12 de agosto de 2013

RUGBY DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE ABRE-SE À SOCIEDADE

A caminho dos 12 anos de actividade, o rugby na Universidade do Algarve assume claramente uma postura de abertura à sociedade, como forma de garantir a sua continuidade e colaborar na expansão do rugby na região.

Com bastantes dificuldades no que respeita à pouca vontade de colaboração de alguns professores de educação física das escolas que visitaram, os responsáveis do CRUAl defrontam-se também com as evasivas da própria Universidade na cedência de instalações, e à sua oposição ao trabalho feito com os escalões de formação.

Ricardo Laginha Rafael é o presidente do Clube e dá-nos uma visão do trabalho que estão a desenvolver.

Mão de Mestre: Quem é o Ricardo Laginha Rafael no rugby e fora dele?
Ricardo Laginha Rafael: No rugby sou um adepto desde os tempos em
que o Torneio das 5 Nações passava na RTP 2; fora, trabalho para o Estado.

MdM: Onde nasceste e cresceste e como se deu o primeiro contacto com o rugby?
R.L.R.: Nasci em Lisboa, vivi em Almada até vir para a Universidade do Algarve (UAlg) em Faro, onde tive o meu primeiro contacto prático com o rugby. 
Um colega de turma do 1º ano, Luís Alves, que jogava rugby no Técnico antes de vir para a UAlg, soube que eu praticava judo e convidou-me a ir aos treinos, no ano lectivo 1992-1993. 
Ainda pratico judo, sempre que há disponibilidade; pratico judo desde que fui para a Escola Primária.

MdM: O que fizeste no rugby na época que terminou, e o que vais fazer na próxima?
R.L.R.: Na época passada fui Presidente do Clube de Rugby da Universidade do Algarve (CRUAl) e tratei de dar início à consolidação das
classes de formação no CRUAl. 
Foi o ano 1, depois de um ano zero, de experiências e de avaliar necessidades.
Na próxima época vou continuar a ser Presidente e continuar a consolidar a estrutura do Clube de Rugby da Universidade do Algarve, tentar envolver mais os atletas e seus pais e a cidade e as escolas.
Actualmente estamos envolvidos com uma Escolinha de Rugby em Olhão no Clube Desportivo Marítimo Olhanense que nos vai criar alguma dispersão nos treinadores. 
E ainda estamos a tentar desenvolver um projecto com a Cruz Vermelha, na Ilha da Culatra onde se encontram cerca de 30-40 crianças até aos sub-14. 
Já concorremos duas vezes à Fundação EDP, mas sem sucesso, afinal o Algarve tem índices que não apresentam carências, nem mesmo no meio do mar.

MdM: Como surge o rugby na Universidade do Algarve e quando?
R.L.R.: O rugby surge através de uma série de jogadores provenientes de outros clubes que vieram para a Universidade do Algarve estudar e sentiram a necessidade de continuar a praticar rugby. 
Desta forma o Clube foi-se organizando, muito pela responsabilidade de José Maria Mascarenhas, que vinha do Belenenses - 1992.
O CRUAl passou por várias fases desde a sua participação na 2ª Divisão e Taça de Portugal numa época da década de 90, só com atletas universitários, até ter tido uma equipa feminina a competir no Campeonato Nacional no início deste século, com a orientação de Tiago Ataíde, entrando num período latente a partir de 2005, só com participações Universitárias. 
Com o Mundial de 2007, apareceu uma vaga de novos jogadores e em 2010 o Clube voltou a eleger os seus órgãos e criou um Plano de Desenvolvimento, que passava pelas classes de formação e a sua abertura à cidade de Faro, até então tinha só se relacionado maioritariamente com a Universidade do Algarve e era altura de se mostrar o que se fazia na UAlg e mostrar as sua valências.

MdM: Qual foi a actividade que o clube teve nos escalões de formação (até aos sub-14) e de pré-competição (sub-16 e sub-18) na época 2012-13?
R.L.R.: Até aos sub-12 participámos nos convívios em conjunto com o Rugby Clube de Loulé. 
Uma vez que era o ano 1 das classes de formação, ainda não tínhamos número suficiente de atletas e o Rugby Clube de Loulé tinha sempre falta de elementos para completar a equipa, assim juntámos os atletas para
podermos estar presentes de uma forma mais completa.
Nos sub-14 já participamos em várias jornadas do campeonato, nas que se realizaram em Loulé e no Torneio Final no Estádio Universitário de Lisboa.
Nos sub-16 a solução foi a mesma que se adoptou para os sub-12, sendo que os sub-18 se juntaram aos Séniores.


