22 de março de 2016

AS ENCRUZILHADAS DO RUGBY PORTUGUÊS *

* Pedro Sousa Ribeiro
O que se antevia como uma possibilidade no início da disputa do Torneio Europeu das Nações deste ano, a classificação em último lugar e a consequente despromoção ao nível inferior, veio infelizmente a concretizar-se.

O atual Torneio Europeu das Nações teve o seu início, no formato actual, na época 1999/2000 tendo Portugal participado nele ininterruptamente, tendo mesmo, em 2004, sido o vencedor.
Será pois na época 2016/2017 que, pela primeira vez, ao fim de 16 edições, nele não iremos participar.

Isto implicará, além de outras consequências de ordem financeira, uma menor exposição em termos internacionais do nosso rugby, o que não é de todo em todo desprezível.

A decisão de limitar ao seleccionador nacional as suas hipótese de escolha pareceu-me uma decisão que muito penaliza o rugby nacional. 
Cabe aos dirigentes, proporcionar aos responsáveis técnicos a possibilidade de escolha sobre todos os jogadores que satisfaçam simultaneamente,os critérios regulamentarmente fixados pela World Rugby e pela legislação portuguesa, para integrarem a representação de Portugal. 
E isto independentemente do local onde nasceram ou em que praticam o seu rugby. Não podemos ter portugueses de primeira e portugueses de segunda. 

Cabe ainda aos dirigentes pugnarem para que sejam criadas as melhores condições, dentro dos condicionalismos existentes, designadamente de ordem financeira, e aos técnicos preparar os jogadores para que se possam exprimir no melhor das suas capacidades. 
E aos jogadores manifestar a sua disponibilidade para representar Portugal, a que todos devem legitimamente aspirar.

O nível interno do nosso rugby não proporciona aos jogadores a competitividade que, pese embora toda a sua dedicação, lhe possibilite uma disputa equitativa no segundo nível do rugby europeu. 
As outras nações com quem tivemos, nesta e em épocas passadas, de competir, Alemanha, Espanha, Geórgia, Roménia e Rússia, recorrem a todos os meios disponíveis para elevarem o nível das suas equipas nacionais, quer recorrendo a nacionais jogando em campeonatos de outros países quer a outros nacionais que possam satisfazer as normas da World Rugby. 
Ao abdicarmos de seguir os mesmos princípios limitamos a competitividade da nossa selecção nacional. 
E não tenhamos ilusões, uma selecção integrada apenas por jogadores das nossas competições internas não poderá actualmente aspirar a um nível superior aquele que iremos integrar na época 2016/2017. 
E não prevejo que, a curto prazo, essa situação se venha a alterar.

E aqui chegamos a uma questão vital que deve ser de frente encarada: como melhorar a competitividade interna do nosso rugby. 
Se nos escalões etários até Sub-19 temos tido participações dignificantes no contexto europeu e mundial, como aproveitar esse potencial e desenvolvê-lo. 
Importa reflectir sobre este tema e encontrar um caminho para que esse passo em frente se concretize. Não me inibo, desde já, a colocar uma hipótese, que já aflorei em artigo escrito há cerca de um ano atrás:

“Para melhorar a competitividade do nosso rugby, além do que atrás de menciona, teremos que ultrapassar velhos atavismos individualistas, constituindo equipas supra clubistas que possam competir para além das nossas fronteiras. Os exemplos da Irlanda, com 4 equipas regionalizadas e da Nova Zelândia, com os seus 4 níveis (clubes, campeonato por regiões, Super Rugby e All Blacks) podem representar um bom exemplo para um modelo que nos possa inspirar. 
Bem sei que isto será bem difícil de conseguir mas parece-me um dos caminhos que podem contribuir para melhorar a competitividade e para uma maior exposição mediática.”
Poderíamos criar uma nova competição interna com 4 Grandes Clubes: um na região Norte com jogadores dos clubes situados a norte do rio Douro, outro na região Centro integrando jogadores desde Aveiro a Caldas da Rainha e dois na zona de Lisboa, com extensão ao Alentejo. 
Cada um desse grandes clubes teria uma designação própria, como por exemplo Minho/Douro para o primeiro, Beiras para o segundo e Costa do Estoril e Vale do Tejo para os outros. 

O vencedor desse torneio seria, no ano seguinte, o representante de Portugal nas competições europeias, se voltarmos a ser convidados a participar, do que aliás duvido, apesar da participação digna do GD Direito nesta época. 
Mas a nossa descida ao nível três europeu nada ajuda. 
E ainda, tentar pôr em pratica uma competição ibérica, integrando essas equipas, já há muito ambicionada mas nunca, por uma razão ou por outra, concretizada. 

E isto sem eliminar as existentes competições integrando os clubes tradicionais. Mas, para que isto seja possível, há, como se disse acima, ultrapassar “velhos atavismos individualistas” e rivalidades profundamente enraizadas. 
Mas não tenhamos dúvidas, caso se pretenda regressar ao nível dois do rugby europeu há que tomar decisões corajosas e que certamente terão muitos opositores que se sentem bem com o actual estado de coisas.

Cabe á Federação Portuguesa de Rugby, que todos nós integramos, e designadamente à sua Direção definir uma estratégia que possa elevar o rugby português ao estatuto que já ocupou.

Pedro Sousa Ribeiro
20 Março 2016

1 comentário:

Unknown disse...

Estimado Pedro,

Eu li o seu artigo e gostaria de dizer que tem você toda a ração. Não tenho duvidas de que uma competencia ibérica faria que as duas nações desenvolverão o seu raguebi. Na Espanha (donde moro) à tempo que achamos que es a melhor opção para os dois países, mas o mesmo que em Portugal, o grande problema é que os velhos atavismos fazem que isso seja impossível. Se alguém diz na Espanha de voltar o sistema de grandes equipas regionalizadas sempre á quem está a dizer que é melhor o rugby de clubes que essas equipas não tem base social e que as pessoas não sentem essas equipas como próprias. A realidade é o dinheiro, se se fazem grandes equipas as tradicionais tem medo de perder parte do dinheiro que estão a receber dos patrocinios. Também tem a ideia de que qual es o que eles vão a ganhar como esse sistema, criam jogadores para que "outros" ganhem dinheiro com eles.

Mas, o maior problema é que ainda que façamos isso hoje, não teríamos resultados até dentro de 5 anos minimo.