5 de janeiro de 2014

CINCO ASPECTOS A CONSIDERAR NA ORGANIZAÇÃO DO MUNDIAL DE 7'S *

* Paul Tait
Apesar do grande crescimento no número de jogadores e do interesse geral despertado, o RWC Sevens 2013 em Moscovo foi um desastre total.

Uma combinação de erros da International Rugby Board (IRB) e das autoridades locais, juntamente com o clima, combinaram para o evento ser nada além de um momento triste do Rugby Sevens.

O torneio deixou claro que qualquer tentativa da Rússia para sediar a Rugby World Cup 2023 não poderá ser bem sucedida.

Vai ser difícil justificar os votos para obter o direito de organizar a competição. 
Agora, a Itália e a Irlanda estão no topo da lista europeia - a televisão e as fotos mostraram um estádio quase vazio durante os dois dias de acção, e além disso, houve interrupções no sinal do satélite, os quais não serão aceites em 2018, quando a Rússia sediar o Campeonato do Mundo de futebol, curiosamente o mesmo ano em que se realiza o próximo Mundial de Sevens.

Aqui estão cinco sugestões para ponderar:

1. Incentivar o país anfitrião
Rússia ganhou o direito de sediar o RWC 7's após as desistências do Brasil e da Alemanha. 
Nenhum outro membro da IRB se interessou em organizar o Mundial de Sevens. 
No momento em que se candidatou, a Rússia ficara em segundo lugar no Campeonato da Europa das Nações (ENC ou Seis Nações B) atrás da Geórgia e ambos os países se qualificaram para o RWC 2011.

2. Um estádio correto
O Estádio Luzhniki, na capital russa, tem capacidade para 79.300 pessoas, mas tem dificuldade em atrair multidões para preencher todos os lugares. 
Ter estádio não significa que as pessoas vão assistir. 
É fundamental dedicar recursos significativos para promover o produto. 
O fracasso de cidades como Edimburgo e Cardiff no mundial de 2007 devia ter servido de exemplo, mas Moscovo não o entendeu. 
Deveriam ter usado um estádio menor.

3. Governo Local
O governo russo deu o estádio e as instalações nos hotéis, mas não muito mais. 
Nem a IRB ou o governo russo conseguiram garantir patrocinadores notáveis para o torneio. 
A baixa quantidade de público e a chuva foram factores importantes só até certo ponto. 
O governo russo deveria ter-se comprometido mais, certificando-se que a população iria participar no evento. 
Pelo menos eles deveriam ter distribuído ingressos para crianças para o primeiro dia da competição. 
Apesar de ter sido realizado na Rússia, o Mundial de 2013 era uma prova da IRB.

4. Evento global
O evento foi realizado ao mesmo tempo da Copa das Confederações no Brasil. 
Isso não deveria ter acontecido. 
A data do evento tinha que ser escolhida por forma a que não houvesse conflito com outra competição desportiva internacional. 
Isso teria permitido atrair mais patrocinadores, mais público e dar ao evento uma maior visibilidade.

5. Jogadores de elite
O evento deve atrair os nomes mais significativos do desporto. 
Um evento desta natureza deve ser organizado num momento em que todas as nações concorrentes podem utilizar os seus melhores jogadores. 
Este é um Campeonato do Mundo, e deve ser tratado dessa forma – um evento com os melhores jogadores dos quais muitos em 2013 estiveram na tournée dos Lions, ou em preparação para o Rugby Championship. 
A IRB deve garantir que as estrelas do desporto estão disponíveis para participar.

8 comentários:

Anónimo disse...

Em meu entender o que se passa é que o Rugby se deixou enredar numa teia de interesses desportivos e comerciais que o estão a levar, de certa forma à asfixia.

Cria um desporto e quer que ele seja global, de uma forma um tanto ou quanto artificial, esquecendo-se que o desporto que atrai multidões é outro, o de XV, do qual este é visto como um sucedâneo um tanto ou quanto barato. Depois espera paixão, publico e estrelas, que preferem obviamente o de XV e que só olham para este quando não existe nada em XV para ver.