MdM: Quem foram os seus treinadores?
R.L.R.: Os treinadores foram Ricardo Duarte, Nuno Murcho, Rui Santos e João Flôr, até aos sub-12, nos sub-14, nos sub-16 e para os sub-18 e Séniores foram Mário Faustino, Ricardo Duarte e Dumitru Cuharenco. Todos fizeram o curso de Grau 1, realizado no verão de 2011 no Algarve, inclusive eu. 
Agora, eu, o Dumitru Cuharenco e o Rui Santos, fomos ao de Grau 2 no Alfeite. 
Eu na realidade não dou treinos, porque não tenho horário certo de trabalho e logo torna-se incompatível, mas tenho a necessidade de perceber e aprender o que é necessário para o desenvolvimento dos atletas para uma melhor tomada de decisão.

MdM: Que ações estão previstas para alargar o recrutamento nas camadas jovens? Existe alguma parceria com escolas/estabelecimentos de ensino da região?
R.L.R.: Com a entrada do Faustino Pires como Director Técnico Regional, o CRUAl solicitou a sua colaboração e foram programadas diversas acções com ele junto das escolas, no ano passado, desde o 1º Ciclo até ao Secundário. 
Na realidade existiram escolas que responderam positivamente mas outras depois de uma primeira abordagem, esbarrámos na falta de vontade dos Professores de Educação Física. 
O interessante é que não se pedia que eles fizessem alguma coisa, queríamos ir uma manhã à Escola e em conjunto com o Faustino Pires dar as aulas de Educação Física, sendo o rugby a actividade desportiva daquele dia.
Queríamos este ano insistir nesta actividade, uma vez que temos atletas a pedir para ir às Escolas, para cativar colegas de turma.
No entanto com a saída do Faustino temos que rever o plano. 
Fazendo aqui uma inconfidência, o CRUAl, pretende contactar o Sr. Presidente da FPR, por forma a encontrar-se aqui o meio termo/solução quanto à figura do Director Técnico do Algarve. (ver nota no final)
Na realidade a sua presença permitia durante o dia-a-dia programar e contactar diversas entidades e escolas, enquanto cada um se encontra no seu trabalho, nomeadamente realizando o Projecto Nestum.
É verdade que tem existido sérias dificuldades em abordar as Escolas, mas é um trabalho fulcral a ser feito e tem de ser bem orientado. 

Focarmo-nos nas escolas onde já há rugby e nos sítios com perspectivas a aparecerem - no caso do Algarve, em Portimão.
Fazendo outra inconfidência o CRUAl solicitará ao Sr. Presidente da FPR que diligencie junto do Ministério da Educação que o rugby faça parte do Currículo de Educação Física uma vez que o Projecto Nestum tem tido tão bons resultados nas escolas e assim poder-se dar o estabelecimento do rugby nas Escolas, à semelhança de outros desportos que são leccionados.


MdM: Onde decorrem os treinos e os jogos das camadas jovens?
R.L.R.: Os treinos decorrem na Pista de Atletismo de Faro. 
O campo da Pista de Atletismo teve alguns erros de construção e alguns infortúnios com as instalações, que fizeram com que a relva tenha desaparecido. 
Neste momento estamos nós a plantar relva. 
Com a colaboração de um antigo atleta e colega da Universidade do curso de Agronomia – João Entrudo. 
O João é formador em Espaços Verdes no IEFP e com a sua orientação já plantámos 25% do campo, esperando chegar a Outubro com 50%, ficando o resto para o início do próximo ano. 
Por vezes, utilizamos o relvado do Jardim das Figuras, em frente ao Fórum Algarve, para fazer treinos dos escalões de formação e trazer alguma visibilidade.

MdM: No escalão sénior, em que competições o clube participou?
R.L.R.: Fora o que foi já referido anteriormente, o CRUAl participa desde 2010 no Campeonato de Equipas Emergentes, tendo nessa época 2010-2011 ficado em primeiro lugar, na época seguinte 2011-2012 ficou em segundo lugar e nesta época 2012-2013 em 5º lugar, por ter sido impossível comparecer nas provas com regularidade. 
Os atletas do “boom” de 2007 terminaram a Universidade e reorganizaram a sua vida, e foi tendo consciência disso, que o CRUAl deu início às classes de formação e vê aí o seu futuro, sabendo que cada vez mais os estudantes da UAlg são da região e da cidade ao contrário de quando eu entrei na UAlg, em que mais de 70% era de fora, e isso notava-se nos autocarros e no comboio ao fim de semana e nas férias.

MdM: Que lições têm sido tiradas da actividade sénior e como vai ser o futuro?
R.L.R.: As lições que se tira da equipa sénior e repetindo um pouco, é que não se pode viver só de uma comunidade Universitária, ela deve-se
relacionar com a comunidade onde se insere. 
E é importante ter uma equipa Sénior que se relacione com os escalões de formação, para criar referências, boas referências.

