11 de maio de 2012

OS BIGODES BRASILEIROS

QUEM CONHECE O RUGBY JOGADO EM PORTUGUÊS, dos dois lados do Atlântico, conhece bem a sobranceria com que os portugueses olham para os brasileiros, numa demonstração de ignorância que, a cada dia que passa, tem menos razão de ser.

Dez anos atrás o rugby brasileiro não passava de uns grupelhos desorganizados, sem competições organizadas qualificadas, na base do eterno "gigante adormecido".

Nessa altura Portugal tinha dado já passos significativos no desenvolvimento do rugby juvenil, a modalidade espalhava-se pelos quatro cantos do país, havia já um grupo de formadores qualificados, as competições internas eram prestigiadas e respeitadas, a nossa equipa de sevens era campeã da Europa, o Lisboa Sevens ia na sua 15ª edição...

Há cinco anos, Portugal disputava as finais do Mundial de XV, acumulava títulos nos sevens Europeus, tinha vencido o Europeu de XV, os seus jogadores e os seus treinadores eram olhados com respeito por todo o lado onde o melão se mexia, os Lobos e toda a Alcateia (nascidos nessa altura) eram tidos como a mais promissora das nações emergentes...

O Brasil continuava a não ter uma competição verdadeiramente nacional, as suas Amazonas eram então a única referência internacional brasileira...

Pois é, era...Era assim mesmo, e no lado europeu do português, ninguém acreditava que as coisas iriam mudar, com o lado sul americano do português a ganhar peso e importância.

Mas a verdade é que hoje, fruto de um forte empurrão dado com a inclusão do rugby nos Jogos olímpicos do Rio de Janeiro, é verdade, mas muito como resultado de uma série de alterações estruturais e de mentalidade, o rugby brasileiro dá sucessivos bigodes no rugby português.

Claro que no campo desportivo ainda existe uma diferença acentuada - a ter em conta os resultados com adversários comuns já que o único encontro direto entre os dois países se deu num amigável de sevens feminino, o ano passado no Jamor, vencido pelas portuguesas..

Alguns portugueses vieram, por este ou por aquele motivo, jogar ou treinar rugby no Brasil, mas, com honrosas excepções, a sua qualidade duvidosa, a sua mentalidade oportunista, deixaram poucas (e as que deixaram foram más) recordações em Terras de Vera Cruz.

Mas os brasileiros - como noutras áreas...- deram mais uma lição aos tugas.

Sem fazerem ondas, os brasileiros conquistaram posições junto da IRB, e mesmo sem uma estrutura técnica pesada marcaram pontos ao conseguirem que os primeiros documentos em português, adotados pela organização internacional (Rugby Ready), estejam clara e explicitamente escritos em português brasileiro...

Ou seja, Brasil 5-0 Portugal...

No que diz respeito à sua equipa feminina de sevens - aquela que perdeu no Jamor, arrancando sorrisos e comentários trocistas aos doutores lusitanos (não vale a pena virem já a correr perguntar como me atrevo a fazer estas afirmações, porque, mais uma vez, eu estava lá e assisti, ouvi, e envergonhei-me em silêncio) - ela também foi convidada para estar em Londres, onde as nossas meninas vão tentar fazer uma gracinha, sendo que a diferença é que as Amazonas foram também convidadas para disputar o torneio de Las Vegas e o Torneio de Hong Kong...

Ou seja, Brasil 15-0 Portugal (cinco por cada Torneio a mais...).

E esta semana então, foi demais! Um bigode, barba e cabelo, tudo com máquina zero!

Primeiro, foi o anúncio de uma parceria entre a CBRu e a Federação de Rugby de Canterbury e os Crusaders para auxiliar a implementação do programa de alto rendimento brasileiro, programa esse que já arrancou e que os falantes de português da América do Sul estão abraçando com entusiasmo.

Ou seja, Brasil 20-0 Portugal...

Depois, enquanto em Portugal terminou o Circuito de Sevens Feminino, envolto em confusões, desorganização, falta de meios e de atenção, quer por grande parte das equipas, quer por parte da Federação que se demitiu das suas responsabilidades, no Brasil o CBRu acaba de anunciar o lançamento de um circuito intitulado Super Sevens, para equipas femininas, com cinco etapas a disputar ao longo de cinco meses...

E para encurtar razões fica aqui o link para um artigo escrito por Rouget Maia, um dos mais respeitados comentadores de rugby do Brasil, onde você pode conferir se os 10 pontos que eu atribuo aos brasileiros por mais esta raspagem, são ou não são justificados.

Ou seja, Brasil 30-0 Portugal...

E agora um aviso, em especial para os sorrisos trocistas e para as sobrancerias de nobreza falida:
Estes 30-0 foram fora de campo, mas não vai tardar muito - continuando o rugby português no caminha em que vai - o resultado vai-se repetir dentro de campo!


9 comentários:

Anónimo disse...

Estamos convencidos que somos os maiores. Tudo à espera do dinheiro do estado para depois ser esbanjado por uma federação liderada por pessoas que pouco sabem sobre liderança e organização. Nem um simples "site" com algum jeito conseguem fazer estando grande parte das páginas vazias. A federação tem que ser liderada por pessoas com provas dadas ao nível da gestão de organizações e empresas e não por ex jogadores que se degladeiam defendendo os seus clubezecos.

Anónimo disse...

