda progredir mais com o objectivo de jogar por Portugal.

Jogas a pilar de preferência de que lado?. Também jogas do outro lado? E jogas a outras posições?

Sou pilar esquerdo e sempre fui, já joguei em toda a primeira linha anteriormente mas em competição somente a pilar esquerdo.

Apareceste na Selecção Nacional em Junho de 2011 contra a Namíbia e os South Africa Kings, e de novo em Novembro do mesmo ano contra o Uruguai, e já nos contaste mas como isso aconteceu, como te deste a conhecer aos treinadores da selecção. E como correram esses jogos, essa experiência?

Como disse anteriormente enviei o meu vídeo ao treinador que era o Errol Brain e fui assim escolhido. 
O jogo com a Namíbia foi uma excelente experiência e até joguei bem, estive muito envolvido com a bola na mão. 
Fomos infelizes nesse jogo e devíamos ter ganho. 
Depois também estive presente contra o South Africa Kings onde também não estive mal. 
O jogo com o Uruguai foi complicado porque não jogámos como equipa e jogámos mal, na melée as coisas
foram de mal a pior e no pack nunca recuperámos depois disso. 
Mas mais uma vez foi uma grande experiência de aprendizagem, recordo esses jogos e é bom ver o progresso que fiz. 
Quero mesmo jogar o Seis Nações B e ter impacto na equipa porque considero que durante o tempo que passei em Portugal não tive sorte e a oportunidade fugiu-me e isso é algo que quero corrigir.

O que sentiste quando foste convidado para treinar com a Selecção portuguesa, e o que sentiste quando vestiste a camisola nacional pela primeira vez?

Foi uma sensação formidável. 
Quando a realidade assentou e me apercebi que ia representar o meu país "paterno" os nervos apareceram, mas também me senti realizado e honrado por uma nação tão orgulhosa. Quando descobri que ia começar de início contra a Namíbia enchi-me de orgulho e apenas quis honrar a camisola, o país e a mim mesmo.

Depois desses dois jogos, nunca mais apareceste na equipa nacional. O que aconteceu?

Acho que por diversas razões, tive azar com as lesões e não peguei de estaca para mostrar aquilo que era capaz de fazer até perto do final da época em Portugal. 
Durante os tempos do Gernika joguei muito bem nos dois jogos contra o Perpignan e em todos os jogos da Amlin Cup onde cheguei a liderar algumas estatísticas, e foi mesmo azar não ter sido chamado a época passada. 
Espero que num futuro próximo as coisas mudem, se eu continuar a melhorar e jogar bem.

Estás arrependido de ter aceite jogar por Portugal?

Nunca!! Acho que foi uma excelente oportunidade e um orgulho tremendo para mim ter representado um país que adoro com a expectativa de no futuro, espero, mudar-me para Portugal para viver .

Foste contactado para disputar os jogos da janela de Novembro (Fiji, Brasil, Canadá)?

Sim mas para o jogo com Fiji não pude ir devido ao meu clube ter apenas dois pilares esquerdos disponíveis e não houve tempo suficiente para resolver essa situação. 
Foi uma decisão difícil mas o Rotherham é o meu local de trabalho e tenho que honrar esse compromisso para não deixar a equipa pela qual jogo todo o ano em apuros. 
O Brasil por azar foi uma questão de logística e estive selecionado para o jogo com o Canadá.

Se fores convidado a representar em 2014 a selecção portuguesa, vais aceitar o convite?

Claro!! E tudo farei para assegurar que estou disponível para os jogos.

Como o teu clube vai encarar uma convocatória para jogar por Portugal, e será que te vão levantar dificuldades?

O Rotherham estava orgulhoso e libertou-me para o Brasil e Canadá mas devido a diferentes razões não

aconteceu, por isso se acontecer eles não terão problemas desde que o clube não saia prejudicado. 
O treinador Lee Blackett disse que nunca travaria jogadores de jogar pelas selecções por isso ele apoiou-me.

Estás em condições físicas boas para te juntares aos trabalhos dos Lobos? Quanto estás a pesar?

Estou em boas condições e neste momento peso 115 Kg.

Qual a tua maior ambição como jogador, no clube e na selecção?

O meu objectivo sempre foi continuar a melhorar e a aprender até ao limite das minhas possibilidades. 
Sinto que tive azar com as oportunidades de jogar por Portugal, mas ainda sou novo para pilar e sinto que o futuro vai ser melhor com o objectivo de ganhar o maior numero de internacionalizações possíveis por Portugal com o sonho da minha vida de jogar num Mundial por uma nação tão orgulhosa.

Fotos: Miguel Rodrigues, FER, Rotherham Titans

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