9 de novembro de 2009

BEM EQUIPADOS JOGAREMOS MELHOR



É uma frase antiga, que me foi transmitida pelo meu primeiro treinador, o saudoso António Mário Carqueijeiro, mas que ainda hoje me acompanha. E de cada vez que assisto a um jogo internacional, não posso deixar de notar a evidente ordem e organização em que tudo se processa,

Um dos primeiros jogos internacionais a que assisti, foi em Twickenham, um Inglaterra-França, do qual não guardo a mais pequena memória do resultado.
Mas não esqueço todo o ambiente que se viveu, com a casa esgotada, e os espectadores todos sentados, com as primeiras filas a menos de dois metros do relvado, dele separados apenas por uma ligeira barreira de madeira, com menos de um metro de altura.



Lembro-me de ver os apanha bolas discretamente agachados, junto a essa barreira, todos vestidos de igual.

Lembro-me da extraordinária ovação que cada um dos XV’s recebeu ao entrar em campo, sem um único assobio recriminatório.
Lembro-me de estar sentado a meio da bancada central, bem perto da Rainha de Inglaterra, separada do povo por outra pequena barreira de madeira, mas ao alcance de qualquer indivíduo mais atrevido.
E lembro-me da inicial apreensão que senti, ao verificar que me encontrava na fila de separação dos adeptos ingleses e dos adeptos franceses...
Mas afinal, não havia motivo para tal apreensão.
Apesar dos constantes incentivos colectivos tipo Allez les Bleus, cantado acima de mim, e o arrastado Ennnglaaand, entoada nas filas abaixo, a única nota de registo foi, no intervalo, a passagem de garrafinhas de pastis de cima para baixo e de puro scotch de baixo para cima, com uma cumplicidade apenas possível entre indivíduos da mesma comunidade.
Terminado o intervalo tudo voltou às cantorias, sem nenhuma nota discordante naquele mar de gente.

Mas outra imagem ficou retida na minha memória, e repetiu-se sempre que assisti a jogos internacionais: a perfeição dos equipamentos, desde as meias até ao colarinho, dos jogadores, dos árbitros, dos treinadores, dos enfermeiros. Ou seja, de todos quantos estavam envolvidos no próprio jogo.

Finalmente, para referir apenas outro aspecto da organização desses jogos, não me lembro de nenhum que não tenha começado à hora marcada.

E estas foram lições que tentei transmitir àqueles a quem treinei, ou às organizações em que estive envolvido. Porque, quando o António Mário, muitos anos atrás, me disse que bem equipados, jogaremos melhor, tinha absoluta razão.

Não apenas pelo aspecto visual da coisa, mas, especialmente porque o Rugby é um jogo de equipa e de combate, e a organização e disciplina são requisitos indispensáveis para o sucesso.
E essa disciplina e essa organização são obrigações de todos os envolvidos na administração, na preparação, e no jogo propriamente dito.

E foi aí que começou a derrota frente à Namíbia, na falta de organização e de disciplina.

Anunciaram-se os três jogos que os Lobos vão disputar, como sendo a Super Bock Rugby Cup.
Todos temos que agradecer a colaboração dos patrocinadores - no caso dos Lobos, em especial à Super Bock - e nada tenho contra a associação do seu nome aos jogos em questão. Bem pelo contrário.
Mas Cup, porquê? Qual é a Taça que está em disputa? E em que condições será atribuída? O que tem Portugal que fazer para ganhar essa Taça?



É óbvio que não existe Cup nenhuma, já que não se trata de uma competição, mas tão somente de uma série de três jogos, apenas ligados entre si, por fazerem parte da preparação da nossa seleção para os jogos qualificativos para a Rugby World Cup – essa sim, uma competição e uma Taça.
Mais acertado teria sido chamar-lhe Super Bock Rugby Series, ou, se associado a um Encontro do Rugby Juvenil, ou outro evento, Super Bock Rugby Festival, por exemplo.
Mas Cup, não. A Heineken Cup, é uma Taça, a Amlin Callenge também é uma Cup, como o são a Air New Zealand Cup, ou a Currie Cup. Mas esta Super Bock Rugby, não. Pode ser muita coisa mas uma Cup não é!

Pior ainda foi o anúncio, em toda a imprensa nacional e internacional, que o jogo se iniciaria às 15,00 horas. Também os sites da FPR e da IRB assim o afirmavam, e essa informação foi espalhada pelos quatro contos do Mundo.
Mas afinal o pontapé de saída foi dado às 16,34 horas, com um atraso superior a 1 hora e 30 minutos.
O mínimo que se pode dizer é que não houve qualquer respeito pelo interveniente espectador, que marcou na sua agenda uma hora para o jogo, que, afinal, não era verdadeira.


E a derrota continuou quando, em vez da seleção nacional de Rugby, entraram em campo três grupos distintos de jogadores, para defrontar a Namíbia.
Os três grupos equipavam de vermelho, mas uns foram patrocinados pela Super Bock, outros pela Caixa Geral de Depósitos e outros ainda, estão aguardando um novo patrocinador.
A maneira como a nossa seleção se apresentou, foi uma palhaçada.
Parece que tudo está á venda, que se pode alugar um equipamento completo a um só patrocinador, como dividir esse patrocínio por duas ou mais marcas comerciais e ainda deixar um espaço em branco, como que a dizer, anuncie aqui!

Um jogo começa muito antes do pontapé de saída, mesmo antes da sua própria marcação. E a responsabilidade pelas vitórias e pelas derrotas tem que ser partilhada por todos os intervenientes no processo.
Não pretendo com isto desculpar os jogadores e o treinador pela derrota. Mas, pelo contrário, incluir na responsabilidade do desaire, todos aqueles que não cumpriram com as suas obrigações.
Afinal todos eles tem uma parte da culpa, e por causa deles todos, eu, e outros milhares de incondicionais apoiantes dos Lobos, ficámos desiludidos.

(Fotos - http://cdul.blogspot.com e http://fotorugby.blogspot.com)

2 comentários:

miguel rodrigues disse...

Caro Manuel,

Escrevo para rectificar um pormenor, uma das fotografias, a que está na primeira página do blog, não foi retirado do meu blog pois a mesma não se encopntra lá publicada. Está outra quase igual, mas curiosamente a camisola do V. Uva tem o patrocínio da Super Bock e não está sem patrocinador. Essa foto foi retirada do blog Foto Rugby e possívelmente a camisola terá sido trocada por a outra se ter rasgado.

Abraço

bryan disse...

Manuel,
Esteve em Liboa para ver o jogo e fiquei todo o dia com a selecçao. Normalmente era previsto por nossa equipa de jogar em branco (sei porque assistei ao dado das camisolas).
Cuando chegamos ao Estadio, os namibianos disse-nos que finalmente ele jogarao em branco. Por isso temos que mudar ao ultimo momento.
Nao é culpa do Adidas e da FPR, é culpa dos namibianos