10 de março de 2017

A ARBITRAGEM E O RUGBY PORTUGUÊS

* Pedro Sousa Ribeiro
A situação atual da arbitragem levou-me a passar a escrito algumas reflexões.
O progresso do rugby tem que ser, em qualquer situação, um equilíbrio entre os seus vários intervenientes: jogadores, árbitros, treinadores, dirigentes e apoiantes. 
Mas, nunca em qualquer situação, se deve deixar de considerar como primacial o jogador. 
É ele o ator principal. 
Mas para que os jogadores se possam exprimir nas suas máximas capacidades necessitam dos treinadores, que as possam desenvolver, e árbitros que possam dirigir as suas competições. E ainda que haja dirigentes que possam proporcionar as melhores condições para a sua prática.

O que acontece em Portugal ?

Temos jogadores dedicados e, muitos, com elevadas potencialidades que necessitam de uma acrescida competitividade para se poderem exprimir na sua plenitude.

Temos dirigentes que estão mais preocupados com a sua pequena paróquia, leia-se clube, sem se preocuparem com uma visão mais ampla e global que ultrapasse o seu limitado campo de atuação, o clube. E dirigentes federativos com pouca experiência e limitados por escassos recursos financeiros.

Temos árbitros, por vezes muito pouco considerados e mesmo insultados por gente com visões muito limitadas sobre o rugby. Por muito maus que sejam, e alguns o são, sempre são mais conhecedores do que o comum dos apoiantes dos clubes. Não duvido, no entanto, da sua predisposição para fazer o melhor que podem e sabem.

Temos treinadores que, nos últimos anos têm trabalhado para melhorar os seus conhecimentos, mas ainda em numero limitado para a expansão sustentada que o jogo tem alcançado.

Mas não temos a expansão mediática que a modalidade merece e que os seus valores justificam, subjugada por aquilo que chamo a mono cultura desportiva portuguesa. E não apenas o rugby, mas todas as outras, além da modalidade hegemónica.

Não temos os espaços, salvo poucas e raras exceções, necessários à sua prática. 
Clubes com 300 ou mais praticantes dispondo apenas de um campo, como podem proporcionar uma prática de qualidade?

Não temos os recursos financeiros que possibilitem ao rugby português melhorar a sua qualidade. Encontrar patrocinadores é difícil e tarefa que exige persistência e, na maioria das vezes, conhecimentos pessoais.

Os resultados conseguidos nos últimos quinze anos, desde 2000 a 2015, foram mais fruto da dedicação e da qualidade dos jogadores, das capacidades dos treinadores e menos de um planeamento pensado e executado. 
A participação na RWC 2007, nas IRB Sevens Series, em anos sucessivos e as boas classificações obtidas nos campeonatos Sub-18 e Sub-20 são disso exemplo.

Sem um maior investimento em terrenos para a prática do jogo, sem mais exposição mediática, sem uma mais intensa atividade competitiva, sem árbitros conhecedores e dedicados, sem dirigentes que consigam ultrapassar uma visão limitada, não poderemos aspirar a competir aos mais elevados níveis do rugby europeu, para já não falar do mundial.

E voltemos à situação da arbitragem.

Não é admissível que aos árbitros não sejam liquidadas atempadamente os encargos que suportam com as suas deslocações para os jogos. 
Não lhes podemos pedir que estejam a subsidiar a atividade nacional. 
Já posso admitir que os seus prémios de jogo possam ser liquidados num espaço temporal mais alargado. 

Mas, se por um lado, a FPR não pode deixar de liquidar as despesas incorridas pelos árbitros estes, sob pena, de estarem a defraudar a confiança que neles é depositada, não têm o direito de pôr em causa o normal desenrolar das competições, causando danos significativos aos principais intervenientes no jogo, os jogadores, que devem merecer todo o respeito.

Desde há muito que defendo que o setor arbitragem deve estar representado diretamente na estrutura executiva da Federação, a direção, pois só assim esse órgão pode abranger todas as áreas do jogo e definir quais as prioridades a que deva atender.

Espero que o bom senso e o Rugby prevaleçam sobre questões que, se bem que importantes, são apenas uma pequena parte do todo do nosso jogo que deve estar sempre acima de qualquer interesse pessoal ou de grupo.

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