16 de outubro de 2014

CINCO ANOS PERDIDOS NOS SEVENS PORTUGUESES

Afastado do Mundial 2015, em crise financeira e de credibilidade, sem crescimento visível nos escalões seniores, o rugby português começa, aos poucos, a perceber que os sevens podem ser a solução que nos falta para divulgar a modalidade, para lhe dar credibilidade em função dos resultados internacionais que pode conseguir, para permitir a recuperação financeira, porque traz consigo custos mais baixos e pode chamar mais patrocinadores.

E mesmo com cinco anos de atraso - que a concorrência aproveitou para eliminar a vantagem que tínhamos - é sempre tempo para começar a fazer as coisas como deve ser.

A verdade é que, aos poucos, muitos dos que ao longo dos anos têm sido duros opositores da variante, começam a parecer mais sensíveis aos seus encantos, muitos dos que não se opondo também nunca lhe deram grande importância, começam a despertar para as suas potencialidades, e os mídia, aos poucos, começam a ver nos sevens uma oportunidade de ganharem espaço junto dos leitores, sedentos de resultados positivos e de equipas ganhadoras.

E tudo isto é bom!

Agora, falta a Federação Portuguesa de Rugby e o Comité Olímpico de Portugal encararem as coisas
como elas são - os sevens portugueses vivem consistentemente no meio das grandes equipas do Mundo desde 1997, não falhando uma presença no Mundial desde essa data, e tendo alcançado grande sucesso nos últimos 12 anos em que se sagraram nada mais, nada menos, do que Campeões da Europa em 8 ocasiões.

O primeiro passo a dar é conseguir que se assumam as coisas como elas são - Portugal é uma das quatro melhores equipas da Europa, e está claramente entre as 15 melhores do mundo.

Mas o que é mais curioso é que este estatuto foi conseguido sem que em alguma ocasião se tenha feito alguma coisa por isso, deixando que a selecção nacional de sevens tenha vivido, desde a sua criação em 1992, na sombra da selecção nacional de XV.

Agora, isso tem que mudar.

E a primeira coisa que tem que mudar é compreendermos que só teremos uma selecção forte, se a
competição interna for igualmente forte.
Ou seja, não vale a pena gastar três quartas partes do orçamento federativo nas selecções se depois nada existir, se tudo não passar de um imenso deserto.

O Mão de Mestre alerta sistematicamente desde 2009 para esta questão, mas infelizmente a direcção federativa presidida por Amado da Silva não tomou medidas que permitissem um evolução gradual e consistente, esperando que um qualquer milagre ou o real valor de uma pequena elite de jogadores possa, num passe de mágica, conquistar a posição que todos ambicionamos entre as 12 participantes dos Jogos Olímpicos de 2016.

Não vamos falar sobre como se deve fazer - já apontámos as linhas mais importantes do que pensamos sobre isso em 2009 - mas exigimos que os responsáveis debatam a questão com quem se interessa pelos sevens em Portugal desde pelo menos os anos 80 do século passado, e que seja instalado um sistema competitivo nacional que conduza ao crescimento da variante e à melhoria técnica dos praticantes em termos gerais e não apenas ao nível das selecções nacionais.

E queremos saber quem serão as pessoas com quem a FPR irá debater o assunto, pois pretendemos
exercer o direito de fiscalização sobre todo este processo, já que Amado da Silva e todos os seus mais directos colaboradores deram provas claras de serem incapazes de satisfazer as necessidades do rugby sevens português.

Existem em Portugal bons treinadores de sevens, dos quais alguns estão ao serviço da Federação, existe uma pequena elite de jogadores de grande nível, falta estabelecer um plano de desenvolvimento e um plano de competições que permita o aparecimento de um alargado número de jogadores interessados na prática da variante, que possa sustentar aquela elite.

Hoje estamos na delicada situação de termos que recorrer a jogadores sem provas dadas na variante, sem ligação a Portugal - mesmo que tenham um passaporte nacional - quando uns poucos da já referida pequena elite estão impedidos por lesão, por motivos profissionais ou estudantis.

