24 de outubro de 2014

RUGBY UMA HISTÓRIA VIVA COM INÍCIO EM 1823 *

* Pedro Sousa Ribeiro
A revista Rugby World publica, na sua edição de Novembro 2014, uma listagem de 25 ideias, métodos e produtos que alteraram o jogo de Rugby Union ao longo dos anos.

Algumas alterações tiveram profundo impacto no jogo, outras causaram apenas efeitos laterais.

Por ser de interesse geral e alargar, para muitos, o seu conhecimento do jogo, aqui vai uma listagem das principais.

1-      Pontuação – Nos primórdios a pontuação era apenas obtida através de pontapés. Após um ensaio (sem pontuação ) era obtido o direito de tentar um pontapé aos postes. O “drop” era já e também uma possibilidade para obter pontos. Na época 1891-92 foi introduzida a pontuação, sendo atribuído ao ensaio 2 pontos e aos pontapés de penalidade e de transformação 3 pontos. Na época seguinte o ensaio foi valorizado para 3 pontos e o pontapé de transformação reduzido para 2 pontos. Este sistema subsistiu até 1971/72 quando o ensaio foi aumentado para 4 pontos o que se manteve até 1992, data em que passou a vigorar a pontuação atual.

2-      Equipas com 15 jogadores – quando as primeiras Leis do Jogo foram publicadas em 1846 na Rugby School, o nº de jogadores era de 20 por equipa o que durou até ao Varsity Match ( jogo anual, sempre realizado em Dezembro, entre as Universidades de Cambridge e de Oxford ) de 1875, quando foi fixado o nº de 15 jogadores, o que se mantem até hoje.

3-       Sevens – Em 1883 o clube de Melrose, na Escócia, necessitava de fundos. Um dos seus jogadores sugeriu a realização de um torneio de um dia com jogos com sete jogadores de cada lado. O torneio realizou-se no dia 28 de Abril, foi um sucesso e apesar do tempo chuvoso, foram vendidos 1.600 bilhetes. Rapidamente a ideia se espalhou, criando-se assim esta variante. Tradicionalmente os torneios de sevens eram jogados na ilhas britânicas no início e no final da época, mas o arranque em 1999/2000 das IRB Sevens Series deram-lhe um forte impulso que culminou com a inclusão dos Sevens no programa dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Em Portugal existiu o Lisboa Sevens, que muito contribuiu para o desenvolvimento dos sevens e que, entre 1987 e 2002, trouxe a Lisboa muitos jogadores de renome internacional, mas que por dificuldades em encontrar patrocínios, desapareceu do nosso calendário. Fruto do prestígio internacional que o Lisboa Sevens atingiu, Portugal foi convidado e participou pela primeira vez no Hong Kong Sevens em 1994, e participa nas IRB Sevens Series desde a sua 2ª edição em 2000, estando atualmente entre as 15 melhores equipas mundiais.

4-      Substituições – Até1968 as substituições não eram permitidas. Se um jogador se lesionasse e tivesse que abandonar o terreno do jogo a equipa acabaria o jogo apenas com 14 jogadores. Em 1968 a IRFB ( assim se designava, na época, a atual IRB ) decidiu autorizar a substituição de jogadores lesionados. Em jogos internacionais, o primeiro jogador a ser substituído foi Barry John no 1º jogo teste África do Sul- BritishLions de 1968. Foi substituído pelo irlandês Mike Gibson. As substituições táticas são permitidas desde 1996 e desde 2002 existe a possibilidade de substituição temporária de um jogador com sangue.

5-      Profissionalismo – Apenas em 27 de Agosto de 1995, na sua reunião em Paris, a IRB abriu o Rugby ao profissionalismo que até aí se mantinha amador, apesar de já existirem pagamentos encapotados a jogadores designadamente em França. Nessa altura, o então Presidente da RFU, Bill Bishop, disse : “ o jogo nunca mais será o mesmo “. Como certo estava !

6-      Cartões Amarelos – 1995 foi o primeiro ano em que apareceram os cartões amarelos, mas nesse tempo isso significava apenas um aviso. O primeiro jogador a quem foi aplicado um cartão amarelo num jogo internacional foi o inglês Ben Clarke. Em 2002 foi decidido que ao cartão amarelo correspondia uma suspensão por 10 minutos ficando a sua equipa reduzida a 14 jogadores, durante esse período.

7-      Transmissões Televisivas– O primeiro jogo a ter transmissão televisiva foi o jogo do Torneio das 5 Nações de 1938, Inglaterra- Escócia feita pela BBC. As transmissões televisas tiveram e continuam a ter um forte impacto na divulgação e na popularidade que o jogo tem alcançado.
Em Portugal a RTP iniciou transmissões diretas dos jogos do  Torneio das 5 Nações nos anos 60 graças aos esforços de Serafim Marques (“ Cordeiro do Vale”) que convenceu a administração da RTP da importância desses jogos.