o XV deixou-se enredar num conjunto de interesses comerciais e desportivos. O Mundial tem lugar cativo para salvo erro, 12 seleções que não têm que se sujeitar a apuramentos e com isso não permitindo o espectáculo e o crescimento do desporto em países emergentes que sempre acontece com o embate com selecções mais forte (basta olhar para o futebol e perceber que o Mundial é apenas o climax de um especáculo que começou dois anos antes com o apuramento e que regularmente enche as televisões de todo o mundo com o "Espectáculo do Futebol" a uma escala global. A Alemanha pode jogar com Andorra, Inglaterra com as Ilhas Faroe e isto promove o futebol como desporto global, isto promove o interesse comercial do Futebol a uma escala global e por isso este tem cada vez mais, números astronómicos.
O Rugby protege um conjunto de selecções e países, não os obriga a jogar qualificações, não promove o espectaculo e o fomento desportivo e os interesses comerciais são restringidos a um conjunto de privilegiados em que o seu mercado representa muito pouco a nível global e deixa poucas hipóteses de crescimento. Como se promove o Rugby quando a Inglaterra não tem que se sujeitar a qualificação? será que ninguém vê que apesar da Inglaterra estar naturalmente qualificada o facto de jogar com selecções menores vai oxigenar o mercado comercial e promover o Rugby nesses países?

Países como a Austrália, Nova Zelandia e a própria Argentina e África do Sul são potencias do Rugby mas qual o valor do seu mercado, pouco, provavelmente só o mercado do UK vale mais do que estes todos juntos.

Como desenvolver um desporto em que selecções com mercado pequeno não abrem mão dos seus privilégios de qualificação automática? como se promove um desporto em que as melhores selecções não promovem o Rugby? No futebol ninguem duvida das qualificações da Alemanha, Brasil ou Argentina mas eles jogam as qualificativas e quando têm um resultado menos bom isso é mediático e ajuda ao futebol, no Rugby nada acontece porque existe a ditadura de uns poucos ao mundo Inteiro.

Eu diria que no Rugby os Porcos triunfaram, que todos os animais são iguais mas uns têm mais direitos do que os outros.

Joaquim Ferreira disse...

"Países como a Austrália, Nova Zelandia e a própria Argentina e África do Sul são potencias do Rugby mas qual o valor do seu mercado, pouco, provavelmente só o mercado do UK vale mais do que estes todos juntos"

A sério que escreveste isto?

Nesses países (tirando argentina) pagam ordenados bem chorudos aos jogadores nos clubes (super rugby) e na seleção. De onde vem esse dinheiro? Sabias que é na África do Sul onde está o maior valor de mercado do Super Rugby? Onde existem mais e maiores patrocinadores?
Além de que esses países não tem o futebol para competirem como tem UK e que aí sim envolve centenas milhões

Anónimo disse...

Não concordo com tudo o que o anónimo das 14:56 disse, mas quero dar algumas informações (sujeitas a correcção, se for caso disso) sobre o rugby na Nova Zelândia.

Na Nova Zelândia os clubes são amadores (o Penha e Costa jogou num dos melhores clubes e fez uma época inteira, quase sempre, como defesa titular). Os clubes disputam um campeonato regional; o público é reduzido; não há campeonato nacional.

Os melhores jogadores dos clubes vão para as selecções regionais (disputam o campeonato inter-regional), estas sim profissionais. Mas estas selecções seriam insustentáveis se não fossem pagas com o dinheiro da federação, que por sua vez é dinheiro recebido da IRB. Todos os jogadores de todas as selecções regionais (e são muitas) têm contrato profissional com a federação!

Com o profissionalismo e surgimento do Super Rugby, este campeonato - apesar de também se ter tornado profissional - perdeu muito do seu interesse e não pára de perder público.

Os melhores jogadores das regionais vão para as franchises do Super Rugby (podendo continuar a jogar também nas selecções regionais, caso não sejam ABs). O dinheiro das franchises vem da mesma fonte que o dinheiro das selecções regionais. As franchises nunca se manteriam por si sós ou com um pequeno apoio da federação (leia-se IRB). Todos os jogadores de todas as franchises têm contrato profissional com a federação!

A Nova Zelândia não é um país muito rico e é pouco populoso. Se não fosse o dinheiro que a IRB dá à sua federação não haveria rugby profissional neste país.

O dinheiro da IRB vem principalmente da Taça de Mundo (de XV, claro). Os ABs além de serem uma equipa fabulosa também são uma grande marca e, portanto, contribuem muitíssimo para as receitas da Taça do Mundo.

Contribuem tanto que se justifique que a IRB lhes pague não só grande parte das despesas com as franchises, mas também vinte e tal selecções regionais?

Curiosamente, a última vez que isto foi discutido foi antes da última RWC e foi porque a NZ queria uma parcela maior das receitas, chegando a ameaçar não participar na RWC!

Gostaria de escrever sobre a Austrália, mas para já digo só que o rugby (union) compete arduamente no mercado com o rugby league, as Aussie Rules e... o futebol (este tem crescido muito nos últimos anos). Infelizmente, o rugby (union) não está a ganhar essa competição.

Anónimo disse...