E não será um desesperado recurso a uma pseudo profissionalização que vai resolver o problema - o rugby português não é nem será profissional, pelo menos nas próximas décadas, isso é uma das suas características mais importantes, e é nesse âmbito que temos que encontrar as melhores soluções.

Há em Portugal quem tenha ideias muito claras de como isso se deve fazer e chegou a altura de pôr quem sabe a fazer as coisas - se Amado da Silva não for sequer capaz de ouvir quem sabe, só a ele poderão ser imputadas responsabilidades pela decadência dos sevens nacionais, que já é visível e se tem acentuado de 2011 para cá.

Uma coisa é certa e ficou demonstrado em tudo o que se tem passado nos sevens portugueses desde o princípio de 2010 - não há na Julieta Ferrão ninguém capaz de idealizar todo este processo.

O que se exige agora - e lembro, cinco anos após a inclusão dos Sevens no Programa Olímpico - é que os que ainda mandam na FPR chamem quem se interessa pela variante, quem tem acompanhado os sevens em geral desde há muitas décadas, e os sevens nacionais desde os anos 80, para fazer um trabalho que já deveria estar em aplicação há, pelo menos quatro anos e meio...

E uma coisa posso garantir: essas pessoas existem em Portugal!

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns mais uma vez ao MDM pelo grande artigo sobre os Sevens, todos sabemos que os Sevens ultimamente (4anos) tem sido o espelho da Julieta Ferrão , um desorganização total e coisas resolvidas em cima do joelho .
Esta época não foge a regra , queremos fazer coisas que deveríamos fazer em 4 anos e estamos a tentar fazer em 3 meses, depois o resultado é a equipa cansada , sem motivação etc.
Por ultimo será que ainda não entenderam que os jogadores já não conseguem ouvir e entender as mensagens dos treinadores que ainda por cima um diz uma coisa e o outro diz outra.
Acabem duma vez por todas com isto , o XV já foi e agora querem fazer o mesmo aos Sevens .

Anónimo disse...

A partir do momento que a variante 7's passou a ser modalidade olimpica, muitos países passaram a investir nela, aproximando-se de Portugal e mesmo ultrapassando-nos. Considero que não temos meios nem financeiros nem humanos para acompanhar esses investimentos. Se dos financeiros não há grandes dúvidas, dos humanos refiro-me a que os jogadores que temos não dão para tudo, 7's, 15, clube, seleção, trabalho, estudo etc. Para além de um grande número dos nossos jogadores não apreciar essa variante, isto é, até gostam de ir a, pelo menos, alguns torneios internacionais, mas quando toca ao campeonato nacional, muitos deles dispensavam a sua presença.

Anónimo disse...

Como possivel essa direcçao estar ainda ao comando da FPR ? Quase todas as pessoas com quem falo do nosso desporto me dizem a mesma coisa, mas se eles sao eleitos é porque têm melhores soluçoes para levar para a frente o rugby nacional, o que nao é o caso, mas como também nao vivo em Portugal e a minha opiniao nao deve contar muito. Portanto tenho a certeza que ha em Portugal homens e mulheres, porque nao, capazes de desempenhar um melhor trabalho que aquele que esta a ser feito.

José LONGO

Anónimo disse...

Uma vez mais, um artigo excelente do Mão de Mestre sobre um tema que tinha tudo para ter uma realidade bem diferente do que a que tem.

Portugal desde sempre que foi uma referência no rugby de sete (o nosso palmarés fala por si), fruto de um trabalho muito bem feito ao longo de anos e do qual colhemos os frutos.
O rugby de sete ao tornar-se modalidade olímpica, por inerência fez com que a nível mundial os países começassem a apostar mais nesta vertente. Isto acontece com todo e qualquer desporto!
Em Portugal, os senhores que mandam no rugby não perceberam isso...