8-      Campeonatos do Mundo – Apenas em 1987 se realizou o 1º campeonato do mundo, com a participação, por convite, de 16 nações. O primeiro vencedor da WebbEllis Cup foi a Nova Zelândia. Seguiram-se a Austrália ( 2 vezes ), África do Sul ( 2 vezes ), Inglaterra e de novo a Nova Zelândia em 2011.
Desde 1995 que o campeonato do mundo é disputado por 20 nações.

9-      Rugby Feminino – As mulheres tem praticado rugby desde os finais do sec. XIX mas foi apenas após a 1ª Guerra Mundial que a sua participação foi socialmente aceitável. Até 1980 a sua prática era apenas informal mas a partir desse tempo foram organizadas , em Inglaterra, as primeiras competições . O 1º Campeonato do Mundo feminino foi organizado em 1991, tendo o ultimo sido realizado em Agosto de 2014 em França. Atualmente o rugby feminino está numa fase de grande expansão mundial especialmente na variante de Sevens que já tem o seu campeonato do mundo e participação nos Jogos Rio 2016.

10-   A Bola – o formato da bola pouco mudou desde que as suas dimensões foram fixadas em 1892. Então a bola tinha 11 a 11 ¼ polegadas ( 279 a 286 mm ) e atualmente 280 a 300 mm, o que é praticamente o mesmo. O que mudou foi o peso e a textura : enquanto no passado as bolas eram de couro e, quando molhadas, muito escorregadias, hoje, as bolas são produzidas em vários compostos de borracha e têm uma aderência muito superior.

11-   Mini Rugby – é a iniciação ao rugby para milhões de jovens, rapazes e raparigas. Iniciou-se, na Grã-Bretanha e Irlanda no anos 60, como meio de iniciação ao jogo para os jovens. As bolas são mais pequenas e  as dimensões dos campos são adaptados à idade e ao número de jogadores. Normalmente vão de 5 a 13 jogadores, consoante as idades e as suas regras utilizadas variam de país para país.

12-   Jogos Noturnos – o primeiro jogo com iluminação artificial realizou-se em 1878 no campo de Salford tendo sido utilizado luzes suspensas de torres com cerca de 11 metros. Os jogos noturnos foram-se multiplicando com o decorrer do tempo e são agora  prática comum.

13-   Árbitros Neutrais- Nos primeiros tempos os jogos eram dirigidos pelos capitães de equipa. Em 1874 a RFU introduziu a presença de juízes (“umpires” ). Com o aumento de competitividade nos jogos internacionais foi decidido, em 1885, designar árbitros neutrais passando os “ umpires” a fiscais de linha, mas ainda com os capitães a terem uma capacidade de interferência. A partir de 1982 os árbitros passaram a ser os únicos decisores. As modernas Leis do Jogo concedem aos árbitros de rugby vastos poderes sobretudo na área disciplinar, bem superiores aos de outras modalidades desportivas.

14-   Capacidade de Representação internacional – De acordo com as regras da IRB podem representar um país os naturais desse país, os filhos ou netos de naturais desse país e aqueles que tenham 3 anos de residência consecutiva nesse país. No caso de Portugal, além das condições atrás indicadas a legislação atual exige ainda a nacionalidade portuguesa. Até 2000 os jogadores podiam representar mais do que um país se satisfizessem as condições indicadas. Houve casos de internacionais por mais que uma nação. Esta possibilidade terminou em 2000 com uma nova resolução da IRB que impede um jogador que tenha representado um pais possa  vir a representar outro. Uma vez que o Comité Olímpico Internacional limita a participação nos Jogos Olímpicos apenas a nacionais desse país, passará a haver de novo a possibilidade de representar o país de nacionalidade, desde que não tenham participado em jogos internacionais num período de pelo menos 18 meses. Esta abertura poderá ser utilizada, p. ex., por nacionais das ilhas do Pacifico, Samoa, Fiji, Tonga, que tenham já jogado por outro país.

15-   Cobertura dos campos – O Millenium Stadium em Cardfiff foi o primeiro estádio de rugby a ser dotado de um teto retrátil. O primeiro jogo disputado com o teto fechado foi o País de Gales- Austrália disputado em 2001. Ambas as equipas têm de concordar com o fecho do teto. Há apenas um campo, Forsith Stadium em Dunedin, na Nova Zelândia dotado com um teto permanentemente fechado.

16-   Video árbitros – esta inovação foi testada na Austrália em 1999 e introduzida no torneio Super 12 de 2000. A sua aplicação tornou-se prática comum nos jogos das grandes competições internacionais possibilitando ao árbitro recorrer ao vídeo árbitro para decidir sobre situações junto à área de meta ou em caso de jogo violento. Mas o vídeo árbitro apenas responde à pergunta do árbitro cabendo a este a decisão final. Os árbitros ( principal e assistentes ) comunicam entre si através de intercomunicadores e alguns já transportam camaras vídeo. Em Portugal ainda nunca foi utilizado o vídeo árbitro.