Quero só acrescentar uma opinião (baseada em factos)ao que já escrevi.

Não falo da África do Sul porque não sei quase nada sobre a situação interna do seu rugby, mas dos outros países/nações só a França e a Inglaterra é que tem mercado para campeonatos totalmente profissionais não dependentes das verbas das respectivas federações, ou seja, não dependentes das verbas da IRB.

D.

Nuno Gonzaga disse...

Realmente se formos a analisar os períodos de competição dos jogadores neo-zelandeses temos:

PROFISSIONAIS:
-os all blacks (jogam de Fev a Ago no Super XV + jogos teste de Nov e Jun);
-não all blacks (jogam de Fev a Ago no Super XV + ITM cup de Ago a Out)

NÃO PROFISSIONAIS:
- Ago a Out Na Heartland Cup;

Claro que a estrutura dos clubes neste país é a pirâmide (Selecções regionais no topo e clubes amadores na base), permitindo que haja todo o tipo de competições para todos os tipos de jogadores.

Em Portugal devia-se adoptar a mesma estrutura, criando selecções regionais (ou grandes clubes/potências) com uma base grande de clubes que alimentassem essa potência. Pode ser chato para alguns (clubes e manda-chuvas) mas não é difícil.

Dentro de cada Região (ou potência) teríamos uma competição interna, disputada ao mesmo tempo que a Super Divisão (selecções regionais/potências).

Após esses meses dava-se lugar a uma competição nacional de clubes, que colocaria frente a frente os melhores de cada região/potência. Teríamos assim 3 competições durante o ano, que agradavam a todos os jogadores.

Competições:
1 - Super Divisão (selecções regionais ou super potências) = menos clubes e melhor qualidade; RUGBY SEMI-PROFISSIONAL
2 - Campeonato Nacional (melhores clubes de cada região/potência) = mais clubes, mais jogadores e maior qualidade; RUGBY AMADOR
3 - Campeonato Interno/Regional (disputado pelos clubes que compõem cada região/potência) = mais clubes e mais jogadores; RUGBY SOCIAL

Este mesmo esquema poderia ser usado nos moldes dos jogos internacionais.

- Setembro a Janeiro - Super Divisão (paragem em Novembro para os jogos internacionais) e Campeonato Interno/Regional;
- Fevereiro e Março - 6 Nações B e Finais dos Campeonatos Internos/Regionais;
- Março a Maio - Campeonato Nacional;
- Junho - Jogos Internacionais ou Nations Cup;

E não haveria problema com os estudantes em época de exames...

Atenção que isto é tudo muito utópico...

Joaquim Ferreira disse...

Então pelos últimos 2 comentários poderemos deduzir que o segredo não está na profissionalização ou no dinheiro envolvido, pois se a França e Inglaterra tem campeonatos totalmente profissionais e tem mais dinheiro e se mesmo assim as equipas do hemisfério sul são melhores. Sendo assim não vejo a razão de tantas queixas que não há dinheiro nem apoios.
Pelos vistos a NZ tem menos habitantes que Portugal, muito melhor rugby e o dinheiro que recebe é da IRB, ou seja, chegou ao topo sem dinheiro próprio.

Anónimo disse...

Caro Joaquim Ferreira,

Sim, a NZ chegou ao topo do rugby profissional com muito pouco dinheiro próprio (pelo menos, em percentagem, é muito pouco). Mas com muitíssimo dinheiro da IRB.

Ou seja, para se estar no topo do rugby internacional é preciso o profissionalismo e, portanto, muito dinheiro.

Mas mesmo com a influência que a NZ têm na IRB, nunca receberiam o que recebem deste organismo, se não tivessem a selecção que têm e que já tinham nos tempos do amadorismo.

Os lucros da RWC são divididos pelos países que nela participam em percentagens muito desiguais (em 2007, Portugal, Roménia, Geórgia e Namíbia receberam zero). Essa divisão tem a haver com duas coisas: o nível de cada país (talvez seja mais correcto dizer o nível que cada país tinha há umas décadas atrás), mas também a influência de cada País na IRB (o que a Escócia recebe é escandaloso). É um balanço complicado e com resultados injustos, mas lá que os ABs são a maior "fonte de receitas" da RWC não levanta dúvidas.

Anónimo disse...

Caro Nuno Gonzaga,

Obrigado por ter falado da ITM Cup e da Heartland Cup.

Para que tudo fique mais claro, aquilo a que eu chamei campeonato inter-regional (inter-provincial) é a ITM Cup, com 14 equipas e 100% profissional.

A Heartland Cup, também inter-provincial, é uma espécie de II divisão da ITM Cup, com 12 equipas não profissionais.

D.