Eu a julgar que a aposta no rugby de sete ía continuar ou até ser mais enfatizada... o que eu me enganei!
Os sevens tornaram-se um mero brinquedo e a serem olhados como um "escape" para rodar a malta e dar uns passeios aí por mundo fora.

Agora, que ao que parece, se começa a despertar para a realidade que se tornou o rugby de sete, tenta-se remediar aquilo que não foi feito!
Faz lembrar quando o despertador toca de manhã, a malta desliga-o e diz para ela própria "só mais 5 minutos...", depois adormece e quando acorda já é tarde e têm de se arranjar à pressa.
É o que está a acontecer com os sevens!

O que nos vai valendo é o valor dos nossos jogadores - inegável! Somos indiscutivelmente do top 15 mundial - e uma boa vontade do Comité Olímpico Português que vê na nossa equipa uma hipótese de acabar com o "marasmo" dos desportos colectivos portugueses nos Jogos Olímpicos.

Podia estar aqui agora a debitar coisas que deviam ser feitas e o porquê de devermos apostar mais nos sevens, mas não o farei para não me alongar mais...
Referir só que era importantíssimo criar um circuito nacional de sevens, por exemplo com etapas repartidas ao longo da época, alternando com as jornadas do campeonato de XV...

Por último, e para aqueles que falam nas condições, financeiras e outras, vejam o exemplo de certos países (nomeadamente do leste europeu e dos Balcãs) em que conseguem colocar nos JO equipas em modalidades diversas e ao mais alto nível.
Países com menos habitantes que nós, com altas taxas de desemprego, altos níveis de corrupção, e que passaram recentemente por guerras internas...

Se eles conseguem, porque não havemos nós de conseguir?

Parabéns uma vez mais MdM!

Anónimo disse...

anonimo das 15:59
deves andar a leste do paraíso
circuitos de 7s no inverno??? achas viavel fazer torneios de 7s no inverno com frio e chiva e os jogadores a terem q estar o dia todo sem condicoes a espera de fazer 4 jogos com todos os risco de lesao q isso traz? e os campos??? sera que teriao q jogar td em sinteticos pois os clubes nao me parece q tenham relvados para aguntar torneios em pleno inverno e se os jogadores ja fazem quase um frete para participar em 3 ou 4 torneios no verao achas q iam querer participar em torneios no inverno

Anónimo disse...

Boa analise que o MdM poderia fazer, é aferir se a base de recrutamento do rugby nacional tem qualidades e características, para fornecer jogadores com disponibilidade para jogar ao nível internacional no escalão sénior, com consistência e perspectiva de profissionalizarem-se como jogadores. ie - à semelhança dos luso-argentinos advindos do RWC 2007

Anónimo disse...

Anónimo das 10:04 :

Eu quando referi que se podia intercalar umas etapas de sevens com o campeonato de XV, não disse que tinha de ser necessariamente no Inverno.
Acho que, por exemplo, uma ou duas etapas em Outubro/Novembro, outra em Março e outras duas no final podia ser viável.
Era uma maneira de espaçar as etapas e não concentrar tudo na mesma altura, tornando a coisa menos saturante e permitindo dar mais rodagem aos jogadores nesta vertente ao longo da época.
Em grupos de 4, cada equipa fazia 3 jogos por etapa, formato que já se usou em algumas competições nacionais.
É apenas uma opinião minha.

PaddyG disse...

Em relaçao ao artigo original, sim certo, logicamente. Curiosamente, se - e isso é um se gigante! - a seleccao de XV tivesse conseguido entrar no mundial 2015, andava toda a gente feliz da vida e mt provavelmente nao estaríamos a ter esta conversa. Talvez o fracasso será nosso melhor amigo por nos obrigar a despertar para a realidade.
Continuo sem perceber pq é q tanta boa gente, com tantas boas ideias, insiste em conversar anonimamente. MdM, por favor, encoraje seus leitores a identificarem-se.