MdM: Como é financiada a actividade desportiva do clube? Qual o papel da autarquia neste aspecto?
R.L.R.: O financiamento é único e exclusivamente proveniente das quotas e mensalidades. 
A Câmara de Faro é uma das Câmaras mais endividadas do país e está sujeita à Lei dos Compromissos, ou seja, dinheiro que entra é para a dívida e não pode criar mais dívida. 
No entanto têm disponibilizado todas as condições para treinarmos e desenvolver as classes de formação.
De parte da Universidade do Algarve, esta delega na Direcção Geral da Associação Académica a actividade desportiva, financiando-os e delineando as linhas mestras da actividade desportiva, sendo que só estão interessados no desporto Universitário, para estudantes, tendo-se oposto de diversas formas à criação das classes de formação no CRUAl, pelo que só dão apoio logístico. 
Nomeadamente já por diversas vezes solicitamos um espaço para o CRUAl trabalhar e se reunir com os sócios, atletas e pais e tanto dizem que já têm um espaço para o CRUAl, como de seguida já não.

MdM: Qual o papel das empresas da região?
R.L.R.: Espero dar início o mais rapidamente possível, ao contacto com diversas empresas da região. 
Na verdade as empresas procuram contrapartidas e o CRUAl, não consegue neste momento oferecer muitas, mas esperamos, através de uma série de factores, poder chamar a atenção. 
O Algarve é a região que tem dos maiores índices de desemprego, por isso economicamente, as coisas têm de ser bem avaliadas e quantificadas no plano empresarial.

MdM: Para a época 2013-14 quais os principais objectivos desportivos nos escalões de formação?
R.L.R.: Os objectivos são consolidar as classes de formação, aumentar o número de atletas e levá-los ao máximo de convívios e provas possível. 
Tendo em conta que só existe outro Clube de Rugby no Algarve, o Rugby Clube de Loulé e este se encontra perto, é essencial criar actividades entre os dois clubes, porque todas as outras possibilidades estão a mais de 300 Km de distância. 
Existe ainda a vontade de realizar encontros mensais com o Rugby Clube de Loulé por forma a cooperar e diversificar o treino e para fomentar a captação de atletas para os dois Clubes.

MdM: E quanto aos seniores, quais são os seus objectivos?
R.L.R.: Continuar no Campeonato Nacional de equipas Emergentes, até ser possível entramos na 2ª Divisão e tentar ir ao Nacional de Sevens. 
A progressão para um campeonato superior dependerá do trabalho de formação e captação de atletas, porque não abundam clubes de rugby por estas paragens, com tanto Inglês, Irlandês e Australiano que por ai há, e depende também da captação de capital.

MdM: Quem vão ser os treinadores do clube para a próxima época?
R.L.R.: Serão os mesmos com excepção de Nuno Murcho que exercerá outras funções mais internas, mas possivelmente podemos ter um novo colega a coordenar um projecto de DropKids.

MdM: Quem quiser jogar rugby na Universidade do Algarve o que deve fazer?
R.L.R.: O CRUAl está sediado na Universidade do Algarve e tem como contacto telefónico o secretariado da AAUAlg (289 888 444), como email o  crualg@gmail.com e também duas páginas no Facebook, a geral do Clube, e a dedicada ao Mini Rugby
Em breve teremos também um site na internet.

Nota da Redacção: De acordo com as informações que o Mão de Mestre recolheu, Faustino Pires deixa o cargo de Director Técnico Regional, "visto não haver clubes e escolas com actividade suficiente que necessitem de um DTR no Algarve", mas "a direcção da FPR está a tentar mantê-lo como técnico local de apoio".

1 comentário:

Henrique Jónatas disse...

Muitos parabéns pela vossa iniciativa e continuação de um bom trabalho. Relativamente ao rugby no currículo de educação física, ele já existe. Não é uma matéria nuclear mas sim uma matéria incluída no lote das matérias alternativas, de possível escolha pela escola. No 2º ciclo do ensino básico, no programa respectivo, no que diz respeito aos jogos (normalmente designados de pré-desportivos) está incluído o bitoque rugby que, na minha opinião, poderá ser substituído pelo TAG Rugby. Relativamente à pouca receptividade dos Professores de Educação Física, eu só vos posso dizer o seguinte. É um fenómeno natural. Todos os anos as escolas e nomeadamente a Educação Física, é bombardeada com solicitações de federações, associações, autarquias, clubes, etc. afinal de contas, é lá que estão os miúdos, a mina de ouro.Issso é algo que pode causar instabilidade no meio escolar e eventualmente uma sensação de instrumentalização, por parte dos Professores de Educação Física. Estou em crer que se vocês tiverem paciência e se forem consistentes na credibilização do vosso trabalho, vão ter um enorme sucesso. Pode levar mais anos do que vocês gostariam mas tenho a convicção que o rugby no Algarve tem pernas para andar. Não desistam das escolas.
Henrique Jónatas, Professor de Educação Física, entre outras coisas