9 de maio de 2016

O RUGBY NACIONAL APÓS O ALARGAMENTO DA D.H. E PRIMEIRONA

Concluída mais uma época do rugby de XV em Portugal, é interessante olhar para o que aconteceu com as duas principais competições nos últimos sete anos, com o alargamento dessas mesmas competições de oito para 10 equipas em cada uma delas.

Já falámos longamente sobre este assunto - basta procurar na etiqueta Organização para encontrar quase uma dezena de artigos sobre a matéria - mas a recente publicação de um relatório da FPR em que o tema é o motivo central, obriga-nos a voltar a ele, para que todos possam avaliar a situação.


Fazemos como já fizemos no passado a análise comparativa dos anos 2009-10, 2010-11 e 2011-12, em que as duas divisões se disputaram com oito equipas, com os anos em que ela se disputou com 10 equipas em cada uma delas, com o ano de 2012-13, que viu a Divisão de Honra ser disputada já por 10 equipas, mas a 1ª Divisão ainda se disputou com oito participantes apenas.

Como já referimos anteriormente,muitos critérios podem ser adoptados, e nós escolhemos para comparar, os jogos em que uma das equipas marcou mais de 49 pontos.
E já fazemos isso há vários anos, pelo que se podem começar a tirar conclusões tranquilas dos factos, sem a subjectividade que os apetites e as vontades que mudam conforme calha, introduzem na análise.

Todos sabemos que é fácil justificar o que se pretende fazer, mudando os termos das análises que são feitas, ou simplesmente não comparando os dados do realizado recentemente, com dados do passado, mas essa não é a nossa prática.
Adoptámos um critérios alguns anos atrás, e agora é à luz desses critérios que comparamos o que aconteceu após o alargamento, com o que acontecia antes.

Vamos começar pela 1ª Divisão, que foi aquela que mais alterações sofreu no conjunto das equipas que a disputam, pois com o alargamento da Divisão de Honra, logo nesse primeiro ano perdeu duas equipas - as duas melhores, e não recebeu nenhuma vinda da D.H. - e ganhou duas da 2ª Divisão, portanto com menos ritmo e menos capacidade.

Depois,no ano seguinte deu-se o alargamento dessa 1ª Divisão, e mais duas equipas da 2ª Divisão se vieram juntar, ou seja,em dois anos,a 1ª Divisão recebeu quatro equipas que vieram da 2ª Divisão, o que naturalmente, fez baixar o seu nível médio.

Mas, como reagiram as equipas, sujeitas a esta evolução, às maiores exigências que uma prova que passou de 14 jornadas para 18 jornadas, de 56 jogos, para 90 jogos, implicam?

O quadro que apresentamos é elucidativo. Em 2009-10 a percentagem dos jogos em que uma das equipas marcou mais de 49 pontos foi de 19,6, valor que baixou em 2011-12 e 2012-13 para 14,3.

Como esperado, no primeiro ano com 10 equipas, esse valor aumentou significativamente - nove pontos percentuais - e bateu os 23,3 %, mas o que aconteceu nos dois anos seguintes deixa todos os que querem ver o rugby nacional crescer, bem satisfeitos.

Na verdade em 2014-15 o número de jogos com uma equipa marcando mais de 49 pontos,baixou de 21 para 12, chegando aos 13,3 % que é um valor mais baixo do que o verificado nos últimos quatro anos da 1ª Divisão disputada por oito equipas.

E este ano esse valor voltou a descer, situando-se abaixo dos 9 %, com o mesmo número de jogos nas condições analisadas, que em 2011-12 e 2012-13, mas com a realização de mais 34 jogos!

Em conclusão, a 1ª Divisão melhorou substancialmente, o seu nível competitivo não pára de subir e ela representa hoje uma base sólida para a evolução da Divisão de Honra.

Quando conseguirmos organizar a competição da 2ª Divisão, acreditamos que todo o rugby nacional dê um salto significativo.


Os efeitos do alargamento na Divisão de Honra não foram tão sensíveis como na 1ª Divisão, mas a percentagem dos jogos com mais de 49 pontos marcados por uma equipa, baixou da casa dos 21% nos dois últimos anos da sua disputa por oito equipas, para menos de 18 % nas duas últimas épocas.

Ou seja, também na divisão principal do rugby nacional se evoluiu, embora menos significativamente que no segundo escalão, desmentindo quem quer fazer crer que o alargamento para 10 equipas é um mal que precisa de ser erradicado.
Pelo contrário,acreditamos que é absolutamente necessário manter o sistema por mais meia dúzia de anos, para que todas as peças se encaixem nos seus lugares.

Claro que compreendemos que as melhores equipas nacionais queiram disputar mais jogos de elevada dificuldade, mas não vai ser uma redução do número de jogo, nem a redução da época de rugby de XV que vai contribuir para isso - bem pelo contrário!
O rugby nacional precisa que as melhores equipas disputem mais jogos e durante mais tempo.

Afirmar que a redução de jogos e a concentração dos mesmos em menos tempo - praticamente reduzindo a época a quatro meses (!!!) - vai aumentar a competitividade, não tem qualquer fundamento, nem se baseia na análise comparativa dos factos, pelo que carece totalmente de credibilidade.

Já o dissemos nestas páginas, se as melhores equipas querem avançar noutro nível competitivo, fazem muito bem.
Mas vão ter que o fazer à sua custa e não à custa do património de todos nós, nem com óbvio prejuízo do crescimento e evolução do rugby nacional.

Repetimos o que já dissemos por diversas vezes nos últimos sete anos - é imperioso que se organize o terceiro e o quarto nível do rugby nacional (2ª Divisão e Emergentes), e é também imperioso que não se mexa no que está feito nas duas primeiras divisões.

Como também é importante olhar para os escalões de acesso - sub-16 e sub-18 - e pensar como fazer para que as competições desses escalões cresçam em Portugal.

Só assim, com tempo e paciência, o rugby nacional poderá evoluir e crescer sustentadamente.



2 comentários:

Os Pequenos Lusos disse...

Bom artigo e boa análise, conclusões corretas. Porque será que as cabeças pensantes da Julieta Ferrão,não chegam lá! Abraço kiko pimentel

Unknown disse...

Esta direção pegando nas palavras do seu presidente Lourenço , quer reduzir e diminuir tudo que não seja o que ele acha importante . Ao que parece preparam o golpe de um financiamento da FPR a dois clubes para eles participarem em outras competições , e outros que ele despreza jogam o rugby social , ver o tratamento que esta direção deu à final da segunda divisão e a distância que tem para com os clubes pequenos . Só o que é distinto e do círculo de amigos tem interesse , cada vez mais teremos uma FPR confinada a interesses e pouco virada para o desenvolvimento do rugby em geral .