Conheço bem o momento no Brasil e não tenho qualquer dúvida que pouco tarda para o Brasil assumir uma posição destacada no cenário do Rugby internacional. O número de jogadores está a crescer exponencialmente, existem muitos e bons apoios, há dinheiro, há uma federação dinâmica, existe uma grande tradição desportiva no país, os 7's vão estar nos jogos olímpicos etc. Contudo, a principal diferença é a mentalidade e a vontade. No Brasil a mentalidade é ganhadora, competitiva, treina-se e joga-se a sonhar com algo grande. Foi assim no volley e hoje o Brasil tem as melhores equipas de todos os tempos. No basket tem vários atletas na NBA, na natação e ginástica produz campeões mundiais, no futebol e F1 nem é preciso falar. Existem, sim, muitos problemas e carências de estrutura. No entanto, não vejo ninguém a perder tempo no Brasil com mesquinhices de clubes, federações etc como se assiste todos os dias em Portugal e que o artigo acima deixa isso bem claro. No Brasil, está tudo a remar para um lado. Os jogadores treinam e pensam no rugby como um possível futuro. É um país gigante mas que está unido na promoção do rugby. Em Portugal, com a tradicional mentalidade tacanha, parola e com a pequenez que nos caracteriza passa-se o tempo a dizer que o presidente da federação é de um clube, que a convocatória da selecção beneficia sempre os mesmos clubes,ninguém acerta num modelo para o campeonato, só se fala nos árbitros, criticam os jogadores portugueses que residem em França e tanto ajudam a selecção etc etc etc Não vamos lá assim. Já somos pequenos em tamanho e em número de jogadores mas poderíamos ter outra mentalidade. Infelizmente não temos e penso que as coisas não vão mudar. Só vejo as coisas mudarem quando o rugby em Portugal sair do "mundinho" em que está. Fico, sim, muito feliz em ver a evolução do meu desporto no Brasil. Ainda falta para, no campo, o Brasil começar a ter um nível superior a Portugal. Mas quando isso acontecer...a distância vai ser cada vez maior e as ambições do Brasil serão sempre maiores. É outra mentalidade com certeza....

Anónimo disse...

Evolução. Equipas paradas 3 meses e a época a terminar depois da do futebol. Palavras para quê. Há equipas da DH a terem menos de 10 jogadores aos treinos. Os sevens vão ser aliciantes este ano.

Anónimo disse...

Liderança, liderança, liderança. Temos excelentes exemplos aqui ao lado: França, Itália, Irlanda, Gales, Inglaterra. É falar com eles e aprender como se faz. Não é preciso inventar muito.

Anónimo disse...

A Divisão de Honra já acabou ?

Anónimo disse...

1000% De acordo!

Pedro disse...

O que precisávamos era de um visionário, um homem que tenho andado pelo mundo, com uma visão não paroquial do Rugby. Foi pena o Manuel Cabral não ter apresentado uma lista quando o Cabé foi releito. Penso que podia, pelo menos, ter agitado as águas.

Anónimo disse...

Acho que não há grandes dúvidas do enorme potencial do Brasil para qualuqer desporto e no rugby não fogem à regra. Têm grandes capacidades fisicas, adoram desporto, são muitos logo há muito por onde escolher, claro que aenormidade do País pode dificultar a organização mas seguramente que saberão ir ver como fazem os outros desportos no Brasil, têm dinheiro e seguramente terão uma classe dirigente à altura. Ou muito me engano ou dentro de 4 ou 5 anos estão à nossa frente em termos de ranking IRB. Por cá os campeonatos são terriveis param e voltam a parar não há hipótese de se fazer uma equipa, excepto laguns jogadores que levam o rugby muito a sério a grande maioria vê o rugby não como algo de prioritário mas como algo secundário à qual se dedicam quando não têm mais nada para fazer. temos uma direcção que gasta como nunca se gastou em Portugal, mas preocupar se em melhorar o nivel da competição nem pensar, todos os defeitos que apontavam à anterior direcção eles fazem ainda pior, devem dinheiro aos jogadores que contam com o que a fpr lhes paga há mais de 3 meses, é uma vergonha que o presidente da fpr vá pedir explicações aos treinadores da razão de não haver mais jogadores de agronomia nas selecções, ele não defende o rugby portugês ele quer é estar bem com deus e com o diabo. tivemos a sorte da vida em conseguir a qualificação para sermos residentes nos 7s se assim não fosse era voltar ao anonimato do nosso rugby de trazer por casa é preciso não esquecer que é graças a este senhor que deixámos de ter uma taça iérica.

Anónimo disse...

O Brasil é uma potência desportiva a nível mundial e começou agora a fazer um esforço sério para desenvolver o rugby.
Contudo, está ainda a anos-luz do nível portugês, não obstante o número de praticantes ter subido exponencialmente. Convém não esquecer contudo que quantidade não se transforma logo em qualidade, como os nossos vizinhos castelhanos bem sabem. A subida do rugby no Brasil deve ser acarinhada, mas não entendo o tom saloio com que Manuel Cabral coloca a questão das relações desportivas entre os 2 países. Portugal deve orgulhar-se do caminho já trilhado, sobretudo se enquadrarmos os resultados obtidos - em todas as categorias - a nível internacional, com a exiguidade de meios financeiros, poucas infra-estruturas existentes e número de jogadores, necessariamente menor que outros países com população mais numerosa. E tanto quanto penso saber, os nossos amigos brasileiros têm sido bem recebidos em Portugal, como foi recentemente o caso dos Bandeirantes no Youth Festival. Como dizem no país dos Tupiniquins, um dia este esporte ainda vai ser grande! E Portugal vai lá estar a brigar com os seus amigos brasileiros pela vitória.