17-   Pisos em relva artificial – Desde 1959 que o estádio de Murrayfield em Edimburgo na Escócia, está dotado de uma sistema de aquecimento no sub-solo, usando tubagens onde circula água quente. Foi instalado para permitir que o relvado estivesse em boas condições durante o rigoroso inverno naquelas paragens. Uma inovação mais recente, foi a colocação de relva artificial nos campos de rugby. A sua utilização para jogos das grandes competições foi autorizada pela IRB em 2012, desde que a superfície satisfaça as respetivas normas.

18-   Camisolas – Até finais do Sec. XX as camisolas de rugby eram feitas em algodão o que as tornava muito pesadas com a chuva. Agora são feitas em poliéster, elastane e outros tecidos leves com sistemas que transferem para o exterior o calor da transpiração. Em Portugal foi o RC Lousã o pioneiro na utilização destes materiais, agora de uso comum.

19-   “Kicking Tees “ – No passado os chutadores faziam um pequeno buraco no solo ou usavam um monte de areia para colocar a bola antes de efetuar um pontapé. Nos anos 90 uma pequena peça em plástico começou  ser utilizada, facilitando a tarefa dos chutadores e a satisfação dos tratadores dos campos.
20-   Análise Video– Desde o advento do profissionalismo que se vulgarizou a utilização de analistas vídeo. Usando esta  tecnologia  é possível fazer a análise das equipas, dos jogadores individualmente e dos adversários. Poderá ter limitado alguns dos mistérios do jogo mas no rugby profissional é indispensável maximizar as possibilidades de vitória.

21-   GPS – um sistema aplicado para fins militares e comerciais desde os anos 90 passou a ser utilizado pelo Rugby há cerca de dez anos. Permite analisar para cada jogador, a sua velocidade média e de ponta e verificar o seu estado de fadiga durante um jogo. Muitos jogadores colocam uns pequenos sensores por baixo da sua camisola o que permite aos treinadores seguirem nos seus computadores, a respetiva performance.

6 comentários:

Great_duke disse...

Excelente! Nunca imaginei que o "Cordeiro do Vale" que me acompanhou durante as transmissões televisivas da minha infância e adolescência fosse um pseudónimo...

Anónimo disse...

Caro Pedro Ribeiro. Obrigado pela apresentação a todos nós duma listagem de 25 ideias que ajudaram a evolução do nosso desporto. Já agora e sem querer meter a foice em seara alheia, só para te dizer que no ponto 18 a apresentação das novas camisolas justas não foi só em Portugal, mas sim em todo o mundo. Nenhum clube até essa data tinha utilizado as camisolas justas. Recordo o "gozo" que demos quando as apresentámos pela primeira vez no "teu" Lisboa Sevens 2002. Recordo igualmente que o Serevi, um minuto depois de as ter tocado, veio dar os parabéns pela ideia e que o Olgário Borges DT na altura, uma semana depois pediu-me uma camisola para enviar à Mitre como modelo. Portugal foi a primeira selecção mundial a utilizar essa "abencerragem" num torneio de Sevens.
Nunca pensei que pudessem vir a ser utilizadas no Rugby de XV, mas entretanto foram descobertas novas fibras que lhes deram uma resistência que aquelas primeiras não tinham.
Já agora para informar que essas camisolas foram feitas pela Tadeu & Francelina em lycra da natação.
José Redondo

Anónimo disse...

Caro Pedro Ribeiro

Excelente artigo. Na linha das conversas que já tive consigo sobre o jogo.

Um abraço

Nuno Fradinho

Anónimo disse...

Caríssimo Eng Pedro Ribeiro grande artigo, este documento pode e deve ser usado para a divulgação da nossa modalidade.
Parabéns ao MDM (Manuel Cabral) pelo excelente trabalho que tem feito pela divulgação do Rugby.

Lencastre

M. João Lourenço disse...

Acabei de receber um telefonema da Deolinda Marques, casada com o Serafim Marques (Cordeiro do Vale, o mítico homem do râguebi em Portugal). Morreu esta madrugada.

Pediu-me a Deolinda, antiga funcionária da RTP, para dar a notícia. O Serafim merece ser recordado.



Maria João Tovar

Manuel Cabral disse...

Maria João Tovar, obrigado pelo seu cuidado e carinho. Também nós recebemos essa triste notícia, e não podíamos deixar de lembrar esse bom amigo que nos deixa.
http://www.maodemestre.com/2017/04/o-rugby-fica-mais-pobre-com-partida